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müller, carlos

Carlos Müller nasceu na freguesia de Santa Luzia a 18 de dezembro de 1896, sendo filho de Karl Müller, natural da Bavária (Alemanha), e de Guilhermina da Silva, também natural daquela freguesia. Na conjuntura da Primeira Guerra Mundial, partiu, a 21 de Julho de 1916, com 23 anos, para os Açores, onde cumpriu o exílio no forte de São João Baptista (Angra do Heroísmo) sob o n.º 384, conforme a lista de 1918. Na verdade, a 7 de fevereiro de 1916, fora aprovada uma lei que previa a requisição de matérias-primas e meios de transporte alemães que estivessem em território português. Em 9 de março de 1916, a Alemanha declarara guerra a Portugal, que reagira com vária legislação, nomeadamente a lei de 24 de abril de 1916, em consequência da qual os residentes alemães em Portugal foram banidos ou presos, especialmente os de idades compreendidas entre os 16 e 45 anos. Antes do referido exílio, Karl Müller não permitira a naturalização dos filhos mais velhos, Humberto e Carlos afirmando que “antes morrer que ser português” (WILHELM, 2000-2001). Sua mãe ficou viúva a 5 de setembro de 1916 e morreu a 25 de janeiro de 1922. Pouco depois, a 22 de Junho de 1922, Carlos Müller casou-se com Olga da Paixão de Castro em regime de comunhão de bens; tinham ambos 25 anos. Em 1934 residiam à rua do Conde Carvalhal e, a 14 de setembro de 1939, Carlos Müller naturalizou-se português. Carlos Müller interessou-se pelo bordado da Madeira e fez a sua aprendizagem desta indústria numa sociedade irregular – baseada num acordo verbal, sem recurso a ato notarial – com seus cunhados, Crispim Izidoro (irmão de sua mulher) e Maria Romana de Castro, em 1922. Posteriormente, Crispim constituiu uma sociedade com seu irmão, Alberto Castro, mas, em setembro de 1924, ficou único sócio da empresa, com sede à rua dos Ferreiros, no Funchal. Nesse ano, Crispim, que entretanto emigrara para a América, mandou de lá uma procuração conferindo a Carlos poderes de administrador e de gerente, com um ordenado que oscilava entre 800$00 e 2.400$00, conforme o seu desempenho, especialmente o volume e o montante de bordados exportados; estas funções foram ratificadas em 1932 por nova procuração. No entanto, com o regresso à Madeira de Crispim Izidoro de Castro, surgiram desentendimentos entre os dois, que fizeram com que Carlos iniciasse uma ação judicial no Tribunal da Comarca do Funchal; na versão de Crispim, a repetida e intolerante indisciplina do cunhado (nomeadamente o incumprimento das instruções recebidas) tinham-no obrigado a demitir Carlos, a 9 de Outubro de 1933. Pouco tempo volvido, Carlos retirou a referida queixa, desconhecendo-se a razão. A 9 de Novembro de 1933, Carlos Müller constituiu com seu cunhado Raul Ladislau da Câmara (casado com uma irmã de Olga) a firma Müller & Câmara, sedeada à rua Conde Carvalhal. A 11 de Abril de 1942, os dois sócios procederam à reformulação da mesma e, a 1 de Julho desse ano, ratificaram as escrituras anteriores, ficando como “primeiro outorgante Karl Müller, que também é conhecido e assina Carlos Müller e como segundo outorgante Raul Ladislau Câmara; ambos casados, comerciantes e moradores à rua Latino Coelho, desta cidade”, assim como o tipo de sociedade: “Müller & Câmara Limitada e Madeira Juvenile Export C.º Ltd” (ARM, 2.º Cartório Notarial do Funchal, escritura de 1 jul 1942), com nova sede e aumento de capital social. A 4 de abril de 1946, perante o notário Bacharel Frederico Augusto de Freitas, foi constituída a “sociedade comercial por cotas de responsabilidade limitada, Arte Fina, Limitada”, que teve a sua primeira sede e estabelecimento principal na calçada da Saúde, n.º 10 de polícia. A cláusula 3.ª da mesma escritura refere que o “seu objeto é a realização da indústria e do comércio de bordados da Madeira, e a de qualquer outro ramo de indústria ou de comércio que aos sócios convenha explorar, dentro dos limites da lei”. A cláusula seguinte refere que o capital social está integralmente realizado, que é no valor de 200.000$00 “e fica dividido em quatro cotas – sendo uma, com o valor nominal de noventa mil escudos, pertencente ao sócio Carlos Müller, outra com o valor nominal de dez mil escudos, pertencente ao sócio Humberto Müller, outra com o valor nominal de noventa mil escudos, pertencente ao sócio Raúl Ladislau Câmara, e outra com o valor nominal de dez mil escudos, pertencente ao sócio Avelino Leovigildo Nunes Vieira Aguiar Câmara” (Ibid., escritura de 4 abr 1946). No mesmo cartório, a 3 de agosto de 1957, Raul Ladislau da Câmara e Maria Romana cederam as suas quotas aos restantes outorgantes e, a 2 de outubro de 1957, entraram novos sócios para a firma Arte Fina, Limitada, com sede e principal estabelecimento no Funchal. Os novos sócios são os cônjuges de Avelino Aguiar Câmara e de Carlos Müller, assim como o seu filho, Humberto Müller, médico pediatra, que exercia a profissão em Lisboa. Carlos Müller faleceu na cidade de Lisboa, onde se achava em tratamento, a 15 de dezembro de 1963. No Termo de Apresentação da Relação de Bens constava que residira na Avenida do Infante, no Funchal e que fora casado com Olga de Castro Müller em primeiras e únicas núpcias de ambos e segundo o regime da comunhão geral de bens. No Termo de Declaração constava que o falecido não fizera testamento nem doação, sendo os herdeiros, por direito de sucessão legítima, seus filhos, o declarante e Dolores Elisabeth Müller Câmara, casada, de 39 anos de idade, moradora à dita Av.ª do Infante, e também a viúva, nomeada, por inerência, cabeça de casal. Em sucessivos pedidos de prorrogação de prazo para apresentação do Termo de Apresentação da Relação de Bens, entre vários documentos, estão o extracto do balanço em duplicado da firma Arte Fina, Limitada, e escrituras da mesma firma, de 4 de abril de 1946, 3 de agosto de 1957 e 2 de outubro de 1957. No mesmo processo, consta a Relação dos bens deixados por óbito de Carlos Müller, sendo os n.os 1 a 4 bens móveis e o n.º 5 as cotas sociais (duas) no capital da sociedade Arte Fina, Limitada, com o valor nominal de 110.000$00, tendo a firma capital no montante nominal de 200.000$00, que está realizado integralmente. Quanto aos bens imóveis, havia prédios urbanos à travessa do Lazareto (Sítio dos Louros), ao beco dos Frias (São Pedro), à estrada conde de Carvalhal (Santa Maria Maior) e à avenida do Infante (São Pedro), onde a família residia, e ainda à rua 31 de Janeiro. Nessa relação consta também a quarta parte de dois prédios rústicos, um na Quinta do Salvador e outro no Arrebentão (Terreiro da Luta), freguesia do Monte.   José Luís Ferreira de Sousa (atualizado a 01.02.2018)

