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henriques, manuel antónio de azevedo

Manuel António de Azevedo Henriques foi um escritor madeirense nascido no séc. XVIII, natural do Funchal, mais concretamente da freguesia de São Pedro, que residiu na R. dos Murças ou das Mercês (o registo manuscrito da certidão de casamento não desfaz a dúvida). É filho de Silvestre de Azevedo e de Maria da Fé, que se casaram em São Pedro a 24 de junho de 1733. Seu avô paterno é António de Azevedo Henriques, que se casou na igreja de S. Bartolomeu, com Maria da Silva, estando este casamento registado na paróquia da Sé, como tendo ocorrido no mês de maio de 1709. Manuel António de Azevedo Henriques casou-se na paróquia de São Pedro com Juliana Rosa Joaquina, no dia 27 de novembro de 1784. O seu registo de casamento não contém o apelido Henriques, mas a probabilidade de se tratar do autor madeirense é muito grande. No âmbito literário, Manuel António de Azevedo Henriques destacou-se por ter escrito a obra Reino de Deus, ou Reino de Portugal, Panegírico Funchalense, Oferecido aos muito Altos, etc. Reis Fidelíssimos D. Maria I e D. Pedro III. O opúsculo, publicado em Lisboa em 1778, é constituído por 47 páginas e dividido em 4 partes. Na primeira parte, o autor debruça-se sobre as razões da aclamação da Rainha D. Maria I; na segunda, aborda a fundação de Portugal; na terceira parte, descreve a ascendência do casal real, continuando este mesmo assunto na quarta parte. Esta obra do autor madeirense foi uma prenda ao casal real, que tinha subido ao trono no ano anterior à sua publicação (1777). Nesse mesmo ano, segundo o Catálogo da Colecção de Miscelâneas, da Universidade de Coimbra, Manuel António de Azevedo Henriques terá assinado a protestação do epitalâmio de José de Assiz de Mascarenhas, conde de Óbidos e conde de Palma, meirinho-mor do reino, e de Helena Maria Josefa Xavier de Lima, condessa de Óbidos. Azevedo Henriques terá oferecido este opúsculo de 15 páginas, publicado em Lisboa, ao conde de Óbidos. Há ainda uma terceira obra, atribuída a Manuel António de Azevedo Henriques por Brito Aranha, o autor que continuou e completou os estudos de Inocêncio Francisco da Silva no Dicionário Bibliográfico Português. Segundo o estudioso, o escritor madeirense terá ainda redigido um extenso poema de 45 páginas intitulado Nova Historia do Pastor Desenganado ou Fileno Arrependido. O texto encontra-se dividido em 3 partes consoante a sua estrutura estrófica: a primeira, de 15 páginas, organiza-se em oitavas rimadas; a segunda, com 14 páginas, em sextinas; a terceira, com as restantes 16 páginas, contém estrofes de 7 versos. Há, no entanto, divergências quanto ao subtítulo da obra, a versão de 1811, supostamente a original, indica que a obra foi “moralizada em várias sentenças e autoridades, etc. Para utilidade e espelho dos mancebos e exemplos das donzelas”, enquanto a versão de 1874, presumivelmente uma reedição póstuma, apenas refere que a obra foi “moralizada com várias sentenças das divinas e humanas letras”. Pouco mais se conhece do perfil biográfico e literário de Azevedo Henriques, cuja obra terá sido difundida por via oral e tradicional, em folhetos de cordel, mas pode depreender-se que terá vivido algum tempo em Lisboa, onde desenvolveu parte da sua atividade literária e onde se terá movimentado nos ambientes da corte e da nobreza da época. Obras de Manuel António Azevedo Henriques: Reino de Deus, ou Reino de Portugal, Panegírico Funchalense, Oferecido aos muito Altos, etc. Reis Fidelíssimos D. Maria I e D. Pedro III (1778); Nova Historia do Pastor Desenganado ou Fileno Arrependido (1811).   João Carlos Costa (atualizado a 23.02.2018)

