regionalismos madeirenses
Um povo vai herdando, das gerações anteriores, tradições, usos e costumes. A sua forma de falar a língua que utiliza quotidianamente também a obteve por essa mesma via. Porém, moldando-a segundo as suas cambiantes necessidades, altera-a, ganhando esta novos contornos. Passará para as gerações vindouras não como um todo imutável, mas como uma realidade em constante transformação. Caberá aos herdeiros preservar e valorizar toda esta riqueza linguística: a do passado (mesmo se em desuso), como são muitos arcaísmos, e a do presente (ainda em uso), tanto a criada, como a importada. Por vezes, alguns falantes, não sendo linguistas, mas possuindo um sentido muito apurado do valor dessa herança, vão intervindo no sentido de a conservar, procedendo consoante os meios de que dispõem. Sucedeu assim no arquipélago da Madeira, desde as primeiras décadas do séc. XX às do XXI, com os chamados “vocabulários” (pequenas publicações que ordenam, alfabeticamente, vocábulos considerados de cariz regional) ou “glossários” (listagens ordenadas alfabeticamente com definições breves ou alongadas de vocabulário usado nos trabalhos onde figuram) dos regionalismos.
Estudar para identificar e classificar os regionalismos madeirenses (plano geográfico e dialetal) do passado e do presente (plano temporal e histórico) coloca várias questões, nomeadamente culturais (plano cultural e etnográfico), que quem se dedica à sua análise tem de equacionar. Quem recolheu os materiais existentes, concentrando-se em registar para não olvidar, não se terá, muitas vezes, questionado sobre o assunto, que, todavia, não foi nem será pacífico. Desde o início, vão sendo produzidos (e apenas alguns publicados), entre outra tipologia, artigos de periódicos na imprensa regional e nacional, vocabulários, livros com temáticas culturais ou com textos narrativos, glossários em dissertações e textos no espaço cibernáutico ou noutros meios de divulgação. Neles, constam recolhas linguísticas que, para um leigo na matéria, comportam dados fidedignos, mas que, em grande parte dos casos, se tornam problemáticos para um estudioso destes assuntos. O motivo da problemática é elementar: na base, nenhum deles se terá orientado por critérios científicos e o resultado final é um produto pessoal da exclusiva responsabilidade do autor que foi o “recolhedor” e o “decisor”.
Logo, vai sendo anotado sob a designação de “regionalismo madeirense” o que cada autor considerou ser um “regionalismo” específico do arquipélago ou de cada uma das ilhas, com as referências mais recentes a recorrerem às mais antigas (que muitas vezes nem citam). Na maioria das recolhas, são elencados por ordem alfabética termos que os próprios consideram regionalismos da ram, mas que, em muitos casos, já em 1950 não o seriam. É o caso das corruptelas, deturpações fonéticas próprias de um registo oral com forte marca popular como “arroibar” (“roubar”), “astrever-se” (“atrever-se”), “auga” (“água”) e “queto” (“quieto”) (PESTANA, 1970), “acarditar” (“acreditar”) e “próve” (“pobre”) (CALDEIRA, 1993). Helena Rebelo (REBELO, 2010) faculta, entre outros, os seguintes exemplos: “zdóiro” (“Isidoro”), “zabel” (“Isabel”), “zenebra” (“genebra”), “zango”/“zongo” (“zangão”) e “zenabre” (“zinabre”). As percentagens de elementos a excluir das listagens são consideráveis. A falta de critério científico para a inclusão de termos dessas listas em artigos, vocabulários, livros, glossários em dissertações, etc. tem sido o principal problema, impedindo que se lhes possa dar total credibilidade. Consequentemente, no início do séc. XXI, as obras que existem são apenas parcelas de um todo, isto é, um valioso Património que aguarda a feitura de um dicionário específico. Portanto, é evidente que, apesar de o número de publicações ir aumentando anualmente, ainda está por publicar um verdadeiro dicionário que ultrapasse o mero levantamento pessoal e individual, limitado e defeituoso, dos vocabulários e glossários existentes.
Antes de concretizar esta obra, é indispensável pensar, detalhadamente, sobre o tema. Interessa saber, linguisticamente falando, o que é um regionalismo. Como se identifica? Que critérios se podem usar para o distinguir de um termo que não o é? Desde quando se considera existirem regionalismos no arquipélago da Madeira? Que materiais comprovam a sua existência? É possível classificar como regionalismo um termo usado em várias áreas geográficas? Não será esta coexistência a própria negação da sua essência como regionalismo? O que é comum a duas ou três comunidades não deixará de ser específico e original, logo, próprio de uma região? Poderá haver afinidades entre regionalismos (termos da linguagem regional) e populismos (termos da linguagem popular)? Serão regionalismos os termos usados unicamente por uma camada da população ou terão de perpassar pelos vários estratos sociais?
Definição e alcance global do conceito de “regionalismo madeirense”
A proposta de definição avançada por Gouveia é bastante ampla, sendo, essencialmente, de âmbito etnográfico: “O regionalismo [...] constitui a manifestação desentranhada do sentimento coletivo, afeto da terra amoitado nas profundezas do inconsciente. Pelo que todo o processo posto em prática a fim de valorizar e distinguir esta ou aquela parcela de território nacional, em face do vagabundo estrangeiro, atraindo-o por aquilo que é diferente e ele anda cobiçoso de ver e sentir – este arvorar de bandeira do que há de nativo, revela arraigada virtude conservadora” (GOUVEIA, 1994, 142).
Restringindo-o ao âmbito da linguagem, torna-se necessário delimitar aqui o conceito. Numa definição breve e redutora, um regionalismo madeirense será um termo, isto é, vocábulo, expressão, ditado, etc. próprio, porque específico e individualizante, da região que é o arquipélago da Madeira. Deste modo, terá de ultrapassar os limites de cada uma das duas ilhas habitadas e de ser comum a ambas. Para ser classificado como tal, deve, por conseguinte, definir-se pela sua origem (tendo em vista o plano geográfico e dialetal) e a sua evidente originalidade, sendo exclusivo desta área com fronteiras bem delimitadas. Portanto, o termo fundamenta-se, primeiramente, em critérios geográficos. Depois, é indispensável considerar que tem um cunho cultural e etnográfico. Pela sua motivação, e retomando a definição de Gouveia, os regionalismos remetem, frequentemente, para realidades extralinguísticas (e.g.: “bolo do caco”, “bailinho”, “poncha”, “tim-tam-tum”, REBELO, 2014), antes de assumirem uma manifestação linguística. É como se, depois de criar a “coisa”, fosse necessário dar-lhe um nome. Assim, a fim de contribuir para a vertente linguística da definição de “regionalismo”, devem ter-se em conta o critério geográfico, o cultural e, consequentemente, o histórico porque é a combinação destes três planos que permite distinguir regionalismos linguísticos próprios do arquipélago da Madeira dos de outras proveniências.
A nível histórico e cultural, a sociedade – com as suas vivências particulares mais típicas – assume um cunho específico, distinguindo-se do todo nacional, da comunidade maior, ao longo do tempo. A Cultura local é um motor impulsionador da criatividade linguística e vai originar a existência de múltiplos regionalismos madeirenses. Portanto, apenas se pode indicar como sendo um regionalismo madeirense o vocábulo (a expressão, o ditado, o topónimo, o antropónimo, a alcunha, etc.) que a comunidade linguística nacional (em que se inclui a regional) identificar como tal, pela pertença a esta área geográfica restrita e exclusiva. Reconhecer-se-á, assim, pela sua diferença relativamente ao todo nacional e internacional da língua portuguesa, devido às suas particularidades regionais.