Personalidades

monteiro, josé leite

José Leite Monteiro nasceu no Porto a 27 de setembro de 1841. Foi advogado, professor, escritor e político. Fez o curso de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em que ingressou em 1859, tendo concluído os estudos em 1864. Estabeleceu-se, em seguida, no Funchal, onde abriu um escritório de advocacia. Diz o Elucidário Madeirense que José Leire Monteiro nutria pela Madeira uma “carinhosa idolatria”, semelhante à que seria possível num filho natural da Ilha (SILVA e MENESES, II, 1998, 227); foi aí que desenvolveu a sua atividade profissional e intelectual. Foi professor no liceu do Funchal, depois de, em 1867, ter alcançado a nota mais elevada no concurso público para professor de Filosofia dos liceus. Passou a sua vida profissional na Ilha, a qual representaria um dos vértices das suas preocupações e dos seus interesses. Na vida pública, desempenhou funções em várias comissões de serviço, como governador civil substituto, como membro do Conselho do Distrito, como presidente da Junta Geral e como presidente da Câmara Municipal do Funchal. De salientar ainda que fez parte do Partido Fusionista e que entrou nas lutas políticas madeirenses de 1868, no âmbito das quais prestou serviços ao Partido Regenerador. José Leite Monteiro colaborou com vários jornais do Funchal, chegando a ser redator do jornal O Direito, órgão da política regeneradora. Também publicou vários livros, entre os quais se destacam O Ultramontanismo na Instrucção Publica de Portugal, de 1863, e Elementos de Direito Civil Portuguez, de 1895. Foi sócio efetivo da Associação de Direito Internacional. Em colaboração com o Cón. Alfredo César de Oliveira, coligiu diversos poemas dispersos de autores madeirenses, que acabariam por ser publicados num volume com o título Flores da Madeira. Morreu no Funchal, a 10 de março de 1920. Obras de José Leite Monteiro: O Ultramontanismo na Instrucção Publica de Portugal (1863); Elementos de Direito Civil Portuguez (1895).   Raquel Gonçalves (atualizado a 01.02.2018)

