susan harriet vernon harcourt

03 Dec 2020 por "Rui Carita"
Artes e Design Madeira Global Sociedade e Comunicação Social

Lady Susan Harriet Vernon Harcourt nasceu em 1824 e recebeu o nome de Susan Harriet Holroyd. Era filha do 2.º conde de Sheffield (1802-1876) e casou-se, em agosto de 1849, com Edward William Vernon Harcourt (1825-1891).

No ano anterior ao do seu casamento, lady Susan acompanhou o noivo à Madeira com sua mãe, a condessa de Sheffield. Edward já tinha estado na Madeira de outubro de 1847 a abril de 1848., e esteve com a noiva de novembro de 1848 a maio de 1849. Volta à Ilha depois do casamento, de novembro de 1849 a maio de 1850 e de novembro de 1850 a abril de 1851. Na família Harcourt parece ter sido tradição, entre os que apresentavam debilidades físicas, a passagem do inverno na Madeira, onde esteve o pai de Edward, Rev. William Vernom Harcourt, e, no inverno de 1847 para 1848, seu irmão William George Granville Venables Vernon Harcourt (1827-1904), depois ministro do Interior de um dos governos da rainha Vitória e uma das figuras políticas determinantes do seu tempo; mais tarde, o filho deste também frequentaria a Madeira (turismo terapêutico).

O álbum de lady Susan Harcourt Sketch of Madeira, editado em Londres, em 1851, por Thomas McLean, espelha a educação das classes abastadas da sua época, a que não escapava a autora e o marido, que edita na mesma data e pelo mesmo editor A Sketch of Madeira, Containing Information for the Traveller, or Invalid Visitor, dedicado à sogra, condessa de Sheffield. Edward também se interessava por ornitologia e daria à estampa as suas observações sobre as aves da Madeira, igualmente editadas em Londres, em 1855. Trocava, inclusivamente, correspondência com Charles Darwin; da qual se extraíram as informações sobre as suas deslocações à Madeira.

O conjunto de litografias de lady Susan reúne 22 vistas da Madeira, litografadas pela própria ou pelo menos com a sua colaboração. Destas litografias 3 são em grande formato, demonstrando muito boa qualidade de desenho, com um traço suave, delicado e feminino, abarcando os grandes planos gerais e esboçando somente os pequenos detalhes. Desconhece-se o destino dos originais, bem como de posteriores trabalhos da autora, que terá passado a dedicar-se inteiramente à educação dos dois filhos. Morre aos 64 anos, em abril de 1894. A documentação da família encontra-se hoje integrada na Bodleian Library da Universidade de Oxford, onde, em conformidade com o que foi dito não constam os desenhos originais nem referência a trabalhos posteriores, que talvez se mantenham na posse da família.

O conjunto editado do casal Harcourt enquadra-se no “grand tour” de educação das sociedades europeias abastadas, que olhavam para a Madeira como um destino no leque de possibilidades do turismo terapêutico. Ao mesmo tempo, este conjunto retrata uma nova posição e atitude da mulher ao longo do séc. XIX, que não só desenha em público, o que até então era quase impossível, como edita depois as suas obras, podendo, inclusivamente, trabalhar na sua passagem à litografia. Poucos anos antes, em 1845, também Jane Wallas Penford (1821-1884) editara os seus trabalhos em Londres, no conjunto Madeira Flowers, Fruits, and Ferns, este elaborado a partir de aguarelas feitas na sua propriedade da quinta da Achada – e não em público – e de litografias posteriormente aguareladas pela sua mão, também na sua quinta do Funchal.

Edward Harcourt tece algumas considerações sobre os desenhos da sua então ainda noiva lady Susan, onde descreve a dificuldade em captar o cenário grandioso da paisagem madeirense, face à contínua mudança de luminosidade. Ao contrário da permanente neblina dos ambientes nórdicos, na Madeira a constância dos brilhos alterava-se constantemente pela simples passagem de uma nuvem. O autor conta ainda as dificuldades em que se via a pintora ao iniciar o seu trabalho, por ser de imediato rodeada de inúmeros observadores que, parecendo não ter mais nada para fazer, ali se mantinham inabaláveis durante horas a fio. Informa e alerta também os futuros leitores sobre a taxa imposta pela Alfândega do Funchal aos desenhos levados da Ilha, 6 xelins e 8 pences por libra de peso, o que considerava um verdadeiro exagero, mas que configura a consciência do interesse económico dos mesmos por parte das autoridades aduaneiras insulares.

 

Rui Carita

(atualizado a 30.12.2017)

Bibliog.: DARWIN, Charles e BURKHART, Frederik, The Correspondence of Charles Darwin 1856-1857, vol. 6, Cambridge, Cambridge University Press, 1990; CAMACHO, Ana Margarida Sottomayor Araújo, “Lady Susan Vernon Harcourt”, in Obras de Referência dos Museus da Madeira, 500 de História de um Arquipélago, catálogo de exposição comissariada por Francisco Clode de Sousa e patente na Galeria de Pintura do Rei D. Luís, Palácio Nacional da Ajuda, 20 nov. 2009-28 fev. 2010, Funchal, DRAC, 2009, pp. 414-415; HARCOURT, Edward Vernon, A Sketch of Madeira, Containing Information for the Traveller, or Invalid Visitor, Londres, Ed. Thomas McLean, 1851; Id. “Notes on the Ornithology of Madeira”, The Annals and Magazine of Natural History, vol. xv, 2.ª série, 1855, pp. 430-438; HARCOURT, Susan Vernon, Sketch of Madeira, Londres, Ed. Thomas McLean, 1851; NASCIMENTO, João Cabral do, Estampas Antigas da Madeira, Funchal, Club Rotário do Funchal, 1935; SAINZ-TRUEVA, José de (org.), Viagens na Madeira Romântica, catálogo de exposição comissariada por Manuel de Sainz-Trueva, e patente no teatro Municipal, dez. 1988-jan. 1989, Funchal, DRAC, 1988; SOUSA, Francisco Clode de, “Aparências e permanências”, in Estampas, Aguarelas e Desenhos da Madeira Romântica, catálogo de exposição na Casa Museu Frederico de Freitas, jul. 1988-dez. 1988, Funchal, DRAC, pp. 15-38; PENFOLD, Jane Wallas, Madeira Flowers, Fruits, and Ferns, London, Reeve Brothers, 1845; TOMPSON, Alfred, “Statesmen” n.º 50, Vanity Fair, n.º 83, 4 jun. 1870.

palavras-chave associadas