cidra

14 Jan 2021 por "Alberto Vieira"
História Económica e Social

A cidra é o fruto da cidreira [Citrus medica], planta nativa do Oriente que chegou à Madeira em data desconhecida, sendo usada no fabrico de conservas e utilizada na doçaria da Ilha e na exportação para o exterior em forma de conserva. Não confundir com o vocábulo “sidra”, que pode significar o chamado vinho de peros que, na Madeira, teve grande incremento e ainda continua a estar presente em alguns locais da Ilha, como o Santo da Serra. Para além disso, o seu consumo, como o da casca de outras frutas cítricas, vulgarizou-se por força da necessidade de suprir a dieta das tripulações, que quase sempre sofriam de deficiência de vitamina C, sendo vítimas do escorbuto.

Palavras-chave: cidra; escorbuto; casquinha.

A cidra é o fruto da cidreira (Citrus medica), planta nativa do Oriente que chegou à Madeira em data que desconhecemos, sendo usada para o fabrico de conservas, com utilização na doçaria da Ilha e na exportação para o exterior em forma de conserva. Não confundir com o vocábulo “sidra”, que pode significar o chamado vinho de peros que, na Madeira, teve grande incremento e continua a estar presente em alguns locais, como o Santo da Serra. Para além disso, o seu consumo, como o da casca de outras frutas cítricas, vulgarizou-se, desde o séc. XVI, por força da necessidade de suprir a dieta das tripulações, que quase sempre sofria de deficiência de vitamina C, sendo vítimas do escorbuto. A cidra pertencia ao grupo das frutas de espinho que, segundo edital camarário de 28 de dezembro de 1842, estavam sujeitas ao respetivo dízimo, devendo os proprietários proceder ao seu manifesto no ato da venda.

Na cidade do Funchal, existe a chamada rampa do Cidrão, que não deve estar associada diretamente à cidra, mas sim a João Cidrão. Com nomes relacionados, temos Pedro Gonçalves Cidram e o Cón. Simão Gonçalves Sidrão. Ainda na Ilha, temos a destacar a ribeira Cidral, no Funchal, e o pico do Cidrão, junto ao pico Ruivo.

A Cultura da cidreira encontra-se no curral das Freiras, mas também na Ponta do Sol, Ribeira Brava e Machico. Gaspar Frutuoso refere também para o Porto da Cruz a presença de limões e cidras.

Como mercado produtor de açúcar, a Madeira especializou-se desde muito cedo neste tipo de indústrias de conservas para abastecimento das armadas da Coroa e de outras embarcações que demandavam a Ilha à sua procura. Desta forma, a partir da segunda metade do séc. XV, uma escala na Ilha fazia-se obrigatória para refresco, o qual incluía abastecimento de água, vinho, víveres frescos e estas frutas secadas em açúcar, que também faziam parte da dieta de bordo, para combater o escorbuto. Desta forma, esta provisão era entendida como uma necessidade. Luxo era o que acontecia na mesa da Casa Real portuguesa e de algumas outras famílias das nobrezas nacional e europeia, onde os manjares doces, de alfenim, casca seca e cidra, estavam sempre presentes, mas aqui apenas por gula.

 

Alberto Vieira

(atualizado a 29.12.2016)

Bibliog.: BRAGA, Paulo Drumond, “O Açúcar da Ilha da Madeira e o Mosteiro de Guadalupe”, Islenha, n.º 9, jul.-dez. 1991, pp. 43-49; GOUVEIA, David Ferreira de, “O Açúcar e a Economia Madeirense (1420-1550): Consumo de Excedentes”, Islenha, n.º 8, jan.-jun. 199l, pp. 11-22; Id., “Açúcar Confeitado na Madeira”, Islenha, n.º 11, jul.-dez. 1992, pp. 35-52; NASCIMENTO, João Cabral do, “As Freiras e os Doces do Convento da Encarnação”, Arquivo Histórico da Madeira, vol. I, 1937, pp. 68-75; NUNES, Naidea, Palavras Doces. Terminologia e Tecnologia Históricas e Actuais da Cultura Açucareira, Funchal, CEHA, 2003; Id., Outras Palavras doces, Funchal, CEHA, 2010; RIBEIRO, Emanuel, O Doce nunca Amargou... Doçaria Portuguesa. História, Decoração, Receituário, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1928; VIEIRA, Alberto, O Comércio Inter-Insular nos Séculos XV e XVI. Madeira, Açores e Canárias (Alguns Elementos para o Seu Estudo), Funchal, CEHA, 1987; Id. (org.), O Público e o Privado na História da Madeira – Correspondência Particular do Mercador Diogo Fernandes Branco (1649-1652), vol. i, Funchal, CEHA, 1996; Id., Canaviais, Açúcar e Aguardente na Madeira. Séculos XV a XX, Funchal, CEHA, 2004; Id., “Açúcares, Meles e Aguardente no Quotidiano Madeirense”, in VIEIRA, Alberto (coord.), O Açúcar e o Quotidiano. Actas do III Seminário Internacional sobre a História do Açúcar, Funchal, CEHA, 2005, pp. 15-27.

palavras-chave associadas
Cultura // curral // ram // cem // cais // alfenim