a obra das mães pela educação nacional na madeira

03 Jan 2017 por "Cesar"

Na primeira década da vigência do Estado Novo não havia, em Portugal, organizações femininas estatais. As associações femininas existentes, filantrópicas e beneficentes, eram na sua maioria dependentes da Igreja e geridas por senhoras da aristocracia e das classes altas da sociedade. A partir dos anos 30 do c. XX, das iniciativas da Igreja surgiram muitas associações femininas, dirigidas essencialmente por mulheres católicas e por familiares de governantes do Estado Novo.

Em 1936, nasce a primeira organização estatal de mulheres do Estado Novo, Obra das Mães pela educação Nacional, adiante designada por Obra das Mães. Criada por António Carneiro Pacheco, ao ser nomeado ministro da Instrução Pública, pasta que transformou em educação Nacional, a Obra das Mães foi oficialmente instituída pelo dec.-lei n.º 26.893, de 15 de agosto de 1936, que aprovou os seus estatutos, nos termos do art. 58.º do dec.-lei n.º 26.611, de 19 de maio do mesmo ano, que publica o Regimento da Junta Nacional da educação, com fundamento na lei n.º 1941, de 11 de abril de 1936. Em fevereiro de 1936, a imprensa escrita anunciava a sua criação, tendo noticiado que a organização se propunha “congregar as mães portuguesas numa cooperação ativa e generosa”, na campanha “de defesa da família” com o Ministério da educação Nacional (DM, 12 fev. 1936).

De acordo com os seus estatutos, esta associação de utilidade pública tinha como missão “estimular a ação educativa da família” e “assegurar a cooperação entre esta e a escola, nos termos da constituição” (art. 1.º), a ser desenvolvida através de onze linhas de atuação:

1.º – Orientar as mães portuguesas, por uma ativa difusão das noções fundamentais de higiene e de puericultura, para bem criarem os filhos, em colaboração com a organização nacional denominada Defesa da Família, instituída pelo dec.-lei n.º 25935;

2.º – Estimular e dirigir a habilitação das mães para a educação familiar, tendo em conta as diversas circunstâncias de classe e de meio;

3º. – Promover o embelezamento da vida rural e o conforto do lar como ambiente educativo, em relação com os usos locais e as boas tradições portuguesas, defendendo e estimulando as atividades e indústrias caseiras;

4º. – Defender os bons costumes, designadamente no que respeita ao vestuário, à leitura e aos divertimentos;

5º. – Promover e assegurar em todo o país a educação infantil pré-escolar, em complemento da ação da família;

6.º – Dispensar aos filhos dos pobres a assistência necessária para que possam cumprir a obrigação de frequentar a escola, designadamente pela instituição de cantinas, pelo fornecimento de uniformes e outros artigos de vestuários, pela distribuição de livros e pelo fortalecimento das caixas escolares;

7.º – Coadjuvar o professor na organização do recenseamento escolar, na vigilância da compostura, da assiduidade e da aplicação dos alunos, e na instituição de prémios;

8.º – Dar ao professor uma cooperação efetiva na educação moral e cívica dos alunos, no ensino do canto coral, no exercício da ginástica rítmica e nas festas escolares;

9.º – Desenvolver entre os portugueses o gosto pela Cultura física, tendo em vista a saúde de cada um e o serviço da Pátria;

10.º – Organizar a secção feminina da Mocidade Portuguesa em harmonia com a base xi da lei n.º 1941 e com o artigo 40.º do regimento da Junta Nacional da educação;

11.º – De modo geral contribuir por todas as formas para a plena realização da educação nacionalista da juventude portuguesa (art. 2.º do dec.-lei n.º 26.893, de 15 de agosto de 1936).

