conferências de s. vicente de paulo

23 Dec 2016 por "Carlos"

As Conferências de S. Vicente de Paulo, ou Conferências Vicentinas, designação comum dada à sociedade de S. Vicente de Paulo, foram fundadas em frança pelo jovem universitário Frederico Ozanam e o seu grupo de amigos, em abril de 1833. Constituíram-se como associação privada de fiéis com o objetivo de trabalhar na santificação pessoal dos seus membros, praticando a caridade cristã junto dos pobres e de todos os marginalizados, e promovendo a justiça e a reconciliação social. Chegaram a Portugal em 1859. Foi na igreja de S. Luís, rei de frança, em Lisboa, que elementos da comunidade francesa da capital, a que se associaram alguns portugueses, fundaram, no dia 27 de setembro de 1859, a primeira conferência vicentina, sob o impulso e a direção espiritual do P.e Emílio Miel, da Congregação da Missão. Designada a princípio como Conferência de Lisboa, passou, mais tarde, a ser conhecida como Conferência de S. Luís.

A segunda conferência vicentina nasceu no Funchal. Na sua origem esteve o cidadão francês M. Tiberge, membro das conferências vicentinas no seu país natal, que tinha aportado à ilha da Madeira na companhia da família, com o intuito de aí passar o inverno. As muitas carências que encontrou na população local levaram-no a estabelecer contactos destinados a criar nessa cidade uma conferência que haveria de contribuir para mitigar a pobreza de muitos dos seus habitantes. A ideia foi bem acolhida pelos padres do hospício D. Maria Amélia, também eles filhos espirituais de S. Vicente de Paulo, e por outros responsáveis religiosos do Funchal. O ato inaugural realizou-se no dia 10 de janeiro de 1875, na sede da Associação Católica, situada nas imediações da igreja paroquial de S. Pedro. Tinha como objetivo, em conformidade com o espírito vicentino, “conciliar o relativo bem-estar do corpo com a prática necessária e eficaz dos preceitos evangélicos” (CÔRTE-REAL, I, 2000, 146).

Os primeiros tempos de vida da conferência não foram fáceis. Mas o acompanhamento e a dinamização espiritual que lhe deram os padres vicentinos do hospício D. Maria Amélia muito contribuíram para a sua continuidade e desenvolvimento. Foi particularmente meritório o estímulo do P.e Ernesto Schmitz, assistente espiritual da conferência a partir de 1883.

Só mais de três décadas depois surgiu a segunda conferência na Madeira. Foi a Conferência de Santa Maria Maior, fundada no dia 19 de julho de 1908, também no Funchal. As duas conferências contavam com meia centena de membros. Graças ao contributo das Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo e dos padres da Congregação da Missão que trabalhavam no hospício Princesa D. Maria Amélia, bem como do clero diocesano e dos próprios confrades, as duas conferências mantiveram-se muito ativas na assistência a mais de uma centena de famílias. O exemplo da prática da caridade atraiu a adesão e o apoio de outras instituições, como a Benemérita Associação das Damas Estrangeiras, presidida por Mrs. Boyle, mulher do ex-cônsul de sua majestade britânica. Pouco depois, no dia 11 de fevereiro de 1909, constituía-se o conselho particular que unia as duas conferências do Funchal.

Embora a implantação da república, em outubro de 1910, não augurasse facilidades e, menos ainda, qualquer forma de estímulo para a organização de associações religiosas, será em plena vigência do regime republicano que as conferências vicentinas vão conhecer verdadeira e vertiginosa expansão na Madeira. Só entre 1910 e 1915, foram criadas mais 18 conferências. Logo em 1911, foi fundada a Conferência de Santa Luzia. Em 1913, foram fundadas sete conferências: de S. Martinho; S. Gonçalo; S. Salvador, em Santa Cruz; S.to António, em Santo António; N. S.ª da Conceição, no Machico, S. Roque, em São Roque; e N. S.ª do Monte. Em 1914, foram fundadas as conferências de S. Sebastião, em câmara de lobos; S.ta Maria Madalena, em porto moniz; S. Brás, no Arco da Calheta; e N. S.ª da Ajuda, em Serra de Água. Em 1916, foram criadas mais três conferências: S. Lourenço, na Camacha; N. S.ª da Cruz, no Estreito de câmara de lobos; e S. Brás, no Campanário. Em 1917, as 23 conferências madeirenses mereceram, no relatório internacional da sociedade de S. Vicente de Paulo, uma referência que realçava nelas “o fervor, a caridade e o espírito de devoção e piedade que assinalam a excelente população da Ilha” (CÔRTE-REAL, I, 2000, 350).

