borges, sérgio (e conjunto joão paulo)

30 Jan 2017 por "Maria"

Originário do Funchal, o Conjunto (Académico) João Paulo alcançou, nos anos 60 do c. XX, o topo da popularidade no panorama nacional da música pop/rock, levando as suas criações além-fronteiras. Congregando influências do rhythm’n’blues, do rock’n’roll, do twist e do yé-yé, o Conjunto soube criar um estilo próprio que se impôs no meio musical português, como provam os diversos prémios e concursos que ganhou. Para tal sucesso muito contribuiu o carisma do vocalista rgio Borges, que protagonizou também uma longa carreira individual. Entre 1964 e 1972, o Conjunto editou 58 composições, incluindo 25 originais, em 12 EPs, quatro singles e um LP.

Palavras-chave: música; espetáculos; festivais.

Raros foram os artistas madeirenses que, superando os estigmas da insularidade, conquistaram sucesso em Portugal como rgio Borges e o Conjunto João Paulo, que, nos anos sessenta do c. XX, ascenderam ao topo da popularidade no panorama nacional da música pop/rock.

1961 a 1964: os primórdios

No que diz respeito ao Conjunto João Paulo, tudo terá começado em 1961 (ano da criação da polícia de choque em Portugal e do início da guerra em África), com uma conversa, no cais da cidade do Funchal, entre dois amigos, jovens estudantes do Liceu Nacional do Funchal/Liceu de Jaime moniz, João Paulo Agrela (n. Funchal, 1943; m. Lisboa, 2007) e Carlos Alberto Gomes (n. Funchal, 1944). Em sequência, passaram os dois adolescentes, embalados pelas canções então em voga, a encontrar-se para ensaios em casa de Carlos Alberto, onde havia um piano. João Paulo, que tinha tido algumas noções de piano através da sua mãe, assumiu-se como pianista. E Carlos Alberto, que nessa altura só aspirava a cantar, começou a tocar viola, inicialmente um velho instrumento adquirido por João Paulo, pelo valor de 100 escudos.

Em pouco tempo, o duo tornou-se um trio com a inclusão, à bateria, do colega Bruno Brazão (n. Funchal, 1944), inicialmente tocada num fundo de cadeira. E assim surgiu, em trio, a primeira formação do Conjunto Académico de João Paulo, segundo o testemunho de Carlos Alberto e de Ângelo Moura, em entrevista conduzida por Jorge Borges, a 26-08-2013. Naquela época, era corrente ser o pianista a dar o nome ao conjunto.

Algum tempo depois, o conjunto foi reajustado com a entrada, para a bateria, de José Gualberto (n. Funchal, 1945; m. Funchal, 2004) e a mudança de Bruno Brazão para o contrabaixo, sendo de assinalar que o primeiro contrabaixo utilizado foi fabricado pelos próprios elementos do conjunto. O Conjunto passou então a ser formado por João Paulo (piano), Carlos Alberto (voz e viola eléctrica), Bruno Brazão (contrabaixo) e José Gualberto (bateria).

O nascimento deste Conjunto coincidiu praticamente com o início dos Serões da Mocidade Portuguesa, sessões artísticas polivalentes que constituíram uma rampa de lançamento de novos artistas madeirenses, alternadamente realizadas no Liceu de Jaime moniz e na Escola Industrial e Comercial do Funchal, que eram então as únicas escolas secundárias na Região. E, tanto no primeiro Serão do ano letivo 1961-62, levado a cabo no dia 10-12-1961, na Escola Industrial, como no segundo, realizado no Liceu, no dia 13-01-1962, já participou o Conjunto João Paulo, naquilo que terão sido as suas primeiras atuações públicas de relevo.

Nesta altura, outro jovem estudante do Liceu, rgio Borges (n. Funchal, 1943; m. Funchal, 2011), fazia também a sua estreia como cançonetista nos Serões, tendo mesmo vindo a ser, mais tarde, coroado Rei dos Serões da Mocidade Portuguesa e da Estação Rádio da Madeira. rgio começou por cantar individualmente, como independente, com vários conjuntos, como o de João Paulo, o de Gabriel Cardoso e o de Jorge Velosa. A afirmação pessoal de rgio Borges ganhou proeminência quando foi chamado, pouco tempo depois, a integrar como vocalista o prestigiado conjunto de Tony Amaral nior, no não menos emblemático Reid’s Hotel, no Funchal.

Nessa época, além dos Serões da Mocidade Portuguesa, rgio Borges e o Conjunto João Paulo participaram em numerosas récitas no Liceu, em sessões de variedades ou espetáculos de setimanistas e sextanistas no Teatro Municipal do Funchal, noutros concertos no ateneu comercial do funchal, em atuações ao vivo na rádio, nomeadamente na Estação Rádio da Madeira e no Posto Emissor do Funchal, e ainda em casamentos. Sublinhe-se que, desde a génese do grupo, e contrariando o que era norma nessa altura, quer na Madeira quer no Continente, o Conjunto João Paulo nunca quis ser um conjunto de baile, para animar sessões de dança, assumindo-se antes como um conjunto de palco de concerto, sendo, pois, neste aspeto, inovador.

