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meneses, albino de

De seu nome completo Albino Espiridião de Meneses (Santana, 18 de dezembro de 1889-Funchal, 26 de abril de 1949), assinou alguns dos seus textos com o pseudónimo Adème ou com as iniciais A, A. E. M. ou A. M. Licenciado em Direito pela Univ. de Coimbra e senhor de uma vasta cultura, colaborou na imprensa madeirense a partir de 1907, destacando-se os periódicos Almanach de Lembranças Madeirenses, Diário da Madeira, Diário de Notícias, Diário Popular e O Primeiro de Dezembro. Mesmo vivendo alguns anos no continente, manteve a participação nos jornais da Madeira. Antes de partir para Coimbra, em 1909, cooperou com outros autores ilhéus no romance Uma Tragédia na Madeira, que ficou inacabado. Consta que escreveu um romance que, em 1918, a Livraria Teixeira tinha já no prelo, do qual se imprimiram somente algumas páginas por ter desistido de o publicar. Editores de Lisboa propuseram-lhe a publicação dos seus textos, o que recusou, alegando não produzir nada de valor. No continente, colaborou assiduamente em periódicos e revistas, nomeadamente em O Primeiro de Janeiro, do Porto, em 1913, e, já regressado à Ilha, em 1921, nas revistas coimbrãs Ícaro e Presença. Nesta última, em 1927, publicou o poema“Olá, vadio!”. Pouco se sabe da sua vida. No entanto, tem-se conhecimento de haver participado, de 1917 a 1918, na Primeira Guerra Mundial, o que lhe causou um problema de surdez. Na Ilha, foi colocado em Santana como conservador do Registo Civil, cargo em que se manteve até 1946. A sua predisposição para a doença mental e o alcoolismo levou-o a arredar-se do mundo literário e social, tendo vivido perigosamente até à sua morte, em 1949, devido a uma hérnia estrangulada. Aquando da sua estada no continente, considerado pela crítica um ficcionista de mérito, foi convidado por Boavida Portugal a colaborar no Portugal Intelectual. Inquérito à Vida Literária (1915). Tinha uma escrita poderosa, vibrante e heroica, altamente imagética e metafórica, razão que levou Octávio de Marialva a cognominá-lo de “príncipe da prosa helénica”. Tal como ele, Albino de Meneses praticou o culto da aristocracia do espírito, do vago, do esotérico e do misterioso, exaltando a cultura grega e os exotismos orientais, o que se nota sobretudo no conto A Noite Bizantina, título que o historiador Nelson Veríssimo atribuiu a um livro resultante de uma aturada pesquisa dos seus textos dispersos, que em 1991, a então Direção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC) publicou. Em 2011, a investigadora Dalila Pestana fez uma recolha de grande parte dos seus escritos, que reuniu num livro, publicado também pela DRAC, intitulado Lava Fervente, o qual contou com o prefácio do Prof. Doutor Arnaldo Saraiva. No período que passou na capital, frequentou a tertúlia da Brasileira, onde pontificavam os órficos. Ali conheceu e privou com Fernando Pessoa, o qual, admirando-o, o convidou, em 1917, a colaborar no Orpheu 3. Albino de