Posto isto, é possível distinguir três noções relacionadas com esta temática: a) verdadeiros regionalismos madeirenses (ou simplesmente regionalismos madeirenses), b) falsos regionalismos madeirenses (ou pseudorregionalismos madeirenses) e c) não regionalismos madeirenses. Em princípio, por definição, para ser um verdadeiro regionalismo (e.g.: “semilha”, “tapa-sol”), um termo não poderá pertencer a mais do que uma região. Se existe noutras áreas geográficas, passa a ser um falso regionalismo (e.g.: “levada”, “lapinha”, “pimpinela”). Provavelmente, neste último caso, será um termo antigo que a norma deixou de usar ou que sempre desconheceu por pertencer a outra variedade linguística. Também poderá ser um termo que foi levado (importação – plano histórico) de uma região para outra ou outras, havendo que descobrir o seu percurso e os motivos (históricos e culturais) que originaram a sua dispersão geográfica por mais do que uma região. Se, antes de vigorar noutras regiões, se formou na área madeirense, então é um regionalismo com alguma tendência para o não ser (e.g.: “bolo família”, “bolo do caco”). É sabido que o isolamento linguístico propicia a conservação de arcaísmos e a criação original de termos, enquanto os intercâmbios entre falantes de diversas proveniências levam à sua expansão, sendo esta uma força impulsionadora do enriquecimento lexical. Expressões, ditados, provérbios, etc. também vão surgindo destes momentos de trocas linguísticas. No entanto, muitos são os vocábulos considerados regionalismos que não o são, porque correspondem a vocábulos do nível comum da linguagem ou de outros níveis do registo informal (familiar, popular e calão), usados no território nacional e não apenas numa região, como por exemplo “comer” (“refeição”) e “bucho” (“estômago”) (PESTANA, 1970); “porrada” (“pancadaria”) (CALDEIRA, 1993, 116); “malha” (“sova”) (MATA, O Rabo do Gato, 1 set 2004). Estes deverão ser vistos como não regionalismos, embora alguns autores os tenham incluído nos seus vocabulários e glossários; são exemplos: “zabumba” (“bombo”/ “tambor”) e “zaragateiro” (“quem faz/arma zaragata”) (REBELO, 2010)
Para saber como se pode identificar um regionalismo madeirense verdadeiro e genuíno, podem seguir-se diversos métodos. Um deles é a deslocação do investigador à região ou regiões que pretende comparar e a compilação, in loco, dos dados através de fontes diretas (foi o caso das recolhas feitas em todo o território nacional para a elaboração de atlas linguístico-etnográficos empreendidas pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa). Este processo, que permite comprovar a real ou falsa originalidade dos elementos recolhidos, é contudo frequentemente substituído pela comparação de fontes indiretas, através de diversos materiais bibliográficos. Outro método para identificar regionalismos é o do inquérito a nativos, onde se comprova o conhecimento e o uso dos falantes da área em estudo. Outro, ainda, consiste no inquérito a falantes forasteiros, mas de língua portuguesa, ou seja, que não são da área geográfica em estudo, para atestar o desconhecimento dos regionalismos tidos como madeirenses. A incompreensão poderá ser um indício para identificar se são ou não regionalismos porque, por regra, falantes de outras variedades geográficas não conhecem os termos tidos como madeirenses (e.g.: “escarpiada”, “bolo de mel”). É reconhecido que, por exemplo, “semilha” (“batata”) e “batata” (“batata-doce”) são regionalismos madeirenses que os habitantes empregam diariamente, diferenciando-os, e que os forasteiros não destrinçam sem um contacto prévio com a realidade regional.
Materiais existentes: artigos, vocabulários, livros, glossários e outros levantamentos
Os materiais bibliográficos em que se fundamenta a existência de regionalismos linguísticos têm vindo a enriquecer-se ao longo dos tempos. A tradição de registar listas específicas desta área geográfica é antiga. Falta, porém, cientificidade às obras que listam regionalismos madeirenses. Não se sabe, por exemplo, o ponto preciso da recolha dos vocábulos, nem quais e quantos foram os informantes consultados. Os vários autores intitulam as obras dizendo tratar-se de vocabulário: do arquipélago da Madeira (SILVA, 1950), da ilha da Madeira (CALDEIRA, 1993), de um ponto específico da ilha da Madeira (MARQUES, 1985 e SANTOS, 2013), de outros tempos (FIGUEIREDO, 2004). Dá-se conta dos que têm pertinência para o estudo específico dos regionalismos madeirenses, sobretudo concentrados no léxico, o tópico mais estudado, embora houvesse outras dimensões gramaticais/linguísticas a considerar, nomeadamente a da fonética, a da morfologia e a da sintaxe.
Publicações dispersas em periódicos
Os jornais e as revistas foram sempre um meio privilegiado de difusão das especificidades da linguagem regional. Genericamente, abordam-se os levantamentos lexicais feitos em periódicos através de uma síntese comparativa geral (Fig. 1). A nível nacional e regional, diversos foram os títulos da imprensa que divulgaram os regionalismos madeirenses. Pretende-se que a sistematização seja o mais exaustiva possível, embora a tarefa seja difícil, dada a dispersão geográfica e temporal das publicações. Reagrupam-se as que se conseguiram identificar segundo o âmbito regional ou nacional, distribuindo-as em blocos de 25 anos, os quartéis dos sécs. XX. Não há, em 2015, dados consistentes para os sécs. XIX e XXI.
[table id=66 /]No âmbito nacional, há várias revistas da especialidade, isto é, relacionadas com a língua portuguesa, que se interessam pela temática dos regionalismos madeirenses, editando alguns artigos. Na Revista Lusitana, dirigida por Leite de Vasconcelos, Urbano Soares é o primeiro a publicar uma lista organizada com definições, como anexo às suas recolhas da tradição oral madeirense. Como refere António Carvalho da Silva, trata-se de “um glossário explicativo (quase sempre através de sinónimos) do vocabulário madeirense” (SILVA, 2008, 68) composto por 330 termos, mas cerca de 150 vocábulos serão “formas oralizantes” ou corruptelas populares e não verdadeiros regionalismos madeirenses. Na Folha de Viana (em 1916), e depois na Revista Lusitana (em 1920), onde surge com o título “Palavras do Arquipélago da Madeira”, Emanuel Ribeiro dá a conhecer a sua recolha de regionalismos madeirenses, que, posteriormente, veio a ter uma edição em livro.
No segundo quartel do séc. XX, embora não tenha por objetivo registar regionalismos madeirenses, visto ter um caráter etnográfico, surge, no Boletim de Filologia, a dissertação de Kate Brüdt, utilizando o método “palavras e coisas” da área da geografia linguística. Embora não apresentando uma recolha lexical, o texto contém termos relacionados com a realidade cultural madeirense, nomeadamente a casa (e.g.: “casa de colmo”), a mobília, os aparelhos de moagem, os meios de transporte, os instrumentos agrícolas, o cultivo do linho e a tecelagem. A maior parte das palavras registadas pertence à terminologia de atividades tradicionais comuns a muitas regiões do país e não só, mas podem encontrar-se alguns arcaísmos regionais. Entre 1945 e 1947, Jaime Vieira dos Santos concebe uma compilação importante de palavras que denomina “Vocabulário do Dialecto Madeirense”, distribuída por vários volumes (do VIII ao XI) da Revista de Portugal, série A, língua Portuguesa. O autor, como quase todos os outros mencionados, inclui corruptelas e variantes populares da língua portuguesa e muitos vocábulos dados como madeirenses que também são comuns a outras regiões do território português. Ainda nesta revista, em 1939-1940, Eduardo Antonino Pestana publica, sob o título “A linguagem popular da Madeira”, um conjunto de vocábulos posteriormente incluídos no glossário do segundo volume de Ilha da Madeira. Também ele regista elementos que não serão especificamente regionais. Na mesma revista, Sebastião Abel Pestana assina diversos estudos relacionados com questões linguísticas que poderão ter interesse para o tema dos regionalismos, nomeadamente o intitulado “Notas de linguagem”.
No terceiro quartel do séc. XX, entre 1952 e 1958, António Marques da Silva escreve nove artigos sob o título “linguagem popular da Madeira” no Boletim Mensal da sociedade de língua Portuguesa (anos III a VIII). No mesmo periódico, em 1960, 1961 e 1963, este autor dá continuidade à recolha e às reflexões em três artigos intitulados “Sobrevivência do Falar Antigo”. Marques da Silva retrata a linguagem e a realidade rural da freguesia de S. Jorge nos anos 20 e 30, período em que leciona na escola primária daquela freguesia, na costa norte da ilha da Madeira. Em 1964 e 1965, Sebastião Pestana publica “O Falar da Ilha da Madeira” (I e II) na Revista de Portugal, série A, língua Portuguesa, respetivamente nos volumes 29 e 30.
Em finais do séc. XX, os jornais e as revistas nacionais – essencialmente títulos de âmbito mais técnico e académico – que até aqui dão alguma importância à linguagem regional, desaparecem e não são substituídos por novos periódicos, pelo que as publicações dispersas relativas à temática dos regionalismos madeirenses se concentram na imprensa regional.
A nível regional, no primeiro quartel do séc. XX, vão aparecendo publicações, textos e artigos sobre o tema. No Heraldo da Madeira, em 1914, Alberto Artur Sarmento, com o pseudónimo Dr. Kahl, tece algumas reflexões em oito artigos. O autor refere origens, influências, fenómenos, áreas, sentidos e formas do léxico na ilha da Madeira, indicando a origem geográfica das fontes das palavras e expressões que faculta: algarvia, árabe, castelhana e inglesa. Acrescenta fenómenos correntes como a formação de palavras, as alterações de género, a duplicação de prefixos e a importação de estrangeirismos (sobretudo anglicismos), mas nem todas as suas informações estão comprovadas.