A rodagem e o crescimento musicais de rgio Borges e do Conjunto João Paulo ganharam novo e relevante impulso quando rgio foi convidado para participar na  Quermesse do Nacional, na quinta vigia, organizada pelo clube desportivo nacional, e, mais tarde, na Feira do Marítimo, no Campo Almirante Reis, organizada pelo Club Sport Marítimo, dois palcos por onde passaram muitos dos mais importantes nomes da canção nacional, como Simone de Oliveira ou Madalena Iglésias, e alguns estrangeiros de nomeada, como Antonio Prieto. O conjunto escolhido por rgio Borges para o acompanhar na Quermesse foi precisamente o de João Paulo, então já considerado o melhor conjunto madeirense, que passou, a partir de então, a incluir sete elementos: rgio Borges (voz), João Paulo (piano e, mais tarde, também órgão), Carlos Alberto (viola elétrica-solo), José Gualberto (bateria), Bruno Brazão (contrabaixo) e mais dois novos membros, Rui Brazão (n. Funchal, 1944), na viola-ritmo, e António Ascensão, animador e mímico. Assim passou a apresentar-se o Conjunto João Paulo na Quermesse, entre 1962 e 1964, e na Feira, de 1963 a 1965, com crescente adesão popular e reconhecimento por parte dos artistas visitantes.

Em outubro de 1963, Bruno Brazão, forçado a abandonar o Conjunto por razões de prosseguimento de estudos superiores de Engenharia em Lisboa, foi substituído por Ângelo Moura (n. Funchal, 1945), que fazia parte de outro conjunto, os “Caloiros do Ritmo”, e introduziu no Conjunto João Paulo a viola-baixo, no lugar do contrabaixo. Foi com esta nova formação que o Conjunto, no ano seguinte, se apresentou pela primeira vez no Continente português.

O passo decisivo para a projeção nacional do grupo surge na Primavera de 1964. Depois de, na véspera, ter obtido um muito polémico segundo lugar no concurso “O eleito vai a Lisboa” (acusando o júri de parcialidade, o público insurgiu-se com violência contra a atribuição do primeiro lugar a outro conjunto, “Os Incríveis”, segundo se lê no Diário da Madeira, na sua edição de 25-04-1964), o Conjunto Académico de João Paulo venceu incontestavelmente e por unanimidade do júri, no dia 19-04-1964, a finalíssima de outro concurso Yé-Yé (como então se designava), intitulado “Caravana em férias”, relegando para segundo lugar os grandes rivais madeirenses dessa época, “Os Demónios Negros”. A finalíssima teve lugar no Cine-Parque do Funchal com o apoio do empresário local João Firmino Caldeira, num concurso que foi organizado pela empresa “Espectáculos Rivus, Lda.”, de Lisboa, representada na circunstância pelo empresário José Farinha e pelo conjunto “Os Electrónicos”, de Algés, que se encontrava em digressão pelo arquipélago, acompanhando a exibição do filme “Mocidade em Férias”, com Cliff Richard e “The Shadows”.

O primeiro prémio era uma deslocação a Lisboa em setembro de 1964, para concertos nos teatros Monumental e Politeama e uma participação no programa TV Clube, na RTP. O Conjunto, apadrinhado pelo apresentador Henrique Mendes, que conhecera o grupo na Quermesse do Nacional, e pelo futuro empresário Farinha, obteve aí um meteórico e fulminante sucesso, culminado com a gravação do seu primeiro EP (formato com duas faixas de cada lado do disco).

Durante este primeiro período, entre 1961 e 1964, nos tempos da revista “Salut Les Copains”, dos Festivais de San Remo, das “boites” e do Yé-Yé, a base do repertório do Conjunto consistia em cópias, mais ou menos adaptadas aos ritmos modernos, de canções ligeiras sobretudo francesas e italianas, mas também anglo-saxónicas, incluindo ainda raras incursões pela canção nacional (como o fado ‘A Rua Dos Meus Ciúmes’), bem como pela música tradicional da Madeira (com ‘Pópópó-Biribiribó), e tímidas tentativas de criação de originais (como ‘Sem Ti’, que nunca chegou a ser editado em disco).

O intuitivo e autodidata grupo de jovens do Conjunto absorvia avidamente todas as novidades musicais em disco, num ambiente cosmopolita fertilizado pela afluência de turistas e pela intensa efervescência musical das “Noites da Madeira”, o que lhe permitiu mover-se com versatilidade na mais alta onda dos estilos contemporâneos da música ligeira internacional.

Assim, a música do Conjunto recebeu influências do Rhythm’n’Blues, do Rock’n’Roll e do Twist norte-americanos e dos seus sucedâneos europeus, do Yé-Yé francês, da melodiosa e romântica canção italiana, do Surf anglo-saxónico, da invasão britânica sobretudo corporizada em grupos como “The Shadows” “The Beatles” e “The Rolling Stones”, do Garage Rock e da subcultura Mod da Inglaterra.

Todas estas influências se traduziram num multifacetado repertório musical original elaborado pelo Conjunto, com elevada qualidade, perfeitamente ajustado ao gosto musical dominante na época, sobretudo, mas não só, nas jovens gerações, fatores que certamente contribuíram, a par dos dotes vocais, interpretativos, expressivos e de comunicação em palco de rgio Borges, para explicar o enorme sucesso que o Conjunto obteve.

De acordo com rgio Borges, em entrevista ao Jornal da Madeira publicada a 25-12-1977, o Conjunto foi mais influenciado pelo Twist, essa “dança macabra e diabólica”, como a qualificou o Diário popular na sua edição de 12-01-1964 (citada no blog “Rascunhos 1111”), do que pelo Rock’n’Roll, mas conjugou esses dois tipos de beat para criar um estilo próprio, com arranjos originais.

