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re-nhau-nhau - trimensário humorístico

O Re-nhau-nhau foi um trimensário humorístico madeirense, centrado na caracterização do Zé Povinho da Madeira, estereótipo que teve grande importância e um papel relevante no sucesso deste periódico. O jornal saiu pela primeira vez com um número especial no dia 16 de dezembro de 1929, sendo o primeiro número datado de 20 de dezembro desse mesmo ano. O último número, por sua vez, tem a data de 20 de dezembro de 1977. O Re-nhau-nhau surge numa época de “apagada e vil tristeza”. A imprensa existente nesta época estava na dependência dos poderes económico, político e religioso. Os jornais de maior projeção no arquipélago pertenciam aos grandes senhores da terra ou à instituição religiosa. O Re-nhau-nhau surge num contexto histórico difícil, devido à implantação no país de uma férrea ditadura que iria condicionar decisivamente a livre expressão e cercear a liberdade de imprensa, criando a censura prévia e uma polícia política que coartava a liberdade de pensamento, assim como todas as iniciativas jornalísticas que surgiriam. O Re-nhau-nhau surge com esta significativa e corajosa justificação: “Os nossos irrequietos e verdes anos, o nosso inconformismo, não se compadeciam com o estagnamento jornalistico da nossa terra com a brandura das suas críticas” (“Editorial”, Re-nhau-nhau, 29 dez. 1929, 1). Enquanto jornal satírico, iria colocar em evidência esta situação de dependência em que vivia a imprensa regional, sendo portador duma mensagem nova, imbuído de ideais e valores desconhecidos na sociedade madeirense. Era um jornal que pretendia viver exclusivamente das receitas provenientes da sua venda ao público e do recurso a alguma publicidade. A caricatura era então uma arte pouco conhecida na Madeira e o Re-nhau-nhau, revelando-a na Ilha, alforriou-a, emparelhando, assim, por mérito próprio, ao lado das Belas Artes. Das suas oficinas saíram as primeiras gravuras que ilustraram todos os jornais diários madeirenses. Foi aqui que se desenvolveu e aperfeiçoou o sistema da gravura em linolito, que mais tarde todos os jornais madeirenses utilizaram. A ideia surgiu numa noite, junto a uma esquina da R. da Ribeira de S. João, que dá para a Trav. das Violetas, quando Gonçalves Preto, João Miguel e Eduardo Nunes discutiram “a possibilidade de fazerem um semanário humurístico, mas feito com um humurismo (sic) tal que fosse capaz de fazer o indígena morrer de riso, desopilhando o figado e regiões adjacentes” (“Editorial”, Re-nhau-nhau, 21 dez. 1936, 1). Começaram logo a fazer contas, fantasiando os fabulosos lucros que lhes traria um jornal de quatro páginas, idealizando-o recheado de anúncios pagos a peso de ouro. Mas, infelizmente, apenas oito anos passados desde o dia que deu à luz este jornal, estes mesmos homens constatavam que “Proventos deixa-nos Re-nhau-nhau o suficiente para contrairmos as nossas dívidas...” (Ibid.), pois tudo o que recebiam se destinava à tipografia. Arrumadas as ideias e resolvidos os problemas que dificultavam a saída do jornal, o primeiro número surge a 16 de dezembro de 1929, um número especial, onde estes jovens apresentam as ideias mestras do seu projeto: publicar um trimensário humorístico, ilustrado com caricaturas, que sairia aos dias 10, 20 e 30 de cada mês. Este número especial caricatura alguns jovens da “Briosa” – os académicos do Liceu Nacional do Funchal – e também os colaboradores iniciais do Re-nhau-nhau. No desenho de capa do número assinalado como especial, e sob o título “Dedicado Aos Briosos da Briosa Academia”, são apresentados dois estudantes de capa e batina estudantil, naquele tempo um hábito muito em voga mesmo para estudantes liceais, que fora introduzido nos liceus nos finais do séc. XIX e vigoraria até 1939; são eles Teixeira Jardim, presidente da Academia, e Liberato Ribeiro, presidente da Executiva. A seguir surge o subtítulo: “Re-nhau-nhau ao dar os primeiros ares da sua graça, dedica este número especial de miaus a todos os futuros Pais da Pátria em geral, e às suas noivas em particular...” (Re-nhau-nhau, 16 dez. 1929, 1). Mas o seu programa só nos é apresentado no n.