No segundo quartel do mesmo século, no Arquivo Histórico da Madeira, em 1939, Manuel Higino Vieira divulga o artigo “Bêbado Tarraço (Nótula Explicativa)”, sobre esta expressão por ele considerada regionalismo madeirense. Em 1949, Alberto F. Gomes publica cinco artigos intitulados “Achegas Para um Estudo do Dialecto Insular” em Das Artes e da História da Madeira (do volume I ao V). Neste trabalho, com muitos exemplos, não constam propriamente definições de termos regionais; Gomes refere as diferentes origens e proveniências das palavras do dialeto regional, nomeadamente estrangeirismos e o que considera serem vocábulos comuns ao Brasil, que, à partida, serão arcaísmos portugueses. No quinto artigo, centra-se nas alcunhas, ou seja, os termos depreciativos usados para identificar socialmente as pessoas.
No terceiro quartel do séc. XX, nomeadamente ao longo de 1964, no periódico regional Voz da Madeira, Abel Marques Caldeira assina 26 artigos, sob o título “Expressões e Ditos da linguagem popular Madeirense”. No mesmo periódico, a 9 de junho de 1964, Sebastião Pestana publica “O Falar da Ilha da Madeira”. Neste artigo, o autor apresenta palavras e expressões da linguagem madeirense, referindo sobretudo Eduardo Antonino Pestana e o seu “A linguagem popular da Madeira”. Anteriormente, em 1952, no Diário de Notícias, Horácio Bento de Gouveia escreve “Da linguagem Falada e Escrita”. No mesmo jornal, em 1971, publica “Linguajar do Brasil, Linguajar da Madeira” e, em 1972, “A Expressão Arcaica da Nossa Gente”.
No último quartel do séc. XX, os jornais madeirenses continuam a interessar-se pela temática da linguagem regional, nomeadamente o Diário de Notícias e o Eco do Funchal. Por exemplo, em 1975, no Eco do Funchal, encontra-se o texto de Manuel Ferreira Pio “Toponímia e Dialectos Regionais” (Toponímia) e, no Diário de Notícias, em 1974, um conto de Jorge Sumares, “Mai Maior qu’Essei Serras” (falar(es) na escrita). A partir dos anos 80, a imprensa regional continua a dar cobertura ao assunto. No Jornal da Madeira, em 1986, Nuno Filipe publica “Vocabulário Madeirense” e, em 1994, Paula de Lemos redige três artigos intitulados “linguagem popular Madeirense”, nos quais destaca curiosidades lexicais, para um continental, de termos e expressões que considera tipicamente madeirenses e que retira de trabalhos de autores anteriores. A revista Sexta do Tribuna da Madeira trouxe, em 2013, a rubrica “Regionalismos”, dedicada à definição sumária de um regionalismo (e.g., “nojência”, de 16 ago. 2013), havendo nesse conjunto alguns que não o serão. Nessa mesma revista do semanário, em crónicas dedicadas à língua portuguesa, “Os Porquês do Português” e “Errare Humanum Est: um por semana”, Helena Rebelo retoma, pontualmente, o tema dos regionalismos madeirenses, como “vestuário”, “pimpinela”, “semilha”, “lapinha”, “no porto moniz”, “caminhar de casa”, etc.
Sendo assim, nas múltiplas publicações dispersas, as referências aos regionalismos podem ser feitas de modo direto ou indireto. De maneira mais explícita, esporadicamente, a imprensa madeirense, as revistas e os jornais com menor ou maior tiragem, vão publicando artigos e reportagens relacionados com a linguagem regional, fazendo menção aos regionalismos. Designadamente, no Diário de Notícias, as crónicas dominicais de Marta Caires são um exemplo de textos jornalísticos não informativos com lexemas de uso corrente na ilha da Madeira, assim como expressões e algumas construções em que a sintaxe ganha um relevo marcadamente madeirense. É impossível registar todos os artigos existentes. Contudo, indicam-se alguns mais significativos. As revistas Xarabanda e Islenha são casos exemplares a este nível. A primeira, tendencialmente etnográfica, concebida e dirigida pelo grupo musical homónimo, divulga recolhas que vão sendo realizadas, como as de Marcial Morera (1992), José Rosado (2003), Naidea nunes (2004) e Helena Rebelo (2005-2006). A Islenha, mais de traço científico, divulga trabalhos de António Carvalho da Silva (1997 e 2008) e o projeto de publicação do Atlas Linguístico-Etnográfico da Madeira e do porto santo, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL), apresentado por Helena Rebelo e Naidea nunes, e publica uma síntese do livro de Ana Cristina Figueiredo. Além destas duas revistas, outras há com uma incidência mais local, como acontece com as revistas municipais, ou de cariz mais temático, como as concebidas por entidades oficiais, ou associativas, com relevância para o estudo dos regionalismos.
Os vocabulários
A preocupação de publicar em livro as recolhas lexicais tem início na segunda década do séc. XX e prolonga-se pelo séc. XXI. Surgiram assim os vocabulários de regionalismos madeirenses, que não são numerosos. Dos quatro existentes, um é patrocinado por uma editora nacional; dois têm a chancela de instituições regionais; e um corresponde a uma edição de autor.
De Emanuel Paulo Ribeiro, o primeiro vocabulário é dado à estampa no Porto, tendo um prefácio de Cláudio Basto. O conteúdo tinha sido parcialmente publicado num jornal continental. O autor anotou, por curiosidade os termos que considerou serem regionais e específicos da ilha da Madeira durante uma estada na Região. Assinala que nenhum dos vocábulos registados se encontrava no dicionário de Cândido de Figueiredo (edição de 1913), ou seja, que não faziam parte do léxico geral do português, e confirma que tinham cariz regional. Cândido de Figueiredo terá aproveitado muita desta informação para a dicionarizar, introduzindo pela primeira vez regionalismos madeirenses num dicionário de língua portuguesa. A edição em livro do vocabulário de Emanuel Ribeiro é aumentada, totalizando cerca de 350 termos tidos como madeirenses. O número não coincide, nem com a contagem de António Carvalho da Silva, nem com a de Ana Cristina Figueiredo. A lista de Emanuel Ribeiro é a primeira recolha de termos madeirenses tidos como regionalismos, embora outros antes dele se tivessem interessado pelo assunto (foi o caso de Mariana Xavier da Silva, cf. REBELO e GOMES, 2014). Apesar de breve (36 páginas no total), será o trabalho mais genuíno dos levados a cabo até 2015 porque, contrariamente aos vocabulários posteriores, não comporta termos que, comprovadamente, não são madeirenses. Contudo, a maioria das entradas reporta-se à flora (plantas, arbustos ou termos relacionados) e à fauna (sobretudo peixes e termos afins, incluindo os de atividades como a pesca).
No ano de 1950, surgem dois vocabulários. Um deles é de Fernando Augusto da Silva, um dos autores do Elucidário Madeirense e uma figura incontornável do cenário cultural madeirense da época. Intitula-se Vocabulário popular do Arquipélago da Madeira. Alguns Subsídios para o seu Estudo e tem publicação patrocinada pela Junta Geral do Funchal. O outro é da autoria de Luís de Sousa. Recebe o título Dizeres da Ilha da Madeira. Palavras e Locuções e é uma edição do próprio autor. A propósito desta obra, nesse mesmo ano, João Cabral do Nascimento publica o artigo “Existem Palavras e Locuções Madeirenses?” no Arquivo Histórico da Madeira. Numa avaliação sumária, mas pertinente, Cabral do Nascimento começa por afirmar que, na obra de Sousa, são registadas palavras e expressões comuns a outros territórios de língua portuguesa, mencionando em particular o facto de o português do Brasil ter muito em comum com a linguagem popular da Madeira. Critica o trabalho de Luís de Sousa por este considerar madeirenses palavras e expressões que são usadas também noutras regiões portuguesas, como “fertuadela” (“dor viva e rápida”), “porrada” e “porradaria” (“muita quantidade”) e “pupu” (“excremento”). No entanto, elogia o autor por ter evitado o registo de deturpações e variantes populares. Estas apreciações de Cabral do Nascimento aplicam-se a grande parte dos levantamentos. Neste sentido, as duas publicações de 1950 assemelham-se: são ambas recolhas de vocabulário pouco desenvolvidas, comportando um conjunto lexical assaz limitado. Quanto ao propósito específico, são distintas. Fernando Augusto da Silva pretende recolher regionalismos de cariz popular de todo o arquipélago. O facto de indicar que se trata de termos exclusivamente populares, isto é, usados pelo povo (supostamente a camada iletrada da população), remete para a problemática da variação social. A nível dialetal, não faz referências explícitas e concretas ao local onde recolhe os vocábulos que lista. Os termos atribuídos, e.g., ao porto santo são apenas oito: “brasida” (“brázida” em Antonino Pestana), “carreireiro”, “escarpiada” (“escrapiada” em Antonino Pestana, e “escorpiada” em Abel Marques Caldeira), “meia-volta”, “nateiro”, “portossantense”, “profeta” e “rancho”. Depreende-se, portanto, que todo o restante vocabulário será exclusivo da ilha da Madeira. Já Luís de Sousa refere que a sua recolha se reporta apenas à Madeira, delimitando-a geograficamente, e tenta não listar corruptelas, o que Cabral do Nascimento sublinha como positivo. Luís de Sousa opta por mencionar as fontes bibliográficas consultadas, tendo mérito por isso, uma vez que reconhece que o seu levantamento não é único.
