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herédia, antónio correia de

António Correia de Herédia (1822 - 1899) (Local desconhecido, 1822-Lisboa, 1899) - Escritor, presidente da Câmara e governador civil do Funchal. Exerceu o cargo de deputado, representando a Madeira nas sessões legislativas de 1857-1858, 1858-1859 e 1865-1868. Palavras-chave: Câmara do Funchal; Francisco Correia de Herédia; Governo Civil; Junta Governativa da Madeira; Parlamento.   O fidalgo espanhol D. António Herédia, do qual descende António Correia de Herédia, fez parte do exército que, sob o comando do duque de Alba, entrou em Portugal em 1580. Em 1602, foi para a Madeira como capitão da companhia do presídio castelhano, tendo sido, mais tarde, nomeado seu comandante. É este o tronco genealógico da família Herédia residente na Madeira, que teve como mais notáveis representantes António Correia de Herédia e Francisco Correia de Herédia, visconde da Ribeira Brava. D. António Herédia e os seus descendentes ligaram-se às mais distintas famílias madeirenses. Na família Herédia incorporou-se o importante morgadio dos Britos, que tinha a sua sede principal na freguesia da Ribeira Brava; incluía a capela de N.ª Sr.ª da Apresentação e, nas suas proximidades, uma grande e solarenga casa, sendo uma das maiores residências existentes fora do Funchal (ambas foram destruídas). António Correia de Herédia nasceu a 2 de março de 1822. Era filho do Cons. Francisco Correia Herédia, morgado de Apresentação, e de Margarida Acciaiuoli de Sá, filha do Cap. Francisco João Escórcio Drummond e de Ana Margarida de Herédia. Casou-se com Ana de Bettencourt. Tiveram um filho: Francisco Correia de Herédia, visconde da Ribeira Brava, titulado pelo Rei D. Luís I, quando o pai – figura respeitada devido ao seu trabalho como par do Reino, como presidente de muitas comissões destinadas à reforma de diversos serviços públicos e pelo trabalho humanitário desenvolvido na ilha da Madeira – recusou o título nobiliárquico em seu favor. Entre outros cargos públicos, exerceu os de deputado, representando a Madeira no Parlamento (nas sessões legislativas de 1857-1858, 1858-1859 e 1865-1868), de presidente da Câmara e de governador-civil do Funchal, tendo sido também escritor. Por ocasião do governo provisório da Junta do Porto, no ano de 1847, António Correia de Herédia foi o secretário da Junta Governativa da Madeira. Não consta que possuísse formação superior, o que não obstou, contudo, a que, no desempenho de alguns destes cargos, escrevesse de modo competente vários relatórios, regulamentos e projetos de lei que atestam a sua competência para a escrita e a sua grande capacidade de trabalho. Poderia ter sido um escritor de renome. Teve uma vasta colaboração na imprensa, escrevendo em várias publicações (entre as quais Clamor Público, cujo primeiro número saiu a 22 de maio de 1854 e o último, o 170.º, a 20 de janeiro de 1858, e A Discussão, cujo primeiro número saiu a 8 de fevereiro de 1855 e o último a 28 de agosto de 1858). Além disso, publicou várias obras: Breves Reflexões sobre a Abolição dos Morgados na Madeira Offerecidos à Consideração da Liga Promotora dos Interesses Materiaes do Paiz; As Contradições Vinculadas pelo A. das Breves Reflexões sobre a Abolição dos Morgados na Madeira; A Boa Fé do Archivista; Relatório do Projecto de Regulamento Geral das Alfandegas; Ao Público; Exposição e Documentos Enviados à Câmara dos Dignos Pares; Observações sobre a Situação Economica da Ilha da Madeira e sobre Reforma de Alfandegas. António Correia de Herédia faleceu em Lisboa a 23 de junho de 1899. Obras de António Correia de Herédia: Breves Reflexões sobre a Abolição dos Morgados na Madeira Offerecidos à Consideração da Liga Promotora dos Interesses Materiaes do Paiz (1849); As Contradições Vinculadas pelo A. das Breves Reflexões sobre a Abolição dos Morgados na Madeira (1850); A Boa Fé do Archivista (1852); Relatório do Projecto de Regulamento Geral das Alfandegas (1876); Ao Público (1885); Exposição e Documentos Enviados à Câmara dos Dignos Pares (1886); Observações sobre a Situação Economica da Ilha da Madeira e sobre Reforma de Alfandegas (1888).   António José Borges (atualizado a 01.02.2018)

