aves

30 Jan 2017 por "Leocadia"

No arquipélago da Madeira, a classe das aves está representada por 45 espécies reprodutoras que se distribuem por 11 grupos diferentes, dos quais se destacam os mais numerosos, aves marinhas, aves de rapina e passeriformes. Das aves reprodutoras, as que merecem maior destaque são as 4 espécies endémicas do arquipélago, o pombo-trocaz, a freira-da-madeira, o bisbis e a freira-do-bugio, e as 3 espécies endémicas da região biogeográfica da Macaronésia (área que inclui os arquipélagos dos Açores, da Madeira, das Canárias e de Cabo Verde), o corre-caminhos, o canário-da-terra e o andorinhão-da-serra. Algumas das espécies que eram visitantes, tais como a galinha-d’água e o galeirão, foram encontrando condições para se reproduzirem anualmente no arquipélago. Verifica-se também a nidificação de 6 espécies introduzidas: o pato-mandarim, a rola-turca, o periquito-rabijunco, o bico-de-lacre e o lugre, que provavelmente se estabeleceram por introdução acidental, após fuga de cativeiro, e a perdiz, que foi introduzida no início da colonização do arquipélago.

Aves nativas nidificantes

Codorniz Coturnix coturnix confisa (Hartert 1917) – Nidifica nas ilhas da Madeira, de porto santo e das Desertas. Apresenta preferência pelas áreas abertas com vegetação rasteira que forma núcleos densos suficientemente altos para a ave se esconder. Pode ser observada a todos os níveis altitudinais, desde que exista habitat adequado. É uma espécie cinegética com hábitos discretos, sendo quase sempre detetada exclusivamente pelo seu chamamento característico ou, quando assustada, pelo seu voo rápido e baixo. A subespécie C. c. confisa, que ocorre apenas nos arquipélagos da Madeira e das Canárias, apresenta menores dimensões e plumagem mais escura e avermelhada. É uma ave omnívora, alimentando-se sobretudo de sementes e insetos.

Pombo-das-rochas, pombo-bravo, pombinho ou pombo-doméstico Columba livia atlantis (Gmelin 1789) – Em 2015, foram colocadas dúvidas em relação ao estatuto desta espécie devido ao cruzamento com aves ferais, ou seja, aves domésticas que se tornaram selvagens. De forma geral, a forma pura nidifica em falésias costeiras pouco perturbadas, em pequenas cavidades ou fissuras de rochas. Na ilha da Madeira, ocorre em diversas áreas do interior e zonas altas, desde que a presença humana seja pouco notória. Ocorre também no porto santo e nas Desertas, embora não existam registos de nidificação nesta última. Alimenta-se sobretudo de sementes, cereais e plantas herbáceas, podendo ingerir folhas e invertebrados. A subespécie C. l. atlantis, que é endémica da Macaronésia, também ocorre na Madeira e nos arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde.

Pombo-trocaz, pombo-escuro-da-serra, pombo-da-madeira ou pombo-preto Columba trocaz (Heineken 1829) – Espécie endémica cuja ocorrência está restrita à ilha da Madeira. Embora esteja frequentemente associada à floresta laurissilva, tornou-se comum observá-la em áreas de floresta mista, áreas agrícolas e meios rurais. Em 2015, tinha uma população superior a 10.000 indivíduos. A sua alimentação é essencialmente composta por bagas e frutos das árvores da laurissilva, alimentando-se também de folhas e flores de plantas mais pequenas. Durante o inverno, frequentemente procura alimento nas áreas limítrofes da floresta, onde se alimenta de couves e nas árvores de fruto. Por esta razão, continua a haver conflitos entre esta ave e alguns agricultores, em especial devido aos elevados prejuízos causados nos campos agrícolas.

Andorinha ou andorinhão-da-serra Apus unicolor (Jardine 1830) – Espécie endémica da Macaronésia, que nidifica apenas nos arquipélagos da Madeira e das Canárias. Está presente nas ilhas da Madeira e do porto santo e, embora seja frequentemente observada nas Desertas e Selvagens, não existem registos que confirmem a sua nidificação nestas ilhas. Encontra-se bem distribuída por toda a ilha da Madeira, desde a costa até aos 1800 m de altitude, nidificando em fendas de rochas de falésias costeiras e do interior, em pequenos ilhéus, ribeiras e até em núcleos urbanos. Embora esteja presente no arquipélago da Madeira durante todo o ano, grande parte da população migra para Marrocos, onde permanece durante os meses de inverno, partindo em outubro e regressando em fevereiro. Alimenta-se de insetos, que captura em pleno voo.

Andorinha ou andorinhão-do-mar Apus pallidus brehmorum (Hartert 1901) – A informação existente sobre esta espécie no arquipélago é escassa, devido à dificuldade de a distinguir do Andorinhão-da-serra, embora este seja menor e de cauda mais bifurcada. De forma geral, está restrita às áreas de menor altitude da ilha da Madeira e, em especial, às falésias costeiras, nidificando em fendas de rochas, embora, por vezes, seja observada em locais afastados da costa e em bandos misturados com o Andorinhão-da-serra. Existem registos também da sua presença nas ilhas Selvagens. A subespécie A. p. brehmorum ocorre no Sul e Oeste da Europa, em grande parte do Norte de África e nos arquipélagos das Canárias e da Madeira. Difere no comprimento da asa e na coloração da plumagem, que é ligeiramente mais clara. A sua dieta é composta, essencialmente, por insetos voadores de tamanho médio.

Galinha-d’água Gallinula chloropus (Linnaeus 1758) – Uma das aves aquáticas mais comuns e versáteis que nidifica em Portugal. A sua presença na Madeira tem sido registada desde meados do culo passado; no entanto, a sua nidificação apenas foi confirmada na ilha da Madeira em 1999 e no porto santo em 2002. Ocorre em áreas húmidas, e.g. em foz de ribeiras, em lagoas e em reservatórios de água que apresentem na margem alguma vegetação densa e bem desenvolvida. Durante o inverno e os períodos de migração, o número de indivíduos encontrados no arquipélago é bastante superior, correspondendo às aves que estão de passagem entre os locais de nidificação, situados a norte, e os locais de alimentação, localizados a sul. É uma ave com uma dieta omnívora, dominada por invertebrados aquáticos e por partes de plantas.

Galeirão Fulica atra (Linnaeus 1758) – Tal como a galinha-d’água, a sua presença na Madeira tem sido registada desde meados do c. XX; no entanto, a sua nidificação na ilha da Madeira e no porto santo apenas foi confirmada em 2009. Encontra-se também em áreas húmidas (foz de ribeiras, lagoas e reservatórios de água) que apresentem na margem alguma vegetação densa e bem desenvolvida, seja do tipo herbáceo (caniços ou juncos), seja do tipo arbóreo (salgueiros ou tamargueiras), onde possa esconder os seus ninhos. Durante o inverno e os períodos de migração, o número de indivíduos encontrados no arquipélago também é bastante superior. É facilmente identificável por apresentar plumagem negra, e bico e placa da fronte brancos. Uma das suas características é correr na água antes de levantar voo. Alimenta-se de uma grande variedade de organismos, sobretudo de plantas.

[caption id="attachment_9148" align="alignleft" width="300"]EMEPC Selvagens Expedition 2010 EMEPC Selvagens Expedition 2010[/caption]

Calca-mar Pelagodroma marina hypoleuca (Webb, Berthelot and Mouquin-Tandon 1841) – Ave marinha de pequeno porte, caracterizada por ter patas compridas. O seu voo é peculiar, com balanços de lado a lado como se fosse um pêndulo, batendo, por vezes, levemente com as patas na superfície da água do mar, como se desse pequenos saltos. Esta característica provavelmente deu origem ao seu nome português: Calca-mar. Ocorre apenas nas ilhas Selvagens, escavando os seus ninhos nas áreas com solo arenoso. Apresenta uma população bastante numerosa, que na Selvagem Grande ronda, em 2015, os 36.000 casais. A colónia da Selvagem Grande representa o limite norte da sua distribuição mundial, estando presente entre os meses de dezembro e agosto. A subespécie P. m. hypoleuca é endémica da Macaronésia, estando presente apenas nos arquipélagos da Madeira e das Canárias. Distingue-se pelo tamanho, pelo seu bico mais curto e pela coloração mais escura do dorso cinzento e da cabeça. Alimenta-se de pequenos camarões, pequenos peixes e plâncton, que captura através de mergulhos pouco profundos ou à superfície da água.

