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23 Jul 2020 por "Rui Carita"

As primeiras informações que temos do carpinteiro João moniz de Abreu (c. 1690-c. 1755) aparecem com as obras do conjunto das novas instalações do cabido e da sacristia da sé do Funchal, projeto da autoria do mestre das obras reais Diogo Filipe Garcês (c. 1680-c. 1744). Estas foram autorizadas pelo Conselho da Fazenda a 16 de março de 1733 e arrematadas e contratadas pelo próprio Diogo Garcês em parceria com o mestre pedreiro João de França, a 26 de setembro e 26 de outubro de 1734, respetivamente. Estes dois mestres teriam de ser pessoas de franca respeitabilidade na sociedade madeirense de então para o cónego fabriqueiro Bernardo Rodrigues Nogueira (1695-1748), futuro bispo de São Paulo, ter aceitado o contrato, tal como o então prelado D. frei Manuel Coutinho (1673-1742), o célebre bispo jacobeu que não hesitara, em 1727, em mandar arrombar a porta da Câmara do Funchal à machadada para prender o procurador António de Carvalhal Esmeraldo.

Nas obras do novo edifício do cabido e da sacristia da sé trabalhou também, em 1736, o mestre carpinteiro João moniz, irmão de João moniz de Abreu, com quatro oficiais e dois aprendizes. Tendo andado seis dias nas obras da sacristia, este terá recebido, em 1737, juntamente com o seu companheiro António João, 100$000 que se encontravam por pagar. Nesse mesmo ano, o mestre João moniz terá também trabalhado nas obras de fortificação, igualmente da responsabilidade do mestre das obras reais de então, Diogo Filipe Garcês.

Em 1742, Diogo Filipe Garcês pediu para se deslocar a Lisboa, solicitando depois o alargamento da ausência por mais seis meses. No entanto, parece não ter voltado à Madeira, tendo o ordenado de 1744 sido pago a um procurador e não havendo informações sobre os trabalhos de 1743. Nesse quadro, parece que os trabalhos das obras militares dos inícios de 1744 teriam já sido dirigidas interinamente pelo mestre carpinteiro João moniz de Abreu por provisão passada pelo governador, mas só confirmada por Lisboa perto do final do ano.

As obras de 1744 recaíram essencialmente sobre o escaler do governador e sobre as bandeiras, com as várias despesas referentes ao patrão do escaler, Marcos João, e à aquisição de argolas para presilhas do toldo e de uma saca para se recolher o mesmo. Nos meses de fevereiro e março, ainda se adquiriu pano azul, encarnado e amarelo, bem como corda de linhagem, tudo para as armas da bandeira do forte de Santiago e para o feitio da bandeira, pano de brim para a vela do escaler e peças de “bretanha” para a bandeira de São Lourenço. Entre os finais de abril e os inícios de maio, repararam-se as muralhas do forte do Pico e do Gorgulho, obras que se prolongaram até setembro, tendo-se reparado, em meados de maio, a vigia do Jardim do Mar e, em outubro, as muralhas da Calheta e de Santa Cruz. Compraram-se ainda dois livros para a secretaria do governo, pagando-se igualmente o arranjo das portas da cidade, a cargo do serralheiro António moniz.

O alvará de provimento do mestre das obras reais João moniz de Abreu foi assinado em Lisboa, por um ano, a 3 de outubro de 1744, sendo a posse no Funchal no dia 1 de janeiro de 1745, e voltando a ter provimento para 1746, 1747 e 1748. No entanto, embora deslocando-se a Lisboa para frequentar a Real Academia de Fortificação e Desenho, perdeu o lugar a favor de Domingos Rodrigues Martins (c. 1710-1781), talvez já por ser homem de certa idade, falecendo poucos anos depois.

Não temos muitas informações sobre as obras que superintendeu na área das fortificações por falta de documentação, sabendo-se, no entanto, que entre 31 de outubro e 12 de novembro de 1746 trabalhou em Câmara de Lobos e na cisterna da fortaleza do Pico. Os trabalhos estiveram a cargo dos carpinteiros Paulo Pereira de Lordelo, Manuel Pereira e Vicente Fernandes, dos pedreiros Francisco de Freitas e Patrício de Freitas e dos serventes José Gomes e António Gomes, todos artífices que já tinham trabalhado nas fortificações nos anos anteriores. As obras da cisterna do Pico envolveram a compra de azeite doce, para se amassar a cal, bem como de azeite de outra qualidade, para as armas do armazém.

Na vigência de moniz de Abreu como mestre das obras reais, chegaram de Lisboa as ordens referentes à execução das plantas e orçamentos da nova igreja de N. S.ª dos Prazeres, então na Estacada, obra arrematada em 1745, mas cuja primeira pedra só veio a ser lançada a 9 de setembro de 1751, tal como a da matriz de S. João Baptista da Fajã da Ovelha, cujo mandato do conselho da Fazenda com a arrematação ao carpinteiro Francisco Gomes tem a data de 24 de janeiro de 1747. De 1744 foi também a ordem para a execução das obras da igreja de S. Brás do Arco da Calheta, tendo a arrematação sido feita pelo mestre pedreiro Francisco Correia e, depois, pelo mestre Cristóvão Gomes de Sousa.

 

Bibliog. manuscrita: ANTT, Cabido da Sé do Funchal, mç. 29, fls. 7-8, liv. 9, fls. 102 e 110-112v.; ANTT, Provedoria e Junta da Real Fazenda do Funchal, liv. 841, fls. 19-28, liv. 972, fls. 121, 189v. e 246v., liv. 842, fls. 21ss., liv. 972, fls. 94, 106v. e 122v.; impressa: CARITA, Rui, História da Madeira, vol. 4, Funchal, SRE, 1996; Ibid., vol. 5, Funchal, SRE, 1999; FERREIRA, Manuel Juvenal Pita, A Sé do Funchal, Funchal, JGDAF, 1963. Rui Carita

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