Meneses dispôs-se a fazê-lo com o conto “Após o rapto”. No entanto, por falta de verba, a revista acabou por não ser editada. Autor singular de epístolas, contos e novelas, publicou também boa poesia. Tanto Nelson Veríssimo como Pedro da Silveira inserem-no no decadentismo que coexistiu com o modernismo no Orpheu. Há também, na sua obra, marcas ultrarromânticas e parnasianas. Só a partir de 1915 o seu discurso passa a apresentar coordenadas modernistas, aproximando-se de Mário de Sá-Carneiro e, em parte, do heterónimo pessoano Álvaro de Campos pelas marcas futuristas, sensacionistas e intersecionistas que se revelam nos seus textos. O amor e a mulher, a própria mãe foram os temas centrais da escrita menesiana, numa linguagem rítmica e descritiva, apresentando ricas figuras de estilo como, e.g., sinestesias. Deixou inédita a novela Caleschèse. Abandonou definitivamente a literatura em 1936, ficando dispersos todos os seus textos. No início do séc. XXI, vários investigadores nacionais têm-se debruçado sobre a sua prosa, considerando-a digna de profundos estudos e ampla divulgação. Obras de Albino de Meneses: “Olá, vadio!” (1927); A Noite Bizantina (1991); Lava Fervente (2011). Bibliog.: CLODE, Luiz Peter, Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses. Sécs. XIX e XX, Funchal, Caixa Económica do Funchal, 1983; GOUVEIA, Horácio Bento, “Grande escritor madeirense Albino de Meneses (1889-1949)”, Das Artes e da História da Madeira, n.os 19-20, 1955, pp. 19-22; Id., “Evocando Albino de Meneses”, Diário de Notícias, Funchal, 7 jun. 1964; GUIMARÃES, Fernando, “Albino de Meneses e o modernismo”, Jornal de Letras, Artes & Ideias, 12 maio 1992; MARINO, Luís, Musa Insular: Poetas da Madeira, Funchal, Eco do Funchal, 1959; MARTINS, Carlos, “Ainda recordando um amigo Dr. Albino Espiridião de Meneses”, Comércio do Funchal, 5 jul. 1964, p. 3; PEREIRA, José Carlos Seabra, “Em torno do Orpheu. A outra literatura”,in DIX, Steffen (org.), 1915. O Ano do Orpheu, Lisboa, Tinta-da-china, 2015, pp. 97-120;PESTANA, Dalila, “Albino de Meneses e o fascínio do feminino”, Islenha, n.º 43, jul.-dez. 2008, pp. 37-55; SARAIVA, Arnaldo, “O ‘frustrado’ e abençoado Orpheu”, in DIX, Steffen (org.), 1915. O Ano do Orpheu, Lisboa, Tinta-da-china, 2015, pp. 407-420; SILVA, António Marques da, “Dr. Albino de Meneses”, Jornal da Madeira, 4 jul. 1973; SILVEIRA, Pedro da, “Um modernista madeirense. Albino de Meneses”, Islenha, n.º 6, jan.-jun. 1990, pp. 115-116; TEIXEIRA, Maria Mónica, “A Noite Bizantina de Albino de Meneses em busca da Alma Rara”, Islenha, n.º 13, jul.-dez. 1993, pp. 5-10; Id., Tendências da Literatura na Ilha da Madeira nos Séculos XIX e XX, Funchal, CEHA, 2005; VERISSÍMO, Nelson, “No centenário do nascimento dum modernista, Albino de Meneses”, Diário de Notícias, sup. Cultura, Funchal, 17 dez. 1989. Fátima Pitta Dionísio artigos relacionados: poetas bettencourt, edmundo luzia (luísa susana grande de freitas lomelino) nascimento, joão cabral do marialva, octávio de  