Roque-de-castro Hydrobates castro (harcourt 1851) – A ave marinha mais pequena que nidifica no arquipélago, sendo menor que um melro Turdus merula. É facilmente reconhecida por apresentar plumagem quase toda negra, à exceção de uma barra branca junto à cauda. Em Portugal, nidifica nas Berlengas, nos Açores e na Madeira. No arquipélago da Madeira, está presente em todas as ilhas e apresenta duas populações que nidificam em períodos distintos: a população de verão, que está presente entre abril e setembro, e a população de inverno, que se reproduz entre setembro e março. Aproveita pequenos buracos entre pedras, fendas de rochas e muros de pedra para construir os seus ninhos, que são de reduzida dimensão. Alimenta-se exclusivamente de pequenos organismos vertebrados e invertebrados, que captura à superfície do mar.

Freira-do-bugio Pterodroma deserta (Mathews, 1934) – Ave que nidifica apenas no Bugio, uma das três ilhas Desertas. O seu período reprodutor ocorre entre junho e dezembro e os ninhos estão concentrados no planalto sul do Bugio e em algumas zonas de escarpa adjacente. Estes ninhos são escavados no solo e formados por um túnel, que pode atingir mais de um metro de profundidade, tendo no final uma cavidade onde é colocado um único ovo. É uma ave marinha de médio porte, que no mar se distingue pelo facto de a parte inferior das asas ser de cor escura, contrastando com o peito e ventre branco, e por apresentar um voo distinto, efetuando “Vs” pronunciados. Considerou-se que se tratava da mesma espécie que ocorre em Cabo Verde, mas estudos morfométricos, acústicos e genéticos confirmaram a sua separação, permitindo a sua classificação como espécie endémica do arquipélago da Madeira. Em 2015, a população no Bugio foi estimada entre 160 a 180 casais reprodutores. Alimenta-se de peixes, crustáceos (tipo camarão) e, em especial, de cefalópodes (lulas).

Freira-da-madeira Pterodroma madeira (Mathews 1934) – Ave endémica da ilha da Madeira que nidifica apenas nos picos mais elevados da mesma, entre o Pico do Areeiro e o Pico Ruivo. É considerada a ave marinha mais ameaçada da Europa e julgou-se extinta até aos finais da década de 1960, altura em que foi redescoberta por Paul Alexander Zino. O seu nome inglês, Zino's petrel, é um reconhecimento ao trabalho desenvolvido por este ornitólogo. Desde o período da sua redescoberta, a espécie foi alvo de trabalhos de conservação, de forma a recuperar o seu habitat de nidificação e evitar o ataque por predadores introduzidos, tais como ratos e gatos. A sua população foi crescendo lentamente até 2010, período em que se estimava a existência entre 65 a 80 casais. Em Agosto de 2010, um violento incêndio consumiu uma parte significativa do Maciço Montanhoso Central, afetando toda a área de nidificação da espécie. Embora a mortalidade de adultos tenha sido pequena (apenas três aves), cerca de 70 % dos ninhos foram destruídos. Apesar das medidas de emergência adotadas (construção de ninhos artificiais, minimização dos efeitos de erosão, entre outras), só uma observação de médio a longo prazo permitirá confirmar as consequências deste incêndio no sucesso reprodutor da espécie. Está presente na ilha da Madeira entre os meses de março e outubro. O seu nome português deriva do facto de a sua plumagem (escura na cabeça e branca no ventre) se assemelhar ao hábito de uma freira. No entanto, também há histórias de pastores assustados que, pelo facto de a sua vocalização se assemelhar a um uivo que só é emitido à noite, argumentam que as aves são as almas penadas das freiras que outrora viveram no curral das Freiras. É muito semelhante à freira-do-bugio P. deserta, distinguindo-se por ter menores dimensões, bico menos robusto e plumagem da cabeça mais clara. Alimenta-se de pequenos peixes, camarões e cefalópodes (lulas).

[caption id="attachment_9152" align="alignleft" width="300"]EMEPC Selvagens Expedition 2010 EMEPC Selvagens Expedition 2010[/caption]

Cagarra ou pardela Calonectris borealis (Cory 1881) – A maior ave marinha que nidifica no arquipélago da Madeira, estando presente em todas as ilhas. De forma geral, nidifica junto da costa, em ilhéus e falésias costeiras; no entanto, na ilha da Madeira, também se verifica a sua presença em vales do interior. Está presente no arquipélago entre os meses de fevereiro e novembro.

[caption id="attachment_9156" align="alignright" width="300"]EMEPC Selvagens Expedition 2010 EMEPC Selvagens Expedition 2010[/caption]

A Selvagem Grande é a ilha com maior densidade de cagarras no mundo, apresentando, em 2015, uma população de aproximadamente 29.540 casais. Esta espécie, restrita ao oceano Atlântico, ocorre em todo o território português e nas Canárias. No passado, foi alvo de intensa caça pelo homem, em especial nas ilhas Selvagens, onde se chegaram a capturar entre 20.000 a 22.000 juvenis por ano, o que na época provocou um grave declínio da população. Alimenta-se essencialmente de peixe e cefalópodes.

[caption id="attachment_9159" align="aligncenter" width="300"]EMEPC Selvagens Expedition 2010 EMEPC Selvagens Expedition 2010[/caption]

Patagarro, estrapagado, papagarro ou boieiro Puffinus puffinus (Brunnich 1764) – Ave marinha que nidifica apenas na ilha da Madeira. De forma geral, reproduz-se em ilhas e ilhéus costeiros e os seus ninhos podem ser encontrados desde o nível do mar até cerca de 700 m de altitude. No entanto, na ilha da Madeira, os seus ninhos localizam-se em vales húmidos do interior associados à floresta laurissilva, sendo possível encontrá-los até aos 1200 m de altitude. A colónia mais conhecida é a existente no Parque Ecológico do Funchal, mais precisamente ao longo da Ribeira de Santa Luzia, alvo de um projeto de conservação desde 1994 e profundamente afetada pelos incêndios de agosto de 2010. Nidifica na Ilha entre os meses de janeiro e julho, embora em agosto e setembro se verifique a passagem de numerosos indivíduos oriundos das colónias localizadas no norte do Atlântico, em migração para sul. A sua alimentação inclui peixes, camarões e cefalópodes.

Pintainho ou pintelho Puffinus iherminieri baroli (Lesson 1839) – Ave marinha de média dimensão que nidifica em todas as ilhas do arquipélago, construindo os seus ninhos entre pedras e em fendas de rochas. Por ser uma ave que se reproduz no período de inverno (dezembro a maio), é pouco conhecida e dificilmente observada no mar. A subespécie P. i. baroli é endémica da Macaronésia, nidificando nos arquipélagos dos Açores, da Madeira e das Canárias. É semelhante ao patagarro, mas de menores dimensões e com penas brancas em volta dos olhos. A Selvagem Grande acolhe a maior colónia da espécie no arquipélago, com cerca de 1400 casais reprodutores em 2015. As aves desta ilha não apresentam comportamento migrador, visitando a colónia ao longo de todo o ano. Alimenta-se essencialmente de pequenos peixes e cefalópodes (lulas).

Alma-negra ou anjinho Bulweria bulwerii (Jardine & Selby 1828) – Ave de pequeno porte, com plumagem totalmente escura e asas compridas, que apresenta uma ampla distribuição, embora no Atlântico a sua nidificação esteja restrita aos arquipélagos da Macaronésia. Nidifica em grande número em todas as ilhas do arquipélago da Madeira, destacando-se a colónia das Desertas, que é considerada a maior do Atlântico. Está presente entre os meses de abril e setembro e constrói os seus ninhos entre pedras e em fendas, muitas vezes ocupando os ninhos de pintainho. Não vocaliza em voo, emitindo sons que se assemelham ao ladrar de um cão apenas quando se encontra no interior do ninho. No mar, é facilmente identificada pelo seu voo rápido e com frequentes mudanças de direção. Os estudos indicam que a sua dieta é constituída essencialmente por plâncton, incluindo ovos de peixe, cefalópodes e peixes.