Personalidades

santos, josé vitorino dos

Engenheiro civil madeirense, nasceu em S. Pedro (Funchal) a 29 de dezembro de 1863. Obteve o curso de Engenharia Civil nas escolas Politécnicas e do Exército, em Lisboa. No desempenho das suas funções, foram-lhe confiados trabalhos de responsabilidade na Madeira, em Portugal Continental e nas colónias portuguesas, nomeadamente em Angola, onde foi diretor das Obras Públicas Municipais de Luanda e engenheiro-chefe da Secção das Obras Públicas da Província de Angola. Aliás, como homenagem aos serviços prestados na capital angolana, a Câmara Municipal da cidade atribuiu o seu nome a uma das ruas da urbe. No Funchal, depois de regressar de África, foi professor desde 1902, e diretor da Escola Industrial e Comercial António Augusto de Aguiar (futura Escola Industrial e Comercial do Funchal) a partir de 1903, sucedendo a Cândido Pereira, o primeiro diretor. Esta instituição escolar, instalada inicialmente na rua de Santa Maria em 1889, privilegiava o desenho e a pintura, designando-se inicialmente por Escola de Desenho Industrial Josefa de Óbidos, e tinha como finalidade ministrar o desenho com aplicação à indústria regional. Gradualmente, o ensino alargou-se a outras áreas do saber, tendo Vitorino José dos Santos experimentado e implementado diversas reformas, pelo que este estabelecimento de ensino técnico muito lhe ficou a dever pelo modo como o impulsionou. Exerceu ainda os cargos de vogal da Junta Geral do Distrito, Administrador do Concelho do Funchal, Comissário da Polícia do referido distrito e atingiu o auge da sua carreira de engenheiro civil na Madeira como chefe da 7.ª Circunscrição Industrial da Direção-Geral da Indústria, no Funchal. No exercício desta função, redigiu vários relatórios, entre 1907 e 1914, publicados nos diversos números do Boletim do Trabalho Industrial, órgão editado pela Direção Geral do Comércio e Indústria de Lisboa, em que estudou e analisou as indústrias da Madeira, instituições de beneficência, associações de classe, entre outros temas. Assim, por exemplo, no n.º 5 deste boletim, caracterizou a classe das bordadeiras, a sua distribuição pela Região, o seu rendimento salarial, a qualidade e os horários do trabalho, as casas de bordado, o papel desta profissão na economia local, as técnicas do bordado e a influência das casas alemãs que entretanto se tinham fixado no Funchal. Num número posterior, analisou os efeitos da Primeira Guerra Mundial na indústria dos bordados. Analisou igualmente a indústria de artefactos de verga na Ilha, descrevendo as suas origens, o papel dos estrangeiros (como William Hinton) no incremento desta produção, a cultura do vime, os processos de fabrico e a exportação. Também se debruçou sobre a caracterização da indústria de embutidos na Madeira, descrevendo a produção, o trabalho dos operários embutidores, as questões da formação qualificada e as lacunas que ainda se registavam, como a falta de cultura intelectual e gosto artístico, que limitava a progressão dos operários e a qualidade dos trabalhos. Abordou ainda as questões referentes à comercialização e exportação destes materiais. No n.º 95 do referido boletim, ocupou-se do estudo das Misericórdias na Madeira, num artigo intitulado “Instituições de Beneficência e Associações da Classe”. Num número posterior, o 97, de 1914, analisou os efeitos da Primeira Guerra Mundial na indústria dos bordados. Além destes trabalhos técnicos, é ainda conhecida a sua coautoria no estudo “Parecer Technico sobre as compensações a fazer a quando captadas as Nascentes dos Tornos” (presumivelmente de 1905). Os seus relatórios não eram meros documentos técnicos, mas apresentavam análises minuciosas, com uma preocupação relativa ao futuro e alguns eram “notáveis […] e magníficas peças literárias”, na opinião dos críticos da época (PORTO DA CRUZ, 1953, 33). Manteve outra atividade cívica relevante, por exemplo prestando serviços à Liga das Levadas, criada em 1903, na condução de negócios e na organização de um arquivo importante para o estudo das águas e levadas da Madeira. Colaborou ainda na publicação intitulada V Centenário do Descobrimento da Madeira, lançada para comemorar a efeméride. Também desempenhou alguma atividade política, pois pertencia ao partido regenerador local, mas ter-se-á afastado, em 1901, devido a polémicas relativas à vinda de D. Carlos e D. Amélia à Madeira. Ainda apoiou, em 1907, a política do conselheiro e estadista João Franco, tendo militado no Partido Franquista e feito parte da sua Comissão Distrital, mas a morte de D. Carlos fez com que João Franco abandonasse o poder e os franquistas não executaram o seu projeto. Com a queda da monarquia, afastou-se definitivamente das lides políticas. No campo literário, publicou um livro de poemas intitulado Lágrimas, dedicado à memória da sua filha Marieta da Cunha Santos, que faleceu muito jovem. O livro teve uma primeira publicação no Funchal (1916) e uma segunda em Coimbra (1918). O semanário A Verdade refere, na sua edição de 27/03/1919, que Lágrimas é um “livro de sentidos sonetos”, “um poema dedicado à memória santa duma adorada filha”. Ressalva ainda que o autor reflete “todas as recordações, todos os anceios [sic] e todas as saudades que lhe vão na alma pela ausencia [sic] do ente querido”. Segundo a nota do redator, não identificado, é um livro “que todos os corações tristes devem procurar ler” e o produto das vendas foi destinado a fins solidários (“Lágrimas…”, A Verdade, 27 mar. 1919, 1). Na opinião de Eduardo Pereira, este livro revela a dor de um poeta “sangrando no coração”, a alma de um desventurado pai que transmite também saudade. Nos 19 sonetos do livro, “canta a voz estrangulada da Dor, geme a saudade inconsolável do Amor e ora a resignação piedosa da Fé” (MARINO, 1959, 237). De facto, analisando dois dos sonetos da obra, é visível o reflexo da dor nas diversas marcas autobiográficas, como a imagem da Morte que separa uma avó da sua neta (poema “Recordando”) e expressões como “A sofrer, resignado, a minha cruz”, “o meu penar” e “anjo d’amor que me confortas”, referindo-se à filha falecida (soneto “A cor dos teus olhos”). Além do livro Lágrimas, Vitorino José dos Santos colaborou igualmente, com as suas poesias, no Diário da Madeira. Faleceu no Funchal, a 1 de outubro de 1928, com 64 anos. Obras de Vitorino José dos Santos: “Instituições de Beneficência e Associações da Classe” (1914); “Parecer Technico sobre as compensações a fazer a quando captadas as Nascentes dos Tornos” (coautoria) (1905?); Lágrimas (1916).   João Carlos Costa