º 1, com a justificação de que: “Re-nhau-nhau, ao miar pela primeira vez, neste número dedicado à Briosa, deveria como é costume, fazer a sua apresentação oficial. Como agora porém, se não pode brincar com a tropa e muito menos com os oficiais, vai esta apresentação particular, ficando reservada a apresentação solene para o nosso segundo numero” (Re-nhau-nhau, 16 dez. 1929), que saíria dali a quatro dias, exactamente, no dia 20 de dezembro. Logo na segunda página, num artigo assinado por “Gonçalves de côr ausente”, com o título “In principio erat verbum”, Gonçalves Preto explica a configuração do jornal: “No principio era o verbo! E o verbo se fez carne, e a carne se fez homem, e o homem se fez jornalista. E no principio o jornalista contentava-se apenas com o verbo de encher... colunas. Mas hoje tudo mudou e só o verbo não basta; são precisas as gravuras. Daí a razão do nosso jornal aparecer ilustrado por ilustres ilustradores, que nos honram com as suas ilustrações” . Advertia, ainda, que não aceitariam a colaboração de jornalistas consagrados, “porque estamos na verdura da mocidade e não admitimos os maduros” (GONÇALVES DE CÔR AUSENTE, Re-nhau-nhau, 20 dez. 1929, 2). O cabeçalho do periódico é da autoria de Roberto Cunha, também conhecido pela alcunha de “Terrique”: compõe-se de um gato, de rabo hirto, acossado por uma mão coberta de luva, que o incita a rugir, significando, talvez, o ferir ou arranhar, mas com... luva. O rugido que sai da sua boca é o título do trimensário Re-nhau-nhau. O felino, apoiado nas duas patas traseiras e com as duas da frente levantadas, prepara-se para atacar a sua presa, assumindo a sua posição característica de ataque, encolhendo-se e preparando-se para saltar. Este cabeçalho que se mantém sem alteração até ao último dia da existência do jornal foi o seu ex-libris. De acordo com um dos colaboradores, Manuel Peres (Pinto da Silva), este cabeçalho foi gravado pela primeira vez no Porto, num famoso gravador dessa cidade. As dificuldades em colocar nos escaparates um jornal desta dimensão eram enormes. Estes jovens, entre os 17 e os 24 anos – Gonçalves Preto, João Miguel, Roberto Cunha, Manuel Peres, Gualberto Malho Rodrigues e José Cardoso –, meteram mãos à obra e levantaram um jornal que duraria 48 anos, tantos quantos o regime durante o qual nasceu e cresceu: “sem nunca se ter afastado da sua orientação inicial, tem vindo pela vida fora, com um sorriso ou com uma ironia, sacudir a monotonia sórdida do nosso burgo, como unica nota de vida numa cidade morta” (Re-nhau-nhau, 21 dez. 1935). O Re-nhau-nhau veio assim a constituir um ponto de encontro e de confluência de ideias, um espaço de diálogo e de debate onde outros jovens talentosos se juntaram àqueles, como os redatores Noé Pestana e João França, os caricaturistas Ivo Ferreira, Teixeira Cabral, Alírio Sequeira, Ramon Fernandes, João Rosa, Júlio e Paulo Sá Brás, os gravadores Mendonça, Agostinho, Semeão Gomes (Lico) e Bernardo, e ainda os ilustradores continentais Natalino, Quim e Abel Aragão Teixeira. Estes serão presenças assíduas até um determinado momento, mas a partir de certa altura cada um segue o rumo da sua vida e muitos abandonam o jornal. Esses são substituídos por outros jovens de grande talento e valor, que darão qualidade e vida ao jornal até 1977. A publicação deste jornal causou algum alvoroço na cidade, pois as pessoas não estavam habituadas às novas metodologias usadas por estes jovens irreverentes, que vinham revolucionar o jornalismo da praça, e teciam considerações pejorativas em torno do jornal e dos seus criadores, destinando-lhe um fim precoce. Enganaram-se estes profetas da desgraça, pois o jornal acabou sendo o mais popular entre o povo madeirense e continuou por muitos e bons anos. Abordando os assuntos de forma caricatural, com a sua pontinha de sátira, conseguiram, com o seu riso, fazer aquilo que competia aos jornais sérios: divulgar os problemas de maior interesse para a Madeira, comentar as coisas que não estavam feitas ou a decorrer como deveriam, sugerindo aquilo que, no seu entender, constituiria melhor solução para os problemas da terra. Em resumo: “Aplaudindo quando nos parece de justiça e ironizando sempre que é necessário, temos vivido durante estes […] anos”. Muitas das sugestões preconizadas por estes jovens foram aceites, o que prova as boas intenções de que estava imbuído o jornal: “Re-nhau-nhau tem sido, desde o seu principio, o único periódico que pugna, sinceramente, pelas causas de interesse retintamente madeirense” (Re-nhau-nhau, 21 dez. 1936). O tamanho do jornal era de 33,5 cm de comprimento por 25 cm de largura. Estas medidas permaneceram sem alteração até 1940, mas iriam alterar-se para outras um pouco maiores na déc. de 60. O preço, no início da sua publicação, era de 1$50, baixando para 1$00 (uma pataca, como apregoavam), a partir do n.