1964 a 1966: os anos de ouro

De regresso à Madeira, porque os estudos eram a primeira prioridade (e continuariam a sê-lo até finais de 1965), o Conjunto João Paulo foi novamente chamado a Lisboa, nas férias do Carnaval de 1965, desta vez para participar numa rie de espetáculos no Teatro Monumental, em que a cabeça de cartaz era a bem conhecida cançonetista francesa do Yé-Yé, Sylvie Vartan. Apresentaram, segundo declarações dos elementos do Conjunto ao DN-Madeira a 26-02-1965, as músicas ‘Greenback Dollar’ (dos “The Kingston Trio”), ‘Tchin, Tchin’ (de Richard Anthony), o já referido ‘Pópópó-Biribiribó’, e as novidades ‘Se Mi Vuoi Lasciare’ (de Michele), ‘Stasera Pago Io’ (de Domenico Modugno), ‘P.S. I Love You’, ‘Please Please Me’ (ambas dos “Beatles”), e ainda novo original, ‘Chove’, canções que ilustram bem a diversificada matriz musical do grupo. Regressam de imediato à Madeira. É de sublinhar que, desde os finais de 1964, António Ascensão, o mímico, deixara de fazer parte do Conjunto, que passa assim a ter um formato de sexteto, formação que se manteve estável até 1970, evidenciando uma longevidade rara nos conjuntos musicais da época.

E, a 19-03-1965, uma notícia, via telegrama (cujo fac-simile foi reproduzido pelo DN-Madeira, na sua edição de 21-03-1965), cria grande entusiasmo na cidade do Funchal: o Conjunto Académico João Paulo fora distinguido com o denominado “Óscar” da Imprensa, o Prémio atribuído pela Casa da Imprensa ao Melhor Conjunto Português de 1964 – Prémio Revelação.

Recebeu o troféu no decorrer de um espetáculo realizado nas férias da Páscoa, a 03 de abril, no Pavilhão dos Desportos, em Lisboa. Durante a curta estadia no Continente fez a sua primeira digressão, atuando no Porto, no Cine São João, e em Coimbra. Nesta altura gravou o segundo EP.

A ascensão do Conjunto parecia imparável. No entanto, o dilema “estudos versus carreira musical” persistiu durante bastante tempo e todos os elementos do Conjunto estavam na altura fortemente determinados a nunca abdicar dos estudos em favor de uma carreira artística, mesmo após a profissionalização dos elementos do grupo. O Conjunto chegou mesmo a pôr de lado aliciantes propostas de espetáculos e digressões porque coincidiam com o período escolar.

A quarta ida do Conjunto João Paulo a Lisboa aconteceu no Verão de 1965. Foi então que fez a sua primeira e longa digressão por terras africanas, em Angola e em moçambique, onde foram entusiasticamente recebidos e aplaudidos, tendo realizado um total de 34 espetáculos. Em setembro daquele ano gravaram o terceiro EP e regressaram à terra natal, de onde partem no início de outubro e, desta vez, os 6 elementos do grupo já não regressariam à Madeira. Passaram a residir em Lisboa, assumindo finalmente a profissionalização, a partir de 21 de novembro de 1965.

Destaca-se a participação do Conjunto, em novembro, na primeira parte de uma rie de três espetáculos, dois no Monumental, em Lisboa, e um no Rivoli, no Porto, em que a figura principal era o consagrado cantor francês Gilbert Bécaud, que, no final, felicitou rgio Borges com um caloroso “formidable! ”, documentado pelo Diário de Notícias na sua edição de 20-11-1965.

A senda do sucesso prosseguiu em 1966, com múltiplos concertos, digressões por todo o Continente e África, e a gravação de mais dois EPs e de um LP (long playing, a 33 rotações).

Para o Conjunto, os anos de 1965 e 1966 representaram efetivamente o apogeu do sucesso no contexto da música ligeira em Portugal, batendo inesperadamente todos os recordes de popularidade, registada pelos jornais da época, conforme atestam os seguintes indicadores: pertenceu ao Conjunto a honra de ter editado o primeiro LP de música Pop/Rock em Portugal (Metrópole), em setembro de 1966; na realidade, o 1º LP do Conjunto de João Paulo, composto pelas 12 faixas dos três primeiros EPs, já tinha surgido no ano anterior, com edição sul-africana, sob o título “Conjunto de João Paulo em Lourenço Marques” (LP Columbia 33JSX 71); o primeiro Clube de “Fans” (com esta grafia) que surgiu em Portugal foi o do Conjunto Académico João Paulo, em intensa atividade desde o início de 1965; chegou a receber por dia mais de 300 cartas de admiradores, tendo mesmo vindo a criar um Serviço de Relações Públicas para conseguir responder às inúmeras solicitações; uma agenda de atuações sempre bem recheada e diligentemente preparada e promovida, com o indispensável suporte do empresário Farinha; lotações sistematicamente esgotadas em memoráveis concertos, particularmente nos Teatros Monumental e Politeama, em Lisboa, com comoventes sessões de autógrafos, histeria e desmaios das fãs, fenómenos que surpreendiam os próprios elementos do Conjunto; um dos espetáculos no Monumental, a 07-02-1966, é mesmo tido como o primeiro grande concerto rock realizado por uma banda portuguesa, de acordo com Luís Pinheiro de Almeida, publicado por Ié-Ié no blog “Guedelhudos”, a 17-11-2007; a venda de discos do Conjunto superava todas as expetativas, chegando a ultrapassar os 10 000 exemplares com o 3º EP, “+ 1 disco = 4 sucessos”; o original ‘Hully Gully Do Montanhês’ (com autoria da invariável dupla rgio Borges/Carlos Alberto), do 3º EP, conquistou o 1º lugar do top 10 da classificação final do Grande Prémio do Disco de 1965, organizado pela revista “Rádio & Televisão” e pelos emblemáticos programas “Enquanto For Bom Dia” e “23ª Hora”, da Rádio Renascença, com base na votação dos leitores e dos ouvintes. O Conjunto João Paulo, que ainda conseguiu classificar no pódio outra canção original, ‘Chove’, do 2º EP (3º lugar), superou assim nomes sonantes da música nacional, como António Calvário, “Os Sheiks” ou “Os Ekos”, e internacional, como “The Beatles” ou Adamo. O prémio foi entregue durante um espetáculo realizado no Teatro Monumental no dia 02-02-1965; aparições regulares na RTP e presença permanente nas principais rádios de então (Emissora Nacional, Rádio Renascença, Rádio Clube Português).

