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caldeira, joão da silveira

Uma importante informação abre a entrada relativa a João da Silveira Caldeira no Elucidário Madeirense: “escassos dados possuímos para a biografia deste madeirense” (SILVA e MENESES, 1984, I, 366). Ainda assim, o Elucidário apresenta-o como um médico e investigador na área da química, nascido na Madeira no terceiro quartel do séc. XVIII, que terá sido lente na Escola Militar do Rio de Janeiro e provedor da Casa da Moeda nessa cidade, informação que, no entanto, não nos parece correta. Confrontando estas indicações com outras, nomeadamente com uma relação de “Irmãos e Irmãs sepultados no Cemitério [de Catumbi, São Francisco de Paula, Rio de Janeiro] a partir de 1850, em carneiros arrendados e/ou em perpetuidade” (BARATA, Colégio Brasileiro de Genealogia, s.p.), parece-nos haver uma confusão entre dois homónimos – pai e filho –, na medida em que as referências apresentadas pelos dois documentos são similares, exceto no local e na data de nascimento: no registo n.º 54 desta relação, há referência a um João da Silveira Caldeira, filho de um outro João da Silveira Caldeira e de Bárbara Joaquina, sepultado no cemitério de S. João Batista, no bairro de Botafogo, dado como nascido a 28 de junho de 1800, no Rio de Janeiro, e falecido na mesma cidade, a 4 de julho de 1857, vítima de suicídio. Neste sentido, o pai terá nascido na Madeira e saído para o Brasil, onde terá nascido o filho, João da Silveira Caldeira, que veio a ser uma figura importante da cultura. João da Silveira Caldeira, filho portanto, era, então, médico formado pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, detentor do grau de doutor, com tese escrita em latim. Destacou-se na química, área na qual desenvolveu algumas investigações e trabalhos. Aperfeiçoou os seus estudos em Paris, tendo privado e aprendido com os químicos Louis Nicolas Vauquelin   (1763-1829) e André Laugier (1770-1832), e com o mineralogista René Just Haüy (1743-1822). Publicou, em 1926, a tradução anotada do Manual do Ensaiador de Vauquelin. Sobre a personalidade, refere Joaquim Augusto Simões de Carvalho, na Memoria Historica da Faculdade de Philosophia: “químico muito apreciado […]. É autor da memória sobre o ondeado metálico, publicada nos Annaes das Sciencias e Artes, e de outros trabalhos realizados no laboratório químico de Paris” (SILVA e MENESES, 1984, I, 188). Em Paris, foi preparador do Jardim das Plantas, cargo que manteve até regressar ao Brasil, onde, juntamente com o bispo de Anemuria e Manuel de Arruda Câmara, procedeu à revisão e publicação da obra Flora Brasiliensis, de  José Mariano da Conceição Veloso. Em 1823, fez parte da junta de diretores de uma escola do método de ensino mútuo para instruir as corporações militares. Nesse ano, foi nomeado diretor do Museu Imperial e Nacional e, no ano seguinte, criou o laboratório químico do Museu, o primeiro laboratório para análises fundado no país, do qual foi, também, o primeiro diretor. O Imperador, percebendo a importância deste laboratório, autorizou a compra, em Paris, de instrumentos solicitados por João da Silveira, que, deste modo, pôde contribuir para o desenvolvimento da investigação médica e da mineração do Brasil, realizando, então, as primeiras análises de combustíveis nacionais e de amostras de pau-brasil. Foi durante a sua gestão que o Museu passou a ser um estabelecimento consultivo, tendo, por essa época, o Governo imperial incentivado a participação de vários naturalistas estrangeiros, Natterer, von Sellow e Langsdorff, tendo este último oferecido ao Museu a sua própria coleção de mamíferos e aves da Europa. Durante a sua direção, o Museu recebeu ainda acervos vários, nomeadamente múmias, estatuetas funerárias, vasos, mãos e pés mumificados de origem egípcia, bem como vários objetos etnográficos oriundos do Pará e das ilhas do Pacífico. Na correspondência enviada para publicação, há referência a diversas pesquisas realizadas, nomeadamente em torno da obtenção do ácido cítrico puro e de zircónia pura, descoberta cujos créditos dividiu com o químico francês M. du Bois-Reymond. A Nova Nomenclatura Química Portuguesa, um dos primeiros compêndios de assuntos químicos no Brasil, datado de 1825, é assinada por João da Silveira Caldeira. Obras de João da Silveira Caldeira: Nova Nomenclatura Química Portuguesa (1825).     Graça Alves (atualizado a 14.12.2016)

