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andrade, maria lucinda de sousa

Maria Lucinda de Sousa Andrade nasceu no sítio das Feiteiras de Cima, freguesia e concelho de São Vicente, na costa Norte da Ilha da Madeira a 10 de março de 1903. Filha de João Francisco de Andrade e de Dª. Amélia Carolina de Sousa, foi batizada na igreja matriz desta freguesia a 24 de março do mesmo ano sendo seus padrinhos seu tio materno Carlos João de Sousa e Nossa Senhora, (segundo prática habitual no seio da religião católica em que é possível consagrar uma criança a uma figura do culto católico no momento do batismo ou por falta de um dos padrinhos ou por vontade dos pais). O casal teve outras duas filhas, Maria Pia (n. 22.06.1900) e Teresa (n. 09.02.1908) sendo Lucinda a filha do meio e, segundo relatos, em São Vicente as três irmãs eram conhecidas quando solteiras como “as meninas Andrade”, sendo que Lucinda Andrade nunca viria a contrair matrimónio. Após terminar o ensino básico no ensino particular, rumou à capital madeirense onde completou o sétimo ano do Curso dos Liceus no Liceu Nacional do Funchal e na década de 30, com vista a prosseguir uma carreira no ensino, terá frequentado um curso de Pedagogia em Lisboa no Liceu de Pedro Nunes, segundo uma notícia publicada no Jornal da Madeira aquando da sua morte (Jornal da Madeira, 13.10.2000), embora no decurso desta investigação tenha surgido também a hipótese de haver frequentado a Escola Pedagógica João de Deus, não nos foi possível confirmar nenhuma das hipóteses sendo que certo é que ambas as instituições eram então estruturas vocacionadas para a formação de professores. Mais tarde, de volta ao Funchal, iniciou a sua carreira docente e em 1943 regressou à freguesia de São Vicente, de onde, exceto em viagem, não voltaria a sair, dedicando-se ao ensino – atividade que exerceria durante toda a sua vida. Considerada a “mãe” do ensino secundário no concelho de São Vicente, a vida de Lucinda Andrade está intimamente ligada à evolução do ensino nesta localidade, pois até meados da década de 60, em São Vicente, o ensino era ministrado em regime de ensino particular por professores em suas residências, sendo que Lucinda Andrade ensinava já matérias do nível secundário e chegou a preparar na sua residência uma divisão para o efeito, onde em “mesas estreitas e bancos corridos”, ensinava Inglês, Português, Matemática, Desenho e Físico-química sendo a sua área de eleição o Francês, em que era considerada “excelente”, preparando os alunos ditos “auto-propostos” para os exames de 2º e 5º ano do Liceu. Tendo em conta que os dados estatísticos revelam que na primeira metade do século XX o analfabetismo na RAM ascendia aos 70%, valor que só minguaria para os 33% a partir da década de 60 após a criação do Plano de Educação Popular e da Campanha Nacional de Educação de Adultos em 1952, pode-se associar a crescente alfabetização da população do Norte da ilha da Madeira, e em especial no concelho de São Vicente, à enérgica ação de Lucinda Andrade assumindo esta o papel de grande impulsionadora do ensino neste concelho, que a agraciou por seus méritos em 1983 com a sua Medalha Municipal (Id., Ibid ,.). Em 1964, aquando da criação do Externato São Vicente, no sítio das Casas Novas, fez parte do corpo docente inicial desta instituição de ensino vocacionada para o ensino do 1º e 2º ciclo do ensino Liceal, com capacidade para 80 alunos de ambos os sexos – algo pouco habitual na época – e que se manteria em regime de ensino particular até 1988, ano em que, por se considerar “ser necessário proceder à criação do Ensino preparatório e Secundário oficial nesta Vila [de São Vicente] (…), foi criada a Escola Preparatória e Secundária de São Vicente; que entrou em funcionamento no ano letivo de 1988-1989”. Ainda no ano de 1988, por deliberação do Conselho de Governo e assente no Ofício – Circular nº 189/4.0.1/88, atribuiu-se à nova entidade escolar a denominação de Escola Preparatória e Secundária Dona Lucinda Andrade, como forma de homenagear a professora que “dedicou toda a sua vida ao ensino, com espírito de abnegação invulgar e extraordinária competência e zelo.”, citando o documento supramencionado. As novas instalações da atual Escola Básica e Secundária Dona Lucinda Andrade foram inauguradas no sítio do Passo no dia 04 de outubro de 1993, em cerimónia que contou com a presença do então Presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, do Secretário Regional da Educação, Francisco Santos e Gabriel Drummond, Presidente da Câmara Municipal de São Vicente e em que Lucinda Andrade teve a honra de destapar a placa ostentando o seu nome (fig.2). De referir que a atual escola comemora anualmente o Dia da Escola a 10 de março, data de nascimento de Lucinda Andrade. Fig. 2– Inauguração da Escola Básica e Secundária Dona Lucinda Andrade. 04.10.1993. Foto do arquivo pessoal de Teresa Silva Atendendo ao falecimento recente de Lucinda Andrade, bem como à escassez de material consultável onde se pudesse apoiar este texto, ele acabou por ser produzido com recurso, sobretudo, a testemunhos obtidos de antigos alunos, colegas de profissão, amigos e familiares que nos traçaram o perfil de uma mulher de personalidade forte, vivaz e determinada, ainda que reservada e pouco dada a contactos sociais tendo recebido as homenagens que lhe foram prestadas com “aparente modéstia”. Pioneira e empreendedora, terá sido das primeiras mulheres a conduzir um automóvel em São Vicente, era “muito culta”, amante da moda, cultivando um extremo cuidado com a sua imagem, sendo senhora de postura altiva e grande beleza física, “a sua maior relação era com os alunos”, segundo relatos, dizendo-se mesmo que “dava a vida pelos alunos”, atribuindo-se à sua paixão pela Educação o facto de não haver constituído família. Contudo, ainda segundo relatos a própria Lucinda Andrade terá comentado certa vez sobre o tema: “não calhou” [casar]. Faleceu na cidade do Funchal no dia 12 de outubro de 2000, aos 97 anos, vítima de acidente doméstico em sua residência de São Vicente. Isilda Quintal Fernandes     artigos relacionados silva, ângelo augusto da liceu / escola secundária jaime moniz moniz, jaime a obra das mães pela educação nacional na madeira