Tido habitualmente como o vocabulário mais completo e mais representativo do português falado na ilha da Madeira, em 1961, 11 anos após os dois anteriores, é editada a obra de Abel Marques Caldeira, Falares da Ilha: (Pequeno) Dicionário da linguagem popular Madeirense. Com alterações e, sobretudo, adições de expressões, é reeditado em 1993. Este trabalho, no entanto, apresenta-se como pouco fiável no que diz respeito ao elenco de regionalismos, listando pseudorregionalismos e não regionalismos, sem contar com corruptelas.
Em síntese, apesar das limitações que comportam, estes quatro vocabulários publicados são contributos individuais para o estudo dos regionalismos madeirenses, havendo que olhar para eles como isso mesmo e, portanto, com alguma reserva. São produzidos em mais de um século, a par de publicações na imprensa (tanto em jornais como em revistas), dos glossários em trabalhos académicos (dissertações e teses), de livros de cariz regional, envolvendo temáticas culturais. Estas quatro listagens de léxico considerado como regional integram um vasto conjunto incontornável de referências para o estudo dos regionalismos madeirenses, embora exijam uma consulta crítica.
Livros temáticos sobre a Madeira
No princípio do séc. XXI, existem várias publicações, também em livro, da área da Cultura, que tratam temas das tradições regionais, nas quais se encontram aspetos relacionados com a linguagem. Apresentam-se alguns que se destacam por ordem cronológica.
O livro de Eduardo Antonino Pestana intitulado Ilha da Madeira II: Estudos Madeirenses recobre uma área alargada da Cultura e das tradições madeirenses, essencialmente do âmbito da etnografia e da etnologia. No domínio da linguagem, encontra-se, por um lado, uma “Recensão Crítica”. Trata-se de uma resposta à interpretação de Francis Millet Rogers (que desenvolveu em 1940, com publicação em 1946 e 1948, estudos sobre a pronúncia dos arquipélagos portugueses) quanto à formação do plural em “-i” – regionalismo morfológico e fonético madeirense. Por outro lado, este livro apresenta a “linguagem popular da Madeira”, levantamento lexical que constitui um capítulo do segundo volume da obra. A recolha de Pestana é vasta, embora contenha imprecisões no que se refere aos regionalismos, já que comporta um grande número de corruptelas. Além disso, inclui muitos não regionalismos. Porém, divulga algumas das especificidades dos regionalismos a nível continental, essencialmente em ambiente académico, dada a amplitude que a Revista de Portugal, série A, língua Portuguesa tinha.
A crónica romanceada Minha Gente, de Marques da Silva, possui um glossário, concebido e publicado juntamente com a obra, no Funchal, em 1985, revestindo-se de particular importância para quem pretender dedicar-se ao estudo dos regionalismos madeirenses. Este pequeno glossário, denominado “Vocabulário e Expressões do Norte da Ilha”, apresenta-se em anexo ao texto literário, registando muitas variantes populares ou corruptelas. Em 2013, a DRAC edita uma compilação das publicações dispersas relacionadas com a língua portuguesa e o glossário em linguagem popular da Madeira.
Como esta obra, há muitos textos literários de diversos autores que são fundamentais para compreender a temática dos regionalismos madeirenses. É o caso da ficção de Horácio Bento de Gouveia, que propicia, por exemplo, os estudos de Elisete Almeida “Particularidades dos Falares Madeirenses na Obra de Horácio Bento de Gouveia” e “Antiguidade e Modernidade na linguagem de Horácio Bento Gouveia”, assim como um levantamento relacionado com as comidas e as bebidas regionais, de Thierry dos Santos. Além das obras literárias, Gouveia escreve crónicas sobre as particularidades regionais da língua portuguesa. No seu livro Canhenhos da Ilha, por exemplo, inclui “A língua do Brasil e de Portugal”, referindo a proximidade entre o português falado na Madeira e no Brasil.
Entre finais do séc. XIX e finais do séc. XX, encontram-se também diversos livros que, não tendo uma incidência direta na língua, mencionam alguns dos seus aspetos, designadamente os de Francisco Lacerda, Francisco de Freitas Branco e Rui Santos.
Glossários em dissertações e teses
Entre o segundo e o terceiro quartéis do séc. XX, no campo da dialetologia, com orientação do Professor Lindley Cintra, e apresentadas à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, surgem algumas dissertações de licenciatura em Filologia Românica dedicadas ao estudo dos “falares” do arquipélago da Madeira. Nestas, há levantamentos lexicais organizados em glossário. Datada de 1939, a dissertação de Deolinda Bela de Macedo intitula-se Subsídios para o Estudo do Dialecto Madeirense. Por se tratar da primeira monografia linguística que é realizada sobre a ilha da Madeira, reveste-se de grande importância, embora seja, como o próprio título indica, um contributo. Isso é visível no glossário que apresenta. Em 1952, Maria do Carmo Noronha Pereira conclui Tentativa de um Pequeno Atlas Linguístico da Madeira e Algumas Considerações sobre Particularidades Fonéticas, Morfológicas e Sintácticas do Falar Madeirense. As formas genéricas “Madeira” e “madeirense”, presentes no título, referem-se apenas à ilha. No glossário, a autora inclui o material recolhido através de um inquérito, assim como palavras e expressões registadas em conversa livre, tendo o cuidado de indicar a localidade onde são ouvidas. Elisabeth Aurora Gundersen Pestana, em 1954, redige a dissertação Subsídios para o Estudo da linguagem dos Bamboteiros (Funchal). A autora afirma que o falar dos bomboteiros (“bamboteiros”) constitui uma linguagem sub-regional e não um calão: “A linguagem dos bamboteiros apresenta características fonéticas, morfológicas e sintáticas diferentes das do dialeto. […] Tem não só um léxico, mas também a sua fonética, a sua morfologia, a sua gramática, enfim, embora muito limitadas” (PESTANA, 1954, 117 e 119). A terceira parte da tese é o glossário. Nele, a autora regista muitas formas da linguagem popular que ela própria indica serem comuns a Trás-os-Montes, Minho, Douro, Alentejo e Algarve. Inclui palavras relacionadas com a realidade dos bomboteiros, nomeadamente nomes de navios, bem como partes e peças das “cabritas” (“barcos com menos de três metros de comprimento”) e das canoas (“barcos de três a quatro metros”). Inclui, ainda, vocábulos de influência inglesa usados na comunicação com os estrangeiros, como por exemplo: “chiqueman” (“muito bom”, “de boa qualidade”), “camóne” (“siga”), “bói” (“rapaz”), “bossa” (“capataz”), entre outras palavras de uso mais geral. Em 1961, Maria Ângela Leotte Rezende apresenta o estudo Canhas e câmara de lobos: Estudo Etnográfico e Linguístico. O glossário constitui a terceira parte da dissertação, registando termos das áreas agrícola e piscatória, mas também vocábulos correntes das duas localidades em estudo. João da Cruz nunes escreve Os Falares da Calheta, Arco da Calheta, Paul do Mar e Jardim do Mar em 1965. No capítulo denominado “Lexicologia”, o autor refere derivação, composição, alterações semânticas, derivação imprópria, onomasiologia, polissemia, estrangeirismos e arcaísmos. O glossário está organizado por campos semânticos: “terra”, “acidentes de terreno”, “fenómenos atmosféricos e meses”, “plantas”, “bananeiras”, “batata”, “cana sacarina”, “cereais”, “vinha”, “árvores”, “flores”, “animais”, “aves”, “insetos e répteis”, “mar”, “pesca”, “peixes e mariscos”, “o Homem”, “vida de relação”, “vida infantil”, “alimentação”, “habitação e utensílios domésticos”, “iluminação”, “vestuário e adornos”, “festas e vida religiosa”, comportando, ainda, “varia” e “locuções”.
Na Universidade de Coimbra, para a Dialetologia, houve dissertações de licenciatura sobre a variedade do Português falado na Madeira, com orientação do Professor Paiva Boléo. Em 1945, Maria de Lourdes Monteiro apresenta o estudo porto santo, Monografia Linguística, Etnográfica e Folclórica. No glossário, a autora assinala algumas palavras que ela própria afirma não aparecem registadas na quinta edição do Dicionário de Cândido de Figueiredo e outras que são usadas em sentido novo, ou seja, diferente do que está dicionarizado. É importante destacar que a publicação deste estudo é repartida por três volumes da Revista de Filologia Portuguesa (1945, I, 340-390; II, 28-92; III, 90-151), tendo, portanto, difusão nacional. Em 1956, Carlos Lélis da Câmara Gonçalves defende o trabalho Influência Inglesa na Ilha da Madeira: Contributo para um Estudo Linguístico e Histórico. Por estar inacessível em 2015, não se sabe a sua importância para o estudo dos regionalismos, nomeadamente dos empréstimos.
