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associação dos amigos da arte inclusiva - dançando com a diferença

A Associação dos Amigos da Arte Inclusiva – Dançando com a Diferença (à frente referida como AAAIDD) nasce em maio de 2007, tendo como objetivo a promoção e utilização das diferentes linguagens artísticas. Estas atividades constituem-se como elemento de inclusão social das pessoas com deficiência e outras, e podem estar inseridas nos âmbitos artístico, educacional, terapêutico e/ou de apoio a estes processos. Surge no sentido de dar continuidade ao projeto Dançando com a Diferença, que teve o seu início em 2001, como um projeto piloto, na então Direção Regional de Educação Especial e Reabilitação (DREER), da Secretaria Regional de Educação e Cultura (SREC), órgãos do Governo Regional da Madeira. Este projeto, da responsabilidade de Henrique Amoedo, pretendia a implementação da atividade de Dança Inclusiva, onde os trabalhos incluem [simultaneamente] pessoas com e sem deficiência, onde os focos terapêuticos e educacionais não são desprezados, mas a ênfase encontra-se, em toda a elaboração e criação artística. Todo este processo deve levar em consideração a possibilidade de mudança da imagem social e inclusão destas pessoas na sociedade, através da arte de dançar, uma necessidade premente em vários países onde este tipo de trabalho existe. (AMOEDO, 2002: 21) [caption id="attachment_5280" align="aligncenter" width="448"] Associação dos Amigos da Arte Inclusiva - foto de Júlio Silva Castro[/caption] Através da implementação do referido projeto, surgiu também o Grupo Dançando com a Diferença (à frente referido como GDD), comprovando a sua eficiência e disseminando o conceito de Dança Inclusiva, primeiro na RAM, depois no continente português e, até 2014, em diferentes países europeus e da América do Sul. Mesmo, tendo como foco primordial as atividades artísticas, os aspetos educativos e de apoio terapêutico foram sempre relevados, em todas as ações promovidas por esta entidade. O estabelecimento e manutenção de diferentes parcerias, com instituições públicas e empresas privadas, que desenvolvem atividades nos mais diferentes ramos, destacando-se a hotelaria, através do Grupo Porto Bay, as artes performativas, por intermédio da Associação Cultural Companhia Clara Andermatt e do Teatro Viriato, e o atendimento às pessoas com deficiência, com o “Grupo em Movimento” da Associação de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental - APPACDM de Ponte de Lima, são alguns exemplos de entidades que fizeram com que a AAAIDD conseguisse alargar os seus campos de ação e número de pessoas atendidas, no âmbito das suas diferentes atividades. Com o Grupo Dançando com a Diferença (GDD), a AAAIDD apresentou os seus espetáculos nos mais importantes teatros portugueses, como o Teatro Camões, o Teatro Municipal São Luiz e o Teatro Viriato. Internacionalmente verifica-se o mesmo, com a integração dos seus espetáculos em programações regulares de diferentes teatros e a participação em festivais. Tanto os segmentados, aqueles que direcionam a sua programação dando especial relevo à participação dos grupos inclusivos, como aqueles formados somente por pessoas com deficiência, para além de festivais gerais, onde não há este tipo de preocupação na definição das suas programações. Até o final do ano de 2014 realizou, no estrangeiro, espetáculos em mais de 50 cidades, de 17 países diferentes. Tem no seu repertório de 18 coreografias, criações dos mais importantes coreógrafos da contemporaneidade, onde se destacam de Portugal, Clara Andermatt, Elisabete Monteiro, Paulo Ribeiro, Rui Horta e Carolina Teixeira, Henrique Rodovalho e Ivonice Satie, do Brasil. Relativamente aos coreógrafos portugueses é importante destacar-se o pioneirismo do Grupo Dançando com a Diferença (GDD), em convidá-los para criarem coreografias para um elenco, que integrava pessoas com diferentes tipos de deficiência algo, que mesmo com toda a experiência dos referidos criadores, nunca haviam experienciado. “Desmanchar o medo e confrontar os limites, os deles e os meus” foi uma das frases de Clara Andermatt, para definir a sua peça “Levanta os Braços como Antenas para o Céu”, de 2005, dançada até a atualidade pelo GDD e sendo