A somar a esta impressionante popularidade, há ainda a sublinhar os êxitos individuais do cançonetista rgio Borges: em 1965 e 1966, rgio Borges manteve-se consistentemente nos cinco primeiros lugares da votação para o concurso “O Rei da Rádio”, organizado pela revista Plateia; em 1966, rgio foi distinguido com o Prémio Casa da Imprensa para o Melhor Cançonetista de música Ligeira, ex-aequo com Madalena Iglésias; no mesmo ano, rgio Borges conquistou um brilhante 2º lugar na segunda edição do Festival RTP da Canção, com ‘Nunca Direi Adeus’, tendo alguns elementos do Conjunto integrado a orquestra que o acompanhou.

Apesar deste estrondoso sucesso, e talvez mesmo como fator desse sucesso, mantiveram-se as caraterísticas e as qualidades pessoais e coletivas que constituíam a imagem de marca do Conjunto João Paulo e dos seus membros, designadamente a simpatia, o comedimento, a simplicidade e a humildade, o bom humor, a sobriedade, o uso de fato e gravata e os cabelos curtos, e ainda a tenacidade, a coesão e a saudável camaradagem que unia os seis elementos do Conjunto.

Para tão grande destaque no panorama musical português de meados dos anos sessenta terão certamente contribuído também, outros fatores, como o extremo cuidado e atenção ao pormenor que o grupo dedicava à produção dos seus espetáculos, tendo sido, aliás, mais uma vez pioneiro entre os conjuntos portugueses ao recorrer a um sonoplasta/luminotécnico, inicialmente Bruno Brazão e mais tarde Luís Rogério. O equipamento musical eletrónico ao serviço do Conjunto, no valor global de 200 contos da época, passara entretanto a equiparar-se, por sua vez, ao que de melhor existia no mercado.

E há ainda o decisivo fator estritamente musical. Nesta fase da sua carreira, e com as qualidades vocais de rgio Borges cada vez mais apuradas e em evidência, o Conjunto João Paulo mantinha uma invejável homogeneidade instrumental e aperfeiçoava progressivamente a sua sonoridade e o seu desempenho musical, quer no que diz respeito à execução dos diversos instrumentos e ao primor do acompanhamento e dos arranjos instrumentais, quer relativamente à notável qualidade e afinação dos coros, quer ainda no que se refere à muito ponderada e em grande medida autónoma escolha do repertório, que evoluía por seu turno no sentido de um cada vez maior relevo conferido à criação de originais do grupo. Os cinco EPs sucessivamente editados entre 1964 e 1966 passaram a incluir regularmente uma ou duas composições originais, assinadas por rgio Borges e por Carlos Alberto, de incontestável mérito, particularmente em relação à componente musical, e com enorme adesão do público.

1967 a 1969: música em tempo de guerra

Este extraordinário ciclo foi bruscamente interrompido a partir de setembro de 1966 com a compulsiva incorporação dos seis elementos do Conjunto, e ainda do sonoplasta, nas Forças Armadas Portuguesas, para cumprimento do serviço militar obrigatório.

Entre setembro e dezembro de 1966 fizeram a recruta em Mafra, na Escola Prática de Infantaria, e, de janeiro a março de 1967, efetuaram a especialidade na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Depois, aguardaram no Regimento de Cavalaria 7, em Belém, a viagem para as então designadas Províncias Ultramarinas.

O Conjunto João Paulo partiu então para cumprir o serviço militar nos 3 teatros da guerra colonial então existente, com a missão especial de realizar espetáculos para as Forças Armadas, um programa organizado pelas Seções dos Serviços Recreativos dos vários quartéis-generais, o que não os poupou, no entanto, às agruras da guerra (“Sofremos três ataques na Guiné (...) e em moçambique escapámos de uma mina por pouco”, revela rgio Borges em entrevista à revista Flama, em fevereiro de 1970).

De 03-10-1967 a 06-05-1968, atuaram para as tropas portuguesas na Guiné; de 07-05-1968 a 02-03-1969, em Angola; e, de 10-03-1969 a 11-11-1969, em moçambique. Foram no total cerca de 37 meses a prestar serviço militar. “(...) o que mais nos impressionou foi ver a alegria daqueles militares durante as duas horas de espectáculo, conviver com eles, (...)”, confessa o vocalista na supracitada entrevista à Flama.

Não se pense, porém, que o Conjunto João Paulo deixou de marcar presença na Metrópole ou que cessou a sua atividade criativa durante todo este período. Bem pelo contrário!

Por um lado, o Conjunto manteve com regularidade, de 1965 a 1971 (exceto em 1969), uma participação especial nos espetáculos de Carnaval no Teatro Monumental, em Lisboa, assumindo-se mesmo como cabeça de cartaz em 1968.