História da Educação Educação História Económica e Social

nóbrega, ciríaco de brito

  Ciríaco de Brito Nóbrega (1856-1928). Photographia Vicente, 17 Dezembro 1912. Col. ABM – Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira. Jornalista e escritor, Ciríaco de Brito Nóbrega nasceu a 16 de março de 1856 na freguesia de São Pedro, Funchal. Filho de Roberto Constantino Nóbrega e de Matilde Leocádia de Nóbrega, moradores na Rua Nova de São Pedro da freguesia com o mesmo nome. Foi batizado na igreja de São Pedro a 27 de março do mesmo ano e apadrinhado pelos clérigos Zeferino José de Santa Ana, "reverendo beneficiado" da Igreja de São Pedro e Joaquim Gomes da Silva Lume, Vigário da mesma, segundo consta do seu registo de batismo. Casou a 13 de setembro de 1883 na Igreja Paroquial de São Pedro com D. Maria Cândida Mesquita Spranger, de quem teve três filhos: D. Maria Isabel Mesquita Spranger de Brito e Nóbrega, Fernando Ciríaco Spranger Brito e Nóbrega e D. Ana Brito e Nóbrega Lomelino Victor. Foi funcionário das finanças como primeiro-oficial da repartição da Fazenda do Distrito do Funchal, integrou as comissões executiva e de propaganda e publicidade para as comemorações do V Centenário do Descobrimento da Madeira e terá também feito parte da comissão instaladora do Instituto Madeirense das Letras, Sciencias e Artes, conforme noticiado na edição de 11 de março de 1917 do periódico O Progresso. Foi redator do periódico literário mensal As Faíscas (de março a setembro [4 nºs] de 1883), do Aurora Liberal: Semanario Litterario, mais tarde designado de Orgão do Gremio Litterario Madeirense (de Dezembro de 1875 a Fevereiro de 1876, havendo sido publicados oito números) e redator principal do Diário de Notícias da Madeira durante vinte anos (1907 - 1927) “e como jornalista deixou o seu nome ligado à reportagem dos mais importantes acontecimentos dessa época” (CLODE, 1983, 333). Foi autor de diversas crónicas publicadas em vários periódicos literários e noticiosos usando diversos pseudónimos. É descrito nas páginas do Elucidário Madeirense como um dos escritores regionais destacados do último quartel do séc. XIX, ao lado de nomes como Dª. Joana Castelo Branco, Carlos Azevedo de Menezes ou António Feliciano Rodrigues (Castilho), (SILVA e MENEZES, 1998, III, 276. Considerado pioneiro na literatura madeirense no que concerne às narrativas ficcionais de crime, por alturas da sua morte era “o decano dos jornalistas madeirenses”, tendo nessa qualidade prestado importantes serviços, pois na escrita dos editoriais que diariamente abriam cada nova edição do Diário de Notícias, onde era chefe redator, não se coibia de ter uma atitude interventiva focando vários temas de interesse para o desenvolvimento da sociedade madeirense tais como questões sociais, com artigos reivindicativos da criação de um serviço de medicina dentária para as populações desfavorecidas, de melhores salários para a polícia pública, manutenção e alargamento do sistema de abastecimento de água potável à população; questões relacionadas com igualdade de género; questões económicas, versando acerca do monopólio inglês da indústria açucareira, mostrando-se contra o mesmo; e até temas relacionados com urbanismo, focando a cidade do Funchal e fazendo observações a partir das quais é possível alvitrar que Ciríaco de Brito Nóbrega seria provavelmente apoiante do plano urbanístico de Ventura Terra, apresentado no ano de 1915. Focava ainda assuntos da História regional, abordando o tema do Descobrimento da Madeira e de política. Esta atitude interventiva é corroborada pelos editoriais na imprensa regional que lhe foram dedicados aquando da sua morte: “Deve ainda estar na memória de muitas pessoas os retumbantes artigos que publicou (...) todos em prol dos oprimidos e das necessidades mais urgentes da Madeira.” (Diário de Notícias, 03.04.1928); “As classes pobres perderam um amigo, porque no jornal em que ele trabalhou, não recusava o auxílio da sua pena na colaboração e propaganda das obras creadas para irem ao encontro do órfão, ou da velhice, enfim, dos desherdados da sorte.” (O Jornal, 03.04.1928). Publicou em 1898 o romance Um marinheiro do século XV, em coautoria com Óscar Leal e em 1901 o romance O Perdão do Marido, cujos primeiros capítulos foram inicialmente publicados na secção “Folhetim” do Diário de Notícias do Funchal nos primeiros meses do ano, cujos primeiros exemplares foram colocados para venda a partir do dia 23 de junho, conforme noticiou este jornal a 15 de junho de 1901 (Diário de Notícias, 15 de Junho de 1901). Escreveu A Visita de Suas Majestades os reis de Portugal ao archipélago Madeirense: narração das festas, obra que descreve as comemorações ocorridas na Madeira por altura da visita do rei D. Carlos e da rainha Dª Amélia em 1901 dedicada e oferecida ao então recém-eleito governador civil do distrito José Ribeiro da Cunha, a quem “coube a singular honra (…) de dirigir as imponentes festas realisadas na Madeira por occasião da recente visita de Suas Majestades” e a quem “também em boa parte [coube] a glória do brilhante exito d'essas festas, cuja descrição se impôz ao meu espírito como um dever patriótico.”