lopes, carlos marinho
Professor, poeta e jornalista, nasceu na freguesia de São Pedro, Funchal, a 3 de março de 1896 e faleceu, com apenas 43 anos, no Funchal, na casa da R. da Conceição onde residia, no dia 12 de maio de 1939. Os seus pais eram Manuel Joaquim Camacho Lopes e Matilde Firmina Lopes. Formou-se na Escola de Habilitação para o Magistério Primário, a 1 de agosto de 1919, tornando-se professor do ensino primário. Falava corretamente inglês e francês. Na Madeira, foi docente nas freguesias de Tabua, de 1923 a 1924, Santa Maria Maior, em 1931, Serra d’Água, de 1931 a 1934, Camacha, em 1934, Ribeira Brava, em 1927, e Santa Cruz, em 1935. Ainda deu aulas de Inglês, Francês, Escrituração e Contabilidade. Foi fundador, diretor e professor do Colégio Marinho Lopes. Enquanto professor primário, Carlos Marinho Lopes recebeu um louvor da Câmara Municipal da Ribeira Brava, em 1927, pelo sucesso dos alunos por si propostos a exame, e outro da Câmara Municipal de Santa Cruz, em 1935, por ter fundado naquela freguesia um museu e uma biblioteca. Foi membro de uma tertúlia constituída por Octávio de Marialva, Albino de Menezes, Manuel Fernandes Rosa e Abel de Abreu Nunes, entre outros. Foi também cofundador, em 1920, com Horácio Bento Gouveia, Álvaro Favila Vieira, João Pestana Ferreira, Álvaro Manso, Manuel Ferreira Rosa e José Maria de Conceição Carvalho do quinzenário académico Os Novos. Foi um renomado escritor em prosa e em verso. Colaborou assiduamente no Diário da Madeira, onde dirigiu, a partir de 1 de janeiro de 1928, a “Gazeta infantil”. Escreveu também no Diário de Notícias e noutros jornais da Região, recorrendo aos pseudónimos Carlos do Mar, Príncipe Carlos e Príncipe Carlop. Do conjunto de textos publicados na imprensa, é de destacar a conferência “O teatro” que apresentou na Escola de Arte de Representar, de que foi diretor, e que foi publicada nas edições do Diário da Madeira de 24 e 31 de outubro, 7, 22 e 28 de novembro e 5 de dezembro de 1928. Publicou os livros Pensamentos e Blagues (Funchal, s.n., 1927), que pode ser consultado na Biblioteca Municipal do Funchal, A Galera (Funchal, Livraria Popular, 1927), que pode ser lido na mesma Biblioteca, e O Triunfo (1927), novela de que não possuímos mais informações para além da data. Segundo Luís Marino, o autor terá deixado inéditas as obras Flama (novela), Transviado, Claridades e Carta do Além. A crítica considerava-o um autor moderno, possuidor de um elevado sentido estético e de uma curiosa sensibilidade. Os seus textos em prosa eram elogiados pela sua beleza e poder de imaginação. Por ocasião da sua morte, a 12 de maio de 1939, o Diário da Madeira mostrou o seu pesar e exaltou o carácter e brilhantismo de Carlos Marinho Lopes – que, antes de morrer, exercia as funções de professor da escola do sexo masculino da Camacha e mantinha nessa cidade, à noite, um curso de lecionação de instrução primária e secundária, e de contabilidade. Obras de Carlos Marinho Lopes: A Galera (1927); Pensamentos e “Blagues” (1927); O Triunfo (1927). António José Borges (atualizado a 14.12.2017)
nogueiras, viscondessa das
(Funchal, 1805-Funchal, 1888) Poeta e escritora, Matilde Isabel de Santana e Vasconcelos Moniz de Bettencourt foi autora de poemas longos e sentimentais, entre eles, “A Mulher Poeta”, “Uma Noite de Luar”, descrição romântica de fenómenos da natureza e “O Rouxinol”. Estes trabalhos revelam bem o modo empolgante como interrogava a existência através da poesia. Palavras-chave: poesia; literatura. Matilde Isabel de Santana e Vasconcelos Moniz de Bettencourt, conhecida como viscondessa das Nogueiras, nasceu no Funchal, a 14 de março de 1805, e faleceu no seu solar, na mesma cidade, a 23 de dezembro de 1888. Era filha de José Joaquim de Vasconcelos e de Francisca Emília Teles de Meneses. Casou-se com Jacinto de Santana e Vasconcelos Moniz de Bettencourt, 1.º visconde das Nogueiras, com quem teve dois filhos: Jacinto Augusto de Santana e Vasconcelos Moniz de Bettencourt, que veio a ser 2.