º 73 de 4 de fevereiro de 1932, continuando assim durante bastante tempo. Seria um preço razoável para a época e para o tipo de jornal que era o Re-nhau-nhau, pois era o mesmo preço do café no Golden Gate. O periódico compunha-se de uma primeira página, ¾ da qual eram preenchidos com uma moldura ilustrada de algum acontecimento importante na Região, na fórmula já experimentada em outros jornais do género no continente, e uma contracapa caricaturada a toda a página. Como jornal humorístico, não tinha secções regulares, persistindo algumas mais tempo do que outras. Durante algum tempo, foram permanentes as seguintes secções: “Jazz Band”, onde se comentavam os faits divers madeirenses; “Zaz Paz Traz” e “Bchi-Bchi”, espaços de poesia; “Politiquices”, secção onde se analisavam, humoristicamente, os acontecimentos políticos da Região; “Fitas e Teatradas”, espaço dedicado à crítica cinematográfica, teatral e restante atividade artística madeirense. Outros espaços existiram no Re-nhau-nhau, que eram oferecidos a alguns jovens de valor, que aí publicavam os seus textos em prosa ou em verso. Este periódico sofreu ligeiras alterações de direção e administração a partir da morte de João Miguel e de Gonçalves Preto. Em 1959, com a morte de João Miguel, a administração passou para os seus herdeiros, e a partir de 1971, com o falecimento de Gonçalves Preto, a direção passou para Maria Mendonça, que por motivo de grave doença o abandonou, algum tempo depois, em favor de Gil Gomes. Um homem em particular foi responsável pelo êxito do Re-nhau-nhau. Referimo-nos a Pedro Alberto Gonçalves Preto, que nasceu no dia 7 de setembro de 1907, na freguesia da Sé, no Funchal, filho de Francisco M. de Freitas Gonçalves Preto, advogado, homem ligado à República na Madeira, e de Sofia Amélia Figueira Gonçalves Preto. Desempenhou o cargo de diretor até à sua morte, dedicando grande parte da sua vida ao jornal, por vezes mesmo em precárias condições de saúde; ao seu cuidado tinha a grande maioria das secções do trimensário: “Jazz Band”, “Fitas e Teatradas”, “Zaz Paz Traz”, “Politiquices”, etc. Segundo alguns colaboradores do Re-nhau-nhau, houve vezes em que Gonçalves Preto o escreveu sozinho, do princípio ao fim. Usava, nas suas brincadeiras jornalísticas, os pseudónimos Gonçalves de Côr Ausente, Preto e Branco (quando escrevia a meias com João Miguel) ou simplesmente Preto. Faleceu no Hospital dos Marmeleiros, no Funchal, no dia 15 de maio de 1971.   Emanuel Janes (atualizado a 17.12.2017) artigos relacionados: pedro, alberto gonçalves periódicos literários (sécs. XIX e XX) nau sem rumo atlântico, revista

Literatura Sociedade e Comunicação Social

castro, luís vieira de

Fig. 1 – Fotografia de Luís Vieira de Castro. Fonte: Museu Vicentes.   Luís Lopes Vieira de Castro nasceu no Funchal no dia 10 de maio de 1898. Concluiu o ensino secundário no Liceu do Funchal, após o que se matriculou em Direito na Universidade de Coimbra, vindo a acabar o curso em Lisboa em 1922. Foi depois para a sua terra natal, onde abriu banca de advogado, ao mesmo tempo que se dedicava ao jornalismo e à política. Monárquico integralista convicto, defendia a restauração da monarquia pré-liberal e o regresso à sociedade cristã e patriarcal tradicional, pugnando por uma monarquia orgânica, tradicionalista, antiparlamentar, que deveria apoiar-se no poder das corporações e dos municípios, sob o comando pessoal e incontestável do Rei. Desde cedo, em Coimbra, onde conviveu com monárquicos integralistas, vai dedicar-se ao jornalismo, fundando dois jornais académicos que estavam alinhados com o seu credo político, o Pátria Nova (1916) e o Restauração (1921), e colaborando ainda com outros. Nestes dois semanários, vai desenvolver e defender as ideias políticas e sociais que desejava ver implantadas no país. No Pátria Nova, combate pelos ideais do integralismo lusitano. No Restauração, começa por lutar pelas mesmas ideias, mas, a partir de 1922, com o Pacto de Paris, que leva ao rompimento do Integralismo Lusitano