Ao contrário dos propósitos ruralizantes iniciais da Obra das Mães, influenciada, sobretudo, pelos movimentos familiares católicos franceses e belgas, a atuação desta associação, “na luta pela influência política entre os lóbis industrial e agrário no seio do regime, representou os interesses do último” (PIMENTEL, 2001, 151). A viragem da atuação para o meio rural deveu-se ao aumento da industrialização, da urbanização e da emigração, que provocou um decréscimo significativo de uma população “essencialmente agrícola”, fomentando o êxodo rural a partir da década de 60 do c. XX. Neste sentido, a atuação desta associação passou a centrar-se no ensino de técnicas agrícolas modernas, da formação familiar da classe rural e da manutenção da natalidade alta no seio das famílias rurais.

Na primeira reunião da Obra das Mães, realizada a 11 de julho de 1936, no Ministério de educação Nacional, foi nomeada a Junta Central da organização, constituída por Maria do Carmo Fragoso Carmona, presidente de honra, Laura Diogo da Silva de Melo e Faro (condessa de Monte Real), presidente efetiva, e Eugénia Soares de Oliveira e Isabel d’Albignac Bandeira de Melo (condessa de Rilvas), vice-presidentes, sendo esta última também presidente da direção até 1945, cargo que passou a ser desempenhado por Maria Francisca Frazão, condessa de Penha Garcia (PIMENTEL, 2001, 177).

O ministro Carneiro Pacheco, na posse desta direção, anunciou os principais focos sociais de intervenção da Obra das Mães: a reeducação das mães e a assistência materno-infantil através dos centros sociais educativos, das semanas da mãe e dos prémios às famílias numerosas; a antecipação e o prolongamento da escolaridade através da educação infantil, das cantinas escolares e da criação da Mocidade Portuguesa Feminina, para evitar a saída prematura da escola e ajudar os filhos do povo a formarem-se melhor para as lutas da vida (DN, 16 jul. 1936, 1).

A direção da Mocidade Portuguesa Feminina, regulamentada pelo dec. n.º 28.262, de 8 de dezembro de 1936, ficou a cargo da Obra das Mães, que, a partir de 24 de dezembro de 1937, delegava a chefia num comissariado nacional à sua escolha, inicialmente composto pelas vice-presidentes da Obra das Mães, Maria dos Santos Guardiola (comissária nacional), Maria Luísa Vanzeller e Fernanda de Almeida d´Orey (comissárias nacionais adjuntas). Contudo, no campo da sua atuação, a Obra das Mães diminui a sua intervenção na plena realização da educação nacionalista da juventude feminina portuguesa quando, em 1950, de acordo com o dec.-lei n.º 38.122, de 9 de dezembro, perde a incumbência de dirigir a Mocidade Portuguesa Feminina.

Em 1940, a Obra das Mães, após a abertura do centro do Bairro das Minhocas, em Lisboa, inaugurou, a 3 de maio de 1940, o seu primeiro centro social em Cascais, seguindo-se os de Coimbra, Braga e guarda, em 1942. “No final da década de quarenta, instalou comissões distritais em Santarém e em Setúbal, e no início dos anos cinquenta, ao mesmo tempo que reforçava a sua organização em Braga, criou secções nos Açores, na Madeira, em Goa e em Macau, e as comissões distritais de Portalegre e de Aveiro” (PIMENTEL, 2001, 151).

  [caption id="attachment_1481" align="alignleft" width="300"] Fot. 1 – Ato inaugural do Centro de Formação Familiar dos Canhas, em 1958, pelo governador civil substituto, João de Gouveia. Fonte: Arquivo Regional da Madeira[/caption]

 Na Madeira, a primeira secção criada pela Obra das Mães foi na Camacha, em agosto de 1953, primeiramente denominada Centro da educação Familiar e artesanato Feminino da Camacha, para depois ser cognominada Centro Rural de Formação Familiar da Camacha. Seguiram-se os centros rurais familiares dos Canhas, em 1958, de santana e de Boaventura, onde foi instalado um jardim-de-infância, em 1959. Na déc. de 60 inauguraram-se os centros rurais de formação familiar do Porto da Cruz, em 1963, do Caniçal, em 1967, e de São Vicente, em 1968. No Funchal, surgiram os Centros de Formação Familiar da Sagrada Família, em 1965, e o do Convívio do Funchal, situado na Rua da Carreira, São Pedro, em 1967. Na déc. de 70, mais precisamente em 1972, foram criados os centros rurais da Calheta e de câmara de lobos. Em 1974, foi criado o último centro rural de formação familiar, em Ponta do Sol.