A partir do último quartel do séc. XX, com a criação, em 1988, da universidade da madeira e a abertura das licenciaturas em Letras, sobrevêm teses de doutoramento e de mestrado da autoria de docentes e discentes. Referem-se, exclusivamente, as que contêm glossários em que poderá haver regionalismos madeirenses. Em 2002, a tese de doutoramento de Naidea nunes, O Açúcar de Cana na Ilha da Madeira: do Mediterrâneo ao Atlântico. Terminologia e Tecnologia Históricas e Atuais da Cultura Açucareira, regista alguns termos que a autora defende terem surgido na ilha com o grande desenvolvimento da produção açucareira nos sécs. XV e XVI, nomeadamente “açúcar de panela” (açúcar de inferior qualidade, não purgado, elaborado num recipiente chamado “panela”, designação que se estendeu à América Latina, e.g. à Venezuela e à Colômbia); “açúcar mascavado” (açúcar não refinado, retirado do fundo das formas, denominado “açúcar mascavo” no Brasil; este termo passou para outras línguas como o inglês); “engenho” (moinho de cana-de-açúcar movido a água, inovação técnica renascentista que surge na ilha da Madeira em substituição do “trapiche”, moenda de pedra movida por animais); “rapadura” (crostas grossas de mel ou açúcar caramelizado que ficam coladas no fundo das caldeiras e que são rapadas para usar como rebuçado ou desfazer em mel). São termos característicos da produção açucareira, importante realidade madeirense, tendo alguns deles grande difusão no Atlântico (Canárias, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e Brasil). Ana Cristina Figueiredo, em 2004, apresenta a tese de mestrado Palavras d’Aquintrodia: Contribuição para o Estudo dos Regionalismos Madeirenses. No glossário, a autora compila termos que considera serem os regionalismos mais utilizados, evidenciando tratar-se de um critério de escolha pessoal. Apesar de reconhecer lacunas nas recolhas existentes, procura abranger o maior número possível de campos semânticos da realidade madeirense: “bordado Madeira”, “frutos”, “profissões”, “saúde”, “folclore”, “atividades lúdicas”, “produtos hortícolas”, “vestuário”, “transportes”, “relações interpessoais”, “flora”, “corpo humano”, “animais”, “pesca/vocabulário marítimo”, “tradições”, “utensílios/objetos”, “agricultura”, “culinária/gastronomia” e “vocabulário de uso geral”. Na publicação em livro da dissertação, Palavras d’Aquintrodia (Estudo sobre Regionalismos Madeirenses), em 2011, a autora aumenta o número de entradas lexicais do glossário de 322 para 350, como menciona. Em 2007, a tese de doutoramento de Thierry dos Santos, De Ilhéus a Canga, de Horácio Bento de Gouveia: a Narrativa e as suas (Re)escritas (com uma Proposta de Edição Crítico-Genética e com uma Tradução Parcial do Romance para Francês), apresenta um glossário com algumas palavras e expressões, consideradas como regionais, presentes na obra de Horácio Bento de Gouveia. Na introdução ao glossário, escreve: “algumas palavras têm, ao ver de Horácio Bento, uma clara coloração insular pela frequência com que eram ou são usadas no arquipélago em causa: ‘ajeitivar’, ‘assacanhar’, ‘bilhardar’, ‘cramar’, ‘empesar’, ‘ilharga’ e ‘matina’”, sublinhando tratar-se de “termos ora arcaicos ora regionais” (SANTOS, 2007, 367) que o escritor incorpora na sua escrita. Em 2013, Maria Florentina Silva Santos, na sua tese de mestrado, À Luz das Palavras Quase Esquecidas. Contributo para o Estudo dos Regionalismos na Ponta do Sol, elabora um glossário, em que inclui palavras não estudadas na tese de Ana Cristina Figueiredo, sendo, no seu entender, muito utilizadas e representativas do concelho da Ponta do Sol. Procura evitar as comuns a outras regiões do país. No glossário da dissertação, depois da comparação com dicionários da língua portuguesa, o método seguido por Ana Cristina Figueiredo, conclui que, dos 160 vocábulos estudados, 77 são vocábulos e expressões exclusivos da Madeira, ou seja, regionalismos não registados nos dicionários de língua portuguesa consultados, ou que não apresentam o mesmo significado. Do total, 13 vocábulos ocorrem também noutras regiões do país e no Brasil, considerando a autora que na sua maioria, são arcaísmos. Estas diferentes abordagens dos termos tidos como regionalismos madeirenses realçam o interesse da temática no meio académico.
Outros meios de recolha e divulgação
Evidencia-se que, desde a década de 80 do séc. XX, além da imprensa, os meios de comunicação social vão, pontualmente, tratando de forma geral, o tema dos regionalismos madeirenses. É o caso do programa Cá Nada da RTP-Madeira, emitido entre 2009 e 2011, e de outros em diversas rádios e televisões nacionais e regionais. Contudo, o meio privilegiado tem sido a Internet. Entre outros, salienta-se o blogue O Rabo do Gato, escrito pela jornalista Lília Mata e iniciado em 2009, que, segundo a própria autora, regista a “memória das palavras, expressões e outras curiosidades da linguagem da minha terra. Sobre o ‘madeirense’” (MATA, O Rabo do Gato). Sendo natural da freguesia do Caniço de Cima, concelho de Santa Cruz, Lília Mata elenca palavras e expressões aí usadas no tempo da sua infância e que considera terem continuado a ser utilizadas pelas pessoas mais idosas da localidade. Também na Internet, o artista plástico Ricardo Barbeito, na sequência da instalação intitulada A bilhardice, concebe a divulgação online em que se encontra o texto de Helena Rebelo “A Arte de Criar Palavras ou de ‘Bilhar’ à ‘bilhardice’”.
Tipologia dos regionalismos
Para a classificação dos diferentes tipos de regionalismos (vocábulos e expressões), pode utilizar-se um critério gramatical, identificando regionalismos: lexicais, fonéticos, semânticos, sintáticos e morfológicos. Os regionalismos fonéticos, como “aquintrodia” (“aqui no outro dia”) são, por definição, na maior parte das vezes, variantes populares de vocábulos ou expressões que existem na língua padrão. Alguns deles podem recobrir várias componentes, sendo, simultaneamente, lexicais e morfológicos ou morfológicos e semânticos. É o caso de “dentinho” (de “dente” + “-inho”), que não é diminutivo de “dente”, mas uma nova unidade lexical com o significado de “petisco”. Optou-se, pois, por outro critério tipológico, embora também ele levante questões metodológicas. Assim, procura-se uma abordagem que se baseie na origem do termo, que pode ser concomitantemente linguística e extralinguística, ou seja, histórica, geográfica e cultural. A escolha deste critério justifica-se porque os regionalismos surgem, muitas vezes, de realidades e vivências regionais, logo, extralinguísticas. Neste sentido, optou-se por classificar os regionalismos madeirenses como arcaísmos, populismos, estrangeirismos/empréstimos, neologismos e usuais/correntes. Contudo, torna-se evidente que, mais do que classificar os regionalismos, importa questionar a sua origem, a natureza do seu uso e a sua extensão em cada período histórico. Para cada um dos tipos apresentados, dar-se-ão alguns exemplos.
Arcaísmos
O que é um arcaísmo? Nesta classificação, é um vocábulo antigo que foi corrente ou comum até finais do séc. XIX, que poderá persistir na fala de alguma população idosa, mas que estará em vias de extinção. Para determinar e confirmar a classificação de arcaísmos atribuída aos regionalismos, utilizam-se, a título exemplificativo, como corpus lexicográfico de exclusão nos começos do séc. XXI, algumas referências incontornáveis, como o Dicionário de Morais Silva, o Elucidário de Viterbo, o Dicionário de Regionalismos e Arcaísmos (DRA) de Leite de Vasconcelos, o Dicionário de Cândido de Figueiredo, o Dicionário Houaiss da língua Portuguesa e o Dicionário de Falares dos Açores de João Barcelos.
Muito do léxico recolhido pelos autores dos vocabulários madeirenses e dos glossários académicos são certamente formas do português antigo, arcaico ou medieval, conservadas nas ilhas devido à data do povoamento e ao isolamento geográfico. Sucedeu assim nos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Trata-se de um fenómeno de “congelamento linguístico” de palavras e formas do português antigo nas regiões mais isoladas. Deolinda de Macedo salienta que, nas populações rurais e analfabetas da ilha da Madeira, se encontra um português conservador “revestido de muitas das suas formas medievais” (MACEDO, 1939, 3). Porém, alguns arcaísmos são falsos regionalismos, por serem vocábulos ou expressões que são conservados em várias regiões do país, nomeadamente no Minho, em Trás-os-Montes, nas Beiras, no Alentejo, no Algarve e nos Açores, mas também no Brasil e nos crioulos de base lexical portuguesa, sobretudo de Cabo Verde e de S. Tomé e Príncipe. Estas regiões de colonização tendem a conservar o português falado nos sécs. XV e XVI. Deste modo, cada um dos vocábulos merece um estudo mais aprofundado para se compreender a sua origem e o seu percurso histórico-geográfico, a fim de, cientificamente, se comprovar a sua classificação como arcaísmo e verdadeiro regionalismo madeirense, ou seja, a sua pertença exclusiva à ram.