a obra, entre as diversas criações da coreógrafa, que mais vezes foi apresentada e permanece, há mais tempo em programação, por uma companhia de dança. Em 2012, “Dez Mil Seres” foi o resultado do segundo encontro, para uma criação, da coreógrafa com “os dançando”. [...] A declaração do desejo é um direito que habitualmente reconhecemos uns aos outros. A proposta de Rui Horta para o Grupo Dançando com a Diferença devolve-nos esse desejo e leva-nos a reflectir até que ponto estamos preparados para aceitar os desejos dos outros corpos. [...] referiu Daniel Tércio, em 2008, no texto de apresentação, na folha de sala, da criação de Rui Horta. A “solidez precária das certezas temporárias”, a exploração das dualidades e dos contrastes além da “noção de um ‘incerto exato’, como a própria vida - efémera, sublime e vulnerável. Por um pequeno nada tudo muda, por um breve instante, um eterno retorno ao mesmo” estiveram na base do processo de criação artística de Elisabete Monteiro, que resultou em “Tempus Incertus”, uma criação de 2009. Dez anos depois de iniciar a sua trajetória artística, o Grupo Dançando com a Diferença (GDD) atinge a sua maioridade artística, com a criação de “Desafinado”. Num trabalho completo, onde música e dança estão completamente integradas, o coreógrafo Paulo Ribeiro, com a colaboração de Leonor Keil e direção musical dos Drumming Grupo de Percussão, com Miquel Bernat e António Serginho, teve a capacidade de explorar ao máximo as capacidades artístico-expressivas do elenco, que num momento ímpar de dedicação e entrega, responderam positivamente. Foi considerada pelo semanário Expresso como a segunda melhor coreografia apresentada em Portugal, no ano de 2011, escreveu Claudia Galhós. Para além das suas atividades no âmbito artístico, a AAAIDD tem colaborado e participado em diferentes ações de âmbito educacional (em Portugal e também no estrangeiro), com o objetivo de disseminar as suas boas práticas de inclusão, através da arte de dançar. Destacam-se as suas colaborações com a Universidade de Lisboa, através do curso de “Especialização em Dança em Contextos Educativos”, na Faculdade de Motricidade Humana, a colaboração e a supervisão artística ao grupo “Em Movimento”, do Centro de Atividades Ocupacionais de Ponte de Lima da Associação de Pais e Amigos dos Cidadãos com Deficiência Mental – APPACDM, os diversos workshops, palestras, conferências e artigos científicos e de opinião publicados, o acompanhamento e orientação de trabalhos académicos em todos os níveis de ensino através do Centro de Documentação e Investigação (CDI) gerido por esta entidade além do Dançando com a Diferença – ROAD, projeto que levará a experiência iniciada na Madeira a diferentes localidades do país e do estrangeiro, promovendo a criação de diferentes núcleos do Dançando com a Diferença. Viseu, numa iniciativa do Teatro Viriato, foi a primeira cidade do país a abarcar esta iniciativa, nos meses de outubro a dezembro de 2014. O desenvolvimento de projetos específicos, em parceria com diferentes instituições públicas ou privadas, nacionais e estrangeiras, também se reveste de grande importância para o desenvolvimento artístico dos membros do GDD e da consolidação nacional e internacional do conceito de Dança Inclusiva. Neste âmbito, destacam-se as criações de Henrique Amoedo, nomeadamente “GROTOX” (direção musical de Paulo Maria Rodrigues), para o festival “Ao Alcance de Todos” da Casa da Música (Porto), em 2009, “Máquina Letal” (2011) em parceria com a Fundación Psico Ballet Maite León (de Madrid) e, por fim, “ENDLESS”, com estreia em maio de 2012, um projeto de aprendizagem ao longo da vida, com a duração de dois anos, com parceiros da Alemanha, da Lituânia, da Polónia e da Estónia. A temporalidade do conceito de Dança Inclusiva, prevista desde a criação do mesmo, é algo em que continuamos a acreditar sendo este, também, um dos motivos da existência do Dançando com a Diferença, já que quando bailarinos com corpos diferentes forem aceites em todas as companhias de dança pelas suas qualidades artísticas e esta diferença não for mais alvo de tantos estudos, atitudes incrédulas e/ou de condescendência dúbia, pensamos, teremos cumprido o nosso papel na procura de uma real inclusão destas pessoas no