Os edifícios onde eram instalados os centros rurais tinham várias divisões, para responderem às exigências das atividades, a saber: a de enfermagem, puericultura e higiene; a de corte, costura e bordados; a dos teares; a cozinha e a sala de jantar. Os centros também tinham um espaço dedicado à biblioteca, apetrechada com livros facultados pela Campanha Nacional de educação de Adultos.

Durante os primeiros anos de intervenção da Obra das Mães na Madeira, não havia comissão distrital. A Junta Central da Obra das Mães só a elegeu em 1962, composta por Alice Pinto Coelho Homem da Costa (esposa do Cor. Fernando Homem da Costa, presidente da Junta Geral do Distrito do Funchal), que exerceu o cargo de presidente da comissão distrital da Obra das Mães até ao seu encerramento, em 1975, e por Maria Zina Teixeira de Araújo, que na déc. de 60 viria a ser substituída na vice-presidência por Anne Marguerite Correia da Silva. Em 1972, eram vice-presidente e vogal, respetivamente, Maria do Carmo Leite Monteiro Rodrigues e Dalila Pereira. Havia, também, a figura de presidente paroquial da Obra das Mães, cuja incumbência era orientar os respetivos centros rurais. Na Camacha, foi presidente paroquial Fernanda Câmara Vasconcelos, no Porto da Cruz, Maria Dolores Andrade e em São Vicente, Maria do Céu Drummond. Os centros eram dirigidos pelas auxiliares/educadoras familiares.

Para formar as educadoras familiares, a 2 de fevereiro de 1958, a Junta Central da Obra das Mães inaugurou a Escola de Agentes de educação Familiar Rural, denominada Escola de D. Luís de Castro, situada em Tenões, Braga. O curso tinha a duração de dois anos, em regime de internato, incluindo um estágio de seis meses nos centros rurais e nas missões de educação rural da Obra das Mães. Era condição de acesso possuir o 1.º ciclo dos liceus ou o ciclo preparatório do ensino técnico.

À semelhança das outras educadoras familiares dos centros rurais familiares da Madeira, a educadora familiar do Centro Rural de Formação Familiar do Porto da Cruz, Maria Dolores de Andrade, informava no relatório das suas atividades que, entre 27 de maio e 7 de junho de 1963, tinha frequentado o curso do Instituto Ancilla Domini, em Coimbra, onde recebera o diploma correspondente. Na Escola da Obra das Mães, em Tenões, Braga, tinha estado em missão de aperfeiçoamento e orientação para desenvolver a sua atividade no Centro Familiar do Porto da Cruz. Em 1964, de 22 de junho a 7 de julho, tinha frequentado um curso de aperfeiçoamento para educadoras rurais no Instituto de Formação Social e Corporativo, em São Pedro de Sintra.

Salvo algumas exceções, as educadoras familiares abaixo nomeadas foram as responsáveis pela direção e formação desenvolvida durante a existência dos respetivos centros. Estas tinham por obrigação enviar à Comissão Distrital do Funchal um relatório semestral das atividades desenvolvidas, onde descreviam: as pessoas atendidas na assistência familiar, as famílias visitadas, o programa e a frequência dos cursos de formação familiar, as festas e comemorações, o movimento da biblioteca e os apoios recebidos.