(NÓBREGA, 1901, 3). Esta é uma obra que ostenta um elevado cunho patriótico de exaltação nacionalista, seja por parte do próprio autor, seja na forma como narra a reação dos habitantes da ilha à presença da família real, impressões estas que seriam corroboradas pelos telegramas enviados pelo Conselheiro de Estado e então líder do Partido Regenerador Ernesto Hintze Ribeiro ao Ministro da Justiça: “ Suas Majestades gozam de excellente saude, e vivamente impressionadas com a belleza das paizagens e o inexcedível enthusiasmo com que são acolhidas” (ç, 115). Dedicou a sua narrativa histórica intitulada Uma Gloria Portugueza publicada nas páginas do jornal O Liberal, Orgão do Partido Liberal, a Álvaro Rodrigues de Azevedo, responsável pela cadeira de oratória, poética e literatura do Liceu Nacional do Funchal, procurador à Junta Geral e membro do Conselho de Distrito “como homenagem á elevada erudicção e aos nobres sentimentos que adornão a alma de v. excª, digne-se permittir que o seu nome respeitavel venha honrar este humilde trabalho, - debil producto da minha pobre intellingencia” (O Liberal, 15 de Dezembro de 1875, p 1). Publicou os romances Um Crime Célebre (1883), sob o pseudónimo de Alberto Didot, e Jorge (1875), como F. Arnault tendo sido possível estabelecer que Ciríaco assumiu o papel de “tradutor” de obras que ele próprio concebera, assinando sob pseudónimo. Ainda que não tenha sido possível determinar as razões pelas quais Brito Nóbrega se dizia tradutor do seu próprio trabalho, ter-se-á que assumir essa atitude como incontestável através da leitura da nota introdutória em Um Crime Célebre onde claramente assume Didot como sendo um pseudónimo: “Alberto Didot – um pseudonymo, - (...) foi inspirado por uma ideia, que julgou a mais feliz da sua vida: escrever um romance...”, o que entra em contrassenso com a nota final da mesma obra: “… [o] único merecimento [do leitor ler esta obra] é devido ao talento do auctor. O traductor para si não quer glorias. Com sinceridade: a tradução do romance nada vale.”(DIDOT, 1883). Este comportamento ambíguo na produção literária de Brito Nóbrega, que também se manifestou nos contos e novelas, quase sempre com forte cunho moralista, que publicou em diversos periódicos que assinou sob diversos pseudónimos (periódicos literários) pode ter estado na origem de uma contenda com o poeta Jaime Câmara, que lhe dedicou um opúsculo satírico intitulado Sátyra – O Funeral do Cyriaco. Ainda da autoria de Brito Nóbrega é o romance Os Mistérios do Funchal, cuja publicação data de 1881 pela Typographia do Diário da Madeira, numa edição dita “anónima”, mas que foi posteriormente a si atribuída numa recensão literária publicada no Diário de Notícias, provavelmente da autoria de Alfredo César de Oliveira (1840-1908), fundador do título matutino (Diário de Notícias, 28 de Agosto de 1881). De cunho marcadamente situado no âmbito da “Literatura de mistérios”, género muito em voga e com grande popularidade na época a que nos reportamos, a obra foi reeditada pela Imprensa Académica em 2018. Isabel de Brito Nóbrega, sua filha, terá seguido as pegadas do pai pelos caminhos da literatura pois figura na antologia de poetas da Madeira Musa Insular organizada por Luis Marino publicada em 1959 onde encontramos, entre outros, um soneto petrarquiano dedicado ao pai sob o título “Coração de Pai (trinta anos depois)”: naquela escura tarde em que partia / Sereno, as mãos em cruz, como a rezar, / Com ele se apartou, foi a enterrar / A luz que neste mundo incerto eu via (MARINO, 1959, 377). Com elevado sentido crítico e considerado por muitos um “polemista de largos recursos”, Brito Nóbrega era imbuído dos ideais liberais e refere-se entusiasticamente à fundação do jornal O Liberal, orgão do Partido Liberal na edição do periódico Aurora Liberal: “Appareceu um novo campeão das ideias democratas com o titulo de Liberal. O primeiro numero, apresentou-se grave e elegantemente redigido. Bemvindo sejaes, ó Liberal! Desejamo-vos um futuro brilhante e uma vida duradoura!” (Aurora Liberal, 21.12.1875). Faleceu no Funchal no dia 1 de abril de 1928 vítima de “sincope cardíaca” aos 72 anos. Obras de Ciríaco de Brito Nóbrega: A Visita de Suas Majestades os Reis de Portugal ao Arquipélago Madeirense: narração das Festas, Tipografia Esperança, Funchal, 1901; Os Mistérios do Funchal, Typographia do Diário da Madeira, 1881 e Imprensa Académica, 2018 ; O Perdão do Marido,Tipografia Esperança, Funchal, 1901; Um Crime Célebre, pseud. Alberto Didot, Funchal, Tipografia Popular, 1883; Um Marinheiro do Século XV, (co-autor.) Tipografia Esperança, Funchal, 1898; Jorge, de F. Arnault, (trad.) Funchal, 1875. teatro: A Roleta, apresentada em três actos pela Companhia Lírica italiana, sob a direcção do Maestro Petri, Funchal, 1889   Isilda Quintal Fernandes   artigos relacionados luzia (luísa susana grande de freitas lomelino) bettencourt, edmundo nunes, diocleciano francisco de assis periódicos literários (sécs. xix e xx)