Maria de Lourdes Monteiro afirma que a linguagem do porto-santense conserva palavras arcaicas. No entanto, alguns exemplos dados pela autora também são usados na ilha da Madeira. Dos vocábulos referidos, “escarpiada” parece ser específico da Ilha do porto santo, sendo praticamente desconhecido na ilha da Madeira. Nos Açores, encontra-se a denominação “carpiada” para designar um “pão de leite pequeno, feito com farinha de trigo e de milho, ovos e açúcar (em Santa Maria). Também lhe dão o nome de escaldada. No Faial, chama-se brendeiro e em S. Jorge merendeira” (BARCELOS, 2008, 157). Provavelmente, “carpiada” e “escarpiada” terão uma base lexical comum. Corresponderiam a uma confeção semelhante que terá divergido ao longo do tempo. É difícil saber a sua origem e conhecer o percurso da palavra, assim como aferir o seu significado original. Contudo, pensa-se ser um arcaísmo, dado que não se regista em nenhuma das referências de exclusão consultadas. Além disso, ocorre em vocabulários regionais.
Para exemplos de arcaísmos regionais, consultam-se os quatro vocabulários da Madeira referidos. Fornecem-se de seguida as respetivas definições: “abicar” e “abicar-se” (“precipitar pessoa ou coisa, apressar, atirar, deixar cair, deitar ao chão e precipitar-se, suicidar-se, atirar-se”); “freimaço” (“arrelia, impaciência”); “gerno” (“coisa nenhuma, nada”, registado em VASCONCELOS, Dicionário… como “conjunto do que produz a terra: feijão, milho, vinho, cebola, azeite, etc., de generu”); “poita” (“âncora ou pedra que é utilizada como âncora de pequenos barcos”, por analogia, na ram, apresenta o significado de “traseiro, rabo”, SANTOS, 2013, 109); “quinar” (“dar-se mal, bater com o nariz na parede”; costura: “vincar para fazer pregas ou refegos em tecido”); “quinau” (“opinião, conselho”); “sobre si/sobressi” (“pessoa pouco faladora, de pouca iniciativa, indivíduo bonacheirão”, mas pode também “pessoa aparvalhada, sem tino”). Nenhum destes termos se encontra no Elucidário de Viterbo, de modo a confirmar o seu carácter arcaico, embora sejam reconhecidos como tal pelos falantes. Alguns destes vocábulos caíram em desuso como “gerno”, mas outros continuam a ser usados, como “abicar” e “abicar-se”. A classificação de arcaico relativamente a vocabulário que, sendo antigo, continua a usar-se com alguma frequência é, aliás, controversa. É o caso, por exemplo, de “azougar”/“azoigar”/“azagar” (“morrer”, falando de animais, mas também empregue para humanos com valor depreciativo); “bisalho”/“bizalho” (“frangainho implume, pintainho” e “criança”); “charola” (pequena armação piramidal onde se colocam produtos da terra para oferecer à paróquia nas festas religiosas); “furado” (túnel cavado à mão); “poio” (“socalco, pequeno trato de terreno, pedaço de terra de cultivo”).
Joaquim Viterbo regista “heréu” (Heréus), com as seguintes formas: “hereé” (“herdeira”, 1347), “hereés” (“herdeiros”2, 1286) e “heréo” ou “eréo” (“herdeiro”, 1318) (VITERBO, 1966, 2, 313). Na ilha da Madeira, o nome “heréu” designa o proprietário, enquanto herdeiro de águas de regadio das levadas particulares. Leite de Vasconcelos atesta esta palavra como “administrador da receita e despesa das levadas”, explicando que “Os donos das levadas arrendam-nas a donos de campos vizinhos, que gastam umas tantas horas por quinzena e pagam um tanto por cada hora. (Madeira, 1896)” (VASCONCELOS, Dicionário…). Como o “heréu” é o proprietário das levadas, esta palavra poderá ter origem em “herdeiro”. O Dicionário de Leite de Vasconcelos averba “herees”, “herel” e “hereo” como formas antigas do vocábulo “herdeiro”, o que é evidenciado por Viterbo. Ao falar da irrigação, Maria de Lourdes Monteiro refere “heréu ou proprietário”, mas a autora parece não considerar haver aí um regionalismo do porto santo e, talvez por isso, não a regista no glossário. Em 2015, não é seguro se este termo é, como parece, um regionalismo madeirense. Maria Ângela Rezende também não atesta, no glossário, “heréu ou proprietário”, que destaca no texto da sua dissertação. O termo “heréu” está, nestas duas teses, sempre associado a “levada particular”. Assim, relacionada com “heréu”, a palavra “levada” ocorre como regionalismo nas referidas teses, embora seja um falso regionalismo. Existe com o mesmo significado no continente português, nomeadamente na Beira, como refere Leite de Vasconcelos no Dicionário…: “Ling. da Madeira ‘rego grande de água descoberta, como na Beira, destinado a regas’”. Joaquim Viterbo, na segunda entrada de “levada”, define este termo do seguinte modo: “não é, propriamente, o açude, dique ou marachão que faz retroceder ou altear as águas, mas sim a corrente ou veio das mesmas águas” (VITERBO, 1984, II, 362). Na Madeira, devido à necessidade de construção de um sistema de canalização de água da costa norte para a costa sul, sendo necessário ter alguém responsável pela distribuição da água de rega, assim como o pagamento de uma verba para manutenção das levadas privadas, usam-se vocábulos da família de “levada”. São, essencialmente, os seguintes termos: “levadeiro” (definido como “homem que cuida das levadas e da distribuição das águas de regadio”, mas também, por analogia, como “aquele que manda servir ou serve as bebidas nas festas familiares ou recreativas”). Leite de Vasconcelos define este nome como termo específico da Madeira: “encarregado da distribuição das águas das levadas, e do aviso em que hão-de utilizá-las” (VASCONCELOS, Dicionário…) Fernando Augusto da Silva regista a forma “levadage”: “tributo ou pensão que os heréus dão para as despesas da conservação das levadas” (SILVA, 1950, 94); e Maria Florentina Silva Santos averba o termo “levadagem” como “valor pago pelos proprietários de terras pela utilização da água de rega” e “atribuição da água de rega aos terrenos” (SANTOS, 2013, 104).
O tema do arcaísmo regional é abordado por Alberto Artur Sarmento, que refere palavras e expressões que considera serem arcaísmos, a maior parte das quais caiu em desuso. Também Alberto Gomes, em Das Artes e da História da Madeira, escreve: “No estudo do nosso dialeto, encontramos curiosos termos caídos em desuso nas diversas regiões do país, mas que se conservam ainda aqui – talvez pela circunstância especial do nosso isolamento – e são empregados pelo povo” (GOMES, 1949, II, 195). Estes dois autores classificam os regionalismos (madeirenses) como arcaísmos e populismos. Todavia, os exemplos que facultam remetem essencialmente para falsos regionalismos, não se considerando, por isso, pertinente destacá-los. Sucede o mesmo com Horácio Bento de Gouveia, nos seus escritos gerais sobre a linguagem regional da Madeira: “Da linguagem falada e escrita” (1952), “Linguajar do Brasil, linguajar da Madeira” (1971) e “A expressão arcaica da nossa gente” (1972), publicados no Diário de Notícias, assim como em “A língua do Brasil e de Portugal”. No seu livro Canhenhos da ilha, destaca formas de expressão antigas e a proximidade entre o português falado na Madeira e no Brasil.
Sabe-se que, no povoamento do arquipélago da Madeira, como no dos Açores e do Brasil, além de outros territórios, participam povoadores de quase todas as províncias portuguesas, incluindo o Algarve, embora com predomínio da população do Norte do país. Para o estudo dos arcaísmos no território português, mas contemplando também a Galiza, é particularmente interessante verificar a semelhança que existe entre o vocabulário regional da Madeira e o galego, o de Trás-os-Montes, o do Minho, o do Douro Litoral, o das Beiras, o da Extremadura, o do Alentejo, o do Algarve e o dos Açores. O projeto Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza (ALEPG), iniciado em 1970, é um grande contributo para essa finalidade.