Quadro 1 - Educadoras familiares dos centros da Obra das Mães na Madeira Centros/ano de início Educadoras familiares Camacha (1953) Maria Manuela beatriz de Almeida de Freitas Branco Canhas (1958) Maria dos Anjos Afonso santana (1959) Cândida Mendonça Pacheco Boaventura (1959) Maria da Neves Cabral (centro)Regina nunes Gouveia (jardim de infância) Porto da Cruz (1963) Maria Dolores de Andrade Sagrada Família - Funchal (1965) Maria Teresa Gomes Ribeiro Centro de Convívio do Funchal (1967) Rita Maria Gama de OrnelasMaria Teresa Margarida Gomes Rodrigues Caniçal (1967) Juvénia Reis Vieira Dias São Vicente (1968) Maria Celina de AscensãoJovita Faria de Andrade Calheta (1972) Salomé Vieira Freitas câmara de lobos (1972) Maria Odília dos Passos Vieira Ponta do Sol (1974) Maria mercês Gomes da Silva  

Com a competência de orientar e formar a família rural, os centros recebiam apoio das casas do povo e dos párocos das freguesias, que se encarregavam sobretudo do ensino da moral e da religião e de promover junto da população as atividades dos centros, pela Junta Central da Obra das Mães; mas era a Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal quem financiava a ação desenvolvida na Madeira, com subsídios para a instalação e o apetrechamento dos centros, bem como atribuía bolsas para a formação das auxiliares familiares rurais. Além da educadora familiar, o pessoal do centro era constituído por uma costureira e uma ajudante. Também colaboravam formadores das outras áreas de formação, estes em regime temporário, segundo as atividades lecionadas nos cursos, como é o caso das enfermeiras de Saúde Pública e dos artesãos, entre outros.

[caption id="attachment_1484" align="aligncenter" width="300"] Fot. 2 – Exposição de trabalhos de tecelagem e rendas no Centro Familiar de santana, em 1963. Fonte: Arquivo Regional da Madeira[/caption]

Os cursos de formação familiar tinham a duração de dois anos, desenvolvendo, no geral, as seguintes áreas da educação familiar: adorno do lar, formação moral, educação cívica, economia doméstica, enfermagem caseira, higiene, puericultura, corte e confeção, tecelagem, culinária e expediente. Em vários centros, dependendo da atividade económica da localidade, incluíam outras áreas, tais como obra de vime, artesanato regional, entre outras.

As alunas submetiam-se a uma prova de avaliação final, essencialmente constituída por quatro áreas: missão da mulher; moral, boas maneiras e deveres sociais. Em cada área eram colocadas três a quatro questões, que espelhavam os valores que se pretendia inculcar nas alunas: serem boas mães e boas esposas. Por exemplo, as da prova de avaliação final do curso de 1966, realizada em julho, no Centro Familiar da Sagrada Família, sobre a missão da mulher, foram as seguintes: “1.ª – Achas que para ser mulher basta ter nascido mulher? 2.ª – Bastará aprender a cozinhar, a ser económica e limpa? 3.ª – O que significa, então, preparar-se para ser mulher? 4.ª – Explica pois, o que entendes por ser uma mulher que saiba as qualidades que deve procurar possuir e quais os defeitos que deve combater para dar a felicidade ao marido, aos filhos e a todos que ao seu lado vivem e que seja também feliz.” Na área da moral, as perguntas versaram sobre o que é ser obediente, ser delicada, dizer sempre a verdade e ser trabalhadora. Na de boas maneira, os quesitos versavam sobre atitudes éticas para com os outros: a quem se deve ceder o lugar em casa, na rua, na igreja; ao atravessar uma porta ou a subir uma escada, quem tem direito a ser a primeiro pessoa a fazê-lo; de que maneira se deve passar uma objeto – faca, tesoura, garfo –, e a quem se deve dizer “muito obrigada”. Sobre os deveres sociais, foi pedido que explicassem a maneira de pôr uma mesa para servir o jantar, contemplando a devida ordem dos objetos: talheres, copos, pratos, guardanapos, etc., e que explicassem de que modo colocariam as flores, escolhidas a gosto.