Personalidades

silbert, albert

Historiador francês, nascido em 1915, que desenvolveu de forma pioneira vários estudos sobre a história contemporânea de Portugal, a qual teve uma destacada importância na nova geração de historiadores portugueses que despontaram nas décs. de 60 e 70, como foi o caso de Miriam Halpern Pereira. Nesta fase, há uma grande ligação da história das ilhas e do mundo atlântico à historiografia francesa. Desde o pioneiro estudo de Fernand Braudel, O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Filipe II (1949), que, às ilhas, foi atribuída uma posição-chave na vida do oceano Atlântico e do litoral dos continentes. Foram, na verdade, os franceses que, a partir dos anos 40, deram um impulso decisivo à história do espaço atlântico. Segundo Pierre Chaunu, foi ativa a intervenção dos arquipélagos da Madeira, das Canárias e dos Açores – o “Mediterrâneo Atlântico” – na economia europeia dos sécs. XV a XVII. Para além desta valorização do espaço atlântico, temos uma chamada de atenção para os estudos de história contemporânea, em que a figura de Albert Silbert foi central com as suas teses de 1966: a dissertação complementar sobre Le Problème Agraire Portugais des Temps des Premières Cortes Libérales (publicada em 1968) e a tese sobre Le Portugal Mediterranée a la Fin de l'Ancien Régime (publicado em 1978). A ligação de Albert Silbert à Madeira começou já em 1949, através da apresentação do trabalho de Orlando Ribeiro no Congresso Internacional de Geografia, realizado em Lisboa. É na sequência disso que apresenta, em 1954, ano em que publica o seu ensaio sobre a Madeira, uma breve nota sobre a publicação de Orlando Ribeiro, dando a entender a sua passagem pelo Funchal no intervalo de tempo que medeia o congresso e a publicação do texto nos Annales. O presente ensaio, que cobre o período de 1640 a 1820, pretende clarificar o papel da Madeira no emaranhado de relações que se estabelecem no espaço atlântico. O ponto de partida, tal como o autor refere, são os relatórios dos cônsules franceses, aos quais junta dados de documentos do Arquivo Histórico Ultramarino e do British Museum. A documentação do consulado reporta-se ao período de 1671 a 1793 e revela-se fundamental para saber dos interesses franceses nestas paragens. O estudo, embora hoje em dia seja visto com algumas reticências por certos historiadores e estudiosos madeirenses, continua a ser uma referência no âmbito dos trabalhos que envolvem, de forma clara, a Madeira nos mundos gerados pelo oceano atlântico a partir do séc. XVII, nos quais se articulam várias formas de expressão do poder do mar e dos impérios. Em 1954, a propósito da intervenção de Orlando Ribeiro no Congrès International de Géographie de 1949 sobre a Madeira e da publicação que se lhe seguiu em livro, aproveita para fazer um breve apontamento sobre a Ilha, destacando múltiplos aspetos relativos ao turismo e à história. Assim, nos Annales, considera que “a sua reputação de paraíso terrestre parece merecida”, concluindo que “a Madeira, ilha atlântica, deve tudo à circulação oceânica. As produções da ilha não suscitaram o tráfego deste espaço, antes foi o tráfego atlântico que fez a Madeira, foi ele que, em particular, permitiu o desenvolvimento da vinha” (SILBERT, 1954, 516). Atente-se que esta informação é depois utilizada no artigo que fez publicar sobre a Madeira nos referidos anais do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras. Não podemos esquecer que foi ele quem abriu as portas da investigação sobre a ilha a outro francês, Frederic Mauro, que, na déc. de 60, volta a seguir os mesmos caminhos de valorização da Madeira no espaço atlântico, mas, desta feita, escudado com a documentação disponível nos arquivos locais. Por força da criação do arquivo distrital em 1949, esta oferecia aos investigadores nacionais e estrangeiros um campo de investigação inexplorado que, felizmente, mereceu os estudos que conhecemos. Obras de Albert Silbert: Le Problème Agraire Portugais des Temps des Premières Cortes Libérales (1968); Le Portugal Mediterranée a la Fin de l'Ancien Régime (1978).       Alberto Vieira (atualizado a 30.12.2017)

