nogueiras, viscondessa das

03 Dec 2020 por "António José Borges"
Literatura

Fonte: Blog da <a href='bibliotecas'>biblioteca</a> Municipal do Funchal

(Funchal, 1805-Funchal, 1888)

poeta e escritora, Matilde Isabel de santana e Vasconcelos moniz de Bettencourt foi autora de poemas longos e sentimentais, entre eles, “A Mulher poeta”, “Uma Noite de Luar”, descrição romântica de fenómenos da natureza e “O Rouxinol”. Estes trabalhos revelam bem o modo empolgante como interrogava a existência através da poesia.

Palavras-chave: poesia; literatura.

Matilde Isabel de santana e Vasconcelos moniz de Bettencourt, conhecida como viscondessa das Nogueiras, nasceu no Funchal, a 14 de março de 1805, e faleceu no seu solar, na mesma cidade, a 23 de dezembro de 1888. Era filha de José Joaquim de Vasconcelos e de Francisca Emília Teles de Meneses. Casou-se com Jacinto de santana e Vasconcelos moniz de Bettencourt, 1.º visconde das Nogueiras, com quem teve dois filhos: Jacinto Augusto de santana e Vasconcelos moniz de Bettencourt, que veio a ser 2.º visconde das Nogueiras e ministro de Portugal em Washington, nos E.U.A., onde acabaria por morrer (sem que sua mãe tivesse conhecimento), e Matilde Lúcia de santana e Vasconcelos moniz de Bettencourt. Foi avó de Matilde Sauvayre da Câmara e de Celina Sauvayre da Câmara, autora de De Nápoles a Jerusalém (1899), e cunhada de Maria do Monte.

Fruto de uma educação privilegiada, enriquecida no decorrer dos anos por um constante amor ao trabalho, sabia falar e escrever corretamente francês e inglês, tinha bons conhecimentos de italiano e cultivava a música e o canto, embora fosse uma amadora. Pertencente às mais distintas famílias madeirenses, era uma senhora de claros dotes poéticos, que desde muito nova se interessou pela literatura. Nos últimos anos da sua vida, devido a uma saúde débil, dedicou-se mais intensamente à tradução e à poesia.

Colaborou com artigos e poemas na imprensa portuguesa e em revistas literárias do estrangeiro. Foi umas das primeiras mulheres a escrever para o Almanaque Luso-Brasileiro de Lembranças. “‘Suaves Modestos Sons’ – Mulher e poesia na Imprensa Madeirense da Segunda Metade do Séc. XIX”, de Luísa Marinho Antunes, é fonte importante de pesquisa no que diz respeito à sua colaboração na imprensa periódica. Constam composições da viscondessa das Nogueiras nas coletâneas Flores da Madeira, Album Madeirense e na obra Prelúdios Poéticos de J. Ramos Coelho.

O escritor e poeta Bulhão Pato, que nos cantos VI e VII do seu poema “Paquita” faz uma bela descrição poética da Madeira, foi amigo íntimo do 2.º conde do Carvalhal e de Jacinto Augusto de santana e Vasconcelos moniz de Bettencourt, 2.º visconde das Nogueiras, filho da viscondessa, e em sua companhia passou várias temporadas na Ilha, entre 7 de agosto de 1850 e 6 de março de 1851. A isso se refere em alguns dos seus livros com saudosa recordação. Em Sob os Ciprestes e nos três volumes das suas Memórias, ocupa-se de algumas pessoas e assuntos relacionados com madeirenses. Encontram-se ali largas e elogiosas referências não só ao conde do Carvalhal, mas também à viscondessa das Nogueiras, nomeadamente aos seus versos sentimentais e à sua prosa.