História da Educação Personalidades

monteiro, joão antónio

Mineralogista e académico de reputação internacional, nasceu no Funchal a 31 maio de 1769. Doutorou-se em Filosofia a 23/10/1791, na Universidade de Coimbra, onde viria a ser docente, tendo ministrado as seguintes cadeiras: Botânica (1793-1794) e Agricultura (1793-1794) como substituto extraordinário; Física Experimental enquanto demonstrador (1795-1796) e como substituto extraordinário (1796-1801); e Metalurgia na função de 4.º substituto (1801-1804), 6.º lente (1804-1813) e 3.º lente (1813-1822). Ocupou ainda o cargo de fiscal da Faculdade de Filosofia (31/07/1794). Traduziu do inglês, a pedido de D. João, o Príncipe Regente, a obra: Indagação sobre as Causas e Efeitos das Bexigas de Vaca […] e Conhecida pelo Nome de Vacina, por Eduardo Jener, M. D. T. R. S., etc. (Lisboa, 1803). Apesar da sua carreira como lente, a sua reputação decorre do seu percurso original de investigação no domínio da mineralogia. O referido percurso teve um grande desenvolvimento quando foi autorizado, por carta régia de 11 de maio de 1804, a empreender uma viagem científica a Paris, viagem que realizou como se estivesse ao serviço da Universidade, pois esta assegurou-lhe a antiguidade, os ordenados e demais prerrogativas. Em outubro de 1815, parte de Paris para Friburgo, na Alemanha, onde se instrui na doutrina de Werner. Várias publicações reputam-no como autor de sucesso nesses países, tendo publicado em vários periódicos internacionais. Em maio de 1814, publica no Journal des Mines um artigo intitulado “Nouvelle Description du Pyroméride Globaire, ou de la Roche Connue sous le Nom de Pophyre Globuleux de Corse”, onde dá conta de uma nova espécie de rocha, que o mineralogista francês René Just Haüy, considerado o pai da cristalografia moderna, adota na sua obra Nouvelle Distribution Minéralogique des Roches. Na sequência das suas investigações, tornou-se sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e membro da Sociedade de Mineralogia de Jena, da Sociedade Geológica de Londres e da Academia Real de Munique. Morreu em Paris, em 1834. Obras de João António Monteiro: “Mémoire – Sur une Nouvelle Variété de Cuivre Gris”, “Mémoire – Sur le Fer Sulfuré Blanc de Mr. Hauy”, “Tableau du Cours de Minéralogie de Mr. Hauy pour l’Année 1811”; “Apperçu – De l’Analogie du Wernerite avec Leparanthine” (1809); “Mémoire – Sur plusieurs Nouvelles Variétés de Formes Déterminables de Topaze” (1811); “Mémoire – Sur la Chaux Fluatée du Vesuve” (1812); “Mémoire – Sur la Détermination Directe d’Une Nouvelle Variété de Forme Cristalline de Chaux Carbonatée, et sur les Propriétés Remarquables qu’elle Présente” (1813); “Nouvelle Description du Pyroméride Globaire, ou de la Roche Connue sous le Nom de Pophyre Globuleux de Corse” (1814); “Observations et Considérations Analytiques sur la Composition, et sur la Structure du Pyromeride Globaire” (1814).   Rui Gonçalo Maia Rego (atualizado a 01.02.2018)