º visconde das Nogueiras e ministro de Portugal em Washington, nos E.U.A., onde acabaria por morrer (sem que sua mãe tivesse conhecimento), e Matilde Lúcia de Santana e Vasconcelos Moniz de Bettencourt. Foi avó de Matilde Sauvayre da Câmara e de Celina Sauvayre da Câmara, autora de De Nápoles a Jerusalém (1899), e cunhada de Maria do Monte. Fruto de uma educação privilegiada, enriquecida no decorrer dos anos por um constante amor ao trabalho, sabia falar e escrever corretamente francês e inglês, tinha bons conhecimentos de italiano e cultivava a música e o canto, embora fosse uma amadora. Pertencente às mais distintas famílias madeirenses, era uma senhora de claros dotes poéticos, que desde muito nova se interessou pela literatura. Nos últimos anos da sua vida, devido a uma saúde débil, dedicou-se mais intensamente à tradução e à poesia. Colaborou com artigos e poemas na imprensa portuguesa e em revistas literárias do estrangeiro. Foi umas das primeiras mulheres a escrever para o Almanaque Luso-Brasileiro de Lembranças. “‘Suaves Modestos Sons’ – Mulher e Poesia na Imprensa Madeirense da Segunda Metade do Séc. XIX”, de Luísa Marinho Antunes, é fonte importante de pesquisa no que diz respeito à sua colaboração na imprensa periódica. Constam composições da viscondessa das Nogueiras nas coletâneas Flores da Madeira, Album Madeirense e na obra Prelúdios Poéticos de J. Ramos Coelho. O escritor e poeta Bulhão Pato, que nos cantos VI e VII do seu poema “Paquita” faz uma bela descrição poética da Madeira, foi amigo íntimo do 2.º conde do Carvalhal e de Jacinto Augusto de Santana e Vasconcelos Moniz de Bettencourt, 2.º visconde das Nogueiras, filho da viscondessa, e em sua companhia passou várias temporadas na Ilha, entre 7 de agosto de 1850 e 6 de março de 1851. A isso se refere em alguns dos seus livros com saudosa recordação. Em Sob os Ciprestes e nos três volumes das suas Memórias, ocupa-se de algumas pessoas e assuntos relacionados com madeirenses. Encontram-se ali largas e elogiosas referências não só ao conde do Carvalhal, mas também à viscondessa das Nogueiras, nomeadamente aos seus versos sentimentais e à sua prosa. Há registos bibliográficos dos seguintes títulos e traduções suas: Diálogos entre uma Avó e sua Neta, a sua obra principal, aprovada pelo Conselho Geral de Instrução Publica para as Escolas Oficiais e editada em Lisboa, pela Imprensa Nacional, em 1862; o romance O Soldado de Aljubarrota, publicado em 1857; Eurico le Prêtre, de Alexandre Herculano, tradução de Eurico, publicada em Paris, no ano de 1888, por iniciativa do príncipe Nicolau de Oldenburgo, que tivera ocasião de conhecer o respetivo manuscrito, tendo em conta que privava com os viscondes das Nogueiras e, assim, leu no solar da R. da Mouraria e achara excelente a tradução; Historia de Santa Monica. Por Monsenhor Bougaud, que foi a sua última tradução para português, pelo Centro de Propaganda Catholica em Portugal, e teve direito a uma segunda edição, em 1888, pela Guimarães; Castelãs de Roussilon, também uma tradução da obra do abade de Bougaud; Genoveva, traduzido de Lamartine; “Nota ao Mês de Maio”, que surge na tradução dos Fastos de Ovídio, pelo visconde de Castilho. A viscondessa das Nogueiras, como refere Bulhão Pato nas Memórias e, depois, o visconde do Porto da Cruz, era reconhecida também pela sua gentileza, possuindo, com efeito, um singular talento que, noutro meio com recursos menos limitados, poderia certamente ter conquistado um nome ilustre na história da literatura portuguesa. Poemas longos e sentimentais como “A Mulher Poeta”, “Uma Noite de Luar”, uma descrição romântica de fenómenos da natureza, e “O Rouxinol”, este último transcrito por Luís Marino na obra Musa Insular, revelam o modo empolgante como interrogava a existência através da sua poesia. Os seus restos mortais repousam no cemitério das Angústias. Obras de Matilde Isabel de Santana Vasconcelos Moniz: O Soldado de Aljubarrota (1857); Diálogos entre Avó e sua Neta (1862); “O Romance Bermudo e a Mesa de Prata de D. Dinis” (1879); Poemas (2013). António José Borges (atualizado a 03.03.2018)
sousa, antónio policarpo dos passos