História Económica e Social História Política e Institucional História da Educação

rocha, vitúrio lopes

Vitúrio Lopes Rocha nasceu no Funchal a 5 de setembro de 1752, doutorou-se em matemática no dia 24 de dezembro de 1777 e foi lente de geometria na Universidade de Coimbra. Lecionou as cadeiras de álgebra, em 1779, enquanto substituto extraordinário, e de cálculo, entre os anos de 1780 e 1783, na função de substituto, tornando-se, posteriormente, lente de geometria, função que exerceu entre 1783 e 1795, ano da sua jubilação (a 27 de março). Ocupou o cargo de vereador do Corpo da Universidade (a 27 de março de 1792), o de comissário delegado e visitador das escolas menores da ilha da Madeira (em 1800) e o de comissário da Junta da Diretoria-Geral dos Estudos e Escolas Menores do Reino. Entre os seus escritos, contam-se a sua tese e o manuscrito Sobre os Serviços Prestados pela Astronomia. Obras de Vitúrio Lopes Rocha: Theses ex mathesi universi quas confecto quinquennali studiorum curriculo publice intra diei spatium ad Doctoris Lauream in Conimbricensi Gymnasio obtinendam praeside Josepho Monteiro da Rocha ... proponit Victurius Lopes Rocha (1777); Sobre os Serviços Prestados pela Astronomia (1777).   Rui Gonçalo Maia Rego (atualizado a 17.12.2017)