Rolinha-da-praia Charadrius alexandrinus (Linnaeus 1758) – Ave limícola de pequeno tamanho que nidifica apenas na ilha do porto santo, ocorrendo ao longo da praia, em especial nas áreas menos perturbadas, embora também possa ser detetada em estradas de terra batida no centro e norte da ilha. Durante o inverno e os períodos de migração, o número de indivíduos encontrados na praia do porto santo é superior. Durante este período, também pode ser observada na foz de ribeiras e lagoas da ilha da Madeira. No porto santo, os registos de nidificação da espécie eram, em 2015, cada vez menores, o que poderia indicar uma tendência populacional negativa. A diminuição das populações foi verificada em toda a sua área de distribuição na Europa, em especial devido à perturbação humana, perda de habitat e predação por cães e gatos. É comum observar indivíduos isolados ou em pequenos grupos em corrida na praia do porto santo, junto à rebentação, onde se alimenta de diversos invertebrados.

Galinhola Scolopax rusticola (Linnaeus 1758) – Está presente apenas na ilha da Madeira, ocorrendo essencialmente nas áreas de maior altitude (entre os 1200 e 1600 m) da porção oeste da ilha, onde a vegetação de altitude se caracteriza por ser de pequeno porte, sendo as urzes o seu elemento dominante. Também está presente noutras partes da ilha, de um modo geral a altitudes superiores a 800 m e associadas a habitat com vegetação arbustiva onde predominam as urzes e a uveira-da-serra. Embora menos frequentemente, também poderá ser detetada em áreas florestais e áreas agrícolas. É uma espécie cinegética, que apresenta comportamento muito discreto, e cuja deteção é mais facilitada no período de reprodução (entre fevereiro e junho) quando, após o pôr-do-sol, os machos fazem os seus voos exibicionistas e emitem a sua vocalização característica. Em 2015, a população está estimada em cerca de 350 aves. Alimenta-se predominantemente de minhocas e larvas de diversos insetos, em especial de escaravelhos, mas também ingere algum material vegetal.

[caption id="attachment_9170" align="alignright" width="300"]Larus cachinnans atlantis Larus cachinnans atlantis[/caption]

Gaivota ou gaivota-de-patas-amarelas Larus michahellis atlantis (Clements 1991) – É a única espécie de gaivota que nidifica no arquipélago, estando presente em todas as ilhas. Os madeirenses dão o nome de gaio ou gaivoto aos indivíduos novos da gaivota, os quais se distinguem dos adultos pela plumagem escura, que só ao fim de três anos está substituída pela plumagem definitiva. Para nidificar, tem preferência por falésias costeiras e ilhéus com pouca vegetação e perturbação reduzida. Os seus efetivos populacionais estão distribuídos fundamentalmente pelo ilhéu do Desembarcadouro, na ilha da Madeira, pelo ilhéu Chão, nas ilhas Desertas, e pelos ilhéus de Cima e da Cal, no porto santo. A população estimada para estas quatro colónias era, em 2015, de aproximadamente 4000 casais reprodutores. A subespécie L. m. atlantis é endémica da Macaronésia, estando presente nos arquipélagos dos Açores, da Madeira e das Canárias. É comum ao longo de todo o litoral, especialmente em praias, portos piscatórios e foz de ribeiras; no entanto, também é comum a sua presença a altitudes superiores a 1400 m. A sua alimentação é omnívora, baseada numa rie de presas animais, material vegetal e numa grande variedade de detritos orgânicos e inorgânicos, que encontra em lixeiras, lotas e locais de produção animal.

Garajau-rosado Sterna dougallii (Montagu 1813) – Espécie relativamente rara, que nos Açores apresenta uma das maiores colónias da Europa. Existem registos da sua presença nas Selvagens, no porto santo e na Madeira, embora os dados recolhidos até 2015 apenas permitam confirmar a sua nidificação no Funchal e em São Vicente. É uma ave estival nidificante, pois só está presente na Madeira durante o período de reprodução (entre os meses de abril e agosto). Nidifica na costa, em rochas e ilhéus pouco perturbados, e alimenta-se de pequenos peixes. Distingue-se do garajau-comum Sterna hirundo por apresentar asas e dorso mais claros, cauda mais comprida, e pelo facto de o seu bico ser preto, apresentando a sua base avermelhada durante o período de reprodução. Alimenta-se de pequenos peixes e de outros organismos aquáticos.

Garajau-comum Sterna hirundo (Linnaeus 1758) – Está presente em todas as ilhas do arquipélago, nidificando na costa, em rochas e ilhéus pouco perturbados, assim como junto aos portos de pesca. É considerada uma ave estival nidificante, pois só está presente no arquipélago da Madeira durante o período de reprodução, que ocorre entre março e outubro. É uma ave bastante territorial, atacando quem se aproxime dos seus ninhos. Pelo facto de não ter plumagem impermeável, raramente pousa diretamente no mar, optando por pousar sobre pequenos pedaços de madeira ou boias. Alimenta-se de pequenos peixes, crustáceos e insetos. É frequente observar-se esta ave em disputa com as gaivotas pela captura de peixe.

Coruja ou coruja-das-torres Tyto alba schmitzi (Hartert 1900) – É a única ave de rapina noturna a residir no arquipélago, nidificando nas ilhas da Madeira, do porto santo e também nas ilhas Desertas. Distribui-se ao longo de toda a ilha da Madeira, entre as zonas litorais e as zonas de cotas menos elevadas. As suas áreas de ocorrência estão particularmente associadas à presença humana, ocorrendo em zonas rurais e urbanas, evitando normalmente as áreas florestadas. A subespécie T. a. schmitzi, que é endémica do arquipélago da Madeira, apresenta o mesmo padrão de coloração que a sua congénere continental; no entanto, é bem mais pardacenta. A sua alimentação é composta sobretudo por pequenos roedores e, em menor escala, por morcegos, aves e insetos.

Fura-bardos ou gavião Accipiter nisus granti (Sharpe 1890) – No arquipélago da Madeira ocorre apenas na ilha da Madeira, sendo uma ave de rapina própria de ambientes florestais, quer sejam de laurissilva ou pinhal, de preferência que apresentem um sub-bosque arbustivo. Pode ainda ser observada perto de campos agrícolas, em áreas abertas e áreas urbanas, que utiliza como área de caça. A subespécie A. n. granti ocorre apenas nos arquipélagos da Madeira e das Canárias, sendo mais escura no dorso que a espécie nominal, e mais listrada no ventre. Esta subespécie apresenta também um acentuado dimorfismo sexual, não só ao nível da coloração da plumagem, mas também nas dimensões. Embora se saiba que ocorre de forma dispersa pela Ilha, em 2015 o seu efetivo populacional não era conhecido, principalmente por ser uma ave de hábitos discretos, voo rápido e difícil observação. Alimenta-se de uma diversidade de aves, tais como pombo-trocaz, pombo-da-rocha, tentilhão, melro-preto, canário, entre outros passeriformes.

Manta Buteo buteo harterti (Swann 1919) – Ocorre nas ilhas da Madeira e do porto santo. Até 1996, também nidificava nas Desertas, mas após a eliminação dos herbívoros, a espécie abandonou as ilhas, não havendo, em 2015, indícios da sua nidificação, embora seja frequentemente observada nestas ilhas. No porto santo e na Madeira, está amplamente distribuída, ocupando praticamente todos os habitats, tais como áreas abertas, áreas florestais, áreas agrícolas e até mesmo áreas urbanas, desde a costa até aos picos mais elevados, a 1800 m de altitude. A subespécie B. b. harterti, que é endémica do arquipélago da Madeira, tem coloração castanha avermelhada, com cauda cinzenta clara. O ventre pode ser castanho-escuro, uniforme ou listrado, e manchado de amarelo esbranquiçado. Em 2015, a população da Madeira e do porto santo foi estimada em cerca de 300 aves. Apresenta uma alimentação variada, que inclui pequenos mamíferos (murganhos e coelhos), assim como aves, répteis, anfíbios e insetos.