universo da dança e nesse momento o termo Dança Inclusiva poderá ser desprezado, ficando somente para os registos históricos – sintoma de plena aceitação da unicidade na diversidade, pois de bailarinos se trata, que dançam com o corpo e não “apesar do corpo”. (AMOEDO, 2002: 124). Pretende-se, portanto, que num futuro próximo, a Inclusão pela Arte tenha o seu reconhecimento, para além do que acontece atualmente, ou seja, que não se fique apenas como uma estratégia de intervenção, mas que os seus resultados sejam valorizados artisticamente de tal forma que os seus praticantes, com ou sem deficiência, sejam considerados unicamente ARTISTAS. Bibliog.: AMOEDO, Henrique, Dança Inclusiva em contexto artístico – Análise de duas companhias. Dissertação de Mestrado não publicada, Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de Motricidade Humana, Lisboa, 2002; Arquivo da Associação dos Amigos da Arte Inclusiva – Dançando com a Diferença. Henrique Amoedo (atualizado a 15.07.2016)

associação dos amigos do conservatório de música da madeira

A AACMM, instituição de utilidade pública sem fins lucrativos, foi fundada a 25 de junho de 1993. Teve como seus fundadores João Carlos Abreu, secretário regional de turismo e cultura, a escultora Manuela Aranha, diretora da Direção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC), Inês Clode, presidente da Comissão Instaladora do CMM, Ian Fraser, John Ranalow, Rui Sá, Johnny Bjelkaroy e Pedro Zamora. Um dos principais objetivos da criação da associação foi o de preencher uma das lacunas da vida cultural da Região, proporcionando concertos com regularidade e promovendo o gosto pela música. Outro, não menos importante, desde o início, foi o de encorajar o interesse pelo estudo da música, apoiando estudantes jovens e talentosos nos seus estudos na Madeira e no exterior. A organização de concertos com programação criteriosa visava ajudar, não só a desenvolver o gosto pela música erudita, como a angariar fundos para ajuda financeira. Qualquer lucro obtido nas atividades da AACMM seria destinado, exclusivamente, ao apoio de músicos jovens e talentosos da Região. O primeiro concerto da AACMM teve lugar no dia 19 de dezembro de 1993 no Cine Casino, em colaboração com a então Orquestra de Câmara da Madeira (OCM), dirigida pelo maestro húngaro Zoltán Sánta e tendo o pianista Robert Andres como solista. A colaboração com a referida orquestra teve continuidade no concerto comemorativo do décimo aniversário da AACMM, em que a OCM foi representada pelo seu agrupamento camerístico, Madeira Camerata, e no concerto do vigésimo aniversário, em que participou a orquestra completa dirigida pelo maestro Pedro Neves e com o pianista italiano Antonio di Cristofano como solista. O primeiro diretor artístico e presidente da direção foi o Prof. Pedro Zamora. Desde os finais de 1997, o presidente da direção e diretor artístico foi o Dr. Robert Andres em colaboração com grande parte dos elementos dos corpos sociais empossados na altura. A associação tem o apoio pontual do Governo Regional da Madeira (GRM), através da DRAC, tendo sido, em 2003 e 2013, assinado um protocolo de dinamização cultural e, em 2006 e 2012, um contrato-programa de idêntico cariz. A 25 de maio de 2006, a AACMM foi declarada uma instituição de utilidade pública pelo GRM (resolução n.º 654/2006). Os apoios e a declaração representam, como inicialmente se propôs, um sinal de confiança na excelência da programação e de contribuição para o panorama cultural da RAM. Até ao fim de 2013, a AACMM apresentou 226 concertos, quase todos com uma programação diferente, o que representa um caso único no panorama musical da Região. O conceito de programação, que se distingue nesse panorama, foi desenvolvido ao longo da sua existência e incide, sobretudo, na música de câmara até ao quinteto e com a utilização do piano. Consequentemente, o palco mais utilizado foi sempre o do Teatro Municipal Baltazar Dias. Nos últimos anos, devido ao declínio das condições globais socioeconómicas, esta programação contemplou uma maior presença de intérpretes ligados à Região, o que veio reforçar uma das vertentes principais da política de programação da AACMM: dar destaque a jovens músicos cuja educação musical se encontra, inicialmente, ligada