cadet, maria rita colaço chiappe
Maria Rita Colaço Chiappe Cadet (1836-1885) foi provavelmente adotada por Maria Madalena Chiappe Colaço e Barnabé Martins de Pancorvo; com efeito, a futura escritora, poetisa e dramaturga foi exposta na Roda da Santa Casa de Lisboa em 1836. Foi professora primária, ensinou francês, dirigiu um colégio feminino na capital e foi gerente da editora Lallement et Frères. Casou-se com João Baptista dos Santos Cadet, em 1857.
Antes do casamento, já tinha publicado diversas composições poéticas, tendo contribuído, entre outros, em 1852, para o jornal A Beneficência, dirigido por Antónia Pusich. Dedicou-se à tradução e à colaboração em diversos periódicos, entre os quais O Almanaque de Senhoras e o Jornal das Damas. Fez também letras para composições musicais, como a que escreveu para a banda militar do mestre de música de D. Luís, Manoel Inocêncio Liberato, incluída no Cancioneiro de Músicas Populares (NEVES, 1895, 166-167). A preocupação com a educação leva-a a publicar, em 1880, Flores da Infância, Contos e Poesias Morais Dedicados à Mocidade Portuguesa, obra que foi considerada de utilidade para uso das escolas em Portugal e no Brasil. As suas obras no campo da literatura infantil, quer contos, quer peças de teatro, fazem da escritora uma das precursoras da literatura infanto-juvenil moderna. Uma delas, O Lunch na Quinta – Comédia em Um Acto, publicada em 1884, é dedicada à viscondessa da Ribeira Brava, D. Joana Gil de Borja de Meneses e Macedo, que dirigiu na Madeira a Delegação da Cruzada das Mulheres, e aos seus filhos.
A escritora tem uma ligação profunda à Madeira, onde viveu de 1870 a 1875, tendo privado com a viscondessa das Nogueiras, D. Matilde Isabel de santana e Vasconcelos moniz de Betencourt, autora de Diálogos entre Uma Avó e Sua Neta – para Uso das Creanças (1862), adotado pelo Conselho de Instrução a nível nacional, poetisa reconhecida e intelectual atenta à importância da educação feminina. O convívio com a viscondessa, de quem era amiga e a quem dedica, em 1870, a poesia “Horas Vespertinas – No Album da Excellentissima Senhora Viscondessa das Nogueiras (Meditação)” (provavelmente escrita no álbum de poesias que a viscondessa teria e no qual recolheria as suas composições e as das amigas), publicado em Sorrisos e Lágrimas, teve certamente grande influência no desenvolvimento intelectual e artístico de Maria Rita Chiappe Cadet. De facto, a partir do seu regresso a Lisboa, vai dedicar-se de forma continuada à escrita para crianças, aliando o intuito pedagógico ao incentivo à leitura e à sua fruição.
A Ilha e a sua paisagem marcam a autora de forma profunda, como demonstra no poema “Canto à Ilha da Madeira – Ao Chegar”: a Madeira aparece no horizonte como uma “náiade encantada” (CADET, 1875, 75), formosa, verde, florida, e, como a ilha dos amores, enfeitiça quem a vê. Numa verdadeira paródia do poema do brasileiro Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, que refere os primores do Brasil e o canto do sabiá, pedindo a Deus que não o leve antes de voltar para o Brasil, Cadet escreve: “As aves que ouço em torno/tem mais suave encanto,/tem notas como um pranto/[…]//[…] Oh! Eu quisera sempre,/n’esta ilha, sozinha,/o cantar da avezinha/ouvir até morrer.” (Id., Ibid., 76). A poetisa repete, à semelhança dos autores continentais e estrangeiros, o topos edénico da Madeira e o motivo do deslumbre, ligando, igualmente, a Ilha, pela sua natureza, à aproximação privilegiada do indivíduo à Providência e à fé.
O poema “Adeus à Madeira” (Id., Ibid., 114-115), de 1871, revela o carinho que, entretanto, desenvolvera pela Ilha, tratada de forma personificada como uma companheira, e o medo de não voltar. Deixara no Funchal também várias amigas, a quem dedicou poemas na imprensa periódica, incluídos depois em Sorrisos e Lágrimas, como Maria J. Morão Pinheiro e Teresa da Cunha Menezes.
Na Madeira, contribuiu para a imprensa periódica, como é o caso de O Direito, com diversas composições poéticas, como as elencadas por Laureano de Macedo (MACEDO, 2013, 369): “Que pensas?” (11 fev. 1871); “Charité” (18 fev. 1871); “O canto do segador” (25 fev. 1871); “Saudades” (04 mar. 1871); “Resigna-te” (18 mar. 1871). Participa, igualmente, em recitais de poesia, como atesta o poema “Caridade”, publicado em Sorrisos e Lágrimas (CADET, 1875, 94-99), com a indicação de que foi recitado num concerto a favor do Asilo de Mendicidade da cidade do Funchal.
Obras de Maria Rita Chiappe Cadet: Hymno de S.M. El Rei D. Luiz I: Composto para a Sua Acclamação poesia de D. Maria Rita Chiappe Cadet – Musica de Manoel Innocencio Liberato dos Santos, Mestre de Sua Magestade (1862); Versos (1870); “Que pensas?” (1871); “Charité” (1871); “O canto do segador” (1871); “Saudades” (1871); “Resigna-te” (1871); Sorrisos e Lágrimas. Poesias de D. Maria Rita Chiappe Cadet (1875); Flores da Infância. Contos e Poesias Moraes Dedicados a Mocidade Portuguesa (1880); Caprichos do Luizinho (1883); Contos de Mamã (1883); A Mascarada Infantil (1883); A Boneca (1884); As Fadas Improvisadas (1884); O Lunch na Quinta (1884); O Primeiro Baile (1884); O Segredo de Helena (1884); A Preguiça e a Mentira (1885); O Último Dia de Férias (1884).
Luísa Marinho Antunes Paolinelli
(atualizado a 27.10.2017)
Bibliog.: impressa: CADET, Rita Chiappe, Sorrisos e Lagrimas: Poesias de D. Maria Rita Chiappe Cadet, Lisboa, Typographia Lallemand Frères, 1875; MACEDO, Laureano, Da Voz à Pluma - Escritoras e Património Documental de Autoria Feminina de Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde do Século XVI até ao Século XX – Guia Biobibliográfico, Ribeira Brava, ed. do Autor, 2013; NEVES, César, e CAMPOS, Gualdino de, Cancioneiro de Músicas Populares Contendo Letra e Música de Canções, Serenatas, Chulas, Danças, Descantes, Cantigas dos Campos e das Ruas, Fados, Romances, Hymnos Nacionaes, Cantos Patrióticos, Cânticos Religiosos de Origem Popular, Cânticos Litúrgicos Popularisados, Canções Políticas, Cantilenas, Cantos Marítimos, etc. e Cançonetas Estrangeiras Vulgarisadas em Portugal, vol. 2, Porto, César, Campos e cia., 1895; digital: CASTRO, Andreia, “Maria Rita Chiappe Cadet” in Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas/Portuguese Association of Women in Science: http://debategraph.org/Details.aspx?nid=425342 (acedido a 6 mar. 2017).