Poupa, no porto santo conhecida por pimpão Upupa epops (Linnaeus 1758) – Uma das aves mais fáceis de identificar, pela sua silhueta, A coloração alvinegra das asas, o bico comprido e curvo, e a sua poupa, que abre em semicírculo. O canto, embora em tom baixo, também é distintivo. Nidifica exclusivamente no porto santo; no entanto, existem registos da sua presença em todas as ilhas do arquipélago da Madeira. Ocorre essencialmente em áreas abertas e secas de vegetação rasteira que apresentem núcleos arbustivos, em áreas agrícolas e em campos de golfe. É sempre observada isolada ou aos pares, e constrói os seus ninhos em cavidades de árvores, montes de pedras e ruínas. Alimenta-se de insetos e suas larvas.

Francelho Falco tinnunculus canariensis (Koenig 1889) – Ocorre em todas as ilhas do arquipélago, embora não existam, em 2015, registos da sua nidificação nas Desertas e Selvagens. Pode ser encontrado em praticamente todos os habitats terrestres e a diferentes faixas altitudinais, mas procura essencialmente áreas abertas com vegetação herbácea e arbustiva, núcleos de pinhal disperso, áreas agrícolas e áreas urbanas, onde facilmente pode encontrar as suas presas. A subespécie F. t. canariensis, que ocorre apenas nos arquipélagos da Madeira e das Canárias, é, de forma geral, mais escura. A cabeça do macho apresenta um cinzento mais escuro e é mais listrada, enquanto o dorso é castanho mais escuro e com manchas pretas maiores. O dorso da fêmea é muito mais listrado e as penas superiores da cauda são de um cinzento-azulado. Alimenta-se de murganhos, lagartixas e insetos.

Toutinegra Sylvia atricapilla heineken (Jardine 1830) – Nidifica apenas nas ilhas da Madeira e do porto santo, mas a nidificação nesta última ilha só foi confirmada nos primeiros anos do c. XXI. É uma ave relativamente comum, uma vez que apresenta uma grande adaptabilidade a locais criados pelo Homem, tais como meios agrícolas, jardins e parques do interior de cidades. Embora procure áreas arborizadas, a sua presença na floresta laurissilva é quase nula, preferindo as zonas limítrofes à mesma e áreas de floresta exótica. No porto santo, também está amplamente distribuída, sendo possível observá-la desde a beira-mar até aos picos de maior altitude. No arquipélago da Madeira, nidifica a subespécie S. a. Heineken, que também ocorre na Península Ibérica, no Norte de África e nas Canárias. Esta é marcadamente mais escura e mais pequena. Alimenta-se, em especial, de insetos, mas também pode consumir frutos e bagas.

Cigarrinho Sylvia conspicillata orbitalis (Wahlberg 1854) – Ocorre nas ilhas da Madeira e do porto santo. Na Madeira, distribui-se de forma descontínua, estando presente preferencialmente em áreas abertas onde predominam espécies arbustivas como a Urze, a Giesta e a Carqueja, concentrando-se na parte oeste e central da Ilha. No porto santo, distribui-se preferencialmente pela faixa litoral sul da ilha. A subespécie S. c. orbitalis é endémica da Macaronésia e ocorre também nas Canárias e em Cabo Verde, caracterizando-se por ser mais escura e mais colorida que a espécie nominal. Apresenta coroa cinzenta mais escura, dorso castanho mais escuro e asas mais acastanhadas no macho, sendo o dorso da fêmea também mais escuro. A sua alimentação é predominantemente insectívora, podendo, no entanto, consumir também frutos e bagas.

Bis-bis Regulus madeirensis (harcourt 1851) – É a ave mais pequena que ocorre nas ilhas da Madeira e do porto santo, embora, nesta última, a sua nidificação só tenha sido confirmada nos começos do c. XXI. Em 2005, foi reconhecida como espécie endémica. Relativamente à espécie na qual estava anteriormente incluída (R. ignicapillus), apresenta supercílio mais curto, coroa mais alaranjada, “ombros” com amarelo mais brilhante, pescoço mais acinzentado e bico mais comprido. Na Madeira, pode ser encontrada em vários tipos de floresta (indígena ou exótica) e de áreas agricultadas; no entanto, o habitat em que pode ser observada em maior número são as áreas de urzal. No porto santo, ocorre nas áreas mais altas da ilha, frequentando as zonas de pinhal aí existentes. Em 2015, a sua população da Madeira foi estimada em 300.000 indivíduos. Alimenta-se de diversos artrópodes, em especial de afídios e pequenas aranhas.

Melro-preto Turdus merula cabrerae (Hartert 1901) – Ocorre nas ilhas da Madeira e do porto santo, embora a nidificação nesta última ilha só tenha sido confirmada em 2009. Na Madeira, está presente em quase todos os locais da Ilha, desde a beira-mar até aos picos mais elevados. A sua distribuição inclui ainda os locais com intervenção humana, tais como áreas agrícolas, núcleos urbanos, parques e jardins. No porto santo, ocorre de forma esporádica em locais que apresentem núcleos de vegetação arbustiva. A subespécie T. m. cabrerae é endémica da Macaronésia, ocorrendo apenas nos arquipélagos da Madeira e das Canárias. De forma geral, é mais pequena e a plumagem preta dos machos é mais escura e brilhante que a espécie nominal. A plumagem das fêmeas também é mais escura. A sua alimentação baseia-se em insetos e minhocas, capturados no solo ou em vegetação rasteira.

Papinho Erithacus rubecula (Linnaeus 1758) – No arquipélago, nidifica apenas na ilha da Madeira. Embora, em 2001, tenha sido verificada a sua nidificação no porto santo, em 2015 não existem registos que confirmem essa informação. Também existem registos da sua presença nas ilhas Desertas e Selvagens. É facilmente identificado pelas faces, a garganta e o peito alaranjados. Está bem distribuído ao longo da ilha da Madeira, ocorrendo em praticamente todos os gradientes altitudinais. É uma ave solitária e bastante territorial que, de forma geral, se encontra em áreas com vegetação arbustiva ou arbórea, compostas por espécies indígenas ou exóticas, tais como jardins urbanos, terrenos agrícolas ou urzais, evitando, no entanto, áreas muito secas. O canto, que emite durante grande parte do ano, é bastante melodioso, permitindo a sua deteção quando se encontra no topo de árvores. Alimenta-se essencialmente de invertebrados, assim como de bagas e pequenas sementes.

Pardal-espanhol, em Machico conhecido por pirata Passer hispaniolensis (Temminck 1820) – Nidifica no porto santo e na ilha da Madeira. É a ave mais comum do porto santo, ocorrendo em toda a ilha, e facilmente se aproxima das pessoas, em especial nas esplanadas do centro da cidade. Na Madeira, está restrita ao extremo este da Ilha, no centro da vila do Caniçal, e às palmeiras existentes na Ponta de São Lourenço. Existem registos que indicam que, em meados do c. XX, esta espécie era bastante comum na ilha da Madeira, não sendo conhecidas as razões para a sua posterior regressão. No porto santo, ocorre essencialmente em áreas secas, áreas urbanas e áreas agrícolas. De forma geral, nidifica em colónias, aproveitando pequenas cavidades em palmeiras e edifícios, assim como em postes telefónicos e postes elétricos. Alimenta-se de sementes e invertebrados.

Pardal ou pardal-da-terra Petronia petronia madeirensis (Erlanger 1899) – Está presente nas ilhas da Madeira e do porto santo. Em 2015, apresentava uma distribuição localizada, ocupando áreas abertas com vegetação rasteira, zonas rochosas, falésias costeiras e meios agrícolas. Embora seja mais frequente nas áreas costeiras, também é possível detetá-lo nas zonas de maior altitude da Ilha. Existem alguns registos atuais de observações da espécie em áreas rurais humanizadas, em especial na zona oeste da Madeira. A subespécie P. p. madeirensis, endémica da Macaronésia, ocorre nos arquipélagos da Madeira e das Canárias, e apresenta plumagem e riscas da cabeça mais escuras. Alimenta-se de sementes e insetos.

