andrada, eduardo de campos

30 Jan 2017 por "Leocadia"

Engenheiro Silvicultor que desempenhou funções profissionais no Arquipélago da Madeira entre 1952 e 1975, como Chefe da Circunscrição Florestal do Funchal.

Eduardo Campos Andrada nasceu no concelho de Cascais em 1913, e ingressou no curso de Engenharia Silvícola no Instituto Superior de Agronomia por influência do seu tio, o Professor Mário de Azevedo Gomes, que, na altura da sua admissão na faculdade, era professor e investigador na área da silvicultura no Instituto Superior de Agronomia.

Após terminar o curso, iniciou a sua carreira profissional na Administração Florestal da Figueira da Foz. Mais tarde, em 1939, partiu para África, onde exerceu atividade profissional na área da silvicultura em moçambique e em Angola, até 1951. Após este período, regressou a Portugal Continental, tendo sido destacado para o Arquipélago da Madeira em Junho de 1952 para chefiar a então recém-criada Circunscrição Florestal do Funchal, na dependência hierárquica direta da Direção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas do então Ministério da economia.

Eduardo de Campos Andrada teve como missão dar execução às atribuições preconizadas no plano complementar do plano de povoamento florestal para o Arquipélago da Madeira.

À Circunscrição Florestal do Funchal competiam as atividades de repovoamento florestal, proteção dos arvoredos, organização do regime silvo pastoril, colheita de sementes e instalação de viveiros florestais, construção de caminhos florestais, casas da guarda (postos florestais), casas de abrigo, ovis e outras edificações, trabalhos de correção torrencial, bem como a exploração da truticultura.

Apesar de a Circunscrição Florestal do Funchal ter sido criada em 1952, o repovoamento florestal só seria desencadeado mais tarde, em 1955, após um complexo e moroso processo de delimitação e submissão dos baldios ao regime florestal, seguido dos estudos e projetos de arborização para cada perímetro florestal, executados pela equipa de Eduardo Campos Andrada.

Tendo por base as atividades da Circunscrição Florestal do Funchal, Campos Andrada desenvolveu um notável trabalho durante os 23 anos que esteve na Madeira, muito do qual perdurou nas serras da Madeira e do porto santo. A abertura de uma notável rede de caminhos em zonas florestais, muitos dos quais foram depois estradas regionais, destacando-se as estradas do Paul da Serra, a estrada do Chão da Ribeira, a estrada para o Pico das Pedras e do Pico das Pedras para a Achada Teixeira, a estrada do Santo da Serra para o Poiso e, no porto santo, a ligação ao Pico Castelo, é um dos exemplos do seu labor que ficou para a posteridade.

A maioria dos postos florestais da Ilha foi também edificada durante esse período seguindo o projeto-tipo existente, que lhes conferia uma traça característica.

[caption id="" align="alignleft" width="454"]Andrada, Eduardo Campos Foto tirada pelo Engenheiro Silvicultor Eduardo Campos Andrada a quando da construção do Posto Florestal do Poiso na década de 50[/caption] Igualmente projetadas e plantadas na época de Eduardo de Campos Andrada foram as arborizações de diversas zonas do território, sendo de relevar a zona dos Estanquinhos no Paul da Serra, a zona do Pico das Pedras em santana, a zona das Funduras em Machico e toda a extensa área do Poiso entre os concelhos de Machico e de Santa Cruz.

A instalação dos primeiros viveiros florestais também foi efetuada nesse período, tendo-se prolongado no tempo o Viveiro Florestal do Pico das Pedras, em santana, o Viveiro Florestal da Casa Velha, em Santo da Serra, o Viveiro Florestal da Santa, em porto moniz e o Viveiro Florestal dos Salões, em porto santo.

Em muitos dos projetos desenvolvidos, Eduardo Campos Andrada providenciou a vinda de técnicos especialistas em diversas temáticas para ajudarem a desenvolvê-lo. É exemplo disso o mosaico florestal existente no Sítio das Carreiras, no Perímetro Florestal das Serras do Poiso, nas imediações do portão sul do Montado do Pereiro; as espécies florestais ali plantadas, constituídas por carvalhos (quercus rubra), faias europeias (Fagus sylvatica), pinheiros insignes (Pinus radiata), castanheiros (Castanea sativa) e zonas de pastagem, foram projetadas pelo Arquiteto Paisagístico Fernando Pessoa que passou pela Madeira a convite de Campos de Andrada, demonstrando a preocupação estética dos projetos de arborização levados a cabo pelos Serviços Florestais. Outro exemplo é o projeto do Posto Aquícola do Ribeiro Frio, elaborado por vários técnicos especialistas da então Direção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, para povoar as principais ribeiras da ilha da Madeira com a truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss). As ribeiras da ilha da Madeira eram povoadas exclusivamente pela enguia ou eiró (Anguilla anguilla), que vive sobretudo no terço inferior dessas ribeiras, mas, dadas as características favoráveis das águas, rapidamente Eduardo de Campos Andrada se apercebeu das potencialidades da introdução da truta nas mesmas.

O Posto Aquícola do Ribeiro Frio foi construído entre 1957 e 1959 e os primeiros ensaios da criação destes salmonídeos (trutas) foram efetuados com ovos trazidos da Estação Aquícola do Rio Ave.

Na área da silvo pastorícia, foi responsável pela construção dos ovis e das casas de apoio que alojaram pastores e as respetivas famílias, provenientes da zona da Serra da Estrela, que tinham por missão desenvolver todas as potencialidades relacionadas com esta atividade, não só na recolha da lã das ovelhas, mas também na arte de fazer queijos, de forma a ensinar à população local este ofício, na tentativa de rentabilizar esta produção, que era pouco lucrativa e pouco disciplinada.

No porto santo, os projetos de correção torrencial foram realizados pelo Engenheiro Silvicultor Mário dos Santos Gallo que era o Chefe do Gabinete de Estudos de Obras de Correção Torrencial da Direção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas.

Eduardo de Campos Andrada impôs também legislação sobre proteção dos arvoredos. Neste campo, o princípio instituído com a legislação criada em 1960 manteve-se praticamente intacto até ao princípio do c. XXI, pois continuou a ser um instrumento válido.

Eduardo de Campos Andrada era um amante da fotografia, tendo fotografado paisagens e aspetos da Cultura madeirense verdadeiramente inéditos, como sejam as fotografias do planalto do Paul da Serra, e deixado um vasto espólio de fotografias da ilha do porto santo e da ilha da Madeira. Parte deste espólio foi depositado na Direção Regional de Florestas e Conservação da natureza; outra parte do mesmo espólio foi comprada por João Adriano Ribeiro a um familiar de Campos Andrada após a morte deste.

Eduardo de Campos Andrada faleceu em junho 2004 na zona de Cascais, onde residia.

Obras de Eduardo de Campos Andrada: Repovoamento Florestal do Arquipélago da Madeira (1990).

Bibliog.: impressa: PEREIRA, Eduardo C. N., Ilhas de Zargo, 4.ª ed., vol. 1, Funchal, Câmara Municipal do Funchal, 1989; comunicação oral: BARRETO, Remídio António Gil Spínola [comunicação pessoal], 1914; FIGUEIRA, Paula Marília [comunicação pessoal], 1914.

Manuel António Marques Madama de Sousa Filipe

(atualizado a 21.07.2016)

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