júnior, antónio félix pita
Filho de António Félix Pita Júnior e de Maria da Conceição Góis Pita, nasceu a 3 de dezembro de 1895 na freguesia da Sé, concelho do Funchal. Depois de completar o liceu, no Funchal, faz o curso de Medicina, que inicia na Universidade de Coimbra em 1912-13. É mobilizado para a I Grande Guerra sem que tivesse chegado a ser incorporado, facto que o leva a interromper os estudos, retomados em Lisboa assim que é desmobilizado. Casa-se aos 28 anos, a 3 de janeiro de 1925, com Maria da Conceição Ferreira Mesquita Spranger, em cerimónia civil seguida da religiosa na igreja de Santa Maria Maior, no Funchal. Por esta época, reside na avenida Miguel Bombarda, freguesia de São João da Pedreira, Lisboa, continuando a viver na capital após o matrimónio. Tem três filhas e um filho. Desde cedo revelara tendência para a cirurgia, especialização que conclui, tendo trabalhado durante dois anos como assistente livre da Faculdade de Medicina e do Hospital de Santa Maria de Lisboa na equipa do conceituado médico-cirurgião Professor Dr. Custódio Maria de Almeida Cabeça. No retorno à Madeira, instala consultório à rua Carvalho Araújo, n.º 61, 1.º (posterior rua do Aljube), no Funchal. Dedica-se a várias especialidades: “Clínica Geral, Partos, Cirurgia e Operações”, como anuncia no Diário de Notícias (DNM, 27 mar. 1927, 3). Será, nesta qualidade, um dos sócios da Casa de Saúde da Vila Guida, assim como cirurgião do quadro clínico do Hospital da Santa Casa da Misericórdia, sendo numerosa a sua clientela nesta cidade, segundo afirma o referido periódico na nota biográfica que publica na sequência do seu falecimento. A 8 de abril de 1931, domingo de Páscoa, encontra-se no Palácio de São Lourenço, na qualidade de dirigente do Partido Republicano Nacionalista (PRN), entre outros representantes partidários locais participantes na sublevação política da Madeira contra a Ditadura. Estes são nomeados responsáveis de diversos organismos públicos (Junta Geral, Câmara do Funchal e administradores dos diferentes concelhos), cabendo-lhe, por nomeação do comandante militar da Madeira, general Adalberto Gastão de Sousa Dias, em conjunto com João Maximiano de Abreu Noronha e Carlos Fernandes Correia, a comissão administrativa da Junta Geral do Distrito do Funchal. Os nomeados para esta comissão tomam posse a 6 de abril. No dia seguinte, António Félix Pita é eleito presidente em votação por escrutínio secreto, à qual concorrem duas listas. Esta situação, apesar da resistência exercida pelo regime ditatorial, dura 28 dias, entre 4 de abril e 2 de maio, data em que o movimento é definitivamente controlado. Encontra-se entre os muitos intervenientes políticos envolvidos no movimento retidos no Lazareto, de onde partirão para os seus destinos de deportação, cabendo-lhe, primeiro, a ilha do Sal e, depois, a cidade da Praia, em Cabo Verde, lugar onde está em julho de 1931, quando vão ao seu encontro a sua esposa e filhos. Em Cabo Verde, é chamado a prestar serviço como médico numa urgência de saúde pública relacionada com a debelação de uma epidemia. Em outubro de 1932, o ministro do Interior, em nota abreviada e pouco explicativa registada no seu cadastro da Direção Geral de Segurança, dá “por finda a sua fixação em Cabo Verde”, autorizando-o a regressar à Madeira (ANTT, PIDE/DGS, Serviços Centrais, cadastro 4015, NT 737). Assim, por ter cessado a sua condição de deportado político, regressa ao Funchal acompanhado da sua esposa e filhos, sendo anunciado pelo Diário de Notícias, no dia 26 de novembro, que retomaria na semana seguinte a sua prática clínica. No entanto, a 10 de dezembro, o mesmo matutino faz notícia de primeira página de um “jantar de despedida e homenagem” “ao ilustre clínico”, iniciativa do jornal republicano