à Região. Na totalidade, cerca de dois terços dos concertos realizados tiveram como protagonistas intérpretes estrangeiros. Nestes concertos, a associação tem contado com o contributo de alguns nomes ilustres do panorama musical nacional, europeu e mundial: os pianistas Pascal Rogé, Artur Pizarro, Victorino d’Almeida, Martino Tirimo, Peter Katin, Leonid Brumberg, Naum Shtarkman, Balázs Szokolay, Martina Filjak, os violinistas Ilya Grubert, Grigori Zhislin, Zakhar Bron, os flautistas István Matuz e Zoltán Gyöngyössy, a cantora Marie McLaughlin, o trompista Radovan Vlatković, o tubista Sérgio Carolino, os guitarristas Alirio Díaz e Dejan Ivanović e o trio de guitarras de Zagreb. Destacamos, igualmente, os seguintes projetos: a apresentação integral das sonatas para piano de Beethoven, pelo pianista Artur Pizarro, que decorreu no âmbito da temporada de 2004/2005; a realização de quatro concertos com algumas das mais conhecidas obras para piano de Mozart, interpretadas pelo pianista Martino Tirimo, em 2006 e a apresentação integral das sonatas para violino e piano de Beethoven, por João Pedro Cunha e António Rosado. Toda a temporada de 2008 foi integrada nas comemorações dos 500 anos da cidade do Funchal. Em 2010 e 2011, decorreu o ciclo integral de obras para piano de Chopin, em nove concertos, interpretadas por Artur Pizarro. Em novembro de 2011, o Festival Madeira Liszt teve cinco concertos e vários conteúdos cinemáticos e gastronómicos associados. Estes ciclos contaram sempre com o apoio da Câmara Municipal do Funchal. A constante e intensa colaboração com o Conservatório - Escola Profissional das Artes da Madeira (CEPAM) foi reconhecida e formalizada pela assinatura de um protocolo de colaboração, em janeiro de 2006, entre a AACMM e a Secretaria Regional da Educação, no âmbito do qual a AACMM doou ao CEPAM uma coleção inédita de mais de 8.000 CD’s, 2.000 LP’s e centenas de VHS’s e DVD’s. Esta coleção, originalmente propriedade de um dos sócios-fundadores da AACMM, o Dr. John Ranalow, representa o núcleo da mediateca daquela instituição, tendo sido homenageado o doador quando atribuíram àquele espaço a nova designação de “Mediateca Memorial Dr. John V. A. Ranalow”. Em 2011, foi confiada à AACMM, pela DRAC, a condução e o acompanhamento do processo de restauro do piano de cauda Bechstein, propriedade daquela instituição, intervencionado numa empresa especializada em Inglaterra e posteriormente colocado no Teatro Municipal. Ao longo da década de 2004-2014, e apesar dos constrangimentos no financiamento das atividades culturais, a AACMM atribuiu mais de 15.000 € em bolsas e apoios, tendo apoiado vários músicos talentosos da Região, alguns dos quais já terminaram os seus estudos e, em alguns casos, regressaram à Região. Robert Andres (atualizado a 04.08.2016)

associação artística de educação pela arte na madeira

[caption id="attachment_1694" align="alignleft" width="211"] Fig. 1 – Logótipo da autoria de José Manuel Gomes[/caption] “Não surgimos ao acaso, mas de um acaso. Mas como de acaso nada surge, dizemos que surgimos por acaso. Estranha esta forma de intervir… surgindo. Fomos Trans(form)art, Projeto Artístico de Teatro-Dança. Apresentámo-nos diversas vezes para nos darmos a conhecer ao público. “Hoje” já não somos mais projeto artístico. Somos Associação Artística de Educação pela Arte na Madeira. Organizados e juridicamente creditados, propomo-nos trabalhar em prol daquilo em que acreditamos: [caption id="attachment_5945" align="alignright" width="300"] Nu, Corpo, AAEAM, autoria: TNDias.[/caption] Construir com arte, através da arte – trabalhar pela ARTE!” Este foi o pequeno texto que durante nove anos acompanhou os trabalhos da Associação Artística de Educação pela Arte na Madeira (AAEAM). Nasceu como associação a 19 de setembro de 2003, depois de um grupo de amigos, liderado por Teresa Norton, ter decidido organizar-se e formalizar um projeto que já tinha um curto percurso curricular. Este projeto, de seu nome Trans(form)art, passou a ser o rosto “transformado em performance” dos trabalhos que, no seio da organização, se iam desenvolvendo. Como Projeto Artístico de Teatro-Dança, propunha-se vivificar o desenvolvimento daquela expressão artística na RAM, constituindo-se em mais um