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jersey

Nome de uma ilha situada no canal da Mancha, ao largo da costa da Normandia, que, junto com Guernsey, forma o arquipélago das ilhas do Canal, uma dependência da Coroa britânica que não faz parte do Reino Unido. Estas ilhas foram propriedade do duque da Normandia, tendo passado para a Coroa inglesa, quando William, o Conquistador, se tornou Rei da Inglaterra, em 1066, sendo que os habitantes das ilhas do Canal são cidadãos britânicos. Apesar de, no ano de 1204, a Inglaterra ter perdido a Normandia – a parte continental –, as ilhas permaneceram na posse da Inglaterra. Entre 1940 e 1945, foram ocupadas pela Alemanha. As ilhas têm como línguas oficiais o inglês e o francês. As ilhas foram divididas em bailiados, regidos por parlamentos eleitos, chamados Estados. Estas assembleias aprovam a sua própria legislação, com o consentimento da Coroa (responsável pela defesa, representação diplomática e de cidadania). Apesar de não fazerem parte da União Europeia, estas ilhas estão sujeitas a uma união aduaneira. O território de Jersey, a ilha maior, tem uma área de 116 km2 e é governado por representantes do Governo britânico, os baillifs. São juízes máximos da justiça nomeados pela Coroa e presidem o Parlamento dos Estados. Entre o séc. XX e começos do séc. XXI, os poderes destes representantes começaram a transferir-se para os Estados, adotando-se um sistema ministerial e a nomeação de ministros-chefe em 2005. De acordo com estudos realizados, e tendo como base o censo de 2011, a população residente em Jersey foi estimada em 97.857 pessoas, 34 % das quais na cidade de Saint Helier. Uma análise aos dados disponíveis permite concluir que apenas metade da população terá nascido na ilha, sendo a restante população migrante. Desta, 7 % é portuguesa, nomeadamente madeirense, num total, para o ano de 2011 (data do último censo), de 7031 pessoas. Estes números explicam o facto de o português ser uma língua comummente escutada na ilha, em particular na capital, onde se encontra em avisos, afixados sobretudo nas cabines telefónicas. Devido à emigração, Jersey está, então, ligada à Madeira de modo especial, não obstante haver registos de trocas comerciais entre os dois espaços insulares. Daquela ilha britânica, chegava o trigo e a farinha, fundamentais para a alimentação, como prova uma ordem de António Noronha, datada de junho de 1823, e dirigida ao guarda-mor João António Gouveia Rego, para dar entrada ao bergantim inglês Comet, apesar de não trazer a carta da saúde referendada pelo consulado, alegando como principal motivo o facto de os cereais serem um produto de primeira necessidade; o mesmo aconteceu com a chalupa inglesa Thane, em agosto de 1823, proveniente daquela ilha britânica, e carregada com farinha. Há muito tempo que Jersey é procurada por madeirenses, que ali encontram possibilidades de trabalho. Embora houvesse alguns Portugueses na ilha na primeira metade do séc. XX, a emigração propriamente dita para Jersey começou nos anos 40 do séc. XX, com a chegada de madeirenses para trabalhar na agricultura, nas fábricas e no sector doméstico. Os primeiros dados sobre a presença madeirense nesta ilha remontam ao ano de 1934, mas é efetivamente nos anos 40 que a emigração insular começa a ganhar maior expressão. Ao proceder à análise do fenómeno económico e social da emigração do arquipélago da Madeira, Agostinho Cardoso situa em 1952 a alteração do paradigma da emigração de madeirenses para Jersey: “Um fenómeno particular ocorreu a partir de 1952 com a emigração sazonal para Inglaterra, principalmente para as Ilhas do Canal. Estes madeirenses, ocupados na hotelaria, deslocavam-se na época de verão rumo a este destino para trabalhar no mesmo sector, regressando à ilha para a época invernal. Hoje mantém-se esta tradição mas ligada ao sector agrícola, uma vez que o turismo madeirense perdeu a sazonalidade que então mantinha” (CARDOSO, 1968, 16). Aproveitando a sazonalidade que caracterizava o turismo da Madeira (sendo o inverno especialmente importante), os madeirenses empregados na hotelaria deslocavam-se, durante