antígua

04 Dec 2020 por "Alberto Vieira"
Madeira Global

É uma das chamadas Antilhas pequenas do mar do Caribe, com 280 km², que integra o Estado de Antígua e Barbuda, composto por estas ilhas, 6 ilhotas (Great Bird, Green, Guinea, Long, Maiden e York) e outras 29 não habitadas, tendo como capital Saint John’s, na Antígua. Em termos geográficos, esta ilha é muito parecida com a Madeira, tendo começado, em 1684, por ser uma área de produção de cana-de-açúcar, por iniciativa dos Ingleses, situação que rapidamente terminou, devido à limitação e ao condicionamento do território.

A ilha de Antígua, conhecida como Wa’ladli pelos Arawaks, foi encontrada em 1493 por Cristóvão Colombo, que lhe deu o nome de ilha de Santa María La Antigua. Foi ocupada pelos Ingleses de Saint Kitts, em 1632. A partir do séc. XVII, adquiriu importância no conjunto das Antilhas, sendo considerada a porta de entrada no arquipélago.

A ligação de Antígua à Madeira começa com a ocupação inglesa, no séc. XVII. A partir desta centúria, desenvolveu-se contactos estreitos com as Antilhas. As colónias inglesas das Antilhas e da América do Norte afirmaram-se como espaços consumidores do vinho. Note-se que, a partir de finais do séc. XVII, os portos de pernambuco, Rio de Janeiro e Baía juntaram-se aos de Nova Inglaterra, Nova Iorque, Pensilvânia, Virgínia, Maryland, Bermuda, Barbados, Jamaica, Antígua e Curaçau como recetores do vinho madeirense. Para a época entre 1695 e 1714, dispomos de informação abundante, nas cartas de W. Bolton, sobre o comércio de vinho da Madeira com as Antilhas Inglesas. Assim, regista-se, em 1699, o envio de 270 pipas e, para o período de 1701 a 1714, a chegada de 780 pipas; de 1791 a 1795, temos notícia do envio de 647 pipas. Na primeira metade do séc. XIX, entre 1823 e 1850, são notificadas 298 pipas de vinho madeirense.

Regista-se depois, ainda no séc. XIX, a primeira grande leva da emigração madeirense para o referido arquipélago, que teve como principal motivo a questão religiosa em torno de Robert Reid Kalley. Este pastor protestante e distinto médico, que se fixara na Madeira, em 1838, com o intuito de encontrar cura para a tuberculose de sua mulher, tornou-se o principal chefe do movimento anglicano, arrastando consigo as gentes de Santa Cruz e de Machico. As hostilidades, originadas pelo clero tradicional do Funchal, levaram à sua saída forçada em 1846, acompanhado de mais de 2000 madeirenses: primeiro, dirigiram-se às Antilhas menores (Trinidad, Antígua e Saint Kitts) e daí alguns passaram ao Illinois, na América do Norte.

A segunda fase, mais importante do que a primeira, surge a partir de 1847, resultando da grave crise vitivinícola. Perdidas as esperanças de uma imediata recuperação do mercado do vinho, os colonos ou lavradores deixaram-se aliciar por propostas enganosas, de trabalho e bem-estar, nas colónias britânicas.

Na déc. de 1850, uma vez que estava irremediavelmente perdida esta fonte única de trabalho, o madeirense só tinha como alternativa a emigração. As gentes do Norte abandonaram as terras e as suas habitações, dirigindo-se para a cidade, onde esperavam uma oportunidade para o salto até às promissoras Antilhas. Assim, para o período de 1846 a 1851, regista-se a saída de pelo menos 7213 madeirenses, 610 dos quais com destino a Antígua.

A partir de 1854, parece ter acontecido uma paragem no movimento, nomeadamente de clandestinos, mercê de uma melhoria das condições de vida na Ilha, propiciada por iniciativa das autoridades. Mas o interesse em sair não acaba e, nesse mesmo ano, temos notícia da saída de um número significativo de emigrantes para Antígua, situação que se repete em 1857, 1861 e 1864. Neste último ano, regista-se a saída, em fevereiro, de 6 adultos e 12 crianças. Mas, paulatinamente, este destino perde importância, em favor de outros nas Caraíbas e do continente americano. Todavia, em 1912, a imprensa funchalense ainda anunciava as ligações dos vapores da The East Asiatic Company Ltd. para Saint Thomas, Barbados, Trinidad, demerara, Suriname, Dominica, Saint Eustatius, Saint Kitts, Antígua, Saint Lucia, Saint Vincent e Grenade, mas este era já um destino perdido para os madeirenses, que procuravam mais o Brasil ou a América do Norte.

 

 

Alberto Vieira

(atualizado a 14.07.2017)

Bibliog.: AUTHORITY OF THE LEGISLATURE OF ANTIGUA, The Laws of the Island of Antigua. Consisting of the Acts of the Leeward Islands, Commencing 8. Novem. 1690 Ending 21. April 1798, and the Acts of Antigua Commencing 10. April 1668, Ending 7. May 1804. With Prefixed to Each Volume, Analytical Tables of the Titles of the Acts, and at the End of the Whole, A Copious Digested Index, 2 vols., London, Samuel Bagster, 1805; FERREIRA, Jo-Anne Sharon, “Madeiran Portuguese migration to Guyana, St. Vincent, Antigua and Trinidad: A comparative overview”, Portuguese Studies Review, vol. 14, n.º 2, 2006-2007, pp. 63-85; HYAMSON, Albert M., The Sephardim of England. A History of the Spanish and Portuguese Jewish Community, 1492-1951, London, Methuen and Co. Ltd., 1951; MESTIER, J. J. E., e TURNER, P. E., “Sugar cane agriculture in St. Kitts. British West Indies sugar technologists”, in Proceedings, 1957 Meeting, Antigua, s.n., 1957, pp. 80-84; RIBEIRO, João Adriano, A Emigração para St. Vicente e as Antilhas, Funchal, Calcamar, 2006; SHERIDAN, R. B., “Letters from a sugar plantation in Antigua, 1739-1758”, Agricultural History, vol. 31, n.º 3, 1957, pp. 3-23; SIMON, André Louis (ed.), The Bolton Letters. The Letters of An English Merchant in Madeira: 1695-1715, 2 vols., London, T. Werner Laurie, 1928; VIEIRA, Alberto, A Vinha e o Vinho na História da Madeira. Séculos XV a XX, Funchal, CEHA, 2003; Id., “Do lugar, da cidade e do porto do Funchal”, Anuário CEHA, n.º 5, 2013, pp. 10-177.

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