Literatura

bettencourt, edmundo

Edmundo Bettencourt De seu nome completo Edmundo Alberto de Bettencourt (Funchal, 7 de agosto de 1899-Lisboa, 1 de fevereiro de 1973), revelou-se como poeta quando era ainda aluno do Liceu do Funchal, tendo publicado o primeiro poema (sonetilho) no Diário de Notícias. Findo o curso liceal, partiu, em 1918, com 19 anos, para Lisboa, onde, por pouco tempo, frequentou a Faculdade de Direito da Univ. de Lisboa, transferindo-se, mais tarde, para a de Coimbra, cidade da sua sagração como poeta-cantor, mas sem chegar a licenciar-se.   Colaborador assíduo da imprensa insular e continental, destacou-se como membro fundador da revista Presença (1927), tendo-se-lhe juntado mais tarde Casais Monteiro e Miguel Torga. Conhecida também como Folha de Arte e Cultura, congregou um movimento vanguardista, digno herdeiro do Orpheu. Edmundo de Bettencourt colaborou também noutras importantes revistas, com destaque para Bysâncio, Vértice, Ocidente e Seara Nova. Foi incluído por António Pedro no Cancioneiro do 1º Salão dos Independentes, por Campos de Figueiredo, na Breve Antologia de Poesia Moderna e, por João Carlos, no Cancioneiro de Coimbra. O seu estro refletiu-se ainda na Gacete Literaria de Madrid, bem como noutras revistas estrangeiras, tendo sido incluído por Vitorino Nemésio e Carlos Queirós noutras antologias. Em 1930, rompeu definitivamente com o movimento presencista, no que foi secundado por Branquinho da Fonseca e Miguel Torga, por achar que os presencistas se haviam demitido da defesa de valores sociais e políticos pelos quais sempre se batera e ainda por desejar seguir um caminho novo, eminentemente moderno. Recusou-se, também por isso, a colaborar na revista dissidente Sinal, mantendo-se, a partir de então, à margem de grupos literários, deixando igualmente de cantar e gravar discos e fixando-se definitivamente em Lisboa. Republicano, laico e anarquista convicto, pautava a sua vida pela vivência de ideais, tendo sempre recusado servir-se da política para benefício pessoal. Repudiava abertamente o salazarismo, tendo sido perseguido, sobretudo quando, por altura da Segunda Guerra Mundial, apôs a assinatura num abaixo-assinado de reivindicação sindical. Era então trabalhador na Comissão Reguladora do Comércio de Metais, na capital. Exerceu ainda outras profissões, a última das quais foi a de delegado de propaganda médica. Por haver, nos seus tempos de Coimbra, ousado cantar “Samaritana”, de Álvaro Leal, foi altamente atacado pela hierarquia da Igreja Católica, mas debalde, pois a sua voz de “rouxinol da Madeira” ou “bicho canoro” (como era conhecido) celebrizou para sempre esta canção. Publicou em vida quatro livros de poesia, nos quais reuniu poemas de vários anos, a saber: O Momento e a Legenda (1917-1930); Rede Invisível (1930-1933), que Herberto Helder muito elogiou; Poemas Surdos (1934-1940) e Ligação (1936-1962). Anos mais tarde, em 1963, o poeta Herberto Helder, de quem se tornou grande amigo e com o qual participou nas tertúlias dos cafés Gelo, Royal e Montanha, reuniu a sua poesia toda sob o título Poemas de Edmundo de Bettencourt, prefaciou-a e fê-la publicar pela Portugália Editora, na coleção Poetas de hoje. Por sua vez, a Assírio & Alvim, em 1981, procedeu a uma reedição de Poemas Surdos, livro no qual o poeta revela a sua faceta surrealizante. Herberto Helder considerou-o, com toda a justiça, uma das mais importantes vozes do modernismo português, bem como precursor do surrealismo em Portugal. João de Brito Câmara, outro poeta “madeirense” próximo da Presença, na importante entrevista que lhe fez para a separata literária do semanário Eco do Funchal, em 1944, aquando de uma breve passagem pela Madeira, levou-o a discorrer sobre a modernidade, afirmando-se então Bettencourt como um poeta 100% moderno. Não fora a sua natural timidez e o seu progressivo afastamento dos meios literários, mais cedo teria sido reconhecido como o grande poeta que efetivamente foi. Revelou-se também um exímio intérprete da canção de Coimbra, que revolucionou, e de canções populares, ombreando com António Menano, Paradela de Oliveira e Armando Góis, entre outros. Foi na república do Funchal, em Coimbra, que estilizou a arte canora, acompanhado, à guitarra, por Artur Paredes, mestre neste desempenho. Com ele e António Menano, realizou digressões a Espanha, atuando em Valhadolid, Salamanca e Madrid, e ao Brasil. Teve um retumbante êxito. Gravou na altura muitos discos, que lhe renderam bom dinheiro. Entusiasmado com o seu estro, o maestro Fernando Lopes Graça transformou o seu poema“Liberdade” num canto heróico. Foi elogiado por Manuel Alegre e Zeca Afonso, que o considerou o maior cantor de fados de sempre e precursor da canção de intervenção em Portugal. Edmundo de Bettencourt foi ainda crítico de cinema, tendo tentado introduzir, em Portugal, a fotografia experimental, no que foi pioneiro. Pelo seu alto valor como poeta-cantor, mereceu as caricaturas que dele fizeram vários artistas. Em 1999, aquando do centenário do seu nascimento, o Governo Regional da Madeira o homenageou com uma sessão pública e a colocação de uma placa de metal na casa onde nasceu, à R. dos Murças, no Funchal. No mesmo ano, a então Direção Regional dos Assuntos Culturais editou, em parceria com a Assírio & Alvim, a sua obra completa, Poemas de Edmundo de Bettencourt, bem como o livro de António Nunes, intitulado No Rasto de Edmundo de Bettencourt. Uma Voz para a Modernidade. Pela mesma altura, publicaram-se alguns estudos, mormente na revista Islenha, sobre a sua poesia. Obras de Edmundo Bettencourt: O Momento e a Legenda (1930); Rede Invisível (1933); Poemas Surdos (1940); “Liberdade” (1946); Ligação (1962); Poemas de Edmundo de Bettencourt (1963).     Fátima Pitta Dionísio     artigos relacionados poetas cancioneiro geral (poetas madeirenses no) música joão cabral do nascimento  

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