Médico e poeta, Passos Sousa nasceu na freguesia da Madalena do Mar, Funchal, no dia 26 de janeiro de 1836 e faleceu a 26 de maio de 1875, com 29 anos, na freguesia da Ponta do Sol, também no Funchal. Era filho de Francisco Gomes de Sousa e de Francisca dos Passos e Sousa. Diplomado médico-cirurgião pela antiga Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, em 1859, foi secretário da administração do concelho da Ponta do Sol. Pertencendo a uma família da qual tinha emanado uma série de talentos, cedo mostrou uma enorme habilidade para a escrita literária, ainda que a falta de saúde e a morte prematura não lhe tivessem permitido cumprir a vocação com que nascera. Porém, apesar do seu curto tempo de vida, colaborou em vários jornais da Madeira, como O Direito, com os folhetins “O Mendigo”, “A Noite do Trovador”, “Vozes da Natureza”, “A Minha Aldeia”, “Morreu”, “O Homem e o Pecado”, “Arpejos Religiosos” e “O Sepulcro do Senhor na Ponta do Sol”, entre outros, e foi considerado no seu tempo um inspirado poeta, cujos poemas eram bastante apreciados. Pode ler-se uma composição sua no primeiro volume da coletânea Flores da Madeira e outras na Selecta de Poesias Infantis e no Álbum Madeirense. O seu longo poema “Lamento” surge na Musa Insular de Luís Marino. Este texto tem uma composição formal que confirma o cuidado estético do seu autor, dividindo-se em nove estrofes, sendo as duas primeiras irregulares (12 versos cada), as seis seguintes oitavas e a última uma quadra. O número de versos é equilibrado e coerente em ordem decrescente. Obras de António Policarpo dos Passos Sousa: “O Mendigo”; “A Noite do Trovador”; “Vozes da Natureza”; “A Minha Aldeia”; “Morreu”; “O Homem e o Pecado”; “Arpejos Religiosos”; “O Sepulcro do Senhor na Ponta do Sol”; “Lamento”. António José Borges (atualizado a 10.02.2017)
miranda, joão da costa
Prosador e poeta, nasceu na freguesia de Machico, Funchal, a 28 de setembro de 1897 e faleceu a 20 de março de 1964, com 66 anos. Era filho de João da Costa Miranda e de Maria Leocádia da Costa, e tinha dois irmãos. Casou-se com Maria Elisa Freitas Costa Miranda, com quem teve quatro filhos: João Aurélio de Freitas Costa Miranda, Bela Clara Ramos Costa Miranda, Gilda Maria Miranda Pinto da Silva, casada com Arnaldo Pinto da Silva, e Maria das Mercês de Jesus Costa Miranda, que se entregou à vida religiosa em Coimbra. A partir de 1908, estudou no Seminário Diocesano do Funchal, onde cursou os preparatórios e Filosofia. Mais tarde, mudou-se para Coimbra, onde estudou Teologia no Seminário dos Olivais, curso que terminou em 1919. Esperou pela ordenação de presbítero, mas, tendo sentido que a sua vocação não era aquela, regressou à vida civil. Assim, voltou, em 1920, ao liceu do Funchal, onde demorou apenas alguns meses a concluir o curso liceal. Os registos indicam que foi sempre um aluno brilhante, não tendo perdido qualquer ano. Mais tarde, enveredou pela atividade comercial e industrial, na qual se manteve durante um longo período. Em 1939, passou uma temporada em Bedford, nos Estados Unidos da América. De regresso à Madeira, foi eleito, a 14 de dezembro de 1955, membro da mesa da Santa Casa da Misericórdia do Funchal para o triénio 1956-1958. Interessava-se bastante pela literatura, tendo sido poeta e prosador com colaborações no Diário da Madeira, no Diário de Notícias, n’O Imparcial, n’O Jornal e na revista Esperança. No Diário da Madeira, publicou, em março e abril de 1918, dois sonetos exemplificativos da sua produção, “O Teu Retrato” e “Impossível”. Este último foi dedicado a António Pestana, contendo, a abrir, uma epígrafe de Gomes Leal. Ambos os poemas estão transcritos na Musa Insular, de Luís Marino. É de salientar que assinou alguns dos seus textos como Joam da Costa Miranda. Consta que terá deixado um livro de poemas inédito, com o título O Livro das Ilusões. António José Borges (atualizado a 05.02.2017)
fernandes, olímpia pio