Populismos
A criatividade linguística de quem é pouco escolarizado foi sempre muito produtiva; veja-se por exemplo, para a ilha da Madeira, a linguagem da personagem representada no conto “Mai Maiores qu’Essei Serras” de Jorge Sumares e, para o porto santo, a transcrição apresentada por José Rosado em “linguagem popular Portossantense”. Deste modo, a linguagem popular pode assumir diversas vertentes. Existem as variantes usadas essencialmente pelas camadas menos escolarizadas da população, destacando-se aí as rurais, variantes que surgem sobretudo por analogia e por motivos de expressividade, características da linguagem popular. Serão, em princípio, populismos madeirenses, e.g.: “belamento”/“balamento”, “estepilha” e “peste” (“Ah, seu peste!”). Devem considerar-se também as corruptelas, com alterações fonéticas características, por vezes, de formas antigas, bastante difundidas, e que por isso podem ser específicas de uma região, e.g.: “galatrixa” por “lagartixa”, “vaginha” por “vagem” e “zipela”/“zpela” por “erisipela”. Alguns destes vocábulos podem ser populismos comuns a várias regiões do país e não são verdadeiros regionalismos madeirenses. Como se verifica, os populismos são formas específicas do falar do povo, do registo ou da língua popular, como indica o próprio nome.
Diversos autores escrevem acerca dos populismos, não os dissociando dos regionalismos, por considerarem que a linguagem popular corresponde à linguagem regional. Em “Populismo Madeirense VII”, Alberto Sarmento regista termos usados pelo povo que, embora possam ser considerados regionalismos madeirenses, poderão não corresponder a populismos: “banano” (“pessoa ou coisa muito grande”); “broquilho”/“burquilho” (“bruto”; alcunha coletiva dos habitantes do Porto da Cruz: “broquilhos”); “burjaca” (“estômago”). Alberto Gomes, em “Achegas para um Estudo do Dialecto Insular III”, escreve que: “alguns termos [são] criados por associação de ideias e por espírito de comparação” (GOMES, 1949, 208), o que vai ao encontro da definição supra mencionada de “populismos”. Ilustra o seu ponto de vista com vários exemplos, incluindo os seguintes: “aduelas” (“arcos de vasilhame” e “costelas”), “furabardo” (“pássaro” e “pessoa metediça”) e “ninho de melro” (“ninho de pássaro” e “barrete usado no alto da cabeça”). Ernesto Gonçalves, na sua publicação “Apontamentos. 1- Algo sobre o Falar Madeirense”, trata as formas verbais da terceira pessoa do plural no pretérito perfeito do indicativo como populismos da ram, mostrando, porém, que são comuns à região do Minho. Veja-se a desinência –um/-om, em vez de –am, nos exemplos: “vendêrum” ou “vendêrom” e “crescêrum” ou “crescêrom”, coexistindo com as formas desnasalizadas “vendêro” e “crescêro”. Como se encontra esta alteração fonética em falantes de outras regiões de língua portuguesa, este caso remete para a questão dos falsos regionalismos.
Segundo alguns especialistas, haverá endemismos da fauna e da flora madeirenses. Tal acontece, nomeadamente, com as denominações populares que se referem a peixes (“algorreiro” – “Diz-se do peixe espantadiço, ou desconfiado que não faz caso da isca” e “gata” – “É colhido acidentalmente nos aparelhos das espadas, pelos pescadores de câmara de lobos e de Machico”, nunes, 1953, 142), aves e plantas: “bis-bis”, “pombo-trocaz”, “orquídea-da-serra”, “cedro-da-Madeira”, “buxo-da-rocha”, “malfurada”, “farrobo” ou “ensaião”, “pássaras”, “goivo-da-rocha” e “massaroco” (o atual símbolo da Madeira). Em princípio, estas designações serão regionalismos madeirenses. Os nomes que o povo dá aos seres vivos (assim como às coisas) do quotidiano podem ser exemplos de populismos regionais, com ou sem pendor arcaico.
Mesmo se há uma tendência para fazer coincidir a noção de “populismo” com a de “regionalismo”, teoricamente, elas deverão distinguir-se, porque a primeira remete para o aspeto social, enquanto a outra é de caráter geográfico, sendo, então, comum às diversas camadas sociais de uma região. Todavia, nem sempre é evidente a diferença entre as duas noções, essencialmente devido à escolarização crescente da população. Sublinhe-se que, à partida, quem usa populismos não terá tanta tendência para empregar estrangeirismos, a não ser no caso dos ex-emigrantes e familiares ou dos profissionais com poucas qualificações académicas que contactam com turistas, como era o caso dos “bomboteiros”.
Estrangeirismos ou empréstimos
Os estrangeirismos correspondem a empréstimos, porque são termos importados de outras línguas, podendo ou não sofrer adaptações para se adequarem às características fonéticas e morfológicas da língua de acolhimento. Ocorrem por necessidades denominativas e comunicativas. Refira-se, para começar, o termo “tratuário”, do francês trottoir, para denominar a parte da rua onde andam os peões ou seja, o passeio. Como escreve Aline Bazenga, a palavra “tratuário” aparecerá no léxico regional madeirense acompanhada da forma “trotoário”, “revelando opções de adaptação distintas à língua portuguesa, sendo hibridismos (radical da língua francesa com sufixo português –ário)” (BAZENGA, 2015, 116). A autora verifica que não é possível datar a entrada deste termo no léxico madeirense. No entanto, propõe como hipótese a introdução no vocabulário insular nos finais do séc. XIX, época marcada pela influência francesa na sociedade portuguesa. Outro regionalismo madeirense de importação é o vocábulo inglês shandy (bebida que resulta da mistura de cerveja com, nomeadamente, gasosa), que, no restante território nacional, é denominado pelo termo “panachê” (do francês panaché). Um dos empréstimos mais usados e generalizados no arquipélago será, sem dúvida, o vocábulo corrente “semilha” (“batata”), do espanhol semilla (“semente”), neologismo a partir do qual surgem as formas derivadas “semilheira” (de “semilha” + sufixo “–eira”), para designar a planta que dá a semilha, e “semilhal” (de “semilha” + sufixo “–al”), para denominar uma grande quantidade de semilhas.
A nível cultural, ao longo da história do arquipélago madeirense, são diversas as influências estrangeiras recebidas (mouras, guanches, inglesas, francesas, espanholas, italianas, alemãs, etc.), contactos que nem sempre deixam vestígios linguísticos. No entanto, a temática dos estrangeirismos está presente nas primeiras publicações dispersas e nas dissertações de licenciatura sobre a ram. Para Alberto Sarmento, os empréstimos, “elementos heterogéneos, rudes, muitas vezes casuais e sujeitos a sucessivas transformações, são os que se observam derivados de palavras estrangeiras, mormente no Funchal” (SARMENTO, 1914, IV, 1), provavelmente por ser a área com mais contactos linguísticos com o exterior. Alberto Gomes indica: “Pouco há a registar quanto a estrangeirismos. Embarcadiços regressados das Américas, do Cabo da Boa Esperança, da Trindade, têm sido portadores dalguns estrangeirismos […] são em pequeno número e de difícil fixação” (GOMES, 1949, I, 149). Quanto às dissertações, Deolinda Bela de Macedo apresenta formas do inglês, adaptadas fonética e morfologicamente à língua portuguesa, que considera fazerem parte do vocabulário madeirense. Maria Ângela Rezende, no final do capítulo dedicado à morfologia, em “Etimologia popular”, regista “Palavras formadas por influência inglesa”. João da Cruz nunes, no capítulo sobre lexicologia, inclui alguns “estrangeirismos”. Os vocabulários madeirenses também averbam alguns empréstimos, nomeadamente “afe-nafe”/“afenafe” e “nafe-nafe” (“meio embriagado, semiembriagado”, do inglês half and half); “ambra”/“âmbria”/“ambre” (“fome”, do espanhol hambre), assim como “angra” (“fome”, do inglês hungry); “bomboteiro” (indivíduo que vende produtos a bordo dos vapores que visitam o Funchal, do inglês bumboat); “camone” (“vamos, siga”, do inglês come on); “chimeca”/“chomeca”/“chumeca” (pessoa magra e enfezada e com defeito no nariz, pessoa de pequena estatura, do inglês shoemaker); “grogada” e “grogue” (“aguardente” e “cálice de aguardente”, do inglês grog); “maneja” (“gerente”, do inglês manager); “monim” (“dinheiro”, do inglês money); “naice” (“bom”, do inglês nice); “naifa” (“navalha”, do inglês knife); “poncha” (bebida feita com aguardente, açúcar, limão e água, do inglês punch); “quique” (“pontapé”, do inglês kick).