Literatura Sociedade e Comunicação Social

igrejas e capelas erguidas pela força da fé

A Ordem de Cristo com o Infante D. Henrique como Grão Mestre teve um papel fundamental na expansão portuguesa. Um dos territórios descobertos por nobres pertencentes à casa do Infante foi o arquipélago da Madeira, que viria a tornar-se uma posse da Ordem de Cristo até D. Manuel se ter tornado rei de Portugal, em 1495. Mas a relação de grande proximidade à Igreja Católica Romana manteve-se ao longo dos séculos, cristalizando-se na paisagem através das igrejas e capelas, algumas das quais de cariz particular. Igreja Nova do Jardim da Serra A nova Igreja do Jardim da Serra, desenhada por Cunha Paredes, arquitecto português de origem madeirense, e inaugurada em 2009 tem invocação a São Tiago e constitui-se como símbolo da forte religiosidade católica da população e da melhoria das condições económicas que caracterizou nas últimas décadas a ilha da Madeira. A comparação das suas características e dimensão com as da anterior sede paroquial, situada bem próxima desta, é elucidativa. Capela da Mãe de Deus - Caniço A Capela da Mãe de Deus ou Madre de Deus, de traça manuelina, foi construída em 1536 e é um dos mais antigos templos marianos na Madeira. Integra-se num pequeno núcleo de construção mais antiga que se confronta com a construção mais recente que o rodeia, constituído por uma mercearia, e duas habitações particulares, que mantêm as características originais. Nas casas é possível observar a distinção das cores, o vermelho e o ocre, resultantes do facto de estes serem os únicos pigmentos disponíveis, mas também do facto de as cores carregarem o símbolo de classe ou de status social. O vermelho estava reservado para as casas senhoriais e mais abastadas. Observe-se ainda o banco em pedra, espaço de socialização e de lazer. Capela de São José - Largo da Achada, Camacha Foi mandada erigir por Alfredo Ferreira Nóbrega Júnior em 1924 e concluída em 1928, que pretendeu desde o início criar um espaço educativo de cariz religioso. Possui um altar-mor rico em ornamentação e bem conservado bem como uma obra de Martin Canan. O livro “Ao Redor de um Ideal”, de Eutíquio Fusciano, publicado com a chancela da Câmara Municipal de Santa Cruz, é um dos documentos que podem ser consultados. Igreja Paroquial da Camacha A construção deste imóvel dedicado ao culto católico data do século XVII. Trata-se de uma estrutura arquitectónica com planta longitudinal de nave única e capela-mor. Completam o conjunto uma torre sineira e duas capelas laterais. Como elemento decorativo destaca-se a tela do retábulo da capela-mor, ali colocado no ano de 1914 e com provável autoria dos Irmãos Bernes. Aquando da sua recuperação descobriu-se que a mesma tapava outra tela, a original, provavelmente da autoria de Nicolau Ferreira Igreja Paroquial da Achada de Gaula Uma das duas paróquias da freguesia de Gaula, denominada Achada de Gaula, encontra sede nesta igreja construída já no século XX. Tem por padroeira a Nossa Senhora da Graça. Das festividades que aqui ocorrem destaque-se a festa em honra da sua padroeira, realizada no primeiro fim-de-semana depois de 15 de Agosto. Em Janeiro realiza-se, desde há relativamente pouco tempo, a Festa de Santo Antão, padroeiro dos animais. Igreja de Santa Beatriz - Água de Pena Construída no ano de 1745, no local onde antes existia a Capela de Santa Beatriz, e a partir de onde segundo as crónicas, cresceu a freguesia. Foi mandada construir por Lançarote Teixeira, que lhe deu o nome da Santa Beatriz, por ser o mesmo de sua esposa. A fachada principal ostenta a cantaria regional, de basalto, e no cimo da mesma uma Cruz de Cristo. No último Domingo de Julho realiza-se uma festa popular em honra de Santa Beatriz e que tem nesta Igreja o seu epicentro. Igreja Paroquial do Porto da Cruz Sendo de construção recente (1958), a Igreja matriz alberga no seu interior alguns pormenores muito interessantes no que respeita ao património imaterial e móvel. No interior, observa-se um moderno lambril de azulejos padronados do prestigiado artista Querubim Lapa. O templo guarda ainda alguns elementos decorativos barrocos provenientes da antiga igreja de Nossa Senhora de Guadalupe. Uma Nossa Senhora de Guadalupe (séc. XVI ou XVII, em madeira policromada) e um Santo António (em terracota). Os quadros da Via-sacra são de autoria de João Gomes Lemos, de pseudónimo "Melos", médico natural da freguesia. É uma obra do Arquitecto Raul Chorão Ramalho.   textos: César Rodrigues fotos: Rui A. Camacho