No final do curso, as alunas recebiam um certificado, momento que era solenizado em cada centro com a presença dos membros da Comissão Distrital da Obra das Mães e das autoridades regionais e locais, e culminava com a visita à exposição dos trabalhos realizados pelas alunas e um lanche convívio. Para a socialização entre as jovens promoviam-se passeios, visitas de estudo e a outros centros, recitas e festas; contudo, o ponto alto das festividades dos centros focava-se na Semana da Mãe, que se iniciava a 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição e Dia da Mãe até à déc. de 60, e terminava a 14 de dezembro. A Semana da Mãe foi instituída pela Junta Central da Obra das Mães, ocasião em que eram distribuídos às famílias numerosas e pobres berços, enxovais e peças de adorno para o lar confecionados pelas alunas dos centros, bem como prémios pecuniários, estes concedidos pela Junta Central da Obra das Mães. A primeira Semana das Mães realizou-se em dezembro de 1938, em Lisboa; exaltou-se a família e a maternidade e estigmatizou-se o trabalho feminino extra doméstico, as restrições da natalidade e a mortalidade infantil.

A Semana da Mãe era solenizada nos diversos centros da Madeira da mesma maneira que no resto do país: com a missa, especialmente para as famílias das alunas e do pessoal dos centros, récitas, danças, poemas e canto coral, ou com um passeio, que culminava num lanche e em presentes entregues às mães, ambos confecionados pelas alunas. Em 1962, ano em que tomou posse a Comissão Distrital da Obra das Mães, a presidente, Alice Pinto Coelho Homem Costa, mandou rezar uma missa na sé catedral, em homenagem à Padroeira de Portugal e em comemoração da XXV Semana da Mãe. Nesse ano, no Centro de Formação Familiar dos Canhas, o Dia da Mãe foi celebrado com uma missa, a inauguração da exposição dos trabalhos realizados e a “distribuição de 12 enxovais a famílias pobres com grande número de filhos”, feitos pelas 33 raparigas que frequentavam, na altura, o curso de formação familiar (DN, 11 dez. 1962, 1-2). Em alguns centros, quando as alunas estavam para casar, o dote e, em alguns casos, o vestido de noiva eram confecionados no âmbito das atividades de corte e confeção, bordados, rendas e tecelagem, apoiando assim, também, as alunas do centro.

A faixa etária das alunas que frequentavam os cursos de formação familiar variava entre os 11 e os 36 anos. A maioria das mais novas possuía a 4.ª classe, mas algumas das mais velhas não tinham sequer concluído a 1.ª classe. Por isso, quando possível, as alunas eram distribuídas em grupos segundo as idades e capacidades académicas, onde lhes eram ministradas as atividades mais adequadas aos seus conhecimentos.

Os mapas de movimentos de alunas e os relatórios das educadoras familiares rurais permitem-nos aferir que, no primeiro ano de abertura de cada centro, entre 1953, ano em que foi criado o primeiro centro rural de formação familiar, e 1974, data da criação do último centro, iniciaram o curso de formação familiar 673 raparigas, distribuídas pelos respetivos centros.

[caption id="attachment_1487" align="aligncenter" width="300"]Gráfico 1 – Número de raparigas inscritas nos cursos de formação familiar, no ano de abertura de cada centro da Obra das Mães na Madeira. Gráfico 1 – Número de raparigas inscritas nos cursos de formação familiar, no ano de abertura de cada centro da Obra das Mães na Madeira.[/caption]