o verão, para as ilhas do Canal, nomeadamente para Jersey, para o mesmo sector. Em 1961, existiam cerca de 500 Portugueses na ilha, não se sabendo, ao certo, quantos destes seriam madeirenses. As oportunidades de trabalho dos madeirenses foram muito condicionadas pela falta de conhecimentos de inglês, pelo que os empregos eram pouco qualificados – na construção civil, em cozinhas de hotéis, em serviços de hotelaria e de limpeza, em restauração e bar. Por outro lado, a primeira geração de Portugueses fixou-se numa área muito afastada da capital, o que não facilitou a aprendizagem do inglês, na medida em que se abriam lojas portuguesas, cafés portugueses, clubes sociais de Portugueses, o que lhes permitia continuar a comunicar na sua língua materna (algo que, por outro lado, facilitou a sua integração). Em 1971, por iniciativa de um madeirense, Luís Vieira, surge o Jersey Portuguese Football Club, um pequeno bastião de Portugal naquela ilha britânica. O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a 10 de junho, foi aí celebrado, pela primeira vez, em 1980. Por outro lado, houve um manifesto esforço para integrar, o melhor possível, estes imigrantes, oferecendo-lhes aulas de inglês e disponibilizando tradutores, de forma a facilitar-lhes o acesso aos serviços sociais. O sector da agricultura só começou a recrutar trabalhadores estrangeiros nos anos 70. Um historial da emigração da Região Autónoma da Madeira, publicado pelo Centro das Comunidades Madeirenses e Migrações, dá indicação da existência de 1800 madeirenses em Jersey, em 1972, número que se manteve inalterado até ao censo de 1981, e que triplicou no de 1991. A emigração organizada para a região autónoma de Jersey terá tido o seu início em 1978. Nesse ano, terão saído da Madeira 12 pessoas rumo a Jersey, sendo que, em 1980, esse número já ultrapassava as 500, tendo duplicado em 1990, em que 1000 madeirenses trabalhavam na agricultura daquela ilha do Canal. A crescente procura deste destino por parte das gentes da Madeira e do Porto Santo era clara nas percentagens reveladas pelos recenseamentos: em 1981, 3 % dos imigrantes são madeirenses; em 1991, 4 %; em 2001, 6 %; e 7 % em 2011. Em 1998, foi assinado um acordo de amizade entre Jersey e a Madeira, que potenciou as relações económicas, ambientais e culturais entre as duas ilhas, conforme um discurso proferido pelo baillif no Dia da Madeira de 2010, o primeiro ano em que aquele foi assinalado em Jersey: “The Friendship Agreement signed between Jersey and Madeira in May 1998 committed the Governments of both Islands to promote mutual respect for the different cultural traditions of the two Islands and their peoples” [“O acordo de amizade entre Jersey e a Madeira, assinado em maio de 1998, empenha os Governos de ambas as ilhas na promoção do respeito mútuo pelas diferentes tradições culturais das duas culturas e respetivos povos”] (“Speech for Madeira Day”). De registar a ajuda de Jersey à Madeira, aquando da aluvião de 20 de fevereiro de 2010: “An indication of the close relations between Madeira and Jersey can be seen in the events following the terrible floods in Madeira in February of this year in which 40 people lost their lives and a great number lost their homes. The response from the community in Jersey was immediate and generous and I commend all those who participated in those fund raising activities or contributed financially” [“A estreita ligação entre a Madeira e Jersey ficou demonstrada na sequência das terríveis inundações que tiveram lugar na Madeira em fevereiro deste ano, durante as quais cerca de 40 pessoas perderam a vida e muitos ficaram desalojados. A resposta da comunidade de Jersey foi imediata e generosa e foram muitos os que participaram na angariação de fundos assim como nas ofertas monetárias”] (Ibid.). Nos começos do séc. XXI, os madeirenses estavam integrados na sociedade de Jersey, trabalhando sobretudo nas áreas da hotelaria e da restauração, se bem que, nesta fase migratória, muitos jovens desempenhassem outras funções, designadamente em repartições públicas, em hospitais (e.g., na enfermagem), assim