Física, Química e Engenharia

clode, william edward

Filho de Archibald George Clode e de Maria Francelina Crawford do Nascimento, William Clode nasceu na freguesia de Santa Luzia, mais propriamente na Qt. Gertrudes, no Funchal, a 13 de setembro de 1900. Tendo nacionalidade inglesa e formação anglicana, necessitou de um visto oficial para poder viajar para Lisboa. Embarcou no dia 23 de janeiro de 1919, tendo como destino final Coimbra, onde se formará em Medicina. Na cidade do Mondego, participou no Orfeão Académico e na Tuna Académica, na qual tocava viola. Elemento importante na movimentação da vida académica da altura, fez-se sócio do Centro Académico de Democracia Cristã, que havia sido fundado em 1901, em Coimbra, com o objetivo de responder ao agravamento da questão religiosa levantada pelo Governo de Hintze Ribeiro. Aos 21 anos, recebe o batismo na Igreja Católica. No âmbito da referida Associação, fundou, a 10 de maio de 1923, o Lactário de Nossa Senhora, integrado na Conferência de São Vicente de Paulo da Faculdade de Medicina, da qual foi presidente. Doutorou-se em Medicina, em 1925, com a defesa da tese “O Problema Sexual no Meio Académico”. A 13 de setembro de 1926, no paço episcopal, casa-se com Maria Carolina Dória Monteiro. De regresso à Ilha natal e preocupado com a assistência aos mais necessitados, William Clode fundou o Dispensário Infantil Divina Providência e a Associação da Gota de Leite da Madeira. Para além disso, fundou também, em 1932, a Juventude Católica Antoniana, que englobava um grupo musical, um grupo dramático e um orfeão de 60 membros, ensaiado pelo Cap. Gustavo Coelho. Em 1940, por sua iniciativa, enquanto presidente da Juventude Católica Antoniana, é erigido, no pico dos Barcelos, um grande cruzeiro em pedra basáltica, ação que integrou as comemorações do duplo centenário de Portugal. Nomeado médico escolar em 1935, mediante concurso público, desempenhou funções no Liceu Jaime Moniz até 1966, tornando-se médico da Associação de Futebol do Funchal, em 1942, a partir da reforma orgânica do ministério da Educação, quando a Direção Geral de Saúde passou a chamar-se Direção Geral dos Desportos, Educação Física e Saúde Escolar. Foi professor de Higiene e Saúde Escolar, na Escola do Magistério Primário do Funchal. Ensinou Inglês, Ciências Naturais, Desenho e Trabalhos Manuais no Liceu de Jaime Moniz; lecionou Inglês no Seminário Diocesano do Funchal e deu aulas no Colégio da Apresentação de Maria e na Escola Industrial e Comercial António Augusto de Aguiar. No exercício das suas funções enquanto clínico, foi assistente de cirurgia e medicina da Santa Casa da Misericórdia; em 1951, é nomeado diretor clínico daquele hospital. Foi médico da Casa de Saúde de São João de Deus e, com os doutores João Abel de Freitas, António Félix Pita e Antonino Costa, fundou a Casa de Saúde Vila Guida. Em agosto de 1966, é admitido como médico da Caixa de Previdência e Abono de Família do Distrito do Funchal. Apesar de reformado, manteve sempre o seu consultório, na R. da Queimada de Cima, e a sua ação no Hospital dos Marmeleiros. Para além da sua tese de doutoramento, publicou obras como Quadros Vicentinos, Some Memories of My Life, Stories for My Grand Children e Fruits of Madeira. No âmbito do Hospital, tentou editar, com outras personalidades, uma revista trimestral intitulada Madeira Médica, cujo primeiro número aparece em maio de 1952, com a colaboração de João Porto e de outros médicos madeirenses de nomeada. Clode foi também presidente da Conferência de São Vicente de Paulo, da paróquia de Santo António, uma organização vocacionada para os pobres e a caridade, estando referenciado como “um ilustre filho desta freguesia que desde os bancos universitários em Coimbra, votou a sua actividade à obra da Caridade