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Fig. 1 – Fotografia de Luís Vieira de Castro. Fonte: Museu Vicentes.   Luís Lopes Vieira de Castro nasceu no Funchal no dia 10 de maio de 1898. Concluiu o ensino secundário no Liceu do Funchal, após o que se matriculou em Direito na Universidade de Coimbra, vindo a acabar o curso em Lisboa em 1922. Foi depois para a sua terra natal, onde abriu banca de advogado, ao mesmo tempo que se dedicava ao jornalismo e à política. Monárquico integralista convicto, defendia a restauração da monarquia pré-liberal e o regresso à sociedade cristã e patriarcal tradicional, pugnando por uma monarquia orgânica, tradicionalista, antiparlamentar, que deveria apoiar-se no poder das corporações e dos municípios, sob o comando pessoal e incontestável do Rei. Desde cedo, em Coimbra, onde conviveu com monárquicos integralistas, vai dedicar-se ao jornalismo, fundando dois jornais académicos que estavam alinhados com o seu credo político, o Pátria Nova (1916) e o Restauração (1921), e colaborando ainda com outros. Nestes dois semanários, vai desenvolver e defender as ideias políticas e sociais que desejava ver implantadas no país. No Pátria Nova, combate pelos ideais do integralismo lusitano. No Restauração, começa por lutar pelas mesmas ideias, mas, a partir de 1922, com o Pacto de Paris, que leva ao rompimento do Integralismo Lusitano com o ex-Monarca português, D. Manuel II, então exilado em Inglaterra, vai afastar-se daquele movimento político, que passa a optar pelo pretendente legitimista D. Miguel, do ramo familiar de D. Miguel, Rei absoluto que governara o país entre 1828 e 1834. Tal como os seus amigos do Restauração, vai aderir à outra fação integralista, entretanto fundada por Alfredo Pimenta, a Ação Realista Portuguesa, que, embora integralista, não rejeitava D. Manuel. Em 1922, depois de concluída a licenciatura, regressa a casa e vai ser convidado pelo lugar-tenente do Rei, o madeirense Aires de Ornelas, para organizar a Causa Monárquica na Madeira. Funda então o Jornal da Madeira, em 22 de novembro de 1923, periódico de cariz regionalista que se apresenta como defensor de uma imprensa regional independente da nacional e que, segundo o seu fundador, aparece para defender a autonomia da Madeira do centralismo da república. É de facto Luís Vieira de Castro que, no princípio da déc. de 20, e na sequência da época festiva que se vivera na Madeira, em 1922, com a comemoração do 5.º centenário do descobrimento da Madeira, dá voz à propaganda autonomista, ao abrir, nas colunas do seu jornal, um espaço de debate dedicado a este tema. Promove então um inquérito sobre esta temática a algumas figuras ilustres da região. São auscultados o banqueiro Henrique Vieira de Castro, seu pai, e o P.e Fernando Augusto da Silva, entre outros. Não se pensava em independência, mas apenas numa descentralização administrativa, embora o sacerdote tenha defendido a criação de um partido autonomista. Estas ideias autonomistas, vazias de conteúdo, foram ficando no papel, visto que a conceção de Luís Vieira de Castro mais representava uma demarcação relativamente ao regime republicano do continente, que ele combatia. A autonomia, para ele, era apenas uma estratégia para colher dividendos políticos e aglutinar os descontentes contra a república, já que, no seu entender, essa autonomia só seria realizável dentro da monarquia tradicional e antiparlamentar. Isto mesmo o exprime logo no primeiro editorial do Jornal da Madeira: “Descentralização, no rigoroso sentido da palavra, teve-a Portugal, com licença dos espíritos avançados (?) no bom tempo antigo. Veio depois o liberalismo, com eleições, foguetes, discursos, sonetos e hinos – consoante reza o mestre Herculano – e surripiou-nos as atribuições conferidas pelos velhos forais, que eram as autênticas cartas de lei da nossa autonomia. Deu este caminhar para a morte, no tão citado congestionamento do Terreiro do Paço, espectro que nos persegue e atormenta […] para saciar o monstro do Terreiro do Paço e a sua dependência de S. Bento, foi necessário sacrificar quasi todos os valores úteis, por isso que os deslocaram do quadro natural onde deveriam exercer a sua função. A organização política do país é porém, no meu entender, incompatível com a efetivação desse belo pensamento. Quaisquer instituições que se apoiem em partidos políticos estão inibidas de conceder uma reforma administrativa que haveria fatalmente de bulir com o chamado equilíbrio constitucional. O regionalismo, apoiando-se na força histórica da tradição, será de substituir-se aos partidos políticos, gastos e desacreditados, constituindo-se em instrumentos das aspirações locais. Para que elas se convertam em realidade, não teremos de negar a unidade da Pátria” (CASTRO, 1923, 1). Mais do que a autonomia da Madeira, o que movia Vieira de Castro era a vontade de que triunfasse na Ilha uma orientação política diferente da do território continental, a ânsia de afirmação pessoal na política e a defesa dos seus interesses pessoais. A posição assumida perante a