com o ex-Monarca português, D. Manuel II, então exilado em Inglaterra, vai afastar-se daquele movimento político, que passa a optar pelo pretendente legitimista D. Miguel, do ramo familiar de D. Miguel, Rei absoluto que governara o país entre 1828 e 1834. Tal como os seus amigos do Restauração, vai aderir à outra fação integralista, entretanto fundada por Alfredo Pimenta, a Ação Realista Portuguesa, que, embora integralista, não rejeitava D. Manuel. Em 1922, depois de concluída a licenciatura, regressa a casa e vai ser convidado pelo lugar-tenente do Rei, o madeirense Aires de Ornelas, para organizar a Causa Monárquica na Madeira. Funda então o Jornal da Madeira, em 22 de novembro de 1923, periódico de cariz regionalista que se apresenta como defensor de uma imprensa regional independente da nacional e que, segundo o seu fundador, aparece para defender a autonomia da Madeira do centralismo da república. É de facto Luís Vieira de Castro que, no princípio da déc. de 20, e na sequência da época festiva que se vivera na Madeira, em 1922, com a comemoração do 5.º centenário do descobrimento da Madeira, dá voz à propaganda autonomista, ao abrir, nas colunas do seu jornal, um espaço de debate dedicado a este tema. Promove então um inquérito sobre esta temática a algumas figuras ilustres da região. São auscultados o banqueiro Henrique Vieira de Castro, seu pai, e o P.e Fernando Augusto da Silva, entre outros. Não se pensava em independência, mas apenas numa descentralização administrativa, embora o sacerdote tenha defendido a criação de um partido autonomista. Estas ideias autonomistas, vazias de conteúdo, foram ficando no papel, visto que a conceção de Luís Vieira de Castro mais representava uma demarcação relativamente ao regime republicano do continente, que ele combatia. A autonomia, para ele, era apenas uma estratégia para colher dividendos políticos e aglutinar os descontentes contra a república, já que, no seu entender, essa autonomia só seria realizável dentro da monarquia tradicional e antiparlamentar. Isto mesmo o exprime logo no primeiro editorial do Jornal da Madeira: “Descentralização, no rigoroso sentido da palavra, teve-a Portugal, com licença dos espíritos avançados (?) no bom tempo antigo. Veio depois o liberalismo, com eleições, foguetes, discursos, sonetos e hinos – consoante reza o mestre Herculano – e surripiou-nos as atribuições conferidas pelos velhos forais, que eram as autênticas cartas de lei da nossa autonomia. Deu este caminhar para a morte, no tão citado congestionamento do Terreiro do Paço, espectro que nos persegue e atormenta […] para saciar o monstro do Terreiro do Paço e a sua dependência de S. Bento, foi necessário sacrificar quasi todos os valores úteis, por isso que os deslocaram do quadro natural onde deveriam exercer a sua função. A organização política do país é porém, no meu entender, incompatível com a efetivação desse belo pensamento. Quaisquer instituições que se apoiem em partidos políticos estão inibidas de conceder uma reforma administrativa que haveria fatalmente de bulir com o chamado equilíbrio constitucional. O regionalismo, apoiando-se na força histórica da tradição, será de substituir-se aos partidos políticos, gastos e desacreditados, constituindo-se em instrumentos das aspirações locais. Para que elas se convertam em realidade, não teremos de negar a unidade da Pátria” (CASTRO, 1923, 1). Mais do que a autonomia da Madeira, o que movia Vieira de Castro era a vontade de que triunfasse na Ilha uma orientação política diferente da do território continental, a ânsia de afirmação pessoal na política e a defesa dos seus interesses pessoais. A posição assumida perante a Revolta da Madeira, em 1931, viria, aliás, a confirmá-lo. Os problemas locais aparecem em larga escala nas páginas do seu jornal, mas nem sempre são expostos com a clareza que exigiria a sua resolução. A partir de 1924, começa a ser evidente que o país necessita de ordem e de autoridade e a república revela-se incapaz de as proporcionar. É então que Luís Vieira de Castro se vai tornar conspirador, participando nas várias tentativas – falhadas – de golpe contra a república. Neste âmbito, acompanha a preparação do golpe de 18 de abril de 1925, e a derrota no mesmo é considerada um parêntesis amargo na vida política de Luís Vieira de Castro, que acompanha o desenrolar