Por outro lado, revelando uma notável e persistente capacidade de crescimento musical, o Conjunto João Paulo soube adaptar-se com extraordinário talento aos novos estilos musicais, ao mesmo tempo que a qualidade poética dos originais do Conjunto atingia um patamar superior.

Esta nova e muito interessante produção musical do grupo foi apresentada ao público nacional através da gravação de um número impressionante de cinco novos EPs editados em 1967-68, o que catapultou o Conjunto João Paulo para o primeiro lugar entre os conjuntos portugueses de música Pop/Rock no que se refere ao número de discos editados nos anos sessenta – um LP e dez EPs no total, a que devem adicionar-se ainda dois LPs e diversos EPs editados na África do Sul, com distribuição em moçambique.

Mantiveram-se nesta fase (1967 a 1969), nas músicas editadas em disco pelo Conjunto, as versões de canções populares francesas (como ‘Kilimandjaro’) e italianas (como ‘Cosa Vuoi Da Me’, de Michele), a que se agregaram outros sucessos europeus consagrados no Festival da Eurovisão (p. ex., ‘Sombras’, adaptação da canção finlandesa ‘Varjoon-Suojaan’, ou a britânica ‘Puppet On A String’, de Sandie shaw).

Mas há duas fortes inflexões de percurso no repertório do Conjunto.

A primeira inflexão é uma sintomática e significativa viragem para a música Pop e mesmo Soul norte-americana, bem patente em canções como ‘When A Man Loves A Woman’ (de Percy Sledge e Otis Reding), ‘Monday, Monday’ (dos “The Mamas & the Papas”), ou ‘I Just Don’t Know What To Do With Myself’ (escrita por Burt Bacharach), e ainda ‘Tu E Eu’, adaptação para a língua portuguesa de ‘Happy Together’ (dos “The Turtles”). A influência dos californianos “Beach Boys” (particularmente com o tema ‘Good Vibrations’) também se fez sentir no original do Conjunto ‘A Shadow Rounds The Tomorrow Sounds’. A prova de que o Conjunto também não estava desatento à denominada música “clássica” é visível em temas como ‘Chove’, da fase anterior, ou, novamente, ‘A Shadow Rounds The Tomorrow Sounds’, desta fase, parcialmente inspirados, respetivamente, na Sonata nº 14 (‘Moonlight’) de Beethoven, e na Sinfonia nº 8 (‘Inacabada’), de Schubert, com o talento de Carlos Alberto para a composição em evidência.

A segunda inflexão traduz uma renovada e forte aposta em originais. Em 1967 e 1968, o Conjunto João Paulo editou um total de sete novos originais, de fino recorte técnico e inspirada composição, e demonstrou estar bem atento aos novos rumos da música Rock internacional, integrando-os nas suas composições, designadamente a já referida Soul Music, mas também o Rock Psicadélico ou o Rock Sinfónico, cuja influência é bem visível em temas originais como ‘Sue Lin – A Minha Chinesa’, ‘I Hate Those Moments’ ou ‘O Louco’, além do já citado ‘A Shadow Rounds The Tomorrow Sounds’.

Estas novas composições representaram assim um significativo salto qualitativo na produção do Conjunto, quer em termos de execução técnica instrumental (atente-se, p. ex., no exímio fraseado do órgão de João Paulo em ‘O Louco’ e em ‘A Shadow Rounds The Tomorrow Sounds’, no impecável trabalho do guitarrista Carlos Alberto em ‘Sue Lin – A Minha Chinesa’, em ‘Quando nasce o amor’, e em ‘A Shadow Rounds The Tomorrow Sounds’, ou nas primorosas marcações e linhas da viola-baixo de Ângelo Moura em ‘O Louco’ e em ‘A Shadow Rounds The Tomorrow Sounds’), quer em termos de diversidade tímbrica (o cravo, o vibrafone e até o assobio humano fazem a sua aparição), quer no que se refere ao refinado trabalho vocal (ouçam-se os coros em ‘Poema De Um Homem Só’ ou em ‘A Shadow Rounds The Tomorrow Sounds’, p. ex.), quer ainda no que diz respeito às componentes melódica, harmónica e formal das composições, que fogem aos lugares comuns e atingem o seu expoente máximo na excelente e multifacetada ‘A Shadow Rounds The Tomorrow Sounds’, que chegou mesmo a registar grande sucesso além-fronteiras, ao atingir o 1º lugar no top do programa “Europa-1”, na proeminente Rádio Luxemburgo. Este desenvolvimento do Conjunto potenciava por sua vez a voz de rgio Borges, que demonstrava capacidade para vencer os mais rios desafios vocais, no binómio técnica/interpretação.

1970 e 1971: João Paulo 70, o novo projeto

Concluída a comissão militar, nos finais de 1969 é apresentado com pompa e circunstância na imprensa da época (nomeadamente em entrevista à Revista Rádio & Televisão, em 1970) o novo e ambicioso projeto do Conjunto João Paulo, intitulado “João Paulo 70”.

A estreia do novo espetáculo, no dia 28 de outubro de 1969, ocorre ainda em território moçambicano, seguindo-se uma digressão pela África do Sul (atuações em Joanesburgo e Pretória, para os emigrantes portugueses) e concertos em Luanda, em todos os casos contando já com a participação da cantora sul-africana Vickie M’ Longo, que passou a integrar o Conjunto, acentuando a sua vertente Soul.

De volta ao Continente português, Rui Brazão (para prosseguir os estudos de Medicina) e José Gualberto (que regressou à Madeira para se dedicar à atividade turística) abandonaram o Conjunto e foram substituídos pelo baterista belga Adrien Ransy e pelo saxofonista José Manuel Fonseca, ambos ex-membros do entretanto extinto “Quinteto Académico + 2”, que assim deram corpo à nova sonoridade pretendida para o “João Paulo 70”.