Há registos bibliográficos dos seguintes títulos e traduções suas: Diálogos entre uma Avó e sua Neta, a sua obra principal, aprovada pelo Conselho Geral de Instrução Publica para as Escolas Oficiais e editada em Lisboa, pela Imprensa Nacional, em 1862; o romance O Soldado de Aljubarrota, publicado em 1857; Eurico le Prêtre, de Alexandre Herculano, tradução de Eurico, publicada em Paris, no ano de 1888, por iniciativa do príncipe Nicolau de Oldenburgo, que tivera ocasião de conhecer o respetivo manuscrito, tendo em conta que privava com os viscondes das Nogueiras e, assim, leu no solar da R. da Mouraria e achara excelente a tradução; Historia de Santa Monica. Por Monsenhor Bougaud, que foi a sua última tradução para português, pelo Centro de Propaganda Catholica em Portugal, e teve direito a uma segunda edição, em 1888, pela Guimarães; Castelãs de Roussilon, também uma tradução da obra do abade de Bougaud; Genoveva, traduzido de Lamartine; “Nota ao Mês de Maio”, que surge na tradução dos Fastos de Ovídio, pelo visconde de Castilho.

A viscondessa das Nogueiras, como refere Bulhão Pato nas Memórias e, depois, o visconde do Porto da Cruz, era reconhecida também pela sua gentileza, possuindo, com efeito, um singular talento que, noutro meio com recursos menos limitados, poderia certamente ter conquistado um nome ilustre na história da literatura portuguesa.

Poemas longos e sentimentais como “A Mulher poeta”, “Uma Noite de Luar”, uma descrição romântica de fenómenos da natureza, e “O Rouxinol”, este último transcrito por Luís Marino na obra Musa Insular, revelam o modo empolgante como interrogava a existência através da sua poesia.

Os seus restos mortais repousam no cemitério das Angústias.

Obras de Matilde Isabel de santana Vasconcelos moniz: O Soldado de Aljubarrota (1857); Diálogos entre Avó e sua Neta (1862); “O Romance Bermudo e a Mesa de Prata de D. Dinis” (1879); Poemas (2013).

 

António José Borges

(atualizado a 03.03.2018)

Bibliog.: ANTUNES, Luísa Marinho, “De Nápoles a Jerusalém, Diário de Viagem: Maria Cecília Sauvayre da Câmara e a Viagem no Feminino”, Revista de Divulgação Científica AICA, n.º 4, dez. 2012, pp. 114-122; Id., “‘Suaves Modestos Sons’ – Mulher e Poesia na Imprensa Madeirense da Segunda Metade do Séc. XIX”, in LOUSADA, Isabel e CHAVES, Vania Pinheiro (org.), As Mulheres e a Imprensa Periódica, vol. ii, Lisboa, CLEPUL, 2014, pp. 189-208; BETTENCOURT, Matilde Isabel de Santana Vasconcelos Moniz, Poemas, Ribeira Brava, 2013; CLODE, Luiz Peter, Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses: Sécs. XIX e XX, Funchal, Caixa Económica do Funchal, 1983; COELHO, José Ramos, Prelúdios Poéticos, Lisboa, Typ. Progresso, 1857; CRUZ, Visconde do Porto da, Notas e Comentários para a História Literária da Madeira, vol. ii, Funchal, CMF, 1949; GOMES, Alberto F., “Algumas Notas sobre os Poetas das ‘Flores da Madeira’”, Das Artes e da História da Madeira, n.º 15, 1953, pp. 20-24; “NOGUEIRAS (Visconde de), Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 18, Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia Lda., s. d., p. 830; MARINO, Luís, Musa Insular: Poetas da Madeira, Funchal, Editorial Eco do Funchal, 1959; PATO, Bulhão, Memórias, 3 vols., Lisboa, Typ. da Academia Real das Sciencias, 1894-1907; SILVA, Fernando Augusto da, MENESES, Carlos Alberto de, Elucidário Madeirense, 4.ª ed., vols. i e ii, Funchal, SREC, 1978; VIEIRA, Francisco, Album Madeirense: Poesias de Diversos Auctores Madeirenses, Funchal, Typ. Funchalense, 1884; VIEIRA, Gilda França de e FREITAS, António Aragão de, Madeira: Investigação Bibliográfica (Catálogo Onomástico), vol. i, Funchal, Centro de Apoio de Ciências Históricas, 1981.

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