Lavadeira ou lavandeira, no Porto da Cruz conhecida por papa-moscas Motacilla cinerea schmitzi (Tschusi 1900) – Entre os arquipélagos, ocorre apenas na ilha da Madeira e pode ser observada na foz de ribeiras, em meio urbano, nos jardins e em locais que apresentem pequenos lagos e outras fontes de água, assim como no interior da Ilha, em áreas onde abunde a floresta laurissilva e existam levadas ou ribeiras. Também pode ser encontrada nas áreas de maior altitude da Ilha, desde que existam locais com água corrente. Na Madeira, ocorre a subespécie endémica M. c. schmitzi. Esta é mais pequena que a sua congénere continental, apresenta bico mais longo, dorso de cinzento mais escuro, supercílio branco mais curto (reduzido a uma pequena risca atrás do olho) e maior intensidade na cor do ventre amarelo e da garganta preta. A cauda apresenta maior quantidade de preto e a risca branca abaixo da face é pouco distinta. Alimenta-se à base de insetos, que captura caminhando ou correndo sobre o solo ou em pleno voo.

Corre-caminhos, carreiró, carreirote, melrinho de Nosso Senhor ou melrinho de Nossa Senhora, no porto santo conhecido por bica Anthus berthelotii (Bolle 1862) – Espécie endémica da Macaronésia, com distribuição restrita aos arquipélagos da Madeira e das Canárias. Nas ilhas da Madeira, do porto santo e das Desertas, ocorre a subespécie A. b. madeirensis, enquanto nas Canárias e nas ilhas Selvagens ocorre a subespécie A. b. berthelotii. A principal diferença entre estas duas subespécies é o facto de a primeira ter o bico mais comprido. Pode ser observada desde o nível do mar até às zonas mais altas, a cerca de 1800 m, mas ocorre preferencialmente em áreas rochosas e abertas, com pouca vegetação ou vegetação rasteira. O facto de andar e correr com frequência, só levantando voo quando se sente ameaçada, está provavelmente na origem do seu nome na Madeira. Alimenta-se sobretudo de insectos.

[caption id="attachment_9163" align="alignleft" width="300"]Fringilla coelebs madeirensis (Sharpe 1888) Fringilla coelebs madeirensis (Sharpe 1888)[/caption]

Tentilhão Fringilla coelebs madeirensis (Sharpe 1888) – Subespécie endémica que, nestes arquipélagos, ocorre apenas na ilha da Madeira. É uma espécie comum nas áreas de laurissilva e floresta exótica, mas também pode ser encontrada em algumas áreas agrícolas. É uma das aves mais sociáveis que ocorre na Ilha, sendo fácil a sua observação ao longo das levadas e dos parques de merendas. A subespécie F. c. maderensis distingue-se, relativamente à sua congénere europeia, por apresentar plumagem mais colorida e pelo canto ser mais alto e mais melodioso. Ao nível da coloração da plumagem, as diferenças são mais notórias no macho, que apresenta peito rosado, dorso verde acastanhado e cabeça mais azulada. Alimenta-se sobretudo de sementes e de outras matérias vegetais, mas durante o período de reprodução consome principalmente invertebrados.

Canário-da-terra Serinus canaria (Linnaeus 1758) – Espécie endémica da Macaronésia, que ocorre nos arquipélagos dos Açores, da Madeira e das Canárias. Ocorre em todas as ilhas do arquipélago, exceto nas Selvagens, e pode ser encontrado em distintos habitats e a várias altitudes. No verão, em especial, aparece em alguns dos picos mais altos da ilha da Madeira, mas, em geral, ocorre em áreas urbanas, áreas abertas com vegetação rasteira ou pouco densa, áreas agrícolas e áreas marginais de florestas ou bosques, quer sejam indígenas ou exóticos. No porto santo e nas Desertas, ocupa áreas mais áridas. Alimenta-se de sementes e de outras matérias vegetais, podendo ocasionalmente consumir pequenos invertebrados.

Verdilhão Carduelis chloris (Linnaeus 1758) – No arquipélago da Madeira, nidifica exclusivamente na ilha da Madeira. Já foi considerada uma ave rara, mas em 2015 a sua presença podia ser detetada ao longo de grande parte da Ilha. Ocorre em jardins, parques urbanos e cemitérios, áreas de floresta exótica pouco densa, e em áreas agrícolas e espaços de floresta de transição perto delas. De forma geral, está ausente do interior de grandes manchas florestais, tal como a laurissilva, preferindo as áreas limítrofes. É pouco frequente a altitudes elevadas, sendo geralmente rara acima dos 1000 m. Alimenta-se de uma grande variedade de sementes, bagas e insetos.

Pintassilgo Carduelis carduelis parva (Tshusi 1901) – É a ave mais colorida da avifauna do arquipélago, nidificando apenas nas ilhas da Madeira e do porto santo, embora nesta última a nidificação só tenha sido confirmada no começo do c. XXI. Nas Desertas, também foi detetada a sua presença no ilhéu Chão e no Bugio. Pode ser observada desde áreas à beira-mar até aos pontos mais elevados da Madeira, em especial nas zonas agrícolas, em locais abertos com vegetação rasteira onde predominem gramíneas e cardos, jardins, núcleos de floresta exótica e áreas marginais de floresta indígena. No porto santo, concentra-se sobretudo na parte leste da ilha. A subespécie C. c. parva ocorre nos arquipélagos da Macaronésia, no Sul de frança, nos Pirinéus, na Península Ibérica, nas ilhas Baleares e no Norte de África, e distingue-se da subespécie nominal em especial por apresentar dimensões mais reduzidas, particularmente as asas e a cauda. Alimenta-se de pequenas sementes, apresentando elevada preferência por sementes de cardos.

Pintarroxo Carduelis cannabina guentheri (Wolters 1953) – Está presente nas ilhas da Madeira e do porto santo. É uma espécie comum nas falésias costeiras, embora também possa ser encontrada a altitudes superiores aos 1400 m. Ocorre preferencialmente em áreas abertas com vegetação rasteira, dominadas por gramíneas, mas também pode ser encontrada em áreas agrícolas e terrenos baldios. A subespécie L. c. guentheri é endémica do arquipélago da Madeira e apresenta asas mais curtas e bico mais delgado. O macho é facilmente identificado pela frente da cabeça e o peito avermelhado. Alimenta-se de sementes, de pequena e média dimensão.

Aves introduzidas

A maior parte das espécies aqui apresentadas encontra-se perfeitamente naturalizada; no entanto, até ao começo do c. XXI não tinham sido estudados os possíveis impactos que as mesmas causaram na avifauna local.

Perdiz Alectoris rufa hispanica (Seoane 1891) – Ave originária do Sudoeste da Europa, que ocorre de forma natural em Portugal, Espanha, frança e Norte de Itália. Foi introduzida no arquipélago da Madeira antes de 1450. É uma espécie cinegética que ocorre apenas nas ilhas da Madeira e do porto santo, podendo ser observada desde locais próximos do mar até aos picos mais altos, em áreas abertas com algumas manchas arbustivas e vegetação rasteira, que utiliza como esconderijo. De forma geral, pode ser observada em pequenos bandos de 2 a 15 indivíduos. A subespécie A. r. hispânica, que ocorre no Norte e Noroeste de Espanha, no Norte e Centro de Portugal e na ilha da Madeira, é mais escura e colorida, com garganta azul acinzentada mais escura, nuca castanha mais clara, dorso mais escuro e com mais preto no centro da garganta. A alimentação é variada, mas assenta sobretudo em material vegetal, incluindo folhas, caules, sementes e frutos.

Pato-mandarim Aix galericulata (Linnaeus 1758) – Ave originária do Leste da Ásia. A sua nidificação foi confirmada em 2009 no porto santo, sendo a única ilha do arquipélago onde ocorre. Está presente em diversas reservas de água, desde que as mesmas apresentem nas margens vegetação densa ou arbustos. Tal como ocorreu em Inglaterra e na Europa, o estabelecimento de uma população no porto santo será resultado de aves domésticas que escaparam ou de libertação intencional das mesmas. São aves omnívoras, baseando a sua alimentação em sementes, minhocas e insetos.