Cristã, através das instituições às quais está ligado o seu nome como seu fundador” (Tricentenário da Freguesia de Santa Luzia..., 1977, 116). O Almanaque do Desportista Madeirense para 1945 refere-se-lhe como “bom e honesto animador de desportos”, e identifica-o como o dinamizador, a 6 de outubro de 1940, “de um magnifico festival organizado pelo G.D. da Juventude Católica Antoniana […], um certamen de atletismo, a que o Dr. William E. Clode ligou o seu nome e o seu espírito de consciencioso desportista e admirável empreendedor” (Almanaque do Desportista…, 1945, 185). Clode tornar-se-ia, assim, médico dos desportos da Madeira. Participa na comissão administrativa da Câmara Municipal do Funchal, entre 1932 e 1940, com o pelouro dos Postos Médicos, Cemitérios e Iluminação. A sua contribuição para o desenvolvimento do concelho manifestou-se, sobretudo, na criação de escolas e de postos médicos, nomeadamente do Posto de Socorros Urgentes, situado na R. da Mouraria, assim como no alargamento da rede de distribuição da eletricidade. A 19 de janeiro de 1935, a comissão administrativa da Câmara Municipal do concelho do Funchal delibera a sua nomeação para presidente da Junta de Higiene. A 5 de janeiro de 1939, é eleito, por escrutínio secreto, vice-presidente da Câmara. Fez ainda parte da comissão organizadora das festas da cidade do Funchal em 1946, 1947 e 1948. A sua ação cultural foi igualmente notável: em 1943, foi um dos fundadores e presidentes da comissão executiva da Sociedade de Concertos da Madeira, juntamente com o seu irmão, Luiz Peter Clode (1904-1990), tendo estes, em 1947, proposto ao conselho diretivo da referida Sociedade a criação da Academia de Música da Madeira, de cuja comissão administrativa fez parte, no ano letivo 1946/1947. Por sua iniciativa, esta Academia transformar-se-ia, em 1956, em Academia de Música e Belas Artes da Madeira, com exames equivalentes aos realizados no Conservatório Nacional e nas escolas superiores de Belas-Artes (Pintura e Escultura) de Lisboa e Porto. Entre 1946 e 1974, William Edward Clode integrou a comissão administrativa desta Academia. Sob pseudónimos, escreveu várias peças para teatro. É autor de algumas peças de música sacra, como “Missa a Santa Teresinha” e um conjunto de composições para órgão que publicou em edição de autor: Stella Matutina, Tantum Ergo, Mater-Dei e Regina Coeli. É ainda que salientar que foi presidente da primeira Casa do Povo da Madeira e um dos fundadores do Posto Emissor de Radiodifusão do Funchal, posteriormente designado PEF (Posto Emissor do Funchal), sito à R. da Ponte de São Lázaro, n.º 3. Tendo sido “criado com o propósito de aumentar o nível cultural da população madeirense, inculcando-lhe o gosto pela música de qualidade” (MORAIS, 2008, 395), foi instalado numa das dependências do Teatro Municipal Baltazar Dias, cedida pela Câmara Municipal do Funchal, sob a presidência de Óscar Baltazar Gonçalves. Interessando-se ainda pela área do comércio, tentou desenvolver, sob a marca Crawford, uma indústria caseira, primeiro de pó dentífrico e água-de-colónia, e, depois, de pickles, compotas, chocolates, pastilhas de hortelã, licores e sumo de maracujá. A 18 de março de 1984, a Câmara Municipal do Funchal dá o seu nome a um caminho, até então conhecido como caminho das Romeiras. A sua efígie está representada no Conservatório de Música da Madeira, numa placa em gesso patinado de bronze, datada de 1986, da autoria do escultor Anjos Teixeira. Faleceu em casa, na Qt. Crawford, no Funchal, a 3 de outubro de 1980. Obras de William Edward Clode: O Problema Sexual no Meio Académico (1925); Quadros Vicentinos (1938); Some Memories of My Life (1971); Stories for My Grand Children (1973); Fruits of Madeira (1974).   Graça Alves (atualizado a 30.12.2016)

Personalidades