abreu, francisco ferreira de

06 Feb 2021 por "Helena Borges"
Personalidades

Filho de Manuel Ferreira de Abreu e de Maria Encarnação, nasceu no último quartel de 1800 e faleceu a 15 de junho de 1942, em Cabo Verde. Foi juiz dos Órfãos na vila de Santa Cruz (1828), da capitania de Machico, feitor da Alfândega, escrivão das Execuções Ultramarinas e escrivão da Índia e Mina.

A sua condição de liberal e a sua rebeldia custaram-lhe a prisão em 1828. Foi enviado para Lisboa a bordo do bergantim São Boaventura e condenado, por sentença de 3 de agosto de 1830, a não voltar à ilha da Madeira durante três anos. Em 23 de junho de 1838, foi nomeado tabelião do Registo de Hipotecas e, em 11 de junho de 1841, escrivão da administração do concelho do Funchal, aonde regressou. Renunciou a este último cargo por ter no horizonte uma ida para Cabo Verde, onde veio a acabar os seus dias.

Traduziu e publicou o Compêndio Elementar de economia Política, de Adolphe Blanqui e o Discurso Sobre as Revoluções na Superfície do Globo, do barão de Cuvier. Era dotado de excelentes capacidades intelectuais e de pensamento autónomo, motivo pelo qual, na Festa comemorativa do primeiro aniversário da Revolução do Porto, em 23 de agosto de 1822, que teve lugar no Palácio do Governo, no Funchal, leu a epítome dos trabalhos. Foi uma exposição extensa, bem documentada e assertiva, por vezes com uma ponta de ironia. Através dessa longa exposição discursiva e filosófica, repartida por assuntos variados, historia-os tão diplomática e delicadamente, que nos apercebemos claramente de que os fins científicos e artísticos da sociedade Funchalense dos Amigos das Ciências e das Artes estavam subordinados diretamente aos princípios que tornaram possível a revolta do Porto, tal como o acérrimo abraço à causa dos elementos que a compunham.

Era pessoa tão bem quista pelos liberais que, em 1852, quando já tinha sido imposto ao país o regime constitucional, foi agraciado com o título de visconde de Santa Cruz, que foi herdado por um descendente seu, Mário de Noronha.

 

Helena Paula F. S. Borges

(atualizado a 14.09.2016)

Bibliog. manuscrita: ANTT, Registo Geral de Mercês, de D. João VI, liv. 20, fl. 122v.; impressa: ANDRADE, João, A Revolução de 1820: a Conspiração, Porto, Porto Editora, 1983; Documentos para a História das Cortes Geraes da Nação Portuguesa. Notas Officiais Recebidas da Ilha da Madeira, Lisboa, Imprensa Nacional, 1883; BOTELHO, Sebastião José X, História Verdadeira dos Acontecimentos da Ilha da Madeira depois do Dia 28 de Janeiro, Impresso em Londres por Hum Cidadão Funchalense, Lisboa, Offic. de António Rodrigues Galhardo, 1821; CLODE, Luiz Peter, Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses: Sécs. XIX e XX, Funchal, Caixa Económica d Funchal, 1987; CRUZ, Visconde do Porto da, Notas e Comentários para a História Literária da Madeira, Funchal, CMF, 1953; Id., Notas e Comentários para a História Literária da Madeira, vol. 2, Funchal, CMF, s.d.; O Patriota Funchalense, FRUTUOSO, Gaspar, Saudades da Terra, História das Ilhas de Porto Sancto, Madeira, Desertas e Selvagens, liv. II, Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1926; SILVA, Fernando Augusto e MENESES, Carlos Azevedo de, Elucidário Madeirense, Funchal, DRAC, 1984.

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