O Centro de Convívio do Funchal, situado na Rua da Carreira, n.º 163, foi inaugurado a 28 de maio de 1967. Este centro, aberto das 11h30 horas às 18h00, tinha inscritas no curso de formação familiar cerca de 20 raparigas; mas o movimento deste centro era muito maior, pois não era frequentado apenas pelas raparigas do curso. Aliás, a sua principal finalidade era reunir as raparigas empregadas na cidade do Funchal, dando-lhes oportunidade de ali irem “almoçar, repousar, recrear-se na leitura de bons livros e revistas ou ainda [de] boa música, ou até aprender lavores e cozinhar” (EF, 12 set. 1968, 1). Segundo relatório da educadora familiar do centro, enviado à presidente da comissão distrital em novembro de 1967, algumas raparigas levavam o seu almoço, mas havia outras que o cozinhavam no centro. Havia as que iam para o centro para aprenderem e confecionarem trabalhos de renda, malha e bordados, e as que iam estudar, por estarem a frequentar o curso noturno da Escola Industrial e Comercial do Funchal ou a frequentar a Academia de Línguas da Madeira. Entre as várias áreas em que podiam inscrever-se, estavam o corte e costura, o inglês, a tecelagem, a educação cívica, a culinária, a leitura e o ditado. Estas raparigas também colaboravam no embelezamento do centro nas épocas festivas e comemorativas; por isso, o centro é apelidado de Centro Operário do Funchal em algumas fontes consultadas, o mesmo acontecendo com o Centro de Formação Familiar da Sagrada Família, que também foi apelidado de Centro Operário da Sagrada Família. De salientar que este centro sucedeu ao “Centro de Formação Feminina, pertencente à Paróquia da Sagrada Família, criado pelo pároco João Gouveia da Conceição” (Paróquia da Sagrada Família, II, 20), cuja existência remontava a três anos antes da ação da Obra das Mães, naquele espaço.

Em 1970, existiam na Madeira “sete centros rurais de formação familiar, dois operários no Funchal”, o da Sagrada Família e o da Carreira, frequentados por um total de “514 alunas” (PIMENTEL, 2001, 182).

De acordo com os testemunhos das educadoras familiares dos centros rurais, expressos nos seus relatórios, havia problemas de assiduidade das alunas, umas por terem de participar nas atividades sazonais agrícolas da localidade e na rega dos seus campos, outras devido a terem de ficar em casa para cuidar dos irmãos. Quanto às desistências, as razões mais apontadas eram o casamento e a emigração. Outro facto que influenciou uma afluência menor aos centros de formação familiar, a partir do final da déc. de 60, foi a criação das escolas do ciclo preparatório e das telescolas em diversos concelhos. No seu relatório de 1972, a educadora familiar do centro da Calheta explicava a situação: “Como vai abrir na vila o 1.º ciclo liceal, algumas alunas só vão frequentar o centro no verão, porque muitas delas efetuaram a sua matrícula no ciclo preparatório”. Em fevereiro de 1973, a Comissão Distrital, revendo o problema da falta de alunas, considerou que seria mais viável abrir uma sala de estudo; inscreveram-se 25 alunas. O programa da sala de estudos, de duas horas e trinta minutos, constava de explicações de português, francês, matemática, ciências, história e moral e religião, acrescidas de 30 minutos para a parte recreativa. Porém, também nas escolas do ciclo preparatório foram criadas salas de estudo, pelo que a alternativa foi abrir a inscrição para a sala de estudo a alunas da 4.ª classe.

Um dos objetivos da Obra das Mães era a instituição de cantinas escolares em todo o território português, para “dispensar aos filhos dos pobres a assistência necessária para que possam cumprir a obrigação de frequentar a escola” (ponto 6, do artigo 2.º dos estatutos). Em 1940, foi instalada a primeira cantina escolar no Casal Ventoso, seguindo-se, no mesmo ano, as cantinas do Bairro da Liberdade e de três escolas oficiais de Lisboa. Nos Açores, a primeira cantina criada foi em São Miguel, em 1961, seguindo-se a instalação de sete em Ponta Delgada, em 1963. Em 1970, existiam no país 199 cantinas escolares da responsabilidade da Obra das Mães (Cfr. PIMENTEL, 2001, 171, 185).