Personalidades

moçambique

A mais antiga referência que existe sobre a região de Moçambique está relacionada com o açúcar da ilha da Madeira, pois foi com conservas madeirenses que Vasco da Gama, aquando da sua primeira viagem, presenteou o xeque de Moçambique. Isto aconteceu porque os Portugueses sabiam que aquelas conservas seriam presentes muito apreciados no mundo islâmico. Este foi um episódio que marcou o início das relações da Ilha com aquela região de África e que, ao longo dos tempos, permitiu outras oportunidades. No séc. XVI, em 1588, o primeiro bispo nomeado para o Japão, o Jesuíta madeirense Sebastião de Morais, faleceu em Moçambique, quando seguia de viagem para tomar posse do bispado. António de Abreu, do Arco da Calheta, andou pelo Oriente desde 1511 e prestou serviços importantes à Coroa. Em 1526, quando foi nomeado capitão-mor de Malaca, foi obrigado a invernar em Moçambique. Na centúria seguinte, em 1642, Francisco Fernandez Furna, dedicado ao tráfico de escravos, criou uma empresa para o comércio em Moçambique, na Índia e na China. Depois, foi muito importante, no cimentar das relações de Moçambique com a Madeira, a presença de madeirenses ilustres nesse terriório, e.g. Aires de Ornelas (1866-1930), D. Manuel Ferreira Cabral (1918-1981), e D. Teodósio Clemente Gouveia (1889-1962): o primeiro como governador-geral de Moçambique (de 1896 a 1906), o segundo como arcebispo de Moçambique (de 1936 a 1962) e o terceiro como bispo da Beira (de 1967 a 1971). É necessário ainda assinalar a passagem pelo Funchal, em viagem de retorno, do Maj. Joaquim Mouzinho de Albuquerque, que desempenhava o cargo de comissário régio em Moçambique. À sua chegada ao Funchal, a 7 de dezembro de 1897, foi muito saudado, com um jantar no Palácio de S. Lourenço e com um espetáculo de música e iluminações no Jardim Municipal. Partiu para Lisboa, no dia 12 de dezembro. É precisamente durante o período do governador natural da Camacha que surgiram dados sobre o movimento de emigrantes, assinalando-se, entre 1872 e 1915, através dos registos de passaporte, a intenção de 391 madeirenses emigrarem para Moçambique. Destes, apenas um manifestou concretamente o seu destino final – a Beira; pensa-se que os demais se dirigiam à então Lourenço Marques (posterior Maputo) e que, depois, se decidiram por outros destinos. Outros faziam de Lourenço Marques uma escala para entrarem na África do Sul, como foi o caso de Joe Berardo, que em 1963 aportou em Moçambique, e de outros que tentavam, desta forma, escapar à Guerra Colonial. Para o período de 1930 a 1948, existem dados sobre a emigração de madeirenses para Moçambique, através da documentação do arquivo da Agência Ferraz. Por aqui, sabe-se que saíram 122 madeirenses. Outras fontes indicam que, em 1935, saíram 226 madeirenses e que, num período de 10 anos, Moçambique recebeu 389 emigrantes da Ilha. O grupo associado à Agência Ferraz fixou-se maioritariamente na capital, e apenas 24 seguiram para outros destinos, e.g. Beira, Manhiça, João Belo, Vila Cabral, Quelimane, Ressano Garcia, Namaacha, São Jerónimo/Magude, Malhadugene. A proveniência destes também é maioritariamente da Calheta, com particular incidência para a freguesia do Estreito da Calheta, da qual partiram 33 madeirenses, representando 31 % das diversas freguesias do concelho, donde saíram 75 moradores. Se se considerar o perfil destes emigrantes, constata-se que foram maioritariamente ligados à terra, pois 49,2 % foram identificados, em termos profissionais, como agricultores e lavradores. Também havia indivíduos de outros ofícios (pedreiro, carpinteiro, padeiro, moleiro, mestre de obras, trabalhador) e de outras atividades (empregada doméstica, empregado de comércio, proprietário, construtor civil, estudante, funcionário público, comerciante). Atente-se que a Madeira podia ser também uma etapa para chegar aos altos cargos de administração em Moçambique, tendo-se verificado isto no caso de António Manuel de Castro e Mendonça, que foi governador da Ilha, de São Paulo, e, entre 1809 e 1812, de Moçambique. O mesmo sucederia com Gabriel Teixeira e Sebastião Xavier Botelho, que, da Madeira, passou para idênticas funções em Moçambique. Este grupo de madeirenses que saíram para Moçambique foi oriundo de diversas freguesias do Funchal (Santo António, São Martinho, São Gonçalo, Santa Maria Maior, São Pedro, Santa Luzia, Sé) e rurais (Estreito e Arco da Calheta, Calheta, São Vicente, Paul do Mar, Porto Moniz, Fajã da Ovelha, Ribeira da Janela, Prazeres, Santana, Gaula, Ponta de Sol, Madalena do Mar, Porto Santo, Ponta do Pargo, Porto da Cruz). O grupo mais numeroso, com 134 madeirenses (34 %), era proveniente do Estreito da Calheta. Deve-se ainda referir a emigração forçada, com a pena de degredo, que aconteceu em algumas situações. Em 1828, houve o degredo de Luiz Pimenta de Aguiar, por razões políticas, nunca regressando à Ilha. Seguiu-se o P.e João Rodrigues Pestana, da Calheta, em 1886. Em 1887, assinalou-se o degredo de João Reinolds, do Porto Santo.   Os registos históricos documentaram muitos madeirenses que se dirigiram para Moçambique e tiveram um papel de relevo na colónia, e.g. militares, médicos e funcionários do Estado. O Com. João Inocêncio Camacho de Freitas, que foi governador civil da Madeira entre 1951 e 1969, procedeu a levantamentos hidrográficos em Moçambique. Outros, de que ficaram notícias, foram: Aires Ferreira Sousa (1867-1947); Alexandre José Sarsfield (1856-1926); Alfredo França Dória Nóbrega (1897-1979); Álvaro de Sousa Drumond Borges (n. 1897); António Américo da Costa Pereira (1879-1922); António Avelino Afonso (1872-1964); António Félix Pita Júnior (1895-1951); Cândido Augusto Pereira (1892-1956); Daniel Pereira Pestana (1824-1906); Elmano de Freitas Moura (n. 1932); Emanuel da Paz Correia Aguiar (n. 1940); Francisco Silvestre Varela (1883-1963); Gabriel Maurício Teixeira (1897-1973); Jacinto Ferreira Rodrigues Baptista (1883-1936); Jacinto Sebastião Spínola (1881-1951); Jaime de Campos Ramalho (1873-1935); Jaime Martinho Ferreira Leal (1888-1962); João António de Bianchi (1884-1969); João de Freitas Alves (1926-1998); João de Silvério Caldeira; João Gomes de Abreu (1888-1958); João Inocêncio Camacho de Freitas (1899-1969); Joaquim do Espírito Santo Mota de Vasconcelos (1902-1976); Jordão Abel Rodrigues (1880-1956); Jorge Teófilo Jardim Bulher (n. 1926); Jorge de Almada Schiappa de Azevedo (1905-1972); José Afonso (n. 1912); José Almada (1888-1979); José Carlos de Vasconcelos (1878-1933); José de Freitas Soares (n. 1908); José Gonçalves Costa (1899-1967); José Gonçalves Costa (1899-1968); José J. Ferreira; José Joaquim de Freitas Ferraz (n. 1821); Leonel Câmara (n. 1923); Lúcio Tolentino da Costa (1870-1939); Luís Camacho Barbeito (1902-1971); Luís Vieira de Castro (1921-1984); Manuel de Sousa Brazão (1884-1923); Manuel Ferreira Rosa (n. 1898); Manuel Gonçalves Alegria (1919-1977); Manuel Leovegildo Rodrigues (1881-1959); Manuel Simão Rodrigues (n. 1932); Manuel Teodoro dos Ramos (n. 1925); Nicolau António de Sousa Drumond Borges (n. 1923); Teófilo de Andrade Rodrigues (1912-1980); Tomás de Jose Basto Machado (n. 1913); Tomás José Basto Machado (n. 1913); Vasco da Gama Andrade Rodrigues (n. 1909); Vasco da Gama Pestana (n. 1907); Vasco da Gama Rodrigues (1888-1977). Por fim, a testemunhar a influência e presença de madeirenses em Lourenço Marques, destaca-se, naquela cidade, uma casa típica da Madeira.   Alberto Vieira (atualizado a 24.02.2018)