O Povo, a realizar-se no Savoy Hotel, estando as inscrições abertas na sede daquele periódico, na Fotografia Perestrelos e na Maison Blanche, contando já com um elevado número de inscritos entre os amigos pessoais que dele se querem despedir, uma vez que partiria na terça-feira seguinte para a colónia de Moçambique. O jantar não se realiza “por motivos da vida particular do homenageado” (DN da Madeira, 11 dez. 1932, 1). Parece ficar claro ter sido forçado, pelas condições políticas adversas então existentes, a partir de novo, desta vez para a África Oriental Portuguesa, Lourenço Marques, protegendo-se a si e à sua família com a saída da ilha e distanciando-se da atividade política anterior. Parte para a província de Moçambique a 13 de dezembro, no vapor Kenilworth Castle, por acabar de “ser contratado para a Companhia da Zambézia”, tendo o distinto cirurgião “tanto no cais de embarque como a bordo, uma afetuosa despedida” (DN da Madeira, 14 dez. 1932, 2). Será médico contratado da empresa agroindustrial Sena Sugar Estates Ltd., empresa de capitais privados, essencialmente britânicos, dedicada à produção de açúcar de cana sacarina, para onde é levado pelo amigo Dr. João Sabóia Ramos, que ali se encontrava a trabalhar. Exerce também clínica particular paralelamente aos serviços de cirurgião que presta na missão de São José. Em 1942, com o fim das companhias comerciais, integra-se no quadro de saúde da Companhia de Moçambique e passa ao quadro de província. Exerce cirurgia no hospital da Beira e, depois, no Hospital Miguel Bombarda, em Lourenço Marques, até ao seu falecimento. Em África, viverá duas décadas de realizações, pois parece ter encarado este território como auspicioso. Aí, ao desenvolvimento de uma carreira de prestígio na área da Medicina, associará, no decurso da déc. de 40, nos últimos anos da sua curta mas promissora vida, o mundo empresarial, revelando-se um empreendedor fora da sua área de formação. Funda uma indústria, no espaço empresarial da Matola, que se dedica à moagem do trigo daquela província. Situado a cerca de 10 km de Lourenço Marques, este complexo industrial (fábrica de massas e bolachas de linha e conceito modernos) é construído faseadamente, vindo a incluir um bairro para o pessoal. A Companhia Industrial da Matola comercializará os seus produtos sob a marca Polana e iniciará a sua laboração na comemoração do 28 de maio, no ano de 1952, após o falecimento do seu fundador, conforme concluímos pela informação colhida no Livro de Ouro do Mundo Português – Moçambique, publicação de 1970, de modelo típico do Estado Novo, em edição que reúne alguns dos sucessos empresariais nesta província. As imagens nele incluídas revelam a grandiosidade do complexo fabril que construiu, à entrada do qual é colocado o seu busto, retirando qualquer margem de dúvida sobre a importância deste empreendimento e do seu empreendedor na economia colonial portuguesa. No curto período em que viveu na Madeira, é também professor do 7.º grupo do Liceu do Funchal, lugar de que toma posse a 9 de outubro de 1929. Está ainda ligado ao desporto, dedicando algum do seu tempo à organização associativa, incluindo-se na lista dos presidentes da direção do Club Sport Marítimo, entre 21 de julho de 1927 e 3 maio de 1928. A 26 de fevereiro de 1930, passa a pertencer aos novos corpos gerentes da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Funchal, eleitos em assembleia geral, presidindo à sua direção. As atas desta associação mostram que, apesar de ter tomado posse, deixa de estar presente nas reuniões logo a partir de 19 de janeiro de 1931. Faleceu em Lourenço Marques, a 18 de dezembro de 1951, na sequência de forte comoção resultante da morte de um grande amigo, Augusto Adida de Gouveia, a quem, como médico, não consegue salvar dos efeitos de um violento desastre de automóvel. O seu funeral realizou-se na vila da Ponta do Sol, para onde foi trasladado o seu corpo, a 11 de abril de 1952. Maria de Fátima Vieira de Abreu (atualizado a 18.12.2017)