Literatura Personalidades

santos, josé vitorino dos

Engenheiro civil madeirense, nasceu em S. Pedro (Funchal) a 29 de dezembro de 1863. Obteve o curso de Engenharia Civil nas escolas Politécnicas e do Exército, em Lisboa. No desempenho das suas funções, foram-lhe confiados trabalhos de responsabilidade na Madeira, em Portugal Continental e nas colónias portuguesas, nomeadamente em Angola, onde foi diretor das Obras Públicas Municipais de Luanda e engenheiro-chefe da Secção das Obras Públicas da Província de Angola. Aliás, como homenagem aos serviços prestados na capital angolana, a Câmara Municipal da cidade atribuiu o seu nome a uma das ruas da urbe. No Funchal, depois de regressar de África, foi professor desde 1902, e diretor da Escola Industrial e Comercial António Augusto de Aguiar (futura Escola Industrial e Comercial do Funchal) a partir de 1903, sucedendo a Cândido Pereira, o primeiro diretor. Esta instituição escolar, instalada inicialmente na rua de Santa Maria em 1889, privilegiava o desenho e a pintura, designando-se inicialmente por Escola de Desenho Industrial Josefa de Óbidos, e tinha como finalidade ministrar o desenho com aplicação à indústria regional. Gradualmente, o ensino alargou-se a outras áreas do saber, tendo Vitorino José dos Santos experimentado e implementado diversas reformas, pelo que este estabelecimento de ensino técnico muito lhe ficou a dever pelo modo como o impulsionou. Exerceu ainda os cargos de vogal da Junta Geral do Distrito, Administrador do Concelho do Funchal, Comissário da Polícia do referido distrito e atingiu o auge da sua carreira de engenheiro civil na Madeira como chefe da 7.ª Circunscrição Industrial da Direção-Geral da Indústria, no Funchal. No exercício desta função, redigiu vários relatórios, entre 1907 e 1914, publicados nos diversos números do Boletim do Trabalho Industrial, órgão editado pela Direção Geral do Comércio e Indústria de Lisboa, em que estudou e analisou as indústrias da Madeira, instituições de beneficência, associações de classe, entre outros temas. Assim, por exemplo, no n.º 5 deste boletim, caracterizou a classe das bordadeiras, a sua distribuição pela Região, o seu rendimento salarial, a qualidade e os horários do trabalho, as casas de bordado, o papel desta profissão na economia local, as técnicas do bordado e a influência das casas alemãs que entretanto se tinham fixado no Funchal. Num número posterior, analisou os efeitos da Primeira Guerra Mundial na indústria dos bordados. Analisou igualmente a indústria de artefactos de verga na Ilha, descrevendo as suas origens, o papel dos estrangeiros (como William Hinton) no incremento desta produção, a cultura do vime, os processos de fabrico e a exportação. Também se debruçou sobre a caracterização da indústria de embutidos na Madeira, descrevendo a produção, o trabalho dos operários embutidores, as questões da formação qualificada e as lacunas que ainda se registavam, como a falta de cultura intelectual e gosto artístico, que limitava a progressão dos operários e a qualidade dos trabalhos. Abordou ainda as questões referentes à comercialização e exportação destes materiais. No n.