como na praça financeira e zona franca fiscal [offshore], um dos aspetos mais importantes da economia de Jersey. Por outro lado, foi realizada nesta altura uma missão empresarial entre as duas regiões autónomas, que resultou no aumento das exportações de bebidas e de produtos hortofrutícolas da Madeira para Jersey (banana, anona, pera abacate, inhame e maracujá, entre outros). À distância de 02.45 h de avião, Jersey continuava a ser, nos começos do séc. XXI, um dos destinos europeus mais importantes para a mobilidade madeirense, o que facilita as trocas comerciais entre os dois espaços insulares e garante trabalho e estabilidade.   Graça Alves (atualizado a 18.12.2017)

Madeira Global

clode, william edward

Filho de Archibald George Clode e de Maria Francelina Crawford do Nascimento, William Clode nasceu na freguesia de Santa Luzia, mais propriamente na Qt. Gertrudes, no Funchal, a 13 de setembro de 1900. Tendo nacionalidade inglesa e formação anglicana, necessitou de um visto oficial para poder viajar para Lisboa. Embarcou no dia 23 de janeiro de 1919, tendo como destino final Coimbra, onde se formará em Medicina. Na cidade do Mondego, participou no Orfeão Académico e na Tuna Académica, na qual tocava viola. Elemento importante na movimentação da vida académica da altura, fez-se sócio do Centro Académico de Democracia Cristã, que havia sido fundado em 1901, em Coimbra, com o objetivo de responder ao agravamento da questão religiosa levantada pelo Governo de Hintze Ribeiro. Aos 21 anos, recebe o batismo na Igreja Católica. No âmbito da referida Associação, fundou, a 10 de maio de 1923, o Lactário de Nossa Senhora, integrado na Conferência de São Vicente de Paulo da Faculdade de Medicina, da qual foi presidente. Doutorou-se em Medicina, em 1925, com a defesa da tese “O Problema Sexual no Meio Académico”. A 13 de setembro de 1926, no paço episcopal, casa-se com Maria Carolina Dória Monteiro. De regresso à Ilha natal e preocupado com a assistência aos mais necessitados, William Clode fundou o Dispensário Infantil Divina Providência e a Associação da Gota de Leite da Madeira. Para além disso, fundou também, em 1932, a Juventude Católica Antoniana, que englobava um grupo musical, um grupo dramático e um orfeão de 60 membros, ensaiado pelo Cap. Gustavo Coelho. Em 1940, por sua iniciativa, enquanto presidente da Juventude Católica Antoniana, é erigido, no pico dos Barcelos, um grande cruzeiro em pedra basáltica, ação que integrou as comemorações do duplo centenário de Portugal. Nomeado médico escolar em 1935, mediante concurso público, desempenhou funções no Liceu Jaime Moniz até 1966, tornando-se médico da Associação de Futebol do Funchal, em 1942, a partir da reforma orgânica do ministério da Educação, quando a Direção Geral de Saúde passou a chamar-se Direção Geral dos Desportos, Educação Física e Saúde Escolar. Foi professor de Higiene e Saúde Escolar, na Escola do Magistério Primário do Funchal. Ensinou Inglês, Ciências Naturais, Desenho e Trabalhos Manuais no Liceu de Jaime Moniz; lecionou Inglês no Seminário Diocesano do Funchal e deu aulas no Colégio da Apresentação de Maria e na Escola Industrial e Comercial António Augusto de Aguiar. No exercício das suas funções enquanto clínico, foi assistente de cirurgia e medicina da Santa Casa da Misericórdia; em 1951, é nomeado diretor clínico daquele hospital. Foi médico da Casa de Saúde de São João de Deus e, com os doutores João Abel de Freitas, António Félix Pita e Antonino Costa, fundou a Casa de Saúde Vila Guida. Em agosto de 1966, é admitido como médico da Caixa de Previdência e Abono de Família do Distrito do Funchal. Apesar de reformado, manteve sempre o seu consultório, na R. da Queimada de Cima, e a sua ação no Hospital dos Marmeleiros. Para além da sua tese de doutoramento, publicou obras como Quadros Vicentinos, Some Memories of My Life, Stories for My Grand Children e Fruits of Madeira. No âmbito do Hospital, tentou editar, com outras personalidades, uma revista trimestral intitulada Madeira Médica, cujo primeiro número aparece em maio de 1952, com a colaboração de João Porto e de outros médicos