jorge, antónio vitorino castro
Dr. António Vitorino Castro Jorge. Foto: Dicionário Corográfico de Câmara de Lobos Nascido em Santa Maria Maior, no Funchal, em 1913, filho de Luís Jorge e Josefina Antónia de Castro e Jorge, casou-se, em 1944, com Matilde Martins da Silva Castro Jorge; deste casamento nasceram três filhos. Faleceu, com 91 anos, no Estreito da Câmara de Lobos. Depois de ter completado o liceu no Funchal, inscreveu-se no 1.º ano da Faculdade de Ciências de Coimbra, da qual desistiu para tirar Medicina na Universidade de Lisboa, cuja licenciatura foi concluída em 1938. Mobilizado para a Madeira em 1942, como médico da Marinha, pediu, pouco tempo depois, a passagem à vida civil, tendo sido médico municipal de Porto Santo (durante seis meses) e de Câmara de Lobos e Curral das Freiras (de 1944 a 1983), ao mesmo tempo que exercia medicina privada como clínico geral. Foi sócio fundador da Sociedade Portuguesa de Reumatologia e da Sociedade da Língua Portuguesa. Na freguesia do Estreito, desenvolveu, desde 1953, várias iniciativas de alcance popular, como a festa das cerejas, o desfile da freguesia na festa das vindimas no Funchal, a festa dedicada a S.to Isidro, padroeiro dos animais, e a fundação da Casa do Povo. Como político, foi admirador de Salazar, apesar dos defeitos que apontou ao seu regime nas rubricas “Papagaio” e “Giz na Parede”, do Diário da Madeira, antes de 25 de abril de 1974; apresentou-se como candidato à Câmara Municipal de Câmara de Lobos (1976), tendo sido eleito vereador na lista do CDS; foi fundador e primeiro presidente do Partido Democrático do Atlântico (PDA), em 1978, e diretor do semanário Zarco, órgão oficial deste partido, fundado em 1984; foi mandatário da lista de cidadãos pela desanexação de Jardim da Serra da freguesia do Estreito, em 1993, e mandatário da lista do PS à Câmara de Lobos em 1997. Como jornalista, foi proprietário e diretor do Diário da Madeira (1961-1982), após ter exercido as funções de diretor do Eco do Funchal (1959-1961). Os artigos “Com Quem Vivemos”, “Na Madeira Vitória da Social-Democracia, uma Razão para a Independência” e a carta aparecida na secção “Correio da Madeira”, publicados no Diário da Madeira, valeram-lhe a prisão política, em Caxias, a 15 de maio de 1975, ordenada pelo brigadeiro Carlos Azeredo, governador civil na Madeira, sob a acusação de independentista. Foi também presidente da Associação Política do Arquipélago da Madeira (APAM). Publicou uma brochura sobre Salazar no centenário do seu nascimento (1989), e o livro Casos do Acaso da Minha Vida e do meu Tempo. Obras de António Vitorino Castro Jorge: Casos do Acaso da Minha Vida e do meu Tempo. António Manuel de Andrade Moniz (atualizado a 13.04.2018)
jesus, joão joaquim de
Professor, matemático e poeta, nasceu na freguesia de São Pedro, no Funchal, a 3 de outubro de 1904 e veio a falecer em Lisboa, no dia 8 de novembro de 1974, com 70 anos. Era filho de João Joaquim de Jesus e de Pacífica Conceição de Jesus e tinha um irmão, Américo Joaquim de Jesus. Com tenra idade, cerca de dois anos e meio, sendo atacado pela varíola, que lhe causou graves problemas de visão, deu entrada no Lazareto de Gonçalo Aires. Com 11 anos, decidiu partir para o continente, formando-se no Instituto Branco Rodrigues, em São Pedro do Estoril. Nesta instituição, onde permaneceu durante nove anos, concluiu o ensino primário e o 5.