Apesar da maior proximidade geográfica e de maiores contactos linguísticos com o castelhano, essencialmente das Canárias, o vocabulário registado revela poucas influências dessa língua, parecendo haver predomínio dos anglicismos, o que se explica, acima de tudo, pela presença dos ingleses que se fixaram na Ilha, mas também pela emigração para a África do Sul. Das Canárias, encontra-se a palavra “gofio”/“gófio”: “prato regional das Canárias, feito de cevada tenra, torrificada na panela ou no forno e depois preparada em forma de papas” (SOUSA (1950, 82-83). Abel Marques Caldeira refere “tabaibeira” (a planta) e “tabaibo” (o fruto), assim como uma referência ao espanhol em “semilha”. A forma “tenerifa” (“boganga”), registada em Eduardo Pestana, será também de origem espanhola ou canária. Nas últimas décadas do séc. XX, devido à emigração, sobretudo para a Venezuela e para a África do Sul, alguns vocábulos de origem castelhana e inglesa tornaram-se correntes. A este propósito, Maria Filomena Santos inclui alguns empréstimos ingleses atuais: “gamse” (“chiclete ou pastilha elástica”, “gam” nos Açores) e “stique” (“bebedeira; embriagar-se ou andar nos copos”). Acrescenta alguns da Venezuela, nomeadamente “mira” (“imigrante vindo da Venezuela” e, por extensão semântica, também “todos os imigrantes”) e “passapalo” (“dentinho ou petisco”), característico da Ponta do Sol, onde há uma elevada percentagem de madeirenses que estiveram emigrados na Venezuela. No que se refere a esta última influência, é possível incluir outros empréstimos, como “arepa”, “empanada” e “pão de jamón”, introduzidos na região através dos emigrantes de torna-viagem, que trazem consigo novos gostos e hábitos gastronómicos da Venezuela. Não são, por isso, neologismos, mas exemplos de estrangeirismos correntes.
Neologismos regionais
Os neologismos serão as novas palavras criadas dentro da variedade madeirense, resultantes da criatividade da população local, em parte motivada pelo isolamento geográfico ou por necessidade denominativa de novas realidades extralinguísticas, etnográficas, sociais e culturais que não existem noutros territórios. No que se refere à cronologia, tendo em conta a datação utilizada para a classificação dos arcaísmos, consideram-se neologismos regionais os vocábulos que parecem ter sido criados na ram nos sécs. XX e XXI. Exemplos de criatividade da população madeirense serão: “bolo família” (bolo feito de farinha, ovos, mel de cana, especiarias, frutos secos e frutas cristalizadas), sendo semelhante ao “bolo de mel” e ao “bolo preto”, mas maior, por ser para toda a família; “chinesa” (“café com leite servido em chávena grande”) e “chino” (“café preto servido em chávena grande”); “emboseirar” (“acumular coisas sem nexo”, “tomar assento como uma pessoa muito gorda”, “estar estendido a descansar”), “emboseirado” (indivíduo que está sempre sentado sem fazer nada) e “aboseirar-se” (“sentar-se”, “não fazer nada”, “descansar”), forma registada por Maria Florentina Santos (SANTOS, 2013, 62); “horário” (o autocarro, inicialmente denominado “camioneta”, terá passado a denominar-se “horário” devido à criação de ligações regulares entre os meios rurais e a cidade do Funchal, com horários estabelecidos); “mexelote” ou “caralhinho” (o pau da poncha); “olho-de-boi” (diz-se das lanternas que são como holofotes); “pé-de-cabra” (bebida tonificante ou fortificante de cerveja preta com vinho tinto, cacau, leite e ovo); “picadinho” (carne de vaca – ou de porco, de frango ou outra, podendo ser também de polvo ou de peixe – cortada em cubos – ou em quadrados, pedaços, bocados, etc. – e frita com tomate, louro, alho, cebola e cogumelos, com molho de natas, maizena ou bechamel, pimenta, piripiri e água, servido com batata frita, azeitonas e tomate); “tapa-sol” (“persiana”, palavra composta de “tapa” + “sol”). É neologismo lexical madeirense a expressão “fazer uma levada”, que surge a partir do nome “levada”. Esta expressão é específica da Madeira porque só nesta região existem passeios junto às levadas; sendo muito usual entre os madeirenses e os turistas, tornou-se conhecida nacional e internacionalmente. Alguns dos neologismos apresentam significações regionais resultantes da especialização do significado de palavras existentes noutras regiões do território nacional e de outras áreas. Muitos são bastante frequentes, apresentando grande vitalidade e produtividade porque são motivados pelas necessidades linguísticas dos falantes que os usam.
Usuais ou correntes
Os regionalismos usuais ou correntes podem ser arcaísmos (que se mantêm vivos), populismos, estrangeirismos ou empréstimos e neologismos regionais. Correspondem aos vocábulos mais conhecidos e usados no arquipélago da Madeira pela generalidade dos falantes (de todos os estratos sociais), não só nas zonas rurais, mas também nas áreas urbanas. Alguns são amplamente conhecidos, como “carro de cesto” (do Monte), “carro do Monte” ou “carro de vimes”, comummente usado com o nome “cesto” (feito de vimes, tradicionalmente usado para transportar pessoas do Monte para o Funchal). Associado a este meio de transporte, ocorre o nome do seu condutor, “carreiro”. Outros regionalismos lexicais e semânticos usuais ou correntes são, e.g.: “batata”/“batatas” (“batata-doce”, “habitante dos Açores”, mas também “punhadas, socos”); “bilhardar”, “bilhardeira”, “bilhardice” (“coscuvilhar”, “coscuvilheira”, “coscuvilhice”); “dentinho” (aperitivo para beber, petisco com que se abre o apetite para o vinho ou para a aguardente); “desterrar” (“estragar, prejudicar”); “joeira” (“papagaio de papel”); “poio”; “semilha”; “tapa-sol” (em São Paulo, no Brasil, este termo tem vindo a designar o resguardo usado nos carros estacionados para proteger o volante do sol); “trapiche” (“casa de doentes mentais”, “confusão”).
Salientam-se os regionalismos que estão associados à realidade etnográfica da ram, cada vez mais divulgada, através de atividades culturais destinadas ao turismo, que procura o que é típico e genuíno da região. É igualmente valorizada pela população madeirense, devido, em particular, aos meios de comunicação social, que tendem a realçar o Património regional. Dos regionalismos lexicais mais usuais, muitos são denominações de comidas, bebidas e tradições populares. Alguns exemplos: “baile” ou “bailinho” (“grupo folclórico”, “folclore tradicional e popular”, tipo de música que é dançado e a atuação de um grupo folclórico); “bolo do caco” (pão de trigo madeirense, de forma redonda e achatada, cozido numa pedra ou num caco de ferro); “bolo família” (que os madeirenses levaram para o Brasil); “bolo preto” (bolo semelhante ao de família, mas mais pequeno); “braguinha” (instrumento musical típico da Madeira, populismo que terá sido levado pelos madeirenses para o havai, estando na origem do famoso ukulele havaiano); “brinquinho” (instrumento musical típico da Madeira, mas também diminutivo de “brinco”, conjunto de pessoas que visitam as casas, sobretudo no natal e no fim do ano, tocando e cantando); “carne de vinho e alhos” (carne de porco preparada com molho de vinho e alhos, típica do natal); “chinesa” e “chino”; “colar de rebuçados” (rebuçados embrulhados e ligados para formarem um colar, que se compra nos arraiais); “mango” (fruto pequeno e específico da Madeira, distinto de manga, que é o mesmo fruto, mas maior e vindo de fora); “mel de abelha” e “mel de cana” (a distinção poderá não ser específica do arquipélago, mas existe onde há, em simultâneo, cultivo de cana-de-açúcar e produção de mel com o sumo extraído desta planta); “niquita” (“bebida feita de brisa maracujá, um dos vários tipos de refrigerante conhecidos pela marca brisa, e gelado de ananás, com ou sem álcool”, que terá sido “originalmente criada em 1985, ano em que a canção ‘Nikita’ de Elton John estava na moda, daí o seu nome”: “Niquita”, Wikipedia); “panelo” (tradição antiga do Seixal, que consiste num “almoço, preparado por famílias e amigos que se juntam no último domingo de janeiro. É semelhante ao cozido à portuguesa, com carnes, enchidos, batatas, semilhas e couves, cozinhado ao ar livre com lenha, numa grande panela”, o “panelo”: “Panelo”, Wikipédia); “pé-de-cabra”; “pero” (fruto mais pequeno do que a maçã que ocorre em algumas regiões de Portugal), “pera” (que designa sobretudo o abacate) e “pereira” (a árvore que dá pera abacate ou o abacateiro); “poncha” (bebida preparada com água, aguardente e açúcar; inicialmente preparada com limão, foi posteriormente feita com várias frutas); “rajão” (instrumento musical típico da Madeira); “rebuçados de funcho” (feitos de anis ou erva-doce); “tim-tam-tum” (licor feito de vinho, chá preto, frutos secos, baunilha, passas e canela, preparado para o natal).
Os regionalismos constituem um valioso Património linguístico e cultural do arquipélago da Madeira. O estudo das palavras e coisas regionais permite conhecer o português que durante séculos se falou no arquipélago, ganhando, em alguns casos, nova vida.
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Helena Rebelo
Naidea nunes
(atualizado a 12.08.2016)