contributo para reforçar o que já se fazia na Região em termos de teatro e de dança, afirmando-se pela especificidade da sua linha de exploração e ação. [caption id="attachment_1697" align="alignright" width="189"] Fig. 2 – Desenho da autoria de Helena Freitas; composição da autoria de Teresa Norton[/caption] No seu percurso, a AAEAM e o Trans(form)art empenharam-se em desenvolver atividades no âmbito da educação pela arte, relevando não só a complementaridade educacional que os seus projetos poderiam constituir, mas também a vontade de poder contribuir para a criação de novos públicos. Acreditando poder fazer parte de um processo de consciencialização da importância da educação artística na formação do indivíduo enquanto ser criativo, a AAEAM prosseguiu o seu trabalho na educação e reeducação através das diferentes expressões artísticas, ajudando a operar mudanças e contribuindo para o crescimento do sentido de responsabilidade, de autodisciplina, de humildade, de diálogo e de partilha. Muito embora a sua atividade tenha sido ampla na área da formação de performers e seus públicos, houve projetos sociais, como o Educação pela Arte no Estabelecimento Prisional do Funchal e os ateliers de expressões nos bairros Quinta Josefina e Quinta Falcão, que ajudaram a AAEAM a crescer. [caption id="attachment_5942" align="alignleft" width="300"] NU, Corpo, AAEAM, autoria: TNDias[/caption] O primeiro surgiu como complemento à atividade de educação dramática desenvolvida por Paula Erra no Estabelecimento Prisional do Funchal desde setembro de 1996. A existência de outras expressões artísticas para além do teatro possibilitou a participação de um maior número de utentes, contribuindo não só para que se imprimisse naquele espaço uma dinâmica cultural mais alargada, mas também para a reabilitação e reinserção de pessoas que em determinado período da vida se encontraram privadas de liberdade. O segundo aconteceu nos anos letivos de 2003-2004 e 2004-2005 com a colaboração da Escola Profissional Atlântico, com que a AAEAM tinha um protocolo de colaboração. Implementado no terreno como projeto-piloto e experimental, resultou de uma parceria entre esta associação e a Associação do Desenvolvimento Comunitário do Funchal. Teve como pressupostos demonstrar a importância que as manifestações artísticas e culturais podem assumir no quotidiano de cada indivíduo e que mudanças podem operar. Naquele contexto, educar pela arte não foi mais do que, numa estreita relação com o restante trabalho já desenvolvido, aplicar as ferramentas existentes. Ali também importou a vontade de cada um em ajudar o outro a crescer, contribuindo para um melhor mundo de ambos, passando a (re)conhecer o papel das artes nesse seu pequeno/grande espaço. [caption id="attachment_1700" align="alignright" width="300"] Fig. 3 –  Fotografia do espetáculo Nu Corpo, a Inquietação, com Ercília Pereira e Hélder Freitas. Ponta do Sol, 2008. Foto de Rúben Freitas.[/caption] Para se compreender a atividade desenvolvida por esta associação e a sua equipa, a par da especificidade dos projetos acima mencionados, importa reconhecer a sua atividade formativa, diária e em período pós-laboral, com aulas de barra-no-chão, expressão dramática e movimento, e os ateliers para os mais novos que se iniciaram com a parceria entre a AAEAM e o Madeira Magic (Grupo Pestana). Estes ateliers foram idealizados e conduzidos pelo associado honorário Renato Nóbrega. Da atividade da AAEAM foram depois rosto pelo Trans(form)art as produções que abaixo se enunciam, salvo as exceções mencionadas de coautorias e outras, com encenação de Paula Erra e coreografia de Teresa Norton, profissionais residentes: 2008: Pura Sensação, dueto apresentado na Festa de Encerramento do FUTUP (Torneio de Futebol das Ultra Periferias promovido pelo Estabelecimento Prisional do Funchal); Nu corpo, a inquietação, que estreou no auditório da RDP-Madeira, no Funchal, em abril. 2007: Nu corpo, a inquietação, apontamento apresentado em antestreia no Funchal, no Encerramento da V Feira das Vontades; Max Eternidades, coreografia apresentada na Festa de Abertura do Desporto Escolar, na Feira da Igualdade na Diversidade e na Festa de Encerramento do FUTUP. 