História da Educação Matemática

reis, manuel pestana dos

Nasceu no sítio de São Tiago, freguesia dos Canhas, concelho da Ponta do Sol, no dia 1 de abril de 1893, filho de José Pestana dos Reis e de Maria da Silva Gaspar. Iniciou a instrução primária em Canhas, com o médico e professor Augusto Camacho, que então lecionava numa dependência da sua casa, concluindo aqui o 1.º grau, ou seja, a 3.ª classe; o 2.º grau, ou 4.ª classe, foi terminado no Funchal, na R. das Pretas, com um professor particular de nome Joaquim Augusto Polónia. Frequentou, de seguida, o Seminário Diocesano do Funchal até ao 4.º ano, concluindo o ensino secundário no Liceu do Funchal, em 1913. Neste mesmo ano, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, integrando-se na elite católica conservadora e convivendo com o P.e Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977), futuro cardeal patriarca de Lisboa (1929-1971), e com o António de Oliveira Salazar (1889-1970), empenhando-se activamente na luta anti-republicana e em defesa dos direitos da Igreja Católica, chegando mesmo a dirigir o semanário O Imparcial (22/02/1912-12/05/1919), do Centro Académico da Democracia Cristã, de 17/06/1915 a 22/02/1917. Foi entretanto, em janeiro de 1917, mobilizado para a Primeira Guerra Mundial, integrando o 3.º grupo de metralhadoras pesadas do Corpo Expedicionário Português, como alferes miliciano. A 19 de abril de 1918, foi um dos feridos na Batalha de La Lys. Desmobilizado da guerra, regressou à Madeira, tendo desempenhado as funções de administrador do concelho do Funchal até o fim da ditadura de Sidónio Pais, assassinado a 14/12/1918. Voltou depois à Universidade de Coimbra, para concluir o curso, mas acabou fazendo os exames finais na Universidade de Lisboa. Em maio de 1922, estreou-se como advogado, com escritório no Lg. do Município, no Funchal. A 2 de janeiro de 1923, toma posse do cargo de vereador da comissão executiva da Câmara Municipal do Funchal e algum tempo depois, de procurador à Junta Geral. A 27 de fevereiro de 1925, tomou parte no Congresso Municipalista do Porto, em representação destes dois organismos administrativos da Madeira. Entretanto, o seu empenhamento como católico militante ganha um novo vigor, através da palavra e da escrita. Profere conferências nas associações católicas, nomeadamente na Juventude Católica do Funchal, na Juventude Católica de Santa Maria Maior e no Círculo Católico de Santa Maria Maior, e colabora na revista católica A Esperança (1919-1938). No número de 1 de junho de 1926, publicou, nesta revista, um artigo intitulado “Os Judeus”, onde revela a matriz nacionalista do seu pensamento político, conjugando-o com o empenhamento na causa católica: alerta para o perigo do domínio judaico do mundo que, segundo afirmava, estava já presente nas casas comerciais, na banca, nas editoras, nas grandes companhias, nos teatros, na maçonaria e na Sociedade das Nações, e associando maçonaria, bolchevismo e judaísmo como sucursais da mesma empresa apostada em derrubar a unidade e a tradição católica das nações. Considerando a expulsão dos judeus de Portugal, no final do séc. XV, como um “facto político de defesa e saneamento social” (REIS, 1926, 122), face ao “mercantilismo sem escrúpulos de usura e de baixa venalidade” (REIS, 1926, 123), justifica a desconfiança e animosidade dos povos, ao longo dos séculos, relativamente aos judeus, devido à persistência do seu ideal messiânico, e da sua coesão rácica e religiosa, bem como à sua vontade de supremacia religiosa e política. O seu combate mais visível e empenhado em prol da causa católica foi porém desenvolvido no diário Correio da Madeira, surgido em março de 1922. Um dos cavalos de batalha de Pestana Reis será a defesa do modelo tradicional de família cristã, condenando o divórcio, a emancipação da mulher e o feminismo; no campo político, condena o sufrágio universal e a