Madeira Global

meneses, rufino augusto

Rufino Augusto Meneses foi um sacerdote católico madeirense, nascido na freguesia da Ponta do Sol, a 27 de abril de 1877. Foi filho de Rufino Augusto de Meneses e de Carolina de Jesus. Quando ainda era criança, partiu para Angola com o pai, que foi para lá como colono, e estudou no Seminário de Huíla, sendo ensinado pelos padres do Espírito Santo. Regressado à Madeira, matriculou-se no Seminário Diocesano do Funchal, seguindo a vida eclesiástica. Foi ordenado sacerdote a 21 de dezembro de 1901 e foi capelão da Sé do Funchal até 1902. A 22 de fevereiro de 1902, foi nomeado pároco do Caniçal, função que exerceu durante os dois anos seguintes, passando a desempenhar, desde 20 de fevereiro de 1904, o múnus de cura de Machico. Em 1905, após o falecimento do P.e Jordão do Espírito Santo, que era vigário na freguesia de Água de Pena, foi nomeado sacerdote daquela paróquia, no dia 4 de julho, ocupando o cargo durante 48 anos. A par da sua vida clerical, Rufino Augusto Meneses foi um homem dedicado às letras, colaborando na imprensa regional e escrevendo textos literários, sobretudo poéticos. Exerceu a sua atividade jornalística no periódico O Jornal, como correspondente em Machico, e assinou, naquele jornal, algumas das suas produções poéticas sob o pseudónimo “C.”. Em 1950, publicou um volume de versos intitulado Visita da Imagem de Nossa Senhora de Fátima (a Virgem Peregrina) à Madeira, em 7 de Abril de 1948: Versos Populares. Neste livro, descreveu em verso a visita da imagem de Nossa Senhora de Fátima à Madeira, no dia 7 de abril de 1948, desde a chegada a bordo do Lima e o desembarque no cais da Pontinha até ao cortejo em direção à Sé do Funchal, onde aquela obra passou a noite. Descreveu as manifestações de regozijo da população, que aguardava a chegada da imagem acenando com lenços, dando vivas e palmas, e evocou os sinos da igreja a tocar e o lançamento de foguetes. Nos seus versos, todo o povo, as autoridades regionais, o clero e outras individualidades madeirenses de diferentes profissões manifestaram o seu contentamento e a sua fé por aquele momento da visita da imagem da Virgem Peregrina. Narrou ainda a visita da imagem a outras freguesias da Madeira, onde, nos dias 8, 9 e 10 de abril, foi sempre aguardada por uma multidão. Depois, mencionou o regresso da imagem ao Funchal, destacando a sua passagem pelas ruas da cidade até chegar à Pontinha, onde embarcaria no Guiné para prosseguir viagem até outras paragens. Estes versos constituem um testemunho de um momento importante da história religiosa da Ilha e oferecem alguns quadros representativos das manifestações de fé do povo madeirense na primeira metade do séc. XX. Rufino Augusto Meneses faleceu em Machico, a 30 de março de 1966. Obras de Rufino Augusto Meneses: Visita da Imagem de Nossa Senhora de Fátima (a Virgem Peregrina) à Madeira, em 7 de Abril de 1948: Versos Populares (1950).   Sílvia Gomes (atualizado a 01.02.2018)