Rola-turca Streptopelia decaocto (Frivaldszky 1838) – Espécie com ampla distribuição global, que no final do c. XX apresentou uma rápida expansão natural na Europa. Na Macaronésia, está bem estabelecida nas Canárias, onde nidifica em todas as ilhas exceto El Hierro, mas a sua colonização nos arquipélagos da Madeira e dos Açores é posterior; está amplamente distribuída pelo porto santo, sendo observada em áreas urbanas, parques e jardins, onde constrói os seus ninhos em árvores de grande porte. Na ilha da Madeira, ocorre apenas numa pequena área do Caniçal, onde tem sido observada desde 2004. Também já tem sido observada nas Desertas e Selvagens, embora não existam registos da sua nidificação. Desconhece-se a origem desta população, nomeadamente se é resultante de um fenómeno de colonização natural ou se tem origem em fugas ou na libertação de aves de cativeiro. Esta espécie é facilmente identificada por ser do tamanho de um pombo e apresentar plumagem cinzento claro, com parcial colar preto no pescoço. Alimenta-se principalmente de grãos de cereais e outras sementes, podendo também ingerir as partes verdes das plantas, invertebrados e pão.

Periquito-rabijunco Psittacula krameri (Scopoli, 1769) – Ave de origem africana e asiática que se assemelha a um periquito, mas de maiores dimensões, e que pode ser detetada pelos seus chamamentos roucos e estridentes quando em voo. Ocorre apenas na ilha da Madeira e os primeiros registos da espécie em liberdade datam do ano 2000, com a observação de aves isoladas ou em pequenos bandos. Embora existam registos dispersos pela Ilha, a sua nidificação apenas foi confirmada no Funchal em 2009. Os seus ninhos são construídos em cavidades localizadas em árvores. A colonização da ilha da Madeira resultou de aves domésticas que escaparam ou de libertação intencional das mesmas. Frequenta diversos jardins e parques, desde que neles estejam presentes espécies de plantas tropicais de que se possa alimentar. Alimenta-se essencialmente de sementes e frutos.

Bico-de-lacre Estrilda astrild (Linnaeus 1758) – Ave originária do continente africano, em especial de regiões a sul do Sahara. Esta é a espécie de ave exótica mais abundante na Madeira. Supõe-se que a introdução ocorreu através de aves que escaparam de gaiola e que se estabeleceram. A sua introdução na ilha do porto santo data de 1978, enquanto na Madeira existem registos desde 1986. Para nidificar utiliza caniçais, canaviais, sebes (normalmente bem desenvolvidas e próximas de água), matas ribeirinhas com denso coberto arbustivo e zonas cultivadas. Na ilha da Madeira, encontra-se em diversos locais próximos de ribeiras e lagoas, tais como Machico e Lagoa do Lugar de Baixo. Alimenta-se de sementes, mas por vezes também de insetos.

Lugre Carduelis sinica (Linnaeus, 1766) – Ave originária do continente europeu e asiático, que se encontra bem distribuída desde a Europa Ocidental e a Rússia meridional até à costa do oceano Pacífico. O lugre era considerado uma espécie acidental no arquipélago da Madeira, até que a sua nidificação foi confirmada na ilha da Madeira em 2002, quando foi observado um adulto a alimentar uma cria. Este registo ocorreu numa área de lazer situada na vertente sul da ilha, a cerca de 1200 m de altitude, que apresenta um estrato arbóreo bem desenvolvido, dominado por espécies introduzidas, como pinheiros e abetos. Durante os últimos anos, a espécie tem sido detetada em diversos locais da Madeira, sempre em áreas dominadas por coníferas e, de forma geral, em associação com linhas de água e pequenos canais. Pelo facto de a espécie ter sido registada no arquipélago da Madeira ao longo de vários anos, a sua introdução na avifauna regional poderá ter sido um processo natural ou derivado da libertação de indivíduos oriundos de cativeiro. A observação de aves juvenis indica que a espécie já colonizou grande parte da ilha da Madeira. Alimenta-se de sementes, em especial de coníferas, e, em menor quantidade, de invertebrados.

Aves visitantes

Embora o arquipélago da Madeira esteja fora das principais Rotas migratórias seguidas pelas aves que nidificam na Europa e migram para África, existem registos de cerca de 337 espécies de aves visitantes que podem ser observadas regularmente ou apenas acidentalmente. Aqui são apresentadas algumas das espécies cuja presença tem sido registada anualmente, e geralmente por diversos indivíduos, quer em bandos quer de forma isolada, em especial nas ilhas da Madeira e porto santo.

Marrequinha Anas crecca (Linnaeus 1758) – É o pato de menor dimensão oriundo do continente europeu. A maior parte das aves permanece na Europa durante o inverno e apenas uma minoria migra para o Norte de África. No arquipélago da Madeira, é uma ave invernante, pois, de forma geral, só é observada entre os meses de outubro e março. Ocorre em lagoas, reservas de água e ribeiras. O macho apresenta uma plumagem bastante colorida, enquanto a fêmea é pardacenta. Alimenta-se preferencialmente de noite e apresenta uma dieta omnívora, embora o consumo de sementes predomine durante o inverno.

Pardela-preta Ardenna grisea (Gmelin 1789) – Ave marinha que nidifica em colónias localizadas nas águas frias do hemisfério sul e que passa o inverno em áreas temperadas no norte dos oceanos Atlântico e Pacífico. É mais pequena que a pardela-de-barrete Ardenna gravis, apresenta plumagem quase toda negra, à exceção da parte inferior das asas, que é parcialmente branca, e o seu voo assemelha-se ao patagarro P. puffinus. Nos mares do arquipélago da Madeira, é uma migradora de passagem, ocorrendo essencialmente no período de migração, entre os meses de agosto e setembro, altura em que se desloca para Sul. Alimenta-se sobretudo de peixes, cefalópodes e crustáceos.

Pardela-de-barrete Ardenna gravis (O'Reilly 1818) – Ave marinha que nidifica exclusivamente em ilhas do Atlântico Sul, a partir das quais migra para o Atlântico Norte, onde grande parte da população passa o inverno austral. Apresenta tamanho semelhante à cagarra C. diomedea, embora seja um pouco mais pequena que esta. Apresenta um voo rápido, alternando batimentos de asas frenéticos com voo planado. Nos mares do arquipélago, é uma migradora de passagem comum, ocorrendo em elevados números no período de migração, entre os meses de agosto e setembro. Contagens realizadas no porto moniz, a partir de terra, registaram a passagem de milhares de indivíduos em apenas um dia. Alimenta-se sobretudo de peixes e cefalópodes.

Garça-boeira Bubulcus ibis (Linnaeus 1758) – É semelhante à garça-branca-pequena Egretta garzetta, mas distingue-se dela pelo facto de ter bico amarelo. Na Europa, nidifica sobretudo no Mediterrâneo. Não efetua migrações de longa distância, dispersando-se por áreas próximas dos locais de nidificação, de acordo com a disponibilidade alimentar. É uma ave migradora de passagem no arquipélago da Madeira, ocorrendo em todas as ilhas. De forma geral, é observada solitária, embora possa ocorrer em bandos mistos com a garça-branca-pequena. Frequenta áreas abertas com vegetação rasteira, lagoas costeiras, ribeiras e praias. Alimenta-se sobretudo de insetos, embora também procure moluscos e pequenos vertebrados, tais como rãs e peixes.

Garça-real Ardea cinerea (Linnaeus 1758) – Encontra-se bem distribuída pela Europa, onde nos últimos anos do c. XX se verificou um incremento populacional, em especial no noroeste e centro. Embora parte das populações se concentre em algumas áreas da Europa durante o inverno, a maior parte das populações do norte migra para o Mediterrâneo ou para sul do Sahara. É uma migradora regular no arquipélago da Madeira, e ocorre em todas as ilhas. Na ilha da Madeira, é possível observar esta ave durante quase todo o ano; no entanto, é durante os meses de setembro e outubro que se observa o maior número de indivíduos. De forma geral, os indivíduos são observados isolados, embora no período de migração existam registos de bandos com 15 ou mais aves. Pelo facto de ser uma ave grande, de pescoço e patas compridos, é facilmente reconhecível. Pode ser encontrada em lagoas, na foz de ribeiras, em praias e outros locais com água, onde procura comida (rãs e peixes).