Em 1970, o renovado septeto fez a sua grande estreia na Metrópole, no Teatro Monumental, em Lisboa, seguindo-se múltiplas atuações no Continente português, uma digressão de dez dias aos Açores e ainda, em setembro, uma bem-sucedida digressão aos Estados Unidos da América (Massachussetts) e ao Canadá (Toronto), onde atuaram para as comunidades de emigrantes portugueses. Nessa ocasião, rgio Borges ganhou novo prémio, o galardão da WTEV – canal 6 – para o “Artista Mais popular” de 1970, no contexto do programa “Passaporte para Portugal”, daquela estação de TV norte-americana, dirigida sobretudo às comunidades portuguesas.

No final desse ano, o projeto “João Paulo 70” desfez-se, com a saída da cantora, do baterista e do saxofonista. Para os compromissos de 1971, em que, para além da edição discográfica, se destacou a realização de um cruzeiro no Mediterrâneo (no navio Príncipe Perfeito), como conjunto-atração, o novo baterista passou a ser o madeirense José Carlos Martins (ex-membro da banda “Os Dinâmicos”), num formato de quinteto.

1970 marcou também para rgio Borges um dos momentos culminantes da sua longa carreira, ao vencer finalmente, em maio, o VII Grande Prémio TV da Canção, promovido pela RTP, com a canção ‘Onde Vais Rio Que Eu Canto’, com música de Nóbrega e Sousa, letra de Joaquim Pedro Gonçalves, orquestração de Joaquim Luís Gomes e acompanhamento pela Orquestra Ligeira da Emissora Nacional, dirigida por Jorge Costa Pinto, derrotando assim a nova geração ascendente de autores e intérpretes da canção portuguesa, designadamente os cantores Paulo de Carvalho, Fernando Tordo ou Duarte Mendes, e o poeta Ary dos Santos. Foi a vitória da experiência e de uma soberba interpretação de rgio Borges, incluindo um arriscado, virtuoso e quiçá decisivo improviso na parte final da canção, perante algumas composições concorrentes de maior valia, em particular as excelentes ‘Canção de Madrugar’ e ‘Corre Nina’, posteriormente editadas em disco pelo próprio rgio.

Infelizmente, esta foi a única edição do Festival RTP da Canção que não levou o vencedor ao Festival da Eurovisão. Portugal optou por não participar no concurso da Eurovisão em 1970, em sinal de protesto face à alegada viciação de votos ocorrida no ano anterior, em que a representante portuguesa fora Simone de Oliveira, com a canção ‘Desfolhada’.

Para rgio Borges, face à impossibilidade de se apresentar na Eurovisão, a alternativa foi a participação, de 20 a 22-11-1970, no 1º Festival Internacional da Canção popular de Tóquio, no japão, organizado pela Yamaha Foundation for Music Education, com ‘Onde Vais Rio Que Eu Canto’, acompanhado pela Orquestra Sinfónica de Tóquio. Para este festival, foram selecionadas apenas 36 canções entre 528 canções candidatas (das quais 36 portuguesas), enviadas por 45 países.

No que toca à produção musical, esta fase, em termos de edição discográfica, revelou-se mais uma vez muito rica e ao mesmo tempo desconcertante, envolvendo significativas mudanças na matriz musical e poética de um grupo sempre em crescendo e atento ao devir da música Pop/Rock. Para além das quatro canções gravadas sob o nome de “Vickie e o Conjunto João Paulo”, com vincada conotação Soul, em dois singles (formato com uma faixa de cada lado do disco), o Conjunto, apresentando-se finalmente como “rgio Borges e o Conjunto João Paulo”, editou, entre 1970 e 1972, 12 novas canções, em grande maioria originais e com uma aposta mais forte do que nunca na língua portuguesa (em 3/4 das canções), incluídas em dois EPs e dois singles.

Nesta nova produção musical do Conjunto, é de destacar sobretudo um grande salto qualitativo nas letras das canções originais (em maioria de autores exteriores ao grupo), em particular nas quatro composições que resultaram da profícua colaboração com o letrista madeirense Gualdino Rodrigues. A acrescida preocupação com o conteúdo das letras indicia que o Conjunto terá sido porventura sensível ao impacto dos novos rumos musicais traçados pela música de intervenção de origem anglo-saxónica, que então ganhava notória popularidade (bastará evocarmos Donovan, Bob Dylan ou Joan Baez), protagonizada em Portugal pelos emblemáticos José Afonso ou Adriano Correia de Oliveira, entre outros, a partir dos últimos anos do Estado Novo. Perdida a inocência dos verdes anos, as novas composições do Conjunto, aproximando-se mesmo por vezes da estética das canções de intervenção ou de protesto assumem, por um lado, contornos de crítica social (em ‘A Uma Gina’ ou ‘Paul da Serra’, p. ex.) e, por outro lado, uma tomada de consciência política, bem visível em temas como ‘O Salto’, a música do pelotão, composta em Mafra pelo trio rgio Borges e Carlos Alberto (letra), e João Paulo (música) [“(...)sangue derramado/do outro lado do mar.”], como ‘O Lavrador’, cuja letra teve de ser alterada por rgio Borges, para escapar à censura do regime ditatorial, ou ainda como ‘God Of Negroes’, “uma balada pungente, verdadeiro espiritual negro”, no dizer do seu autor, José das Dores, aka Zeca do Rock (citado por A. Cortez no blogmúsica a preto e branco”), também autor, aliás, de ‘O Lavrador’. Ângelo Moura, em entrevista realizada por Jorge Borges a 26-08-2013, manifestando-se chocado, confessa que ‘God Of Negroes’ lhe “lembra a África do Sul, na época do apartheid”.