Religiões Personalidades

mendonça, maria

Natural dos Açores, Maria Mendonça (1916-1997), de seu nome completo Maria da Trindade Mendonça, passou 35 anos da sua vida na Madeira. Jornalista e empresária, instala-se no Funchal em 1951 para dirigir, ao longo de 19 anos, o Eco do Funchal. Promove os livros insulares, açorianos e madeirenses, nas ilhas e no continente. Cria a Editorial Eco do Funchal e autores da Madeira terão a satisfação de verem livros seus virem a lume ou serem reeditados nas décs. de 50 e 60. A partir de inícios da déc. de 60, organiza no seu próprio café-restaurante, denominado Pátio, tertúlias e conferências. Em 1972, funda a Sociedade Pátio, Livros & Artes. Em 1978, cria a Edições Ilhatur, lançando até 1982, entre outros títulos, a coleção de livros infanto-juvenis “Canoa”. Entre 1979 e 1981, dirige o histórico jornal humorístico Re-nhau-nhau. Palavras-chave: jornalista; Edições Ilhatur; Editorial Eco do Funchal; Maria Mendonça; Pátio, Livros & Artes; promotora cultural. Natural dos Açores, filha de Manuel Franco de Mendonça e de Maria Raposo, Maria da Trindade de Mendonça (16 de fevereiro de 1916-28 de fevereiro de 1997) passou 35 anos da sua vida na Madeira. Perfila-se como uma pioneira no empreendedorismo cultural. Foi promotora do livro insular, administradora de uma casa editorial, articulista polemista, promotora turística, dirigente associativa e gerente de um espaço cultural e comercial. Sob o lema “Querer é poder”, como patenteia a legenda do ex-líbris que mandou executar em 1956, a sua vida é marcada por encontros e iniciativas culturalmente relevantes. Como adianta Alberto Vieira, a “sua ligação à Madeira estabelece-se a partir de Lisboa, por amigos da Madeira e pela situação de penhora do jornal Eco do Funchal, cujas dívidas aceita cobrir para dar continuidade à sua publicação, assumindo a direção a 25 de março de 1951” (VIEIRA, 2015), cargo que desempenhará até 4 de maio de 1970. Sob a sua direção, esse jornal “de carácter regionalista e independente” (OLIVEIRA, 1969, 17), que era de periodicidade semanal, passa a sair mais vezes por semana (ensaiando-se por uns tempos um trissemanário para depois ficar um bissemanário), e Maria Mendonça introduz-lhe várias secções, em especial “Cultura & Recreio”, a primeira série do suplemento literário “Pedra”, em 1965 (sendo que a segunda série viria a ser publicada no Comércio do Funchal nos anos 1967-1969) e, a 3 de março de 1969, um suplemento quinzenal (com quatro páginas) para crianças, “A Canoa”, organizado por Maria do Carmo Rodrigues. Na página literária “Pedra”, hão de contar-se “vários colaboradores: Duarte Sales Caldeira, Vicente Gomes da Silva, Ana Gouveia, Luís Manuel Angélica, Luciano Nunes, José Manuel Coelho, Leopoldo Gonçalves, Vladimiro Rocha, Luísa Silva, Teresa Macedo, António do Canavial, A. [J.] Vieira de Freitas e José de Sainz-Trueva” (Id., Ibid.). No suplemento infanto-juvenil vão colaborar, entre outros nomes, Alice Gomes, Irene Lucília Andrade, Luíza Helena Clode, Madalena Gomes e Matilde Rosa Araújo. No entanto, por razões económicas, esse suplemento será suspenso meses depois. Decidida a não deixar interromper a dinâmica que o projeto gerara, Maria do Carmo Rodrigues funda então o periódico infanto-juvenil independente A Canoa, que teve grande divulgação a nível nacional entre 1969 e 1971. Fig. 1 – Fotografia tirada provavelmente no restaurante do Casino da Madeira, nos anos de 1960. Em primeiro plano, Horácio Bento de Gouveia e esposa; em segundo plano, ao centro, Maria Mendonça, à direita, Adelaide Félix e, à esquerda, Emília Félix, irmã de Adelaide.Fonte: Colç. de Maria Amélia Bento de Gouveia. Mal se instalou no Funchal, Maria Mendonça começou a participar na dinamização de associações de intercâmbio cultural entre os Açores e a Madeira, designadamente o Clube dos Amigos dos Açores e o Círculo de Amizade Madeira-Açores, chegando a ser dirigente associativa. Como refere Alberto Vieira, “ao abrigo destas estruturas, fizeram-se excursões, intercâmbios de grupos folclóricos, de bandas de música, de clubes desportivos” (VIEIRA, 2015). Em 1951, Rogério Correia promove, durante as festas de fim-de-ano, a Semana do Livro Açoriano, na Academia de Música da Madeira, no Funchal, com a colaboração de Maria Mendonça e J. Silva Júnior. Nos anos sequentes, os mesmos promotores hão de organizar outras semanas do livro, dedicadas às publicações açoriana e madeirense. A chefe de redação do Eco do Funchal vai erguer em Lisboa, em 1954, aquando da 24.ª Feira do Livro, o pavilhão do Livro Insular, que ocupou lugar de destaque. Para esse certame mandou imprimir o Catálogo das Obras Apresentadas no Primeiro Stand Insular da Feira do Livro de Lisboa em 1954, que organizou com o conterrâneo J. Silva Júnior. O público nacional fica assim a saber que a literatura insular é uma realidade tangível. Em 1955, monta o stand do livro insular no Funchal. Realiza a Primeira Semana da Madeira, em Lisboa, no Castelo de S. Jorge, em 1982. De tudo isto fica a ideia de que uma consciência cultural das ilhas se perfilava em Portugal. Por sugestão do poeta Jorge de Freitas, Maria Mendonça funda a primeira casa editora na Madeira, a Editorial Eco do Funchal, apostando assim na afirmação cultural do livro insular e ampliando a ação das duas principais entidades regionais públicas que desempenhavam esse importante papel: a Câmara Municipal do Funchal e a Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal. Com