º 95 do referido boletim, ocupou-se do estudo das Misericórdias na Madeira, num artigo intitulado “Instituições de Beneficência e Associações da Classe”. Num número posterior, o 97, de 1914, analisou os efeitos da Primeira Guerra Mundial na indústria dos bordados. Além destes trabalhos técnicos, é ainda conhecida a sua coautoria no estudo “Parecer Technico sobre as compensações a fazer a quando captadas as Nascentes dos Tornos” (presumivelmente de 1905). Os seus relatórios não eram meros documentos técnicos, mas apresentavam análises minuciosas, com uma preocupação relativa ao futuro e alguns eram “notáveis […] e magníficas peças literárias”, na opinião dos críticos da época (PORTO DA CRUZ, 1953, 33). Manteve outra atividade cívica relevante, por exemplo prestando serviços à Liga das Levadas, criada em 1903, na condução de negócios e na organização de um arquivo importante para o estudo das águas e levadas da Madeira. Colaborou ainda na publicação intitulada V Centenário do Descobrimento da Madeira, lançada para comemorar a efeméride. Também desempenhou alguma atividade política, pois pertencia ao partido regenerador local, mas ter-se-á afastado, em 1901, devido a polémicas relativas à vinda de D. Carlos e D. Amélia à Madeira. Ainda apoiou, em 1907, a política do conselheiro e estadista João Franco, tendo militado no Partido Franquista e feito parte da sua Comissão Distrital, mas a morte de D. Carlos fez com que João Franco abandonasse o poder e os franquistas não executaram o seu projeto. Com a queda da monarquia, afastou-se definitivamente das lides políticas. No campo literário, publicou um livro de poemas intitulado Lágrimas, dedicado à memória da sua filha Marieta da Cunha Santos, que faleceu muito jovem. O livro teve uma primeira publicação no Funchal (1916) e uma segunda em Coimbra (1918). O semanário A Verdade refere, na sua edição de 27/03/1919, que Lágrimas é um “livro de sentidos sonetos”, “um poema dedicado à memória santa duma adorada filha”. Ressalva ainda que o autor reflete “todas as recordações, todos os anceios [sic] e todas as saudades que lhe vão na alma pela ausencia [sic] do ente querido”. Segundo a nota do redator, não identificado, é um livro “que todos os corações tristes devem procurar ler” e o produto das vendas foi destinado a fins solidários (“Lágrimas…”, A Verdade, 27 mar. 1919, 1). Na opinião de Eduardo Pereira, este livro revela a dor de um poeta “sangrando no coração”, a alma de um desventurado pai que transmite também saudade. Nos 19 sonetos do livro, “canta a voz estrangulada da Dor, geme a saudade inconsolável do Amor e ora a resignação piedosa da Fé” (MARINO, 1959, 237). De facto, analisando dois dos sonetos da obra, é visível o reflexo da dor nas diversas marcas autobiográficas, como a imagem da Morte que separa uma avó da sua neta (poema “Recordando”) e expressões como “A sofrer, resignado, a minha cruz”, “o meu penar” e “anjo d’amor que me confortas”, referindo-se à filha falecida (soneto “A cor dos teus olhos”). Além do livro Lágrimas, Vitorino José dos Santos colaborou igualmente, com as suas poesias, no Diário da Madeira. Faleceu no Funchal, a 1 de outubro de 1928, com 64 anos. Obras de Vitorino José dos Santos: “Instituições de Beneficência e Associações da Classe” (1914); “Parecer Technico sobre as compensações a fazer a quando captadas as Nascentes dos Tornos” (coautoria) (1905?); Lágrimas (1916).   João Carlos Costa