No total, o Conjunto João Paulo editou, entre 1964 e 1972, 58 composições, das quais 25 eram originais, em 12 EPs, 4 singles e um LP. Digna também de registo é a edição, posterior, de duas compilações em formato de cassete, para além de numerosas outras reedições, compilações e coletâneas, em formatos LP ou CD.

Em nome próprio, rgio Borges gravou ainda, em 1970, mais 6 canções, 5 das quais oriundas do VII Festival RTP da Canção, incluindo naturalmente a canção com que vencera o concurso, ‘Onde Vais Rio Que Eu Canto’.

1971 a 1979: regresso definitivo à Madeira e o fim do Conjunto

A incomparável carreira de rgio Borges e do Conjunto João Paulo nos palcos do Continente termina inesperada e definitivamente quando, no final de 1971, o grupo decide regressar às origens. Porquê? rgio Borges, em entrevista concedida em 1991 à RTP-Madeira no programa “Gente de Cá” (rgio Borges e o Conjunto Académico João Paulo RTP-M, 1991) e Ângelo Moura, em entrevista realizada por Jorge Borges a 26-08-2013, explicam: por cansaço da intensa atividade e inúmeras deslocações; porque o Conjunto já atingira todas as metas, tendo ganho tudo o que havia a ganhar; para criar as condições de uma vida profissional compatível com o casamento e a constituição de uma família; por um certo desencanto face às novas tendências da música popular portuguesa; pela necessidade de conforto e estabilidade financeiras, perante as dificuldades de garantir um rendimento satisfatório para uma banda tão numerosa (segundo rgio Borges, “em Portugal, um conjunto que é composto por nove pessoas, sete no palco, mais empresário e técnico, é uma fórmula errada”); porque o Conjunto conseguiu um bom contrato no Reid’s Hotel, no Funchal – 8 contos, e, pouco depois, 16 contos por mês para cada um (para Ângelo Moura, “o fator financeiro foi decisivo”); e, por fim, porque o grupo preferiu retirar-se enquanto ainda permanecia no topo.

E assim foi: de 1971 a 1979, rgio Borges, como vocalista e Diretor Artístico, e os três restantes sobreviventes do sexteto clássico, João Paulo, Carlos Alberto e Ângelo Moura, forçados a fazerem a reciclagem em música para dançar, cumpriram contrato exclusivo no referido hotel, apresentando-se como “Conjunto João Paulo e o cançonetista rgio Borges”, numa fase inicial ainda com José Carlos Martins, e, a partir do Outono de 1972, com outro madeirense, José Manuel, à bateria.

A desagregação final do Conjunto aconteceu no termo desse período: João Paulo regressou ao Continente; Ângelo Moura permaneceu ainda no Reid’s, com o pianista Aguilar e Luís Gama na voz e bateria, até 1982 (depois, abandonou a música). Apenas rgio Borges e Carlos Alberto continuaram a sua carreira como músicos profissionais.

1980 a 2013: os últimos passos

A partir de 1980, foi no Casino da Madeira e no Casino Park Hotel, do grupo Pestana, em regime de exclusividade, que rgio Borges e Carlos Alberto terminaram as suas carreiras profissionais, em 2004 e 2006, respetivamente.

Carlos Alberto (com rgio Borges), inicialmente, no Casino da Madeira, fez parte do quarteto do pianista Tony Amaral Júnior, com José Manuel à bateria e Hélder Gonçalves no baixo. Além da guitarra, Carlos Alberto passou, desde a temporada no Reid’s, a tocar também piano e outros teclados. Em 1989, transitou para o Casino Park Hotel, onde, em trio, acompanhou a cantora Maria da Paz Rodrigues, além de tocar piano solo. Mais tarde, fez a rotatividade em vários hotéis do grupo Pestana, a solo, como pianista e vocalista, cumprindo assim o seu desígnio de juventude.

Quanto a rgio Borges, há muito mais para contar, sobretudo a partir de meados dos anos 80, como resultado da colaboração com o músico e produtor musical madeirense Paulo Ferraz, que trouxe novo impulso à sua carreira.

Reeditando, 14 anos decorridos, o êxito nos palcos do Continente, o cantor participou, em novembro de 1985, num conjunto de espetáculos realizados no Casino Estoril, integrado na Semana da Madeira, que decorreu entre 08 e 17-11-1985, numa iniciativa que contou com o apoio da Casa da Madeira em Lisboa e do Governo Regional da Madeira e com a presença de outros músicos representantes da Região, designadamente a banda “Os Algozes”, a fadista Rosa Madeira e um grupo folclórico, conforme noticia o semanário Se7e na sua edição de 06-11-1985.

No ano seguinte, apresentou-se pela terceira e última vez no Grande Prémio TV da Canção promovido pela RTP, cantando, no Casino da Madeira, a composição ‘Quebrar a Distância’, um emotivo original de rgio Borges (letra) e de Paulo Ferraz (música), depois editado em single, com execução instrumental e direção musical de Paulo Ferraz, e participação do músico convidado Luís Filipe.

Em 1987, rgio assumiu as funções de Diretor Artístico do Casino, que passou a acumular com as de cantor residente, nos dois espaços referidos, acompanhado, numa primeira fase, pelo Conjunto de Tony Amaral e, numa segunda fase, por Paulo Ferraz (teclados), em duo e quarteto, sendo de destacar a mestria com que animava, já na reta final da carreira, em companhia da cantora Sian Lesley e do trio de Paulo Ferraz, o show internacional do Casino da Madeira, cativando o público presente, maioritariamente constituído por turistas.