História da Arte Religiões Rotas Madeira Cultural

bettencourt, edmundo

Edmundo Bettencourt De seu nome completo Edmundo Alberto de Bettencourt (Funchal, 7 de agosto de 1899-Lisboa, 1 de fevereiro de 1973), revelou-se como poeta quando era ainda aluno do Liceu do Funchal, tendo publicado o primeiro poema (sonetilho) no Diário de Notícias. Findo o curso liceal, partiu, em 1918, com 19 anos, para Lisboa, onde, por pouco tempo, frequentou a Faculdade de Direito da Univ. de Lisboa, transferindo-se, mais tarde, para a de Coimbra, cidade da sua sagração como poeta-cantor, mas sem chegar a licenciar-se.   Colaborador assíduo da imprensa insular e continental, destacou-se como membro fundador da revista Presença (1927), tendo-se-lhe juntado mais tarde Casais Monteiro e Miguel Torga. Conhecida também como Folha de Arte e Cultura, congregou um movimento vanguardista, digno herdeiro do Orpheu. Edmundo de Bettencourt colaborou também noutras importantes revistas, com destaque para Bysâncio, Vértice, Ocidente e Seara Nova. Foi incluído por António Pedro no Cancioneiro do 1º Salão dos Independentes, por Campos de Figueiredo, na Breve Antologia de Poesia Moderna e, por João Carlos, no Cancioneiro de Coimbra. O seu estro refletiu-se ainda na Gacete Literaria de Madrid, bem como noutras revistas estrangeiras, tendo sido incluído por Vitorino Nemésio e Carlos Queirós noutras antologias. Em 1930, rompeu definitivamente com o movimento presencista, no que foi secundado por Branquinho da Fonseca e Miguel Torga, por achar que os presencistas se haviam demitido da defesa de valores sociais e políticos pelos quais sempre se batera e ainda por desejar seguir um caminho novo, eminentemente moderno. Recusou-se, também por isso, a colaborar na revista dissidente Sinal, mantendo-se, a partir de então, à margem de grupos literários, deixando igualmente de cantar e gravar discos e fixando-se definitivamente em Lisboa. Republicano, laico e anarquista convicto, pautava a sua vida pela vivência de ideais, tendo sempre recusado servir-se da política para benefício pessoal. Repudiava abertamente o salazarismo, tendo sido perseguido, sobretudo quando, por altura da Segunda Guerra Mundial, apôs a assinatura num abaixo-assinado de reivindicação sindical. Era então trabalhador na Comissão Reguladora do Comércio de Metais, na capital. Exerceu ainda outras profissões, a última das quais foi a de delegado de propaganda médica. Por haver, nos seus tempos de Coimbra, ousado cantar “Samaritana”, de Álvaro Leal, foi altamente atacado pela hierarquia da Igreja Católica, mas debalde, pois a sua voz de “rouxinol da Madeira” ou “bicho canoro” (como era conhecido) celebrizou para sempre esta canção. Publicou em vida quatro livros de poesia, nos quais reuniu poemas de vários anos, a saber: O Momento e a Legenda (1917-1930); Rede Invisível (1930-1933), que Herberto Helder muito elogiou; Poemas Surdos (1934-1940) e Ligação (1936-1962). Anos mais tarde, em 1963, o poeta Herberto Helder, de quem se tornou grande amigo e com o qual participou nas tertúlias dos cafés Gelo, Royal e Montanha, reuniu a sua poesia toda sob o título Poemas de Edmundo de Bettencourt, prefaciou-a e fê-la publicar pela Portugália Editora, na coleção Poetas de hoje. Por sua vez, a Assírio & Alvim, em 1981, procedeu a uma reedição de Poemas Surdos, livro no qual o poeta revela a sua faceta surrealizante. Herberto Helder considerou-o, com toda a justiça, uma das mais importantes vozes do modernismo português, bem como precursor do surrealismo em Portugal. João de Brito Câmara, outro poeta “madeirense” próximo da Presença, na importante entrevista que lhe fez para a separata literária do semanário Eco do Funchal, em 1944, aquando de uma breve passagem pela Madeira, levou-o a discorrer sobre a modernidade, afirmando-se então Bettencourt como um poeta 100% moderno. Não fora a sua natural timidez e o seu progressivo afastamento dos meios literários, mais cedo teria sido reconhecido como o grande poeta que efetivamente foi. Revelou-se também um exímio intérprete da canção de Coimbra, que revolucionou, e de canções populares, ombreando com António Menano, Paradela de Oliveira e Armando Góis, entre outros. Foi na república do Funchal, em Coimbra, que estilizou a arte canora, acompanhado, à guitarra, por Artur Paredes, mestre neste desempenho. Com ele e António Menano, realizou digressões a Espanha, atuando em Valhadolid, Salamanca e Madrid, e ao Brasil. Teve um retumbante êxito. Gravou na altura muitos discos, que lhe renderam bom dinheiro. Entusiasmado com o seu estro, o maestro Fernando Lopes Graça transformou o seu poema“Liberdade” num canto heróico. Foi elogiado por Manuel Alegre e Zeca Afonso, que o considerou o maior cantor de fados de sempre e precursor da canção de intervenção em Portugal. Edmundo de Bettencourt foi ainda crítico de cinema, tendo tentado introduzir, em Portugal, a fotografia experimental, no que foi pioneiro. Pelo seu alto valor como poeta-cantor, mereceu as caricaturas que dele fizeram vários artistas. Em 1999, aquando do centenário do seu nascimento, o Governo Regional da Madeira o homenageou com uma sessão pública e a colocação de uma placa de metal na casa onde nasceu, à R. dos Murças, no Funchal. No mesmo ano, a então Direção Regional dos Assuntos Culturais editou, em parceria com a Assírio & Alvim, a sua obra completa, Poemas de Edmundo de Bettencourt, bem como o livro de António Nunes, intitulado No Rasto de Edmundo de Bettencourt. Uma Voz para a Modernidade. Pela mesma altura, publicaram-se alguns estudos, mormente na revista Islenha, sobre a sua poesia. Obras de Edmundo Bettencourt: O Momento e a Legenda (1930); Rede Invisível (1933); Poemas Surdos (1940); “Liberdade” (1946); Ligação (1962); Poemas de Edmundo de Bettencourt (1963).     Fátima Pitta Dionísio     artigos relacionados poetas cancioneiro geral (poetas madeirenses no) música joão cabral do nascimento  