A primeira conferência feminina na Madeira foi a de Sta Luzia, fundada no dia 30 de julho de 1923. Para essa fundação muito contribuiu o vicentino Dr. William Edward Clode. Como primeira presidente foi nomeada Alda de Castro, que ocupou o cargo durante mais de quatro décadas. O P.e Manuel da Silveira, sacerdote lazarista do hospício, recebeu então a qualificação de seu presidente de honra. Até 1948, foram fundadas mais 22 conferências femininas. Como coroamento desta notável expansão da presença da ação caritativa das vicentinas madeirenses, foi instituído, no dia 15 de dezembro desse ano de 1948, o conselho central feminino do Funchal.

Por iniciativa do conselho central, o primeiro Dia Vicentino realizou-se no ano de 1943; foi seu presidente Romano santa clara Gomes. O local escolhido foi o seminário do Funchal. Participaram no encontro mais de 300 vicentinos, em sessão presidida pelo P.e José Dias de Azevedo, sacerdote da Congregação da Missão. Vários oradores, entre os quais Agostinho Cardoso e William Clode, dissertaram sobre os métodos e fins da obra vicentina, com vista ao pobre, e sobre o testemunho da fé através do amor do próximo.

A enorme difusão das conferências neste período deveu-se, em grande parte, ao dinamismo das conferências da Escola Superior do Magistério e do seminário, que se tornaram verdadeiros alfobres de disseminação do espírito vicentino. Em 1958, havia na Madeira 104 conferências, 63 masculinas e 41 femininas. Desse total, 10 eram conferências de jovens. A 4 de maio desse ano, celebrou-se na Madeira o 13.º Dia Vicentino, que decorreu no Liceu Nacional do Funchal, com animada participação e renovado compromisso de apostolado vicentino. Primava entre todas a Conferência da Ponta do Sol, cujo patronato, com a sua vasta obra social, era considerado “a obra especial da sociedade de S. Vicente de Paulo em Portugal de maior volume” (CÔRTE-REAL II, 2000, 444-446).

As conferências mobilizavam os seus sócios para as atividades propostas nos estatutos, tais como visitas aos pobres, às cadeias e aos hospitais e cooperação em obras de assistência social, sem descurar a formação religiosa e o aperfeiçoamento espiritual dos seus membros, e ainda a participação em iniciativas de base paroquial como, entre outras, a catequese. As conferências contaram com a valiosa ajuda de numerosos benfeitores na prossecução dos fins caritativos e de promoção da justiça social próprios da sociedade de S. Vicente de Paulo.

João Francisco de Almada e Agostinho Cardoso, que foram membros do conselho central das Conferências de S. Vicente de Paulo da Madeira, deram um contributo importante a esta causa. Refira-se também o relevante contributo para a formação do espírito vicentino prestado pelos livros sobre Frederico Ozanam e S. Vicente de Paulo da autoria de Alberto Figueira Gomes, secretário do conselho central do Funchal. O número de conferências e de pessoas nelas envolvidas variou no decurso dos tempos, refletindo contingências diversas de ordem institucional e pessoal; em 2013, havia 39 conferências vicentinas na Madeira e porto santo.

Bibliog.: impressa: Anuário Católico de Portugal, Lisboa/Braga, Secretariado Geral do Episcopado e Apostolado da Oração, vários anos; CARDOSO, Artur Lopes, sociedade de S. Vicente de Paulo 150 Anos em Portugal, Porto, Conselho Central do Porto, 2009; CÔRTE-REAL, Maria Angélica Pamplona, História da sociedade de S. Vicente de Paulo em Portugal, 3 vols., Lisboa, s.n., 2000; SILVA, P.e Fernando Augusto da e MENEZES, Carlos Azevedo de, “Conferências de S. Vicente de Paulo”, in Elucidário Madeirense, 1.º vol., Funchal, SRTC/DRAC, 1998, pp. 298-299.

Luís Machado de Abreu

(atualizado a 08.07.2016)

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