Em 1987, rgio Borges pisou mais uma vez o palco do Teatro Municipal do Funchal, e novamente como figura principal, por vezes em dueto, numa rie de espetáculos realizados sob o título “Isto é Madeira”, por solicitação da Secretaria Regional do turismo, em que também participaram Paulo Ferraz, as vocalistas Sian Lesley e Rosa Madeira, e o grupo de bailarinas do Casino, com cenários de Nini Andrade. Diversos originais criados em conjunto por rgio Borges e Paulo Ferraz especificamente para essa ocasião, alguns dos quais integrados no CD gravado em 2003, foram então apresentados ao público.

Ainda no mesmo ano, o Conjunto Académico de João Paulo é alvo de uma primeira (e única, até ao presente) homenagem, na edição de 1987 da “Festa da Juventude”, realizada no Funchal, com a presença da totalidade dos músicos do sexteto “clássico”, conforme refere o Jornal da Madeira na sua edição de 27-06-1987.

Em 1994, rgio Borges foi distinguido com a Estrelícia Dourada, galardão atribuído pelo Governo Regional da Madeira, pelos relevantes serviços prestados em prol do turismo da Região.

Em meados dos anos 90, são também dignas de registo duas atuações de rgio Borges, em duo com Paulo Ferraz, na Feira Internacional de turismo de Lisboa, representando o grupo Pestana e a ram.

Em 2003, rgio entrou pela derradeira vez em estúdio para gravar o CD “rgio Borges 40 anos a cantar”, editado em agosto desse ano, com 11 canções, incluindo alguns temas clássicos da carreira do cantor e do Conjunto João Paulo, e mais quatro originais, com a colaboração de Paulo Ferraz na composição, letras de Maria Aurora e de Bernardete Falcão e a participação especial da fadista Rosa Madeira na canção ‘Desencontro’. Paulo Ferraz foi ainda o responsável pela produção musical do CD e pelos arranjos, neste caso coadjuvado por Duarte Nuno Andrade.

Na globalidade da sua carreira, rgio Borges editou 70 canções como vocalista, das quais 26 foram da sua autoria (música e/ou letra), em 13 EPs, 4 singles, um LP e um CD.

Em setembro de 2003, teve lugar um grande espetáculo comemorativo dos 40 anos de carreira de rgio Borges, dinamizado pelo seu filho, Daniel Borges, e realizado no Centro de Congressos do Casino da Madeira, com lotação esgotada e a presença dos antigos companheiros João Paulo, Carlos Alberto, Ângelo Moura e Bruno Brazão. A 1ª parte do concerto foi preenchida pelo grupo madeirense de Jazz “Oficina”, que, entre outros temas, interpretou a ‘Canção de Madrugar’, em homenagem ao rgio. Na 2ª parte, o próprio rgio foi o protagonista, revisitando com o mesmo fulgor de sempre velhos e novos temas da sua história, com produção, direção musical e arranjos de Paulo Ferraz. Em comovente duo com Jorge Borges, seu irmão, ao piano, cantou ‘Em Silêncio’, um original de Jorge Borges, com letra de Natércia Petim. Pouco depois, em 2004, um AVC pôs fim prematuro à sua carreira.

Seguiram-se variadas homenagens e galardões atribuídos a rgio Borges, o justo reconhecimento pela valiosa obra que nos legou.

Em 2005, rgio Borges foi galardoado com o Prémio da Cultura, atribuído pelo Governo Regional da Madeira.

Em 2010, 2011 (ainda em vida) e 2012 (a título póstumo, dado que rgio Borges faleceu em Dezembro de 2011), o ilustre cantor foi homenageado em três espetáculos realizados, respetivamente, no Teatro Municipal do Funchal, no Centro de Congressos do Casino da Madeira e durante as festas de São Vicente, por iniciativa de Daniel Borges, envolvendo a participação da filha mais jovem de rgio Borges, Sarah Borges, como vocalista.

No dia 10-06-2012, o Representante da república na Madeira, por delegação do Presidente da república, condecorou-o com o grau de Comendador da Ordem de Mérito, na pessoa do seu filho Daniel.

A 05-07-2012, foi homenageado pela Câmara Municipal do Funchal, durante a 13ª edição do Festival Funchal Jazz.

Por fim, a 21-08-2012, a Câmara Municipal do Funchal atribuiu a rgio Borges a Medalha de Ouro de Mérito.

Bibliografia impressa: ALMEIDA, Luís Pinheiro de, ALMEIDA, João Pinheiro de (dir.), Enciclopédia da música Ligeira Portuguesa, ed. Círculo de Leitores, Lisboa, 1998, pp. 90, 348; SARDINHA, Vítor, CAMACHO, Rui, Noites da Madeira, Funchal, Xarabanda / Associação Musical e Cultural, 2005, pp. 94-99, pp.168-170; TILLY, António, CALLIXTO, João Carlos, “Conjunto João Paulo”, in CASTELO-BRANCO, Salwa (dir.), Enciclopédia da música em Portugal no culo XX, vol. 1 (A-C), ed. Círculo de Leitores, coleção Temas e Debates, Lisboa, 2010, pp. 321-323. 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Redifundido em 2006, na RTP – Memória; Fontes orais: Entrevista realizada pelo autor a Ângelo Moura e a Carlos Alberto Gomes, 26-8-2013.

Jorge Borges

(atualizado a 15.07.2016)