(Funchal, 1830-?, 1890) Escritora, colaborou em vários jornais da imprensa regional e em revistas literárias do continente. Sob o pseudónimo César Perdigão, escreveu, em 1877, um drama intitulado Alda ou Filha do Mar que foi representado em peça no teatro Esperança, no Funchal. As cenas fundamentais desta composição foram publicadas posteriormente no Diário de Notícias do Funchal. Palavras-chave: literatura; imprensa periódica; teatro. Nasceu no Funchal, em 1830, e faleceu em local desconhecido, na déc. de 1890. São escassas as informações biográficas sobre esta escritora madeirense. Sabe-se que foi professora e que integrou a mesa de assembleia da Associação de Proteção e Instrução do Sexo Feminino Funchalense, presidida por João da Câmara Leme, conde do Canavial. Cooperou com a Sociedade de Concertos Funchalense e terá vivido no Porto, onde foi professora do ensino primário. Colaborou em vários jornais da imprensa regional e em revistas literárias do continente, e escreveu, em 1877, um drama intitulado Alda ou Filha do Mar, que foi representado, em maio do mesmo ano, no Teatro Esperança do Funchal, tendo recebido os maiores aplausos da assistência. As cenas fundamentais deste drama foram publicadas posteriormente num jornal do Funchal. Possuía uma vasta cultura artística e gozava de prestígio nos meios intelectuais da sua época, tanto no Funchal como em Lisboa. Dedicou-se à literatura e consta que os seus escritos tiveram uma boa receção junto dos leitores. Recebia rasgados elogios, entre os quais um de uma leitora, cuja identidade não é referida, que está transcrito no Elucidário Madeirense, na pág. 29 do vol. II: “Tenho lido com interesse todas as outras produções da distinta escritora, e ou eu estarei muito enganada, ou s. ex.ª há de ocupar, ainda um dia, um dos primeiros lugares entre as senhoras que cultivam as letras”. Olímpia Pio Fernandes manteve correspondência com Joana de Castelbranco e Mariana Xavier da Silva, entre outras escritoras e escritores madeirenses. Publicou textos poéticos, dramáticos e contos na imprensa periódica funchalense, sob o pseudónimo de César Ortigão, especialmente em O Direito e no Diário de Notícias do Funchal, entre outros jornais. Nestas publicações, e.g., foi autora de: “Uma simples narrativa” (DN, 03 dez. 1876); “Heroísmo” (DN, 18 jan. 1877); “A mulher” (DN, 04 jan. 1877); “Scenas campestres: o despertar na cabana” (DN, 29 maio 1877); “A esperança” (DN, 29 jun. 1877); “À ex.ma snr.a D. Marianna S. F.” (DN, 01 jul. 1877); “Maria” (DN, 11 set. 1877); “A criança” (DN, 23 fev. 1877). Tendo-se tornado uma madeirense ilustre, passou a residir fora da Ilha; porém, apesar de até então ter cultivado na Madeira as letras com brilho e com justificada reputação, não há conhecimento sobre outros escritos desta autora. Obras de Olímpia Pio Fernandes: Alda ou Filha do Mar (1877); “Uma simples narrativa” (1876); “Heroísmo” (1877); “A mulher” (1877); “Scenas campestres: o despertar na cabana” (1877); “A esperança” (1877); “À ex.ma snr.a D. Marianna S. F.” (1877); “Maria” (1877); “A criança” (1877). António José Borges (atualizado a 23.01.2017)
castelbranco, manuel (maurício carlos de)
Maurício Carlos de Castelbranco, que se apresentava literariamente com o semi-pseudónimo de Manuel Castelbranco, nasceu no Funchal em 1842 e faleceu na mesma cidade no dia 6 de Setembro de 1901. Era filho do comendador Maurício José de Castelbranco Manuel, em título de Mendes Serranos, e de D. Maria Dionísia de Freitas Abreu, em título de Freitas Abreu. Casado com Guilhermina Maria de Vasconcelos Fernandes Castelbranco, teve dois filhos: Gastão de Castelbranco Manuel e Gabriela Castelbranco Machado, por sua vez casada com Vicente Machado. Exerceu durante alguns anos a função de escriturário de fazenda no Funchal. Foi redator de folhetos e um poeta admirado. Colaborou em vários jornais do Funchal, principalmente nos seguintes: Direito, O Recreio, O Crepúsculo e Diário Popular. Há registo de vários poemas seus publicados nas coletâneas Flores da Madeira, que foram objeto de notas elaboradas por Alberto F. Gomes, em 1955, e publicadas nesse mesmo ano no n.º 15 da revista Das Artes e da História da Madeira – Revista de Cultura da Sociedade de Concertos da Madeira, e no Álbum Madeirense: poesias de diversos auctores madeirenses, coligido por Francisco Vieira em 1884. António José Borges (atualizado a 22.12.2016)