História da Educação Literatura

re-nhau-nhau - trimensário humorístico

O Re-nhau-nhau foi um trimensário humorístico madeirense, centrado na caracterização do Zé Povinho da Madeira, estereótipo que teve grande importância e um papel relevante no sucesso deste periódico. O jornal saiu pela primeira vez com um número especial no dia 16 de dezembro de 1929, sendo o primeiro número datado de 20 de dezembro desse mesmo ano. O último número, por sua vez, tem a data de 20 de dezembro de 1977. O Re-nhau-nhau surge numa época de “apagada e vil tristeza”. A imprensa existente nesta época estava na dependência dos poderes económico, político e religioso. Os jornais de maior projeção no arquipélago pertenciam aos grandes senhores da terra ou à instituição religiosa. O Re-nhau-nhau surge num contexto histórico difícil, devido à implantação no país de uma férrea ditadura que iria condicionar decisivamente a livre expressão e cercear a liberdade de imprensa, criando a censura prévia e uma polícia política que coartava a liberdade de pensamento, assim como todas as iniciativas jornalísticas que surgiriam. O Re-nhau-nhau surge com esta significativa e corajosa justificação: “Os nossos irrequietos e verdes anos, o nosso inconformismo, não se compadeciam com o estagnamento jornalistico da nossa terra com a brandura das suas críticas” (“Editorial”, Re-nhau-nhau, 29 dez. 1929, 1). Enquanto jornal satírico, iria colocar em evidência esta situação de dependência em que vivia a imprensa regional, sendo portador duma mensagem nova, imbuído de ideais e valores desconhecidos na sociedade madeirense. Era um jornal que pretendia viver exclusivamente das receitas provenientes da sua venda ao público e do recurso a alguma publicidade. A caricatura era então uma arte pouco conhecida na Madeira e o Re-nhau-nhau, revelando-a na Ilha, alforriou-a, emparelhando, assim, por mérito próprio, ao lado das Belas Artes. Das suas oficinas saíram as primeiras gravuras que ilustraram todos os jornais diários madeirenses. Foi aqui que se desenvolveu e aperfeiçoou o sistema da gravura em linolito, que mais tarde todos os jornais madeirenses utilizaram. A ideia surgiu numa noite, junto a uma esquina da R. da Ribeira de S. João, que dá para a Trav. das Violetas, quando Gonçalves Preto, João Miguel e Eduardo Nunes discutiram “a possibilidade de fazerem um semanário humurístico, mas feito com um humurismo (sic) tal que fosse capaz de fazer o indígena morrer de riso, desopilhando o figado e regiões adjacentes” (“Editorial”, Re-nhau-nhau, 21 dez. 1936, 1). Começaram logo a fazer contas, fantasiando os fabulosos lucros que lhes traria um jornal de quatro páginas, idealizando-o recheado de anúncios pagos a peso de ouro. Mas, infelizmente, apenas oito anos passados desde o dia que deu à luz este jornal, estes mesmos homens constatavam que “Proventos deixa-nos Re-nhau-nhau o suficiente para contrairmos as nossas dívidas...” (Ibid.), pois tudo o que recebiam se destinava à tipografia. Arrumadas as ideias e resolvidos os problemas que dificultavam a saída do jornal, o primeiro número surge a 16 de dezembro de 1929, um número especial, onde estes jovens apresentam as ideias mestras do seu projeto: publicar um trimensário humorístico, ilustrado com caricaturas, que sairia aos dias 10, 20 e 30 de cada mês. Este número especial caricatura alguns jovens da “Briosa” – os académicos do Liceu Nacional do Funchal – e também os colaboradores iniciais do Re-nhau-nhau. No desenho de capa do número assinalado como especial, e sob o título “Dedicado Aos Briosos da Briosa Academia”, são apresentados dois estudantes de capa e batina estudantil, naquele tempo um hábito muito em voga mesmo para estudantes liceais, que fora introduzido nos liceus nos finais do séc. XIX e vigoraria até 1939; são eles Teixeira Jardim, presidente da Academia, e Liberato Ribeiro, presidente da Executiva. A seguir surge o subtítulo: “Re-nhau-nhau ao dar os primeiros ares da sua graça, dedica este número especial de miaus a todos os futuros Pais da Pátria em geral, e às suas noivas em particular...” (Re-nhau-nhau, 16 dez. 1929, 1). Mas o seu programa só nos é apresentado no n.º 1, com a justificação de que: “Re-nhau-nhau, ao miar pela primeira vez, neste número dedicado à Briosa, deveria como é costume, fazer a sua apresentação oficial. Como agora porém, se não pode brincar com a tropa e muito menos com os oficiais, vai esta apresentação particular, ficando reservada a apresentação solene para o nosso segundo numero” (Re-nhau-nhau, 16 dez. 1929), que saíria dali a quatro dias, exactamente, no dia 20 de dezembro. Logo na segunda página, num artigo assinado por “Gonçalves de côr ausente”, com o título “In principio erat verbum”, Gonçalves Preto explica a configuração do jornal: “No principio era o verbo! E o verbo se fez carne, e a carne se fez homem, e o homem se fez jornalista. E no principio o jornalista contentava-se apenas com o verbo de encher... colunas. Mas hoje tudo mudou e só o verbo não basta; são precisas as gravuras. Daí a razão do nosso jornal aparecer ilustrado por ilustres ilustradores, que nos honram com as suas ilustrações” . Advertia, ainda, que não aceitariam a colaboração de jornalistas consagrados, “porque estamos na verdura da mocidade e não admitimos os maduros” (GONÇALVES DE CÔR AUSENTE, Re-nhau-nhau, 20 dez. 1929, 2). O cabeçalho do periódico é da autoria de Roberto Cunha, também conhecido pela alcunha de “Terrique”: compõe-se de um gato, de rabo hirto, acossado por uma mão coberta de luva, que o incita a rugir, significando, talvez, o ferir ou arranhar, mas com... luva. O rugido que sai da sua boca é o título do trimensário Re-nhau-nhau. O felino, apoiado nas duas patas traseiras e com as duas da frente levantadas, prepara-se para atacar a sua presa, assumindo a sua posição característica