democracia, propondo, em alternativa, o corporativismo. Em 1925, é um dos vogais da comissão diocesana do Centro Católico. Em 1928, quando, após a queda da Primeira República, foi revitalizada a Santa Casa da Misericórdia do Funchal, pertenceu à administração da mesma, de que era então provedor o Cón. Manuel Francisco Camacho. Uma outra luta em que Manuel Pestana Reis se envolveu empenhadamente durante a Primeira República foi em prol da autonomia da Madeira. Um momento alto desta reivindicação foi o final do ano de 1922 e princípio de 1923. A 9 de outubro de 1922, o Presidente da República, António José de Almeida, de passagem pela Madeira, no regresso duma viagem ao Brasil, teve uma receção entusiástica na Junta Geral, onde o então presidente da comissão executiva deste órgão autonómico, Fernando Tolentino da Costa (1874-1957), no discurso de boas-vindas, aproveitou para reivindicar mais autonomia para o arquipélago. No dia 16 de novembro teve lugar, no salão nobre da Junta Geral, uma assembleia com representantes das correntes políticas, da imprensa e das forças vivas do Funchal, dela saindo a deliberação de se constituir uma comissão de estudo a quem caberia apresentar um projecto ao Congresso da República, a partir duma proposta genérica redigida pelo Manuel Pestana Reis. O texto, sem negar a ligação a Portugal, justificava a reivindicação de maior autonomia para a Madeira nos pressupostos da existência duma fisionomia própria, com interesses coletivos específicos, e da dificuldade de desenvolvimento face à descontinuidade geográfica, à instabilidade governativa no continente e ao esquecimento por parte do Governo central. A proposta de Manuel Pestana Reis apontava para a criação de um conselho legislativo, eleito pelas Câmaras Municipais e pelas associações de classe, que concentraria todas as atribuições dos diferentes órgãos de poder até aí constantes no estatuto autonómico e a quem competiria elaborar leis no âmbito de interesses locais, e de um conselho executivo, eleito por aquele. Com o advento da Ditadura Militar, a 28 de maio de 1926, a adesão de Manuel Pestana Reis ao novo regime foi um ato natural e lógico, decorrente da sua formação política já anteriormente revelada e assumida e, ao mesmo tempo, um ato de confiança em Salazar, comum a muitos católicos do seu tempo. Em 1930, faz parte da 1.ª comissão distrital da União Nacional. A 11 de julho de 1931, casa-se com Ana de Lurdes Novita Teixeira, filha de António Marques Teixeira, proprietário duma fábrica de massas na Vila da Ponta do Sol. O casamento realizou-se na capela de N.ª Sr.ª da Conceição, na Tabua, propriedade do sogro. Neste mesmo ano, passou a residir em Lisboa, lecionando no Liceu Camões. De 1 de abril de 1936 a 22 de março 1943, desempenhou o cargo de diretor do Diário da Manhã (1931-1971), jornal oficial da União Nacional. Como membro da comissão de propaganda da União Nacional, proferiu vários discursos e conferências e colaborou na Emissora Nacional, redigindo durante vários anos as “Notas do dia” (curtas referências a acontecimentos que a direção da rádio considerava relevantes, e a pretexto dos quais aproveitava para emitir doutrina política). Foi deputado na Primeira e Segunda Legislaturas, em 1935-1938 e 1938-1942. Neste último ano, foi chamado a assumir os cargos de diretor do colégio principal da Casa Pia, em Belém, e Pina Manique, e ainda o de provedor adjunto da Casa Pia, desempenhando estas funções até outubro de 1953, quando, por motivos de saúde, se aposentou. A partir de 1953, passou a residir na Madeira, ora no Funchal ora na Ponta do Sol, dedicando-se a gerir negócios da família. Faleceu a 4 de julho de 1966, no Funchal.   Obras de Manuel Pestana Reis: “Em Louvor do Povo e da Terra” (1922); “Palavras que o vento leva” (1922); “Regionalismo / A Autonomia da Madeira / Falou Já o Sentimento; Fale Agora a Razão” (1922); “Os Judeus” (1926).     Gabriel Pita