madeirenses de nomeada. Clode foi também presidente da Conferência de São Vicente de Paulo, da paróquia de Santo António, uma organização vocacionada para os pobres e a caridade, estando referenciado como “um ilustre filho desta freguesia que desde os bancos universitários em Coimbra, votou a sua actividade à obra da Caridade Cristã, através das instituições às quais está ligado o seu nome como seu fundador” (Tricentenário da Freguesia de Santa Luzia..., 1977, 116). O Almanaque do Desportista Madeirense para 1945 refere-se-lhe como “bom e honesto animador de desportos”, e identifica-o como o dinamizador, a 6 de outubro de 1940, “de um magnifico festival organizado pelo G.D. da Juventude Católica Antoniana […], um certamen de atletismo, a que o Dr. William E. Clode ligou o seu nome e o seu espírito de consciencioso desportista e admirável empreendedor” (Almanaque do Desportista…, 1945, 185). Clode tornar-se-ia, assim, médico dos desportos da Madeira. Participa na comissão administrativa da Câmara Municipal do Funchal, entre 1932 e 1940, com o pelouro dos Postos Médicos, Cemitérios e Iluminação. A sua contribuição para o desenvolvimento do concelho manifestou-se, sobretudo, na criação de escolas e de postos médicos, nomeadamente do Posto de Socorros Urgentes, situado na R. da Mouraria, assim como no alargamento da rede de distribuição da eletricidade. A 19 de janeiro de 1935, a comissão administrativa da Câmara Municipal do concelho do Funchal delibera a sua nomeação para presidente da Junta de Higiene. A 5 de janeiro de 1939, é eleito, por escrutínio secreto, vice-presidente da Câmara. Fez ainda parte da comissão organizadora das festas da cidade do Funchal em 1946, 1947 e 1948. A sua ação cultural foi igualmente notável: em 1943, foi um dos fundadores e presidentes da comissão executiva da Sociedade de Concertos da Madeira, juntamente com o seu irmão, Luiz Peter Clode (1904-1990), tendo estes, em 1947, proposto ao conselho diretivo da referida Sociedade a criação da Academia de Música da Madeira, de cuja comissão administrativa fez parte, no ano letivo 1946/1947. Por sua iniciativa, esta Academia transformar-se-ia, em 1956, em Academia de Música e Belas Artes da Madeira, com exames equivalentes aos realizados no Conservatório Nacional e nas escolas superiores de Belas-Artes (Pintura e Escultura) de Lisboa e Porto. Entre 1946 e 1974, William Edward Clode integrou a comissão administrativa desta Academia. Sob pseudónimos, escreveu várias peças para teatro. É autor de algumas peças de música sacra, como “Missa a Santa Teresinha” e um conjunto de composições para órgão que publicou em edição de autor: Stella Matutina, Tantum Ergo, Mater-Dei e Regina Coeli. É ainda que salientar que foi presidente da primeira Casa do Povo da Madeira e um dos fundadores do Posto Emissor de Radiodifusão do Funchal, posteriormente designado PEF (Posto Emissor do Funchal), sito à R. da Ponte de São Lázaro, n.º 3. Tendo sido “criado com o propósito de aumentar o nível cultural da população madeirense, inculcando-lhe o gosto pela música de qualidade” (MORAIS, 2008, 395), foi instalado numa das dependências do Teatro Municipal Baltazar Dias, cedida pela Câmara Municipal do Funchal, sob a presidência de Óscar Baltazar Gonçalves. Interessando-se ainda pela área do comércio, tentou desenvolver, sob a marca Crawford, uma indústria caseira, primeiro de pó dentífrico e água-de-colónia, e, depois, de pickles, compotas, chocolates, pastilhas de hortelã, licores e sumo de maracujá. A 18 de março de 1984, a Câmara Municipal do Funchal dá o seu nome a um caminho, até então conhecido como caminho das Romeiras. A sua efígie está representada no Conservatório de Música da Madeira, numa placa em gesso patinado de bronze, datada de 1986, da autoria do escultor Anjos Teixeira. Faleceu em casa, na Qt. Crawford, no Funchal, a 3 de outubro de 1980. Obras de William Edward Clode: O Problema Sexual no Meio Académico (1925); Quadros Vicentinos (1938); Some Memories of My Life (1971); Stories for My Grand Children (1973); Fruits of Madeira (1974).   Graça Alves (atualizado a 30.12.2016)

Personalidades