2006: Try Outs, experimentações em forma de espetáculo em que às autoras se juntaram Paulo Oliveira e restantes elementos do Trans(form)art; Kalinka, coreografia para a Festa de Abertura do Desporto Escolar; Fragmentos, com dramaturgia de Paula Erra para textos de Laurinda Alves, encenação de Paula Erra e Teresa Norton e coreografia de Teresa Norton. 2005: Reencontro com… e 3+e3+e3, coreografias integradas na III Feira das Vontades (reposição adaptada); Dás-me Um Bombom?, adaptação do texto original de Fernando Mascarenhas Augusto, Andou um Anjo p’lo Cais, e conceção do espetáculo de Paula Erra, Paulo Oliveira e Teresa Norton, encenação de Paula Erra e Teresa Norton e coreografia de Teresa Norton, estreou em Machico; Reencontro com…, coreografia com participação especial de Dulce Pontes no auditório da RDP-Madeira; 3+e3+e3, coreografia de Teresa Norton e alunos da Escola Profissional Atlântico. 2004: Laços em Solidão, um trabalho em parceria com o grupo de teatro Experimentar Sentir do Estabelecimento Prisional do Funchal, sob a orientação de Paula Erra, baseado no texto É Urgente o Amor, de Luís Francisco Rebello; Dormir sem Adormecer, um trabalho em parceria com o grupo de teatro Experimentar Sentir, sob a orientação de Paula Erra, baseado no texto António Marinheiro de Bernardo Santareno, adaptado e encenado por Paula Erra, com movimento coreográfico de Teresa Norton; Contrariedades, coreografia para a II Feira das Vontades, reposta em 3+e3+e3; A Limpar é que a Gente se Entende, sketch humorístico da autoria de Avelina Macedo e Paula Erra; Amor a Portugal, coreografia para a Festa de Abertura do Desporto Escolar; Pierrot e Arlequim, Personagens de Teatro, texto de Almada Negreiros com adaptação e coreografia de Teresa Norton; Riscos, poemas e textos de Federico García Lorca e Gonçalo Tavares, encenação e coreografia de Teresa Norton. 2003: Nós, os Outros e Cada Um de Nós, coreografia de Teresa Norton para a I Feira das Vontades; A Verdade e o Sangue, poemas e textos de Federico García Lorca, encenação e coreografia de Teresa Norton; Verde que Te Quero Verde, poemas de Federico García Lorca e Carlos Mendonça, encenação de Teresa Norton e Carlos Mendonça. 2002: E se Um Dia Qualquer Nós Fôramos Assim, coreografia de Teresa Norton, participação no 3.º Festival de Arte, Criatividade e Recreação e no ERGTEATRO/2002; Sermos Gémeos, Seres Génios, adaptação do texto de Helena Freitas, coreografia de Teresa Norton e participação no ERGTERATRO/2002. [caption id="attachment_1703" align="alignleft" width="300"] Fig. 4 - Fragmentos, com Isabel Rodrigues, Ercília Pereira, Vera Henriques, Tânia Rodrigues, Sofia Vieira e Miguel Moreira. Machico 2006. Foto Trans(form)art.[/caption] A AAEAM assinou protocolos de cooperação com a Escola Profissional Atlântico, o Estabelecimento Prisional do Funchal, o Madeira Magic (Grupo Pestana) e a Livraria Nobel (Ajuda-Funchal). Na sua página da Internet promoveu as seguintes publicações digitais: Newsletter AM-Arte – bimensal (mar. 2007-nov. 2008) e Boletim AM-Arte (2009). Foram associados fundadores: Teresa Norton, Paula Erra, Isabel Rodrigues, Paulo Oliveira e Diva Castro, na direção; Cristina Ferreira, António Carvalho e Rita Marinho, no conselho fiscal; João Castro, Carlos Aveiro e Vera Henriques, na assembleia geral. Foram associados honorários: António Laginha (dança), Carlos Mendonça (teatro), Dulce Pontes (música), Eunice Muñoz (teatro), Fernando Augusto (teatro), Simone de Oliveira (música) e Victor Costa (música). A estes juntaram-se associados cuja dedicação se destacou, como Cristina Viúla e Renato Nóbrega. Ficou desde o primeiro momento ligado à história da AAEAM o informático e webdesigner Leonel da Palma, falecido em julho de 2013. Em nove anos de percurso efetivo, nunca a associação conseguiu a cedência de um espaço onde pudessem desenvolver a sua atividade, criando e ajudando a criar dinâmicas além da sua própria fronteira. Este, entre outros fatores, determinou a opção de encerramento de atividade tomada em assembleia geral em 2012. O seu trabalho foi disponibilizado online e em 2014 podia ser consultado em www.tnortondias.com/aaeamadeira. Nota: Esta entrada foi elaborada com base na consulta do arquivo da AAEAM. Teresa Norton Dias (atualizado a 03.10.2016)

afonseca, ricardo joaquim porfírio d'