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quintal, luís de ornelas nóbrega e

Advogado, jornalista e poeta, Nóbrega e Quintal nasceu no Funchal a 18 de junho de 1895 e faleceu com 69 anos, em Lisboa, no dia 5 de abril de 1965. Os seus pais foram Francisco de Nóbrega Quintal e Elisa de Ornelas Pinto Coelho. Era irmão de Francisco Ornelas Nóbrega Quintal, um oficial da marinha mercante. Estudou no Liceu do Funchal e, mais tarde, licenciou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foi ministro da Instrução, deputado pela Índia em 1919 e, nesse mesmo ano, foi nomeado chefe da 3.ª repartição da Direção Geral da Administração Política e Civil do Ministério das Colónias. Na altura do alto-comissariado de Norton de Matos em Angola, em 1921, tendo então apenas 27 anos, foi governador do distrito de Quanza do Sul. Foi diretor do periódico Gente Nova, que contou com um número único (fev. 1913), comemorativo do primeiro aniversário da Caixa Escolar do Liceu do Funchal. Para além de textos da sua autoria, esta publicação reuniu contributos de Eugénia Rego Pereira, Jaime Câmara, Manuel Ribeiro e João Cabral do Nascimento. Colaborou também no Almanaque de Lembranças Madeirenses, bem como noutros jornais: O Povo, A Voz do Povo, Diário de Notícias, Heraldo da Madeira, Diário da Madeira e República, jornal de Portugal continental de que foi um dos redatores. Quer como jornalista, quer como poeta, Nóbrega e Quintal assumiu uma vocação romântica, evidenciada na sua linguagem sentimental e melodiosa. Assinava os seus textos como Nóbrega-Quintal. Consta que terá deixado inéditos três livros de poesia: Alvoradas, Luar de Sonho e Novas Alvoradas. Luís Marino fixou, na sua obra Musa Insular, três sonetos que permitem aflorar o estilo poético de Nóbrega e Quintal: “Noivados”, “Contraste” e “Excerto dum Poemeto”.   António José Borges (atualizado a 16.12.2017)

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