Personalidades

sousa, arthur rodrigues de

Foi um distinto advogado, político e homem do desporto madeirense do século XX, descendente de uma família originária do Faial (concelho de Santana). Arthur Rodrigues de Sousa nasceu no Funchal, na freguesia de Santa Luzia, no dia 23 de novembro de 1905, filho do médico João Albino Rodrigues de Sousa, eminente clínico, abastado proprietário, influente político e industrial do concelho de Santana, onde montou inclusive fábricas de manteiga e de aguardente, posteriormente administradas por alguns dos filhos. O seu avô, Albino Rodrigues de Sousa, foi um importante político que militou no Partido Regenerador e foi graças à sua influência e à de seu filho João Albino que se construíram as pontes do Faial, por pedido efetuado ao então Primeiro-Ministro Hintze Ribeiro. Mesmo após a Implantação da República, a família Rodrigues de Sousa (os “Albinos”, como eram conhecidos) hasteava a bandeira monárquica, mantendo-se fiel aos seus princípios. Arthur Rodrigues de Sousa fez parte de uma prole de cinco filhos (com Albino, Álvaro, Maria Olinda e Arnaldo) que se estabeleceram na Madeira e em Portugal Continental. Frequentou o Liceu Jaime Moniz, no Funchal, licenciando-se posteriormente em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Na capital portuguesa abriu banca de advocacia, exercendo as funções de advogado e consultor jurídico. Durante os tempos de estudante, envolvia-se com frequência em discussões de carácter político. Numa altercação que ocorreu junto do Diário de Notícias, no Rossio, foi agredido e levado, juntamente com os agressores, para o Governo Civil. Como consequência desse episódio perdeu uma vista, pelo que passou a usar monóculo. Durante a juventude, integrou a redação do diário Acção Realista, que veiculava os ideais monárquicos da Ação Realista Portuguesa. Este movimento monárquico começou por transmitir os seus propósitos na revista quinzenal Acção Realista, dirigida pelo também madeirense Ernesto Gonçalves, da qual se publicaram 32 números (entre 22 de maio de 1924 e outubro de 1926) e nos quais também participou o Visconde do Porto da Cruz. No primeiro número da revista, o movimento definia-se como “a aspiração duma fação de monárquicos que estão fartos da inércia em que se tem vivido” (Acção Realista, 22 maio 1924, 2). Desejavam “uma monarquia isenta de vícios republicanos” (Acção Realista, 10 jun. 1924, 2). Entre 15 de abril e 18 de agosto de 1926, este movimento também publicou as suas convicções no diário Acção Realista, de Lisboa, dirigido por João Ameal, onde colaborou Arthur Rodrigues de Sousa. Além desta participação na imprensa de cariz político-ideológico, e de regresso à Madeira, Rodrigues de Sousa destacou-se num cargo também desempenhado anteriormente por seu pai, o de presidente da Câmara Municipal de Santana, precisamente durante os anos 40 do século XX, em plena Segunda Guerra Mundial. Tomou posse na edilidade pelas mãos do Governador do Distrito, Gustavo Teixeira Dias, a 6 de janeiro de 1942, substituindo Manuel Prado de Almada, que passou a exercer as funções de Delegado Interino do Instituto Nacional do Trabalho no Funchal, cargo incompatível com a presidência da Câmara. Tanto o novo presidente como o vice-presidente, Porfírio Marques de Andrade, foram nomeados por alvará do Governador do Distrito Autónomo do Funchal. Os periódicos da época, em particular o Diário de Notícias, realçam que, quando o novo presidente chegou ao concelho, no dia 18 de janeiro de 1942, foi prontamente homenageado com a execução do hino nacional pela Banda Municipal de Santana, e foram-lhe erguidos entusiásticos vivas. De entre as obras em prol do município, salientam-se o melhoramento da rede viária com a construção de estradas, a tentativa de eliminação do jogo clandestino, o desenvolvimento das obras de assistência social e a organização do racionamento e da distribuição de bens alimentares aos mais carenciados. Chefiou ainda os serviços da Administração Municipal. Muita da documentação que continha as deliberações de Arthur Rodrigues de Sousa na presidência da Câmara de Santana acabou por perder-se, destruída por um incêndio no edifício da edilidade, no sítio do Caminho Chão, durante a madrugada de 14 de agosto de 1948. Os serviços foram provisoriamente transferidos para outra casa e, em maio de 1958, foi inaugurado o edifício dos Paços do Concelho. Arthur Rodrigues de Sousa foi substituído na presidência da Câmara pelo anterior vice-presidente, Porfírio Marques de Andrade, que já se encontrava em funções em 1948. Para além da política, Arthur era um amante do desporto e, nessa condição, exerceu, entre 1941 e 1949, o cargo de presidente da Direção do Clube Sport Madeira, de que já era sócio. Foi o décimo quarto presidente desta instituição fundada em 1909, sucedendo a Augusto Branco Camacho (1940) e antecedendo Luís Pestana (1950-1956). Procedeu à remodelação da agremiação, à organização de campeonatos internacionais de ténis em colaboração com as Federações Portuguesa e Espanhola da modalidade e à realização de excursões com notáveis personalidades internacionais. O hipismo e o ténis eram os seus desportos de eleição. Durante a sua presidência, o voleibol também mereceu especial destaque, porquanto o Clube Sport Madeira venceu, em agosto de 1944, o primeiro torneio interclubes disputado na Quinta Vigia, residência oficial do Presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira. A disputa desta competição foi uma consequência da dinamização da modalidade junto de várias agremiações do Funchal. Muita informação sobre a presidência de Arthur Rodrigues de Sousa nesta instituição se perdeu, novamente devido a um incêndio que, a 2 de junho de 2007, destruiu a sede da coletividade na Avenida Arriaga, no Funchal, e todo o espólio e documentação existentes no seu interior, incluindo os livros de atas que muito auxiliariam na descrição biográfica mais detalhada desta personalidade . A partir da década de 50, fixou definitivamente residência em Lisboa, abrindo um escritório de advogados na Rua António Maria Cardoso. Casou-se, por essa altura, com Maria Luísa Macedo Nogueira de Andrade, que foi também sua secretária no referido escritório. Anteriormente contraíra matrimónio na Madeira com uma senhora de nacionalidade sueca, mas conseguiu, pouco tempo depois, a separação e a anulação deste primeiro casamento. Depois de ter saído da Madeira, regressou poucas vezes ao arquipélago, mas numa das suas visitas, em 1986, foi homenageado em Santana e condecorado pelo Presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, pela sua ação na presidência da Câmara Municipal. Arthur Rodrigues de Sousa faleceu a 14 de janeiro de 1989, sem deixar filhos.     João Carlos Costa (atualizado a 10.02.2017)

Personalidades