de ataque, encolhendo-se e preparando-se para saltar. Este cabeçalho que se mantém sem alteração até ao último dia da existência do jornal foi o seu ex-libris. De acordo com um dos colaboradores, Manuel Peres (Pinto da Silva), este cabeçalho foi gravado pela primeira vez no Porto, num famoso gravador dessa cidade. As dificuldades em colocar nos escaparates um jornal desta dimensão eram enormes. Estes jovens, entre os 17 e os 24 anos – Gonçalves Preto, João Miguel, Roberto Cunha, Manuel Peres, Gualberto Malho Rodrigues e José Cardoso –, meteram mãos à obra e levantaram um jornal que duraria 48 anos, tantos quantos o regime durante o qual nasceu e cresceu: “sem nunca se ter afastado da sua orientação inicial, tem vindo pela vida fora, com um sorriso ou com uma ironia, sacudir a monotonia sórdida do nosso burgo, como unica nota de vida numa cidade morta” (Re-nhau-nhau, 21 dez. 1935). O Re-nhau-nhau veio assim a constituir um ponto de encontro e de confluência de ideias, um espaço de diálogo e de debate onde outros jovens talentosos se juntaram àqueles, como os redatores Noé Pestana e João França, os caricaturistas Ivo Ferreira, Teixeira Cabral, Alírio Sequeira, Ramon Fernandes, João Rosa, Júlio e Paulo Sá Brás, os gravadores Mendonça, Agostinho, Semeão Gomes (Lico) e Bernardo, e ainda os ilustradores continentais Natalino, Quim e Abel Aragão Teixeira. Estes serão presenças assíduas até um determinado momento, mas a partir de certa altura cada um segue o rumo da sua vida e muitos abandonam o jornal. Esses são substituídos por outros jovens de grande talento e valor, que darão qualidade e vida ao jornal até 1977. A publicação deste jornal causou algum alvoroço na cidade, pois as pessoas não estavam habituadas às novas metodologias usadas por estes jovens irreverentes, que vinham revolucionar o jornalismo da praça, e teciam considerações pejorativas em torno do jornal e dos seus criadores, destinando-lhe um fim precoce. Enganaram-se estes profetas da desgraça, pois o jornal acabou sendo o mais popular entre o povo madeirense e continuou por muitos e bons anos. Abordando os assuntos de forma caricatural, com a sua pontinha de sátira, conseguiram, com o seu riso, fazer aquilo que competia aos jornais sérios: divulgar os problemas de maior interesse para a Madeira, comentar as coisas que não estavam feitas ou a decorrer como deveriam, sugerindo aquilo que, no seu entender, constituiria melhor solução para os problemas da terra. Em resumo: “Aplaudindo quando nos parece de justiça e ironizando sempre que é necessário, temos vivido durante estes […] anos”. Muitas das sugestões preconizadas por estes jovens foram aceites, o que prova as boas intenções de que estava imbuído o jornal: “Re-nhau-nhau tem sido, desde o seu principio, o único periódico que pugna, sinceramente, pelas causas de interesse retintamente madeirense” (Re-nhau-nhau, 21 dez. 1936). O tamanho do jornal era de 33,5 cm de comprimento por 25 cm de largura. Estas medidas permaneceram sem alteração até 1940, mas iriam alterar-se para outras um pouco maiores na déc. de 60. O preço, no início da sua publicação, era de 1$50, baixando para 1$00 (uma pataca, como apregoavam), a partir do n.º 73 de 4 de fevereiro de 1932, continuando assim durante bastante tempo. Seria um preço razoável para a época e para o tipo de jornal que era o Re-nhau-nhau, pois era o mesmo preço do café no Golden Gate. O periódico compunha-se de uma primeira página, ¾ da qual eram preenchidos com uma moldura ilustrada de algum acontecimento importante na Região, na fórmula já experimentada em outros jornais do género no continente, e uma contracapa caricaturada a toda a página. Como jornal humorístico, não tinha secções regulares, persistindo algumas mais tempo do que outras. Durante algum tempo, foram permanentes as seguintes secções: “Jazz Band”, onde se comentavam os faits divers madeirenses; “Zaz Paz Traz” e “Bchi-Bchi”, espaços de poesia; “Politiquices”, secção onde se analisavam, humoristicamente, os acontecimentos políticos da Região; “Fitas e Teatradas”, espaço dedicado à crítica cinematográfica, teatral e restante atividade artística madeirense. Outros espaços existiram no Re-nhau-nhau, que eram oferecidos a alguns jovens de valor, que aí publicavam os seus textos em prosa ou em verso. Este periódico sofreu ligeiras alterações de direção e administração a partir da morte de João Miguel e de Gonçalves Preto. Em 1959, com a morte de João Miguel, a administração passou para os seus herdeiros, e a partir de 1971, com o falecimento de Gonçalves Preto, a direção passou para Maria Mendonça, que por motivo de grave doença o abandonou, algum tempo depois, em favor de Gil Gomes. Um homem em particular foi responsável pelo êxito do Re-nhau-nhau. Referimo-nos a Pedro Alberto Gonçalves Preto, que nasceu no dia 7 de setembro de 1907, na freguesia da Sé, no Funchal, filho de Francisco M. de Freitas Gonçalves Preto, advogado, homem ligado à República na Madeira, e de Sofia Amélia Figueira Gonçalves Preto. Desempenhou o cargo de diretor até à sua morte, dedicando grande parte da sua vida ao jornal, por vezes mesmo em precárias condições de saúde; ao seu cuidado tinha a grande maioria das secções do trimensário: “Jazz Band”, “Fitas e Teatradas”, “Zaz Paz Traz”, “Politiquices”, etc. Segundo alguns colaboradores do Re-nhau-nhau, houve vezes em que Gonçalves Preto o escreveu sozinho, do princípio ao fim. Usava, nas suas brincadeiras jornalísticas, os pseudónimos Gonçalves de Côr Ausente, Preto e Branco (quando escrevia a meias com João Miguel) ou simplesmente Preto. Faleceu no Hospital dos Marmeleiros, no Funchal, no dia 15 de maio de 1971.   Emanuel Janes (atualizado a 17.12.2017) artigos relacionados: pedro, alberto gonçalves periódicos literários (sécs. XIX e XX) nau sem rumo atlântico, revista