Pianista, organista, professor e compositor, Ricardo Joaquim Porfírio d’Afonseca era filho de José Maria d’Afonseca, Inspetor-Geral da Agricultura e das Estradas da Ilha da Madeira. Destacou-se no círculo social da elite madeirense como fundador, e um dos membros mais ativos do Club Funchalense, fundado em 1839, onde organizou bailes e concertos de música vocal e instrumental. A sua atividade à frente do Club Funchalense «deveria ser alvo de um reconhecimento público pelo serviço prestado», segundo o periódico O Defensor, de 1 de fevereiro de 1840. A aprendizagem musical de Ricardo Porfírio d’Afonseca terá sido feita, segundo o aristocrata russo, Platão de Waxel, com João Fradesso Belo, mestre de capela na Sé do Funchal e professor de música no Seminário Diocesano, que veio para a Madeira no início do século XIX, por intermédio do Bispo Joaquim Ataíde. João Fradesso Belo foi discípulo de Frei José Marques e Silva, um dos principais organistas e pianistas portugueses do início do século XIX, autor de um método para piano, intitulado de Novo Methodo para Aprender Fácile e Solidamente a Executar Musica Vocal e Tocar Piano Forte (1836). Deste modo, Porfírio d’Afonseca teve provavelmente acesso a uma aprendizagem musical de elevada qualidade. Como compositor, Porfírio d’Afonseca criou várias obras musicais, onde se destacam um Hymno dedicado à rainha D. Maria II, com a anotação no frontispício de «Legítima Rainha de Portugal», o que indicia a sua preferência pela fação liberal; um salmo para a Igreja Anglicana, onde foi organista; Souvenir de Madère, um conjunto de três valsas, dedicadas à rainha-mãe de Inglaterra, Adélaide d’Angleterre; uma Fantazia para piano, de cariz bastante virtuoso e que demonstra um elevado nível técnico; e Madeira Cotillions, um conjunto de danças, que eram tocadas em divertimentos sociais e que foram editadas em 1830, na cidade de Nova Iorque, por E. Riley, com uma dedicatória a Miss Caroline M. Smith. Ricardo Porfírio d’Afonseca compôs ainda uma Ouverture interpretada, no dia 18 de abril de 1842, na Sociedade Philarmonica, a qual «causou geral satisfação», segundo um articulista no periódico O Defensor, de 23 de abril do mesmo ano. É de referir que as suas peças para piano são as mais antigas que conhecemos de um autor madeirense. Como pianista, Ricardo Porfírio d’Afonseca terá sido um dos músicos que mais terá promovido a prática do piano em público. Prova disso, aquando da criação da Sociedade Philarmónica em 1840, um dos propósitos assumidos desta coletividade era «acompanhar músicos distintos», entre os quais se destacavam um clarinetista (Caetano Drolha), um violinista (Agostinho Robbio), um machetista (Cândido Drumond de Vasconcelos) e um pianista (Ricardo Porfírio d’ Afonseca). O elevado grau técnico da Fantazia acima referida parece comprovar o virtuosismo do pianista madeirense. Assim, é possível supor, com a devida precaução, que, no guia turístico que publicou no séc. XIX, o americano Robert White estaria a referir-se a Ricardo Porfírio d’Afonseca, quando escreve que “existem excelentes executantes de piano na cidade; entre estes, destaca-se um cavalheiro com um excelente gosto e génio musical, que não só executa admiravelmente, mas que também compõe uma série de peças que honraria quase qualquer compositor, e do qual os próprios madeirenses têm orgulho”. Como professor de piano, sabe-se através de Platão de Waxel que Porfírio d’Afonseca foi o primeiro mestre do pianista António José Bernes (m. 1880), músico que terá estudado posteriormente em Viena e Nápoles. O músico madeirense faleceu em 1858. Tendo em consideração que as composições de autores madeirenses do século XIX raramente sobrevivem à sua morte, é de realçar que Porfírio d’Afonseca é um caso raro na Madeira. Treze anos após a sua morte, em 1871, ainda se encontra uma composição da sua autoria num concerto musical realizado no Funchal, como é possível de constatar no periódico A Voz do Povo de 23 de fevereiro de 1871. Bibliog.: MELO, Luís Francisco de Sousa, CARITA, Rui, 100 Anos do Teatro Municipal Baltazar Dias: 11 de Março 1888-1988, Funchal, Câmara Municipal do Funchal, 1988; ESTEIREIRO, Paulo, 50 Histórias de Músicos na Madeira, Funchal, Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística, 2008; SILVA, Fernando Augusto da, e MENESES, Carlos Azevedo, Elucidário Madeirense, 3 vols. Funchal, Secretaria Regional de Educação e Cultura, 1978; WHITE, Robert, Madeira, its Climate and Scenery, Containing Medical and General Information for Invalid and Visitors; A Tour of the Island, etc; and An Appendix, London, Cradock & Co. Paternoster Row, 1850.   Paulo Esteireiro (atualizado a 30.01.2017)