do correspondente processo de julgamento, fazendo da república a ré do mesmo. Nesse ano, embora condenando as eleições, vai concorrer a elas, com sucesso. No entanto, devido a uma irregularidade encontrada nos boletins de voto, não chegará a assumir as funções de deputado. O golpe militar de 28 de maio de 1926 não é tão coberto pelo Jornal da Madeira como o fora o anterior, embora apareça uma entrevista com um militar, no próprio dia do golpe, dando conta dos preparativos e indicando para breve o seu eclodir. Este golpe vitorioso é comentado por Luís Vieira de Castro no seu jornal no dia 3 de junho. Congratulando-se com a vitória dos militares, integra-a no movimento de ressurgimento que caracterizava a época; no entanto, o cariz republicano do golpe põe-no na expectativa e continua dizendo que mantém a sua posição de monárquico que espera pela restauração da monarquia. A partir do contragolpe falhado, em 3 e 7 de fevereiro de 1927, começa o seu percurso ao encontro do regime do Estado Novo, que defende veementemente após a nomeação de Salazar para ministro das Finanças. Por esta altura, volta a defender a autonomia da Madeira, mas já sem a força e o entusiasmo do princípio da década. Em 1928, vai para Lisboa, com o objetivo de dirigir o Correio da Manhã, jornal da Causa Monárquica. A sua índole facciosa vai ser posta em evidência durante a crise por que passou a Madeira nos finais do ano de 1930 e nos princípios de 1931, que levou ao despoletar da já referida Revolta da Madeira. O seu comportamento face a este acontecimento é bastante dúbio. Em novembro de 1930, quando se dá a falência da casa bancária Henrique Figueira da Silva, e no início de 1931, aquando do célebre “decreto da fome”, é ele quem escreve os manifestos incitando o povo à insurreição; mas, quando a rebelião toma figura, ele retira-se de cena, tentando assim defender os seus interesses particulares, esquecendo os da sua terra. Durante estes incidentes, o seu jornal é tomado pelos revoltosos, que se servem das instalações para publicar o jornal Notícias da Madeira, porta-voz do movimento rebelde. Com o esmagamento do levantamento, Luís Vieira de Castro, de regresso ao seu jornal, condena-o como se não tivesse tomado parte ativa nele. Os seus opositores imputam-lhe então ter sido o seu grande impulsionador, e foi inclusivamente acusado de duplicidade por alguns dos seus correligionários políticos. Depois da Revolta da Madeira, pouco se ouviu falar de autonomia. A 30 de abril de 1932, recusa continuar na direção do seu jornal, que entretanto mudara de nome para O Jornal, “em virtude de ocupar outras funções para que era chamado” (O Jornal, 30 abr. 1932, 1) em Lisboa. Neste ano, O Jornal é vendido à Diocese do Funchal. Após o convite feito por Salazar aos monárquicos para que “não se prendessem a cadáveres” (SALAZAR, 1928, 169), entra para a União Nacional em 1934. Em 1940, é um dos organizadores do Congresso do Mundo Português, sendo seu vice-secretário geral. Entre 1942-1945 e 1946-1949, é deputado à Assembleia Nacional. Distinguiu-se também como comentador de política internacional em vários jornais. Foi ainda cônsul da Polónia, sócio da Academia Portuguesa da História, do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia e da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Para além de colaborar com diversos jornais e revistas, Luís Vieira de Castro publicou várias obras de carácter histórico, literário e político, entre as quais se salientam: Nebulosas, Livro Estranho, Civilizados, A Hora Internacional, A Nacionalidade Portuguesa, A Europa e a República Portuguesa, O Mundo Que Finda e o Mundo Que Começa, D. Carlos, Limbo, A Noiva de Dois Reis, O Exílio do Prior do Crato, Em Pé de Guerra, Pedra sobre Pedra, Homens e Livros, Rumo à Vitória, Quarto de Vigia. Faleceu em Lisboa a 7 de setembro de 1954.   Obras de Luís Vieira de Castro: Nebulosas, Livro Estranho (1916); Civilizados (1918); A Hora Internacional; A Nacionalidade Portuguesa (1919); A Europa e a República Portuguesa (1922); “Regionalismo” (1923); O Mundo Que Finda e o Mundo Que Começa, D. Carlos (1935); Limbo; A Noiva de Dois Reis (1936); O Exílio do Prior do Crato; Em Pé de Guerra (1938); Pedra sobre Pedra (1942); Homens e Livros; Rumo à Vitória (1943); Quarto de Vigia (1948).   Emanuel Janes (atualizado a 25.02.2017)

Personalidades