Literatura Sociedade e Comunicação Social

nunes, diocleciano francisco de assis

Professor e poeta, nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, Funchal, a 4 de outubro de 1928, desconhecendo-se o local e a data do seu falecimento. Era filho do Enf.º José Francisco Nunes e de Beatriz Adelaide Freitas Nunes. Estudou, a partir de 1940, no Liceu Jaime Moniz, no Funchal, formando-se como professor primário e diretor de colégio. Foi professor do ensino oficial e do particular, nomeadamente no curso de férias da Escola de Enfermagem de São José de Cluny. Lecionou também em Luanda, Angola, onde pertenceu ao quadro docente oficial. No âmbito da educação, fundou ainda, na Radiodifusão do Funchal, o programa “Meia-Hora dos Estudantes”, nele proferindo várias palestras. Para além do ensino, também se dedicou à escrita, principalmente à poesia. As suas primeiras publicações, crónicas e poemas tiveram lugar na revista Presente, na qual foi ainda responsável pela secção “Cartas para Longe”. Colaborou depois no Jornal da Madeira, na Página dos Estudantes, de que foi cofundador, n’A Madeira Nova, no Almanaque Madeirense, na revista Pérola do Atlântico, do Porto, e também em vários jornais da colónia madeirense em New Bedford e em Fall River, nos EUA. Por fim, colaborou no Intransigente, de Benguela, n’O Comércio de Angola e na revista Ensino, igualmente de Angola. Assinava os seus textos como Assis Nunes, usando, por vezes, o pseudónimo Guido de Monte Cristo. É autor do estudo A Criança – Sua Revelação perante a Sociedade e a Escola, editado como folheto pela Página dos Estudantes. Segundo Luís Marino, em Musa Insular, terá deixado inédita uma vasta bibliografia: Primeiros Versos, Combate, Temas Incompletos, Pecados, África, Quando o Vento Uivar dos Montes, Ao Céu Subiu Uma Estrela, Inveja e O Deputado. Na referida obra de Marino, pode ser apreciado o seu longo poema encomiástico “Tributo à Ilha”, cuja classificação oscila entre a ode, a elegia e a canção. Obras de Diocleciano Francisco de Assis Nunes: A Criança – Sua Revelação perante a Sociedade e a Escola.   António José Borges (atualizado a 03.03.2018) artigos relacionados: poetas liceu / escola secindária jaime moniz arte na educação formação de professores

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