Na Madeira, embora a presidente da Comissão Distrital tivesse desenvolvido várias diligências no sentido de serem criadas cantinas escolares em todos os concelhos do distrito do Funchal, solicitando insistentemente, através de ofício, às entidades competentes a sua concretização, isso nunca viria a acontecer.

Outro dos objetivos da Obra das Mães, que ficou muito aquém de ser concretizado, foi o de promover e assegurar em todo o país a educação infantil pré-escolar, em complemento da ação da família. Na Madeira, o único jardim-de-infância criado pela Obra das Mães de que se tem notícia é o de Boaventura, de 1959.

A Obra das Mães foi extinta pelo dec.-lei n.º 698/75, de 15 dezembro, e “todos os bens e valores desta associação são [foram] transmitidos para o Estado, ficando afetos aos Ministérios da educação e Investigação Científica e dos Assuntos Sociais” (art. 2.º).

Ao longo dos seus 22 anos (1953-1975) de atividade na Madeira, a Obra das Mães, em estreita colaboração com a Igreja, orientou milhares de mulheres e jovens (em média, cerca de 520 por ano) na formação doméstica.

Bibliog.: manuscrita: ARM, SRE, Obra das Mães pela educação Nacional, Comissão Distrital do Funchal, cota 288: Correspondência Recebida e Expedida; cota 2883-A: Relatórios de atividades de diversos centros de formação familiar; cota 2886: Fotografias; Obra das Mães pela educação Nacional, Centro de Formação Familiar do Convívio do Funchal, cota 2891.C: Copiador Correspondência Expedida; cota 2891.F: Mapas de movimento de alunas; Obra das Mães pela educação Nacional, Centro Operário da Sagrada Família, cota 1893.A: Correspondência Recebida e Expedida; 2893.B: Provas de avaliação; 2893.E: Mapas de movimento de alunos; Obra das Mães pela educação Nacional, Centro de Formação Familiar Camacha, 2894.A: Correspondência recebida e expedida; 2895: Mapas de movimento de alunos; Obra das Mães pela educação Nacional, Centro de Formação Familiar dos Canhas, Correspondência recebida e expedida afeta à Secretaria Geral da Obra das Mães pela educação Nacional, cota 2897; Id., ibid., Certificados de matrícula e frequência, 2897.A; Id., Obra das Mães pela educação Nacional, Centro de Formação Familiar do Caniçal, Copiador de correspondência expedida, 2899.A; Id., ibid., Mapas de movimento de alunos, 2899.D; Id., Obra das Mães pela educação Nacional, Centro de Formação Familiar do Porto da Cruz, Correspondência recebida e expedida afeta à Comissão Distrital do Funchal da OMEN, 2901.A; Id., ibid., Mapas de movimento de alunos, 2902.C; Id., Obra das Mães pela educação Nacional, Centro de Formação Familiar de São Vicente, Correspondência expedida, 2904.A; Id., ibid., Mapas de movimento de alunos, 2904.D; Id., Obra das Mães pela educação Nacional, Centro de Formação Familiar da Calheta, Correspondência recebida e expedida, 2905.A; Id., ibid., Mapas de movimento de alunos, 2905.D; Id., Obra das Mães pela educação Nacional, Centro de Formação Familiar de Ponta do Sol, Boletins de inscrição e mapas de movimento de alunos, 2906.A; Id., Obra das Mães pela educação Nacional, Centro de Formação Familiar câmara de lobos, Mapas de movimento de alunos, 2907.D; impressa: Diário da Manhã, 12 fev. 1936, p. 1; Diário de Notícias, 16 jul. 1936, p. 1; Diário de Notícias, 11 dez. 1962, pp. 1-2; Eco do Funchal, 12 set. 1968, p. 1; Paróquia da Sagrada Família, ano II, n.º 20, março 1966, p. 7; PIMENTEL, Irene F., História das organizações femininas do Estado Novo, Lisboa, Temas e Debates - Atividades Editoriais, 2001.

Filomena Lume

(atualizado a 11.07.2016)