vitória, fr. joão pinto da

Nasceu na Madeira, no séc. XVI, em data incerta. Carmelita, pregador, estudou em Castela e aí viveu a maior parte da sua vida. Professou cedo na Ordem dos Carmelitas, foi provincial de Aragão e visitador da Andaluzia, e autor de textos em castelhano, nomeadamente a Vida del Ven. Siervo de Dios Nuestro padre Maestro Frei Juan Sanz, seguida de las Vidas de las Hijas Espirituales del Dicho Padre Venerable, con Sermones para los días de sus Ferias (Valência, Juan Crisóstomo Garriz, 1612), dedicado a D. María Ruiz de Corrella y Mendonza, condessa de la Puebla del Maestre, e a obra Jerarchia Carmelitana (1616), que não consta entre as existências das Bibliotecas Nacionais de Portugal e de Espanha. Morreu em 1631, em Valência, Espanha. Obras de Fr. João Pinto da Vitória: Vida del Ven. Siervo de Dios Nuestro padre Maestro Frei Juan Sanz, seguida de las Vidas de las Hijas Espirituales del Dicho Padre Venerable, con Sermones para los días de sus Ferias (1612); Jerarchia Carmelitana (1616). Bibliog.: impressa: MENDES, Paula Almeida, “Dedicatórias e Dedicatários de ‘Vidas’ Devotas e de Santos em Portugal (Sécs. XVI-XVIII): Entre a Proteção e a Devoção”, Via Spiritus, n.º 19, Porto, 2012, pp. 5-57; CRUZ Visconde do Porto da, Notas e Comentários para a História Literária da Madeira, vol. 1, Funchal, 1949. Isabel Drumond Braga (atualizado a 14.07.2016)

visitação, fr. antónio da

Nasceu no Funchal, por volta de 1546. Tomou o hábito dos carmelitas calçados, no convento de Nossa Senhora do Carmo, de Évora, em 1568. Terá pautado a sua vida por um ascetismo e uma penitência rigorosos. Foi eleito mestre dos noviços a 18 de outubro de 1584. Se acreditarmos em Jorge Cardoso, ficamos a saber que era “pouco rigoroso com os noviços, de que foi mestre quase toda a vida, guardando todo o rigor e aspereza para sua pessoa. E quando era força não dissimular com o castigo, acompanhava com lágrimas, coisa que edificava grandemente aos que o viam. E assim retirado à cela, chorava depois muitas vezes as disciplinas que dava aos que achava culpados, conseguindo na religião por esta causa cognome de Benigno” (Cardoso, 1666, III, p. 230). Exerceu o cargo de prior no convento de Santa Ana, de Colares, tendo fundado o de Nossa Senhora do Carmo, de Setúbal, em 1598, na freguesia de São Julião. A fundação terá contado com esmolas das pessoas principais da vila, as quais terão feito legados testamentários diversos, que beneficiaram os 13 frades ali residentes. No início do séc. XVIII, a casa contava com cerca de 20 religiosos. Não terá sofrido danos significativos com o terramoto de 1755. Frei António da Visitação parece ter sido um latinista de renome e um pregador conceituado. Porém, a sua obra parenética nunca foi impressa, ainda que tenha vivido numa época em que a parénese assumiu relevância política, como sempre acontece em momentos de crise, com muitos pregadores a criticarem a governação filipina dos púlpitos e a publicarem os seus sermões. Deixou alguns textos inéditos, nomeadamente orações e poemas “cheios de muito solida doutrina e espírito” (Cardoso, 1666, III, p. 237), segundo Jorge Cardoso. Morreu no dia 13 de outubro de 1606, em Lisboa. Bibliog.: impressa: CARDOSO, Jorge, Agiológio Lusitano, t. 3, Lisboa, António Craesbeeck de Mello, 1666; COSTA, António Carvalho da, Corografia Portugueza, e Descripçam Topografica do Famoso Reyno de Portugal, t. 3, Lisboa, Oficina Real Deslandesiana, 1713; MACHADO, Diogo Barbosa, Bibliotheca Lusitana, t. 1, Coimbra, Atlântida Editora, 1965; PORTO DA CRUZ, Visconde do, Notas e Comentários para a História Literária da Madeira, vol. 1, Funchal, 1949; VLOON, Casimiro, “António da Visitação”, in Dicionário de História da Igreja em Portugal, dir. António Alberto Banha de Andrade, vol. 1, Lisboa, 1980, Resistência, p. 455. Isabel Drumond Braga (atualizado a 14.07.2016)