º ano singular de Português e Francês, tendo obtido o diploma de professor primário, autorizado pelo Ministério da Instrução. Começou, depois, a exercer magistério no Asilo de Cegos de Nossa Senhora da Esperança, situado em Castelo de Vide, onde ensinou durante três anos. Mais tarde, já no Funchal, fundou o entretanto extinto instituto para cegos Luz nas Trevas, onde também deu aulas. Na altura, o diretor era o seu irmão Américo Joaquim de Jesus. Para além de insigne professor, era um amante da ciência e um poeta. Nesse sentido, publicou poemas na revista Pérola do Atlântico e nos jornais locais Diário da Madeira, Diário de Notícias e Eco do Funchal, e deixou-nos a obra poética Frutos da Mocidade (1971). Dedicou-se também ao estudo e difusão do esperanto, tendo o projeto de traduzir para esse idioma internacional o poema épico Os Lusíadas, de Luís de Camões. Segundo Luís Marino, em Musa Insular, o Prof. Feliciano Soares considerava que os seus versos tinham uma nítida influência lírica, mas também elevação espiritual. São exemplo deste caráter da sua poesia as composições transcritas na obra Musa Insular de Luís Marino, nomeadamente o soneto “Fé e Esperança” e o longo poema “Feia”, dividido em 12 estrofes de sextilhas laboriosamente trabalhadas. Obras de João Joaquim de Jesus: Frutos da Mocidade (1971). António José Borges (atualizado a 18.12.2017)
teive, belchior de
Último filho varão de Gaspar de Teive e de Ana de Brito e neto de Diogo de Teive, que instituiu o morgado dos Teives, uma família nobre da Ribeira Brava, Belchior de Teive nasceu no Funchal. Em 1608, contraiu matrimónio com D. Mariana Telo de Gusmão, filha de Pedro Telo de Gusmão, alcaide-mor de Sevilha, e de Mariana Ponce de Leão. O casal teve sete filhos: Gaspar de Teive Telo e Gusmão, Fernando de Teive, Pedro de Teive, Duarte de Teive, Filipa de Teive, Ana de Teive e Gusmão e Antónia de Teive. Desconhecem-se os aspetos potencialmente interessantes da infância e juventude de Teive que, em 1581, era lente da Universidade de Salamanca, regendo uma das cadeiras da faculdade de direito, embora não saibamos onde e em que data se formou. Henrique Henriques de Noronha, no seu Nobiliário Genealógico, informou que fora lente em Salamanca aos 26 anos, o que não é corroborado por nenhuma outra fonte. Mais tarde, exerceu, em Coimbra, o magistério universitário, que abandonou em 1607, para servir Filipe III. Logo nesse ano, ao serviço do monarca, esteve em Portugal como superintendente geral da fazenda pública. Recorde-se que, em 1599, se havia formado uma junta de arbítrios ou junta da fazenda castelhana – que estava acima do conselho da fazenda – e, possivelmente, no ano seguinte, outra para Portugal. Teive esteve totalmente ao serviço de Castela e de Filipe III de quem foi conselheiro privado, adiantado de Castela, cargo que correspondia ao de governador general da armada e superintendente dos ofícios da armada. Também desempenhou funções na magistratura, nomeadamente como alcaide do crime da chancelaria de Valladolid e presidente da casa dos alcaides. Foi genealogista e deixou inédita uma genealogia da casa de Lerma. Morreu em 1622. Isabel Drumond Braga (atualizado a 09.12.2017)
teixeira, tristão (vaz)
(finais do séc. XIII – c. 1470) Tristão Teixeira, também conhecido por Tristão da Ilha, de ascendência documentalmente desconhecida, foi companheiro de Zarco e primeiro capitão do donatário de Machico. Dele diz Noronha que “Viveo 80 anos, governou 50 e faleceu em Silves em 1470” (NORONHA, 1994, 38) o que, mesmo que não certificado por documentos, não deve andar longe da verdade, na medida em que o faz chegar à Madeira por volta dos 30 anos, idade compatível com a atribuição da capitania, antecedida de um passado como escudeiro do Infante D. Henrique e participante na tomada de Ceuta e no cerco de Tânger onde foi armado cavaleiro pelo mesmo Infante (BARROS, 1552, Déc. I, Lº I, cap. III, 33). Segundo