a sua chancela, autores da Madeira, tais como Noé Pestana, Baptista Santos, Bernardete Falcão, João Vieira Caetano e Alberto Figueira Jardim, terão a satisfação de verem livros seus vir a lume ou ser reeditados nas décs. de 50 e 60. Sob os mesmos auspícios, os poetas da tertúlia ritziana (assim chamada porque se reuniam no Café-concerto Ritz) publicam em 1952 a coletânea Arquipélago. Meses depois aparece – curioso episódio da história literária madeirense e revelador de um certo espírito irreverente e humorístico – a coletânea Areópago, de tiragem reduzida e destinada aos amigos, uma paródia de Arquipélago, organizada anonimamente por Jorge de Freitas, em colaboração com Alírio Sequeira, Carlos Camacho e Paulo Sá Braz, e impressa nas instalações da referida casa editora. Maria Mendonça vai até correr o risco de editar livros-objeto, de grande porte e requinte. Encomenda a Maria Lamas – uma amiga com quem estreitou laços ao longo da vida – a obra Arquipélago da Madeira – Maravilha Atlântica, publicado em 1956, um volume de quase 400 páginas. O livro apresenta-se como um misto de descrição de lugares do arquipélago da Madeira e de revista ilustrada, sendo enriquecido com fotos a preto e branco, gravuras em extratexto, e capa e vinhetas da autoria de Alírio Sequeira. É também graças a Maria Mendonça que Luís Marino (de seu verdadeiro nome Luís Gomes da Silva) poderá ver concretizada, em 1959, a sua antologia A Musa Insular (Poetas da Madeira). Este monumento-padrão, com capa de Max Römer, reúne os nomes dos poetas insulares desde os tempos do povoamento da Madeira. Com a mesma chancela, saem livros tão importantes para a cultura regional como Falares da Ilha: Pequeno Dicionário Popular Madeirense, de Abel Marques Caldeira e prefácio de Emanuel Paulo Ramos, em 1961, e, em 1968, a sumptuosa reedição a cores de Casas Madeirenses (1.ª ed. de 1937), de João dos Reis Gomes, com colaboração de Edmundo Tavares. Em 1954, Maria Mendonça compila o inquérito “Qual o panorama da Madeira que mais o impressionou?”, levado a cabo junto de personalidades das artes e letras lusas e publicado no Eco do Funchal em 1951-1952, e faz sair do prelo A Ilha da Madeira Vista por Intelectuais e Artistas Portugueses, uma obra que será reeditada em 1969 e em 1985. Não se esquece da terra natal e é com naturalidade que publica Férias nos Açores, em 1955, Os Açores Através da Saudade, em 1957 (reeditado em 1991), e, em 1958, Grupo Folclórico de São Miguel. Lança, também, o guia turístico Isto é a Madeira, em 1960, em português; no ano seguinte, sai uma edição trilingue, que será reeditada em 1963. Coordena outros roteiros: com Luís Jardim, edita Páscoa: Sugestões, em 1965, e, com Osvaldo Pestana, apresenta Natal: Sugestões, em 1966. Editou, ainda, a revista Semana da Madeira, que durou sete anos (1965-1972), em colaboração com António Aragão, Carlos Lélis e Aníbal Trindade, descrita por Américo Lopes de Oliveira como uma “publicação moderna, original, de sentido prático para a utilização do turista nacional e estrangeiro, visto que está redigida nas línguas mais faladas e generalizadas por todo o Mundo”. O mesmo estudioso informa ainda que, da empresa Eco do Funchal, “nasceu [a] agência de publicidade ‘Islena’” (OLIVEIRA, 1969, 17). Em 1957, publica Uma Pequena História (Tema Madeirense), que será reeditada em 1991, e profere palestras sobre os Açores e a Madeira, a convite de agremiações portuguesas, no Rio de Janeiro, em Santos e em São Paulo. A partir dessas experiências, elabora a publicação Presença Madeirense no Brasil, em 1958. Ainda em 1957, Maria Mendonça organiza com confrades da imprensa regional, tais como Manuel Amândio Rodrigues, Manuel G. Abreu, Rui Camacho e Helena Marques, uma confraternização de jornalistas chamada Tertúlia Sem Título, que se reunirá com alguma regularidade. Desses convívios ficará um registo impresso nas oficinas da Editorial Eco do Funchal em 1958: Tertúlia Sem Título. (Jornalistas da Madeira), ilustrado com imagens das reuniões realizadas. A seleção de artigos que publicou no Eco do Funchal, reunida por Ana Isabel de Sousa no livro Eu, Maria, me Confesso (Recordações e Narrativas), de 2001, mostra bem a voz interventiva que Maria Mendonça tinha: o desconhecimento de que os continentais costumavam dar provas relativamente às realidades açoriana e madeirense, a questão dos transportes de bens e pessoas entre as ilhas e o continente, as difíceis condições de vida de muitos insulares e a falta de investimento na educação, o destino das verbas resultantes das taxas e impostos cobrados pelo poder central nas ilhas, a afirmação dos valores culturais insulares eram temas que a articulista não deixava de trazer à liça. Segundo Rui Carita, o assunto da autonomia que Maria Mendonça tocou num seu artigo em 1968 “chegou, mesmo, a ter ampla repercussão no continente, pois foi depois transcrito na Seara Nova, em janeiro do ano seguinte, suscitando várias questões e originando comentários e respostas, depois publicados na mesma revista, no número de maio desse ano de 1969” (CARITA, 2007, 28). Em 1972, retoma com Natália Correia e Vera Lagoa (pseudónimo de Maria Armanda Falcão) o café literário Rés-do-chão: Tertúlia do Livro – Pátio das Artes, à R. da Carreira, estabelecido cerca de 1967-68 por Carlos Lélis, o escultor Anjos Teixeira e o fotógrafo João Pestana; desse café, conta-se que Vera Lagoa terá afirmado que era o primeiro café literário