Garça-branca-pequena Egretta garzetta (Linnaeus 1766) – Espécie oriunda do continente europeu, que ocorre de forma dispersa na Península Ibérica, em frança, Itália e para leste, até ao norte da região do Cáucaso. No inverno, a maior parte das populações migra para o Norte e Centro de África; no entanto, muitas passam o inverno no Mediterrâneo europeu. É um visitante regular no arquipélago da Madeira onde ocorre em números superiores durante os meses de outono e inverno. A sua silhueta e cor branca tornam-na uma ave facilmente reconhecida pela população. Pode ser observada em portos, praias e zonas costeiras, na foz de ribeiras, em reservas de água e lagoas. Na ribeira de Machico e no Funchal, há árvores que servem de dormitório, no qual por vezes se concentram vários indivíduos. Alimenta-se sobretudo de insetos aquáticos, crustáceos e pequenos peixes, assim como de pequenos anfíbios e répteis.

Tarambola-cinzenta Pluvialis squatarola (Linnaeus 1758) – Nidifica no Ártico, essencialmente na Sibéria e no Alasca. Embora algumas aves invernem na Europa, a maior parte da população efetua migrações de longa distância, chegando até as costas da América do Sul e de África, ao Sul da Ásia e à Austrália. É uma invernante que ocorre anualmente na praia do porto santo, entre os meses de outubro e fevereiro, embora também possa ser observada em ribeiras e lagoas na ilha da Madeira. De forma geral, é solitária, embora possam ser observados pequenos bandos de até três indivíduos. Alimenta-se sobretudo de insetos e outros invertebrados, tais como moluscos e crustáceos.

Borrelho-grande-de-coleira Charadrius hiaticula (Linnaeus 1758) – Nidifica na orla costeira ao longo das áreas árticas e subárticas, e nas águas temperadas do Norte da Europa. Efetua migrações de longa distância, distribuindo-se pelo Sul da Europa, Sul do continente africano e Sudoeste da Ásia. É uma invernante que ocorre no arquipélago da Madeira, em especial nas ilhas da Madeira e porto santo, durante os meses de outono e inverno (setembro a março). Pode ser observada em praias, quer arenosas, quer rochosas, na foz de ribeiras e em lagoas costeiras. Esta ave é semelhante à rolinha-da-praia C. alexandrinus (que nidifica no porto santo), mas é maior e o colar negro que apresenta é completo e circunda todo o pescoço. Usualmente, é solitária, embora possa ser observada em pequenos bandos misturados com a rolinha-da-praia e outras limícolas. Alimenta-se essencialmente de invertebrados aquáticos, como crustáceos e moluscos.

Maçarico-galego Numenius phaeopus (Linnaeus 1758) – Espécie que nidifica no Norte da Europa e da Ásia cuja característica mais marcante é o seu bico comprido e curvo e o seu chamamento com sílabas repetitivas. A maior parte da população migra para a região Afro-tropical e as ilhas no Oceano Índico. No arquipélago da Madeira, ocorre essencialmente no período pré-nupcial (entre março e abril) e, posteriormente, na migração pós-nupcial, que decorre entre setembro e outubro, embora possam ser observados alguns indivíduos ao longo de todo o ano. É considerada uma migradora de passagem e invernante, ocorrendo com regularidade em todo o arquipélago, numa ampla variedade de locais, onde descansa e se alimenta, tais como praias, lagoas, ribeiras e áreas abertas com vegetação rasteira. Podem ser observados indivíduos isolados ou pequenos bandos, que podem reunir até 15 aves. Alimenta-se de crustáceos, moluscos e, por vezes, de pequenos peixes e répteis.

Vira-pedras ou rola-do-mar Arenaria interpres (Linnaeus 1758) – Espécie holártica que, após a nidificação, migra para Marrocos, a África Ocidental e o oceano Índico. É a migradora de passagem e invernante mais comum que ocorre no arquipélago da Madeira, sendo possível a sua observação durante quase todo o ano, embora as maiores concentrações de indivíduos sejam registadas entre março e abril e entre setembro e outubro. Pode ser observada, geralmente em pequenos bandos, em diversos habitats costeiros, tais como praias, lagoas e a foz de ribeiras. . É frequente observá-la a virar pedras para capturar as presas que se encontram por baixo. Alimenta-se de insetos, crustáceos, moluscos e pequenos peixes.

Pilrito-das-praias Calidris alba (Pallas 1764) – Ave originária do círculo polar ártico. As aves que chegam ao arquipélago da Madeira deverão ser originárias da Sibéria, Gronelândia e das regiões árticas do Canadá. A maior parte das aves migra para a América, África, Austrália e o Sul da Ásia para passar o inverno. É uma ave típica de praias abertas e amplas, onde, em geral, se move junto à rebentação. Também pode ser observada em foz de ribeiras e pequenas lagoas costeiras. É uma espécie invernante, que ocorre entre os meses de novembro e fevereiro. No porto santo, é anualmente encontrada na praia em pequenos bandos de 5 a 10 indivíduos, sendo facilmente reconhecida pela sua plumagem branca e corrida rápida. Alimenta-se sobretudo de pequenos invertebrados (moluscos, crustáceos e insetos) capturados na areia ou lama.

Pilrito-de-peito-preto Calidris alpina (Linnaeus 1758) – Ave originária do Norte da Europa, que durante o inverno migra para Marrocos e a Mauritânia, permanecendo sempre no hemisfério norte. No arquipélago da Madeira, é considerada uma espécie migradora de passagem e invernante, que pode ser observada entre fevereiro e abril e entre setembro e outubro. Pode ser encontrada em lagoas, praias e na foz de ribeiras. Embora na Europa ocorra em bandos numerosos, na Madeira e no porto santo é geralmente observada em pequenos bandos que raramente ultrapassam os quatro indivíduos. Alimenta-se sobretudo de pequenos invertebrados, embora também se alimente de matéria vegetal.

Maçarico-das-rochas Actitis hypoleucos (Linnaeus 1758) – A sua área de nidificação ocupa grande parte da Europa, desde o nível do mar até montanhas com 4000 m de altitude, e a maior parte da população migra para o hemisfério sul. É facilmente reconhecido pelo facto de, quando pousado, estar constantemente a abanar a cauda. No arquipélago da Madeira, é um migrador de passagem e invernante, que pode ser observado entre fevereiro e abril e entre setembro e outubro. De forma geral, os indivíduos vivem isolados, podendo ser encontrados em habitats favoráveis, tais como a orla costeira, lagoas, foz de ribeiras e praias. Alimenta-se de insetos e suas larvas, aranhas, moluscos e crustáceos e eventualmente pequenas rãs e peixes.

Perna-verde Tringa nebularia (Gunnerus 1767) – As suas áreas de nidificação concentram-se na Europa Oriental e em áreas do norte da Escandinávia. Embora uma parte da população inverne na costa ocidental da Europa, a maior parte efetua migrações trans-saharianas, chegando até ao sul do equador. É uma ave invernante, que ocorre no arquipélago da Madeira entre setembro e março, em especial nas ilhas da Madeira e do porto santo, e que se encontra sobretudo na orla costeira, em praias, na foz de ribeiras, em lagoas e reservas de água. Em geral, é uma ave solitária, embora por vezes sejam observados pequenos bandos de até quatro indivíduos. Alimenta-se sobretudo de invertebrados aquáticos, mas também captura pequenos peixes.

Guincho-comum Larus ridibundus (Linnaeus 1766) – Nidifica numa grande extensão do continente europeu, desde áreas mediterrânicas até ao subártico. A maior parte da população passa o inverno nas áreas mais quentes da Europa, embora alguns indivíduos migrem ao longo da costa africana até a Gâmbia. É uma pequena gaivota de ocorrência regular na Madeira e no porto santo, sendo a gaivota mais comum que inverna no arquipélago da Madeira. É uma espécie invernante que está presente entre novembro e fevereiro, por vezes em bandos numerosos, e que ocorre em diversos locais da faixa litoral, tais como ribeiras, lagoas e portos. Quando está no arquipélago, apresenta a plumagem não nupcial, que se caracteriza por ter uma mancha escura atrás dos olhos. Alimenta-se essencialmente de insetos terrestres e aquáticos, minhocas, invertebrados marinhos e peixes.