Revolta da Madeira, em 1931, viria, aliás, a confirmá-lo. Os problemas locais aparecem em larga escala nas páginas do seu jornal, mas nem sempre são expostos com a clareza que exigiria a sua resolução. A partir de 1924, começa a ser evidente que o país necessita de ordem e de autoridade e a república revela-se incapaz de as proporcionar. É então que Luís Vieira de Castro se vai tornar conspirador, participando nas várias tentativas – falhadas – de golpe contra a república. Neste âmbito, acompanha a preparação do golpe de 18 de abril de 1925, e a derrota no mesmo é considerada um parêntesis amargo na vida política de Luís Vieira de Castro, que acompanha o desenrolar do correspondente processo de julgamento, fazendo da república a ré do mesmo. Nesse ano, embora condenando as eleições, vai concorrer a elas, com sucesso. No entanto, devido a uma irregularidade encontrada nos boletins de voto, não chegará a assumir as funções de deputado. O golpe militar de 28 de maio de 1926 não é tão coberto pelo Jornal da Madeira como o fora o anterior, embora apareça uma entrevista com um militar, no próprio dia do golpe, dando conta dos preparativos e indicando para breve o seu eclodir. Este golpe vitorioso é comentado por Luís Vieira de Castro no seu jornal no dia 3 de junho. Congratulando-se com a vitória dos militares, integra-a no movimento de ressurgimento que caracterizava a época; no entanto, o cariz republicano do golpe põe-no na expectativa e continua dizendo que mantém a sua posição de monárquico que espera pela restauração da monarquia. A partir do contragolpe falhado, em 3 e 7 de fevereiro de 1927, começa o seu percurso ao encontro do regime do Estado Novo, que defende veementemente após a nomeação de Salazar para ministro das Finanças. Por esta altura, volta a defender a autonomia da Madeira, mas já sem a força e o entusiasmo do princípio da década. Em 1928, vai para Lisboa, com o objetivo de dirigir o Correio da Manhã, jornal da Causa Monárquica. A sua índole facciosa vai ser posta em evidência durante a crise por que passou a Madeira nos finais do ano de 1930 e nos princípios de 1931, que levou ao despoletar da já referida Revolta da Madeira. O seu comportamento face a este acontecimento é bastante dúbio. Em novembro de 1930, quando se dá a falência da casa bancária Henrique Figueira da Silva, e no início de 1931, aquando do célebre “decreto da fome”, é ele quem escreve os manifestos incitando o povo à insurreição; mas, quando a rebelião toma figura, ele retira-se de cena, tentando assim defender os seus interesses particulares, esquecendo os da sua terra. Durante estes incidentes, o seu jornal é tomado pelos revoltosos, que se servem das instalações para publicar o jornal Notícias da Madeira, porta-voz do movimento rebelde. Com o esmagamento do levantamento, Luís Vieira de Castro, de regresso ao seu jornal, condena-o como se não tivesse tomado parte ativa nele. Os seus opositores imputam-lhe então ter sido o seu grande impulsionador, e foi inclusivamente acusado de duplicidade por alguns dos seus correligionários políticos. Depois da Revolta da Madeira, pouco se ouviu falar de autonomia. A 30 de abril de 1932, recusa continuar na direção do seu jornal, que entretanto mudara de nome para O Jornal, “em virtude de ocupar outras funções para que era chamado” (O Jornal, 30 abr. 1932, 1) em Lisboa. Neste ano, O Jornal é vendido à Diocese do Funchal. Após o convite feito por Salazar aos monárquicos para que “não se prendessem a cadáveres” (SALAZAR, 1928, 169), entra para a União Nacional em 1934. Em 1940, é um dos organizadores do Congresso do Mundo Português, sendo seu vice-secretário geral. Entre 1942-1945 e 1946-1949, é deputado à Assembleia Nacional. Distinguiu-se também como comentador de política internacional em vários jornais. Foi ainda cônsul da Polónia, sócio da Academia Portuguesa da História, do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia e da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Para além de colaborar com diversos jornais e revistas, Luís Vieira de Castro publicou várias obras de carácter histórico, literário e político, entre as quais se salientam: Nebulosas, Livro Estranho, Civilizados, A Hora Internacional, A Nacionalidade Portuguesa, A Europa e a República Portuguesa, O Mundo Que Finda e o Mundo Que Começa, D. Carlos, Limbo, A Noiva de Dois Reis, O Exílio do Prior do Crato, Em Pé de Guerra, Pedra sobre Pedra, Homens e Livros, Rumo à Vitória, Quarto de Vigia. Faleceu em Lisboa a 7 de setembro de 1954.   Obras de Luís Vieira de Castro: Nebulosas, Livro Estranho (1916); Civilizados (1918); A Hora Internacional; A Nacionalidade Portuguesa (1919); A Europa e a República Portuguesa (1922); “Regionalismo” (1923); O Mundo Que Finda e o Mundo Que Começa, D. Carlos (1935); Limbo; A Noiva de Dois Reis (1936); O Exílio do Prior do Crato; Em Pé de Guerra (1938); Pedra sobre Pedra (1942); Homens e Livros; Rumo à Vitória (1943); Quarto de Vigia (1948).   Emanuel Janes (atualizado a 25.02.2017)

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