criado no país. Essas três mulheres vão, assim, firmar a Sociedade Pátio, Livros & Artes, cuja atividade incidia na exploração da casa de chá, esplanada, tabacaria, livraria, galeria de arte, e loja de moda e ourivesaria. Essa entidade será, igualmente, “responsável pela aquisição do espólio da antiga Photographia Vicentes” (CARITA, 2007, 28). Dificuldades económicas obrigaram a empreendedora a desfazer-se de algum património da arte fotográfica do acervo. Em 1979, vende ao Governo regional o recheio do estúdio de fotografia: o espaço Photografia-Museu Vicentes será inaugurado em 1982. Nesse “lugar seleto de letras e artes” (HOMEM 1999, 61) chamado Pátio será apresentada, em 1975, pela jornalista Maria Aurora Homem, a coletânea de poemas inéditos Ilha, coordenada por José António Gonçalves. Também não é por acaso que, em 1979, Natália Correia vem a assinar o prefácio da coletânea Ilha 2. Maria Mendonça estreia, em 1978, as edições Ilhatur (1978-1982), com a monografia Vicentes Photographos, de Luís de Sousa Melo. Em 1979, sob os auspícios do Ano Internacional da Criança e ciente do valor dos autores e ilustradores que colaboraram no extinto periódico A Canoa, Maria Mendonça lança a coleção “Canoa”, respondendo assim, mais uma vez, à vontade de constituir organicamente uma projeção literária e artística no meio madeirense. Saem a lume Histórias que o Vento Conta (n.º 1, 1979) de Irene Lucília Andrade; Mimi e os Sapatinhos (n.º 2, 1979) de Luiza Helena (Clode); Camélias Brancas (n.º 3, 1980) e Sebastião, o Índio (n.º 5, 1982), de Maria do Carmo Rodrigues e, finalmente, Os Anjos Descem (n.º 4, 1981), de António Marques da Silva. Tais livros remetem para o mundo das vivências infantis, com narrativas, versos, canções e lengalengas, assentes numa imaginação poética e numa linha de descoberta em liberdade. Entre 1979 e 1981, Maria Mendonça vem a dirigir, após Gonçalves Preto e Gil Gomes, a terceira série do histórico Re-nhau-nhau, criado em dezembro de 1929. Após um interregno, o Re-nhau-nhau renascerá das suas cinzas a 1 de janeiro de 1996, sob os auspícios de António Loja, durante largos meses, até se extinguir. De acordo com familiares e amigos, Maria Mendonça autodefinia-se como “açoriana-madeirense”. Nelson Veríssimo sublinhou “o seu entusiasmo e dinamismo na divulgação dos valores insulares” (VERÍSSIMO, 1995, 13). Num seu ensaio sobre a comunicação social madeirense, Paquete de Oliveira qualificou-a de “batalhadora pelas causas e coisas da Ilha” (OLIVEIRA, 2008, 38). O amigo Luís Marino dedicou-lhe os seguintes versos: “D. Maria Trindade Mendonça/A esta boa amiga da velha guarda./Dona Maria Mendonça/Que não quis ficar pra avó,/Não é amiga da onça/E sabe dar de cipó…/É de meã estatura,/Mas possui uma alma grande/E… de boa catadura,/Com toda a gente se expande…/No Eco e no Re-nhau-nhau,/– Mesmo com riso amarelo –/A tanto e tanto marau,/Vai chegando a roupa ao pelo…/Dona Maria Mendonça,/Muitos amigos conquista,/Por não ser falsa, nem sonsa…/Nem tão pouco vigarista./Deve muito a nossa ilha/A esta ‘grande’ mulher/Que, não sendo dela filha,/Tanto a estima e bem lhe quer!” (SILVA, 1980, 10-11). A título de curiosidade, enquanto empresária, Maria Mendonça introduziu na cafetaria e restauração da Madeira o uso das saquetas de açúcar, chegando a ter o monopólio da sua distribuição no arquipélago, e diz-se que, enquanto figura feminina atípica, disputa com a escultora Manuela Aranha o título de primeira mulher a andar de bicicleta na Ilha. Fig. 2 – Fotografia de uma reunião de O Pátio: um cenáculo de escritores e artistas. Maria da Trindade Mendonça (de costas e de preto, à direita), Maria Aurora Carvalho Homem, Luíza Clode, Margarida Macedo Silva, entre outros.Fonte: Colç. de Ângela Morna. Nos últimos tempos passados na Madeira, Maria Mendonça colaborou com a Direção Regional dos Assuntos Culturais, desempenhando o cargo de responsável pela Inspeção Regional de Espetáculos. Publica nos Açores, em 1984, o livro A Personalidade Multifacetada do Jornalista Manuel Inácio de Melo, que será reeditado em 1990. Há registo de Maria Mendonça ter usado o pseudónimo “Maria Júlia” e “Maria da Ilha” (ANDRADE, 1999, 187). O Governo Regional da Madeira distinguiu-a com o troféu Estrelícia Dourada pelos relevantes serviços prestados à sociedade madeirense. Deixa a Madeira em 1986, mas dela não se desligou, visitando-a regularmente. Os amigos do Funchal recebem-na em casa ou fazem-lhe uma visita quando se deslocam à ilha de São Miguel. Publica em 1988 a entrevista que fez à amiga de longa data, O Concelho de Nordeste Visto por Maria Lamas, reeditada em 1990. Nos últimos anos da sua vida, trabalhou na Direção Regional dos Assuntos Culturais dos Açores. Morre na ilha de São Miguel, aos 81 anos. Obras de Maria Mendonça: Férias nos Açores (1955); Os Açores Através da Saudade (1957); Uma Pequena História Madeirense (1957); Grupo Folclórico de São Miguel (1958); Presença Madeirense no Brasil (1958); Isto é a Madeira (1960); Semana da Madeira (1965-1972); Páscoa: Sugestões (1965); Natal: Sugestões (1966); “Evocação” (1980); A Personalidade Multifacetada do Jornalista Manuel Inácio de Melo (1984); O Concelho de Nordeste Visto por Maria Lamas (1988); Eu, Maria, me Confesso (Recordações e Narrativas) (2001); A Ilha da Madeira Vista por Intelectuais e Artistas Portugueses (s.d.).   Thierry Proença dos Santos (atualizado a 01.02.2018)

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