Azurara, que considera Tristão Teixeira “homem assaz ardido mas não tão nobre (…) como João Gonçalvez” depois do descerco de Ceuta, os dois cavaleiros ofereceram os seus serviços ao Infante, pois eram “homens mancebos e pera muyto”, e consideravam que o seu tempo era mal-empregado se não “trabalhassem alguma cousa per seus corpos” (AZURARA, 1841, 388 e 385). Assim, encomendou-lhes o Infante a tarefa de demandarem terras da Guiné, para o que lhes forneceu uma barca, a qual, por ter encontrado vento contrário, veio dar ao Porto Santo, onde os cavaleiros ficaram por alguns dias, após o que regressaram ao reino. Na segunda viagem que fizeram àquela zona do atlântico, Zarco e Teixeira dirigiram-se à Madeira a cujo reconhecimento procederam. A maior ilha do arquipélago foi, então, dividida em duas porções, uma das quais, com sede em Machico ficou à responsabilidade de Tristão Teixeira. A 8 de maio de 1440, por carta do Infante D. Henrique, a administração do território que ia “desde alem do rio do Caniço até à Ponta do Tristão” é doada a Tristão Teixeira sob a forma de capitania, legitimando-se, assim, uma situação preexistente (MH., vol. XIV, doc. 71). Este mesmo documento será, posteriormente, em 1452, reconfirmado por D. Afonso V (M. H., vol. XIV, doc. 109). Se pouco se sabe da ação do capitão à frente dos destinos do seu território, há, por outro lado, informação de ter participado em outras viagens marítimas, narradas por Azurara que, em 1445 integra o capitão de Machico, bem como Garcia Homem, genro de Zarco, numa armada que escalou a Madeira a caminho das costas de África. Essa armada deteve-se em Canárias, a tentar obter “alguma presa” para serviço do Infante, o que, não tendo sido possível, determinou o regresso de algumas caravelas, entre as quais as duas idas da Madeira (AZURARA, 1841, 414). Um outro registo documental que respeita à vida de Tristão Teixeira é o do perdão que D. Afonso V lhe outorga, em razão de o capitão ter claramente excedido a sua jurisdição, quando mandara “talhar membro” a Diogo Barradas, homem degredado do reino que acolhera em sua casa e violara uma filha sua. Barradas apresentou queixa ao rei, na sequência do que o capitão teria sido preso e degredado para S. Tomé (FRUTUOSO, 2008, 116). Uns anos depois, em 1452, porém, mediante o pagamento de uma quantia avultada, o monarca deliberou perdoá-lo, após o que ainda governou a capitania por vários anos (AZURARA, vol. IX, doc. 117). Do seu falecimento, sabe-se que ocorreu no Algarve em data que será, eventualmente, próxima da já apontada. Cristina Trindade Paulo Perneta (atualizado a 07.12.2017)
teixeira, irineu novita
Irineu Novita Teixeira. Foto: arquivo pessoal do autor Nascido no Funchal a 9 de agosto de 1915, foi um filósofo, geógrafo e urbanista madeirense. Fez a formação primária num colégio interno na Parede, Cascais. Voltou posteriormente à ilha da Madeira, onde frequenta o Liceu do Funchal, na época situado na R. do Bispo. Aí conclui a sua formação secundária, sendo colega e amigo de contemporâneos como o poeta Florival dos Passos e o ator Virgílio Teixeira. Após concluir os estudos secundários na Ilha, regressa ao continente, matriculando-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde faz as primeiras cadeiras do curso de geografia. No seio dessa comunidade académica frequenta várias tertúlias e trava conhecimento com figuras como Álvaro Cunhal e Bento de Jesus Caraça (seu professor), que muito o influenciam, levando-o a interessar-se pelas temáticas sociais e pela política. Com o objetivo de se formar como engenheiro geógrafo, ruma à faculdade de engenharia do Porto. Após o falecimento do seu pai, em 1938, e tendo de gerir imediatamente os negócios familiares na vila da Ponta do Sol, retorna à Madeira sem