Gaivota-d’asa-escura Larus fuscus (Linnaeus 1758) – Gaivota muito semelhante à gaivota-de-patas-amarelas L. m. atlantis, distinguindo-se desta principalmente por ter as asas de um cinzento mais escuro. Nidifica apenas nas costas do norte e oeste da Europa, incluindo áreas do subártico. A maior parte da população migra para áreas que incluem o Atlântico este, Mediterrâneo, Mar Negro, Mar Cáspio e as costas africanas. A espécie é observada com alguma regularidade no arquipélago da Madeira, principalmente durante os meses de inverno, pelo que é considerada uma espécie invernante. Durante estes meses, é observada em associação aos grandes bandos de gaivota-de-patas-amarelas, em áreas costeiras, portos, ribeiras, lagoas, e até mesmo em lixeiras e locais de produção animal. Apresenta uma dieta omnívora e alimenta-se de uma grande variedade de presas animais, material vegetal, assim como diversos tipos de resíduos e detritos.

Fiscal ou alcaide Catharacta skua (Brünnich 1764) – As suas áreas de nidificação concentram-se na região polar ártica e as áreas de invernada restringem-se ao oceano Atlântico, chegando à costa do Brasil e ao golfo da Guiné. É o moleiro (ave de tamanho médio, de cor escura e semelhante a uma gaivota) mais comum que ocorre nos mares do arquipélago da Madeira, estando geralmente presente durante os meses de agosto e setembro. Os pescadores chamam a esta ave fiscal, pelo facto de as riscas brancas que apresenta nas asas darem a ideia de um uniforme policial. Alimenta-se de peixe que captura no mar e dos excessos libertados pelos barcos de pesca, embora grande parte da sua alimentação seja obtida através de cleptoparasitismo, ou seja, perseguindo gaivotas para lhes roubar o peixe capturado.

Falcão-peregrino Falco peregrinus (Tunstall 1771) – Nidifica em grande parte do continente europeu, desde as áreas mediterrânicas até o ártico. A maior parte da população efetua pequenos movimentos migratórios, exceto as populações do Norte e Nordeste da Europa que migram para a costa do Mediterrâneo. Apresenta um voo muito rápido, caçando mediante perseguições e voos picados. É uma migradora de passagem no arquipélago da Madeira, onde ocorre de forma solitária. Pode ser observada entre os meses de setembro e outubro, sobretudo em áreas abertas com vegetação rasteira, falésias sobre o mar, áreas agrícolas e áreas rurais. A sua dieta é constituída, quase em exclusivo, por aves, em especial pombos.

Andorinha-de-fora ou andorinha-das-chaminés Hirundo rustica (Linnaeus 1758) – A andorinha mais delgada que ocorre na Europa, nidificando ao longo de todo o continente europeu. É uma migradora de longo curso, que no inverno se distribui desde o Mediterrâneo até sul do equador. É uma espécie invernante, que ocorre em todas as ilhas do arquipélago da Madeira, entre os meses de outubro e abril. Pode ser encontrada em diversos locais, nomeadamente em áreas abertas com vegetação rasteira, junto a lagoas e ribeiras, e mesmo em áreas urbanas. De forma geral, ocorre em bandos que podem variar entre os 5 e os 15 indivíduos. Alimenta-se quase exclusivamente de insetos voadores que captura junto à superfície de planos de água ou sobre manchas de vegetação arbustiva.

Andorinha-das-casas ou andorinha-dos-beirais Delichon urbicum (Linnaeus 1758) – Nidifica ao longo de todo o continente europeu, incluindo áreas subárticas. As suas áreas de invernada distribuem-se desde o Mediterrâneo até as áreas tropicais do continente Africano. É uma espécie invernante que ocorre em todas as ilhas do arquipélago da Madeira, podendo ser observada entre os meses de outubro e fevereiro. Pode ser encontrada em bandos mistos com a andorinha-das-chaminés H. rustica, embora seja menor e voe mais lentamente, e a altitudes superiores a esta. Durante o dia, pode ser observada em busca de alimento, frequentando zonas com grande abundância de insetos, e.g. junto a ribeiras e lagoas, onde captura as presas em voo.

Laverca Alauda arvensis (Linnaeus 1758) – É a cotovia (passeriforme de pequeno porte típico de zonas áridas) mais comum e com maior distribuição pelo continente europeu, que ocupa grande parte do Norte e Leste da Europa. Faz pequenas migrações, deslocando-se para o Sul da Europa e as áreas mediterrânicas. Apresenta um voo característico, que se distingue pelo facto de pairar ligeiramente antes de pousar. É uma invernante regular no arquipélago da Madeira, ocorrendo entre os meses de outubro e fevereiro. Pode ser encontrada em áreas abertas com vegetação pouco desenvolvida e áreas mistas de matos, desde a beira-mar até aos picos mais elevados da ilha da Madeira, e, por vezes, em terrenos agrícolas. Forma bandos que podem atingir dezenas de indivíduos. Apresenta uma dieta variada que inclui plantas e animais, embora folhas, grãos e sementes sejam mais importantes no outono e inverno.

Rabirruivo-comum Phoenicurus ochruros (Gmelin 1774) – Nidifica ao longo das áreas mediterrânicas e das áreas com temperaturas amenas do continente europeu. A maior parte da população europeia não efetua longas migrações, embora se possa deslocar até o Nordeste de África. É uma ave invernante, que está presente no arquipélago da Madeira entre os meses de outubro e março, ocorrendo preferencialmente em áreas abertas com vegetação rasteira, desde a beira-mar até aos picos mais elevados da ilha da Madeira, assim como em rochas na orla costeira. De forma geral, é observada isolada, não formando bandos. A sua dieta é dominada por pequenos invertebrados, que captura no solo, frutos e bagas.

Caiado ou chasco-cinzento Oenanthe oenanthe (Linnaeus 1758) – Na Europa, apresenta uma vasta distribuição, que vai desde as ilhas do Mediterrâneo até ao Norte da Islândia. A maior parte das populações europeias inverna na África central. É uma migradora de passagem, que ocorre com regularidade em todas as ilhas do arquipélago da Madeira entre os meses de setembro e outubro e, em menor número, entre os meses de março e abril. Ocorre essencialmente em áreas abertas com afloramentos rochosos e vegetação herbácea (desde a beira-mar até aos locais de maior altitude da Madeira) e em áreas agrícolas. Alimenta-se essencialmente de insetos e outros invertebrados, embora também ingira bagas.

Lavandeira-de-fora ou alvéola-branca Motacilla alba (Linnaeus 1758) – Nidifica em grande parte do continente europeu, desde as áreas mediterrânicas até o círculo polar ártico. Inverna no sul do Mediterrâneo, e em áreas tropicais e subtropicais do continente africano. No arquipélago da Madeira, é uma espécie invernante que está presente entre os meses de outubro e abril, e ocorre numa grande diversidades de habitats, tais como áreas abertas com vegetação rasteira, zonas urbanas, orla costeira, prados e terrenos agrícolas. De forma geral, é observada isolada ou em pequenos bandos até três indivíduos. Alimenta-se de invertebrados, que captura no solo, sobre vegetação rasteira, na superfície da água ou em pleno voo.

Escrevedeira-das-neves Plectrophenax nivalis (Linnaeus 1758) – Nenhuma outra ave terrestre apresenta uma área de nidificação tão a norte, nidificando nas ilhas do Oceano Ártico, na Gronelândia, Islândia e Noruega. A sua principal área de invernada é a Europa central e setentrional. Embora o arquipélago da Madeira esteja situado a sul da sua área normal de invernada, no começo do c. XXI tem sido anualmente observada nos picos mais elevados da ilha da Madeira. Ocorre durante os meses de outono e inverno, em pequenos bandos de 3 a 10 indivíduos. A sua alimentação baseia-se essencialmente em sementes e pequenos invertebrados.

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Ana Isabel Fagundes

(atualizado a 22.06.2016)

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