concluir as duas cadeiras que lhe faltavam para se licenciar como engenheiro geógrafo, nunca abandonando, no entanto, um profundo interesse pelas temáticas do urbanismo e do ordenamento do território. Depois de um ano a ordenar e a gerir negócios familiares, em 1939 imigra para o Brasil, de onde era originária a sua mãe e onde tinha toda a família materna. Nesse país interessa-se e adere ao Movimento Georgista Brasileiro, que aí divulgava as ideias de transformação social de Henry George (1839-1897), filósofo norte-americano que advogava a reforma da sociedade por via do acesso à terra e do estabelecimento de um imposto único sobre as propriedades territoriais. Tornou-se amigo de Monteiro Lobato (1882-1948), fundador do dito movimento, envolvendo-se também nas várias campanhas levadas a cabo por ele. Após a morte de Monteiro Lobato, afasta-se do movimento, desiludido com a falta de interesse dos novos responsáveis pelas questões urbanísticas. Inicia então, entre finais de 1948 e inícios de 1949, a sua própria campanha por um novo tipo de urbanismo e de cidade. Em tal campanha baseia-se não só na sua experiência formativa e vivencial como geógrafo e empresário agrícola, mas também nas ideias georgistas e na obra do urbanista futurista espanhol Arturo Soria y Mata (1844-1920), que propunha uma cidade linear, ao longo dos caminhos de ferro e das estradas, unindo inextricavelmente campo e cidade e naturalizando o meio urbano. Durante muitos anos expandiu e aprofundou a sua campanha, colaborando em jornais e revistas e editando opúsculos, defendendo a existência de uma agricultura urbana nas cidades já existentes e interessando-se ainda pela promoção e “empoderamento” das mulheres no seio das sociedades, bem como pela erradicação da pobreza por meio do livre acesso à terra e à agricultura. Em 1964, após o advento da ditadura militar no Brasil, as condições para desenvolver o seu trabalho tornam-se mais difíceis, sendo-lhe vedada, em virtude da censura militar, a colaboração em periódicos. Aproveita para viajar bastante pelo Brasil, visitando comunidades agrícolas comunitaristas e universidades várias. Na Baía, fica amigo do filósofo Agostinho da Silva, com o qual se corresponderá posteriormente. Em 1971, regressa a Portugal. Inicia colaboração em periódicos regionais como o Diário de Notícias, o Eco do Funchal e o Templário, iniciando depois do 25 de Abril uma colaboração semanal no Jornal da Madeira que durou vários anos. Colabora também em periódicos nacionais como o jornal A Batalha e a revista Singularidades. No Funchal, expõe gravuras e modelos visuais relativos às suas propostas em hotéis e locais privados, sendo entrevistado pelo Diário de Notícias. Corresponde-se igualmente com personalidades como o filósofo Agostinho da Silva, o arquiteto urbanista Gonçalo Ribeiro Teles, o urbanista canadiano Louis Antoine Dernui e o ex-presidente da Assembleia da República António de Almeida Santos. Com o intuito de aprofundar e divulgar as suas ideias, viaja pelo mundo, percorrendo a Espanha, a Alemanha, os EUA e o Canadá, onde participa em simpósios e grupos de trabalho e de estudo, visita correspondentes e consulta arquivos e bibliotecas. Na sua atividade cívica foi ainda membro fundador do extinto Partido da Solidariedade Nacional e membro da Federação Mundial de Estudos do Futuro (WFSF). Cessando a sua colaboração regular no Jornal da Madeira em finais dos anos 90, continua a estudar, pesquisar e escrever sobre um novo modelo de cidade e sobre o futuro da civilização até à sua morte, deixando uma obra extensa, em grande parte inédita. Morreu no Funchal, a 15 de dezembro de 2009. O seu espólio e acervo foram entregues ao Arquivo Regional